quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

JACOB BOEHME (1575-1624) - Vida e obra do grande místico incompreendido


Jakob Böhme, por vezes grafado como Jacob Boehme, nasceu em Alt Seidenberg, Alemanha, em 1575. Foi um filósofo e místico alemão. Tendo sido educado como luterano, trabalhou como sapateiro em Görlitz.

Böhme passou por experiências místicas em toda a sua juventude, culminando em uma epifania no ano de 1600 que teria lhe revelado a estrutura espiritual do mundo, assim como as relações entre o Bem e o Mal. Na época, ele decidiu não divulgar a sua experiência e continuou trabalhando como sapateiro, constituindo família e tendo quatro filhos. Entretanto, após uma outra visão em 1610, ele começou a escrever sua primeira obra, Aurora. O tratado foi publicado e divulgado em forma de manuscrito até que uma cópia caiu nas mãos de Gregorious Ritcher, principal pastor de Görlitz, que o considerou herético e ameaçou exilar Böhme, se ele não parasse de divulgar os seus escritos. Após anos de silêncio, os amigos e patronos de Böhme conseguiram convencê-lo a continuar escrevendo e em pouco tempo novas cópias escritas a mãos comecaram a circular.

Seu primeiro livro impresso, Christosophia, foi publicado em 1623 e causou outro escândalo. Em um curto período de tempo, entre 1618 e 1624, Böhme produziu uma enorme quantidade de tratados e epístolas, incluindo suas maiores obras De Signatura Rerum e Misterium Magnum. Suas idéias conquistaram muitos seguidores em toda a Europa e os seus discípulos ficaram conhecidos como os boehmistas.
Como uma ironia do destino, Johan G. Gichtel, o filho do principal antagonista de Böhme, o pastor Gregorious Ritcher, se tornou um discípulo indireto, comentador e editor de uma coleção de trechos das obras de Böhme, os quais foram mais tarde publicados no ano de 1682 em Amsterdã. As obras completas de Böhme só foram publicadas pela primeira vez em 1730. Johan G. Gichtel também escreveu uma autobiografia espiritual intitulada A Senda do Homem Celeste, descrevendo como colocou em prática tudo o que aprendeu com o estudo das obras de Böhme, chegando, segundo ele, à realização da senda espiritual. A Senda é considerado um clássico do pensamento místico-cristão de sua época.
Como conseqüência de suas idéias e escritos, Böhme passou o último ano de sua vida exilado em Dresden, retornando à Görlitz unicamente para dar um adeus final à vida aos 49 anos de idade.
Jacob Böhme faleceu em Görlitz, 17 de Novembro de 1624.
Nos dias atuais, as obras de Böhme são estudadas e admiradas por diversas comunidades de espiritualistas, místicos, martinistas, teosofistas e filósofos em todo o mundo.

FILOSOFIA

A principal preocupação dos escritos de Böhme era a natureza do Pecado, do Mal e da Redenção. De acordo com a teologia luterana, Böhme pregava que a humanidade tinha caído do estado de divina graça para um estado de pecado e sofrimento, que as forças do Mal incluíam os anjos caídos que tinham se rebelado contra Deus e que o objetivo de Deus era restaurar o mundo ao seu estado natural de graça.
Na cosmologia de Böhme, é necessário que a humanidade se afastasse de Deus a fim de que a criação evoluísse a um novo estado de harmonia que seria mais perfeita que o estado original de inocência, permitindo a Deus atingir uma nova auto-consciência pela interação com a criação que se tornaria, ao mesmo tempo, parte Dele e distinta Dele. Deste modo, o livre arbítrio seria o mais importante dom dado a humanidade por Deus, permitindo-nos buscar a graça divina na condição de uma livre escolha, enquanto permitiria aos seres humanos manter as suas individualidades.
Böhme via a encarnação de Cristo, não como um sacrifício oferecido para perdoar os pecados dos homens, mas sim como uma oferta amorosa e divina para a humanidade, mostrando a vontade de Deus suportando igualmente o sofrimento terrestre como um aspecto necessário da criação. Ele também acreditava que a encarnação de Cristo expressava a mensagem que um novo estado de harmonia seria possível.

As proncipais obras de Jacob Böhme são:

A aurora nascente; A sabedoria divina; A revelação do grande mistério; Os três princípios da essência divina; Quarenta questões sobre a alma; A chave; A encarnação de Jesus Cristo; As confissões; Diálogo entre uma alma iluminada e outra em busca da iluminação; A vida supra sensível.

PENSAMENTOS DE JACOB BOEHME

"Orar corretamente é uma obra totalmente séria".

"Não subi até a Divindade, nem isso significa que um homem ruim como eu, faça-o; mas a Divindade ascendeu a mim, e revelou-me tanto, somente por seu Amor."

"É em si como uma imensa profundidade, como um Nada eterno".

"É a Unidade eterna, o Nada e o Todo, a quietude absoluta, o silêncio total que repousa em sua eterna nulidade".

"Na eternidade, como em uma profundidade imensa fora da Natureza, não há nada mais que uma quietude sem essência; é uma tranqüilidade eterna, um fundamento sem princípio nem fim. Não há termo nem ponto fixo, nem buscar nem encontrar, nem nada que possa ser uma Possibilidade. Deus é a unidade frente às criaturas, como um Nada eterno; não tem fundo (Grund) nem princípio, nem lugar; não possui nada fora de si mesmo. É a vontade da profundidade, do Abismo. É em si mesmo sempre uno, não tem necessidade de espaço nem de lugar. Produz a si mesmo de eternidade em eternidade"

"A vontade produz este Filho sempre de novo, de eternidade em eternidade, porque ele é seu coração e sua palavra, como um som ou uma revelação da profundidade da eternidade silenciosa, e é a boca e a razão da vontade, e é chamado outra pessoa que não é o Padre, porque ele é a revelação do Pai, seu fundamento e sua essência, porque uma vontade não é uma essência, senão tão somente a imaginação da vontade faz a essência".

"A gravidez não tem lugar no Espelho, mas na Vontade, isto é, na imaginação da Vontade. O espelho permanece eternamente como uma virgem sem parto, mas a Vontade se engravida por meio da contemplação do espelho; assim que a vontade é o Pai, e a gravidez no Pai ou na Vontade é o Senhor ou o Filho".

“Toda a localidade do mundo, as profundezas da terra e acima da terra, até o céu e o próprio céu criado, que vemos com os nossos olhos, mas que, no entanto, não podemos compreender com nossos sentidos, todo esse espaço é um reino, onde Lúcifer era o governador antes de sua queda; mas os outros dois reinos, o de Miguel e Uriel, existem além do céu criado (espaço) e são iguais ao primeiro reino”.

“Quando a melodia celeste dos anjos começa a ser ouvida, estará surgindo com o divino salitre, vários mundos de crescimento, figuras e cores magníficas”.

“Cada país possui seu espírito guardião principal com suas legiões. Do mesmo modo, há anjos governando os quatro elementos – fogo, água, ar e terra”.

“Sempre que algo nasce da Essência divina, é trazido para a forma, não meramente por um espírito, mas por todos os setes”.

“Quando a Divindade movimentou-se, com o propósito de criar um mundo, movimentou suavemente a qualidade adstringente, contraindo-a no divino sal-nitre”.

“Ele gera a si mesmo num aspecto ternário, e nessa geração eterna deve-se compreender uma única essência e geração; nem o Pai, nem o Filho; mas unicamente a Vida eterna, ou Deus”.

“Deus criou os santos anjos, não através de alguma substância estranha a seu próprio ser; Ele os criou de seu próprio ser, de Seu poder e sabedoria eterna”.

"Se algo se torna àquilo que não era antes, isso não se constitui um princípio; um princípio está onde uma forma de vida e movimento começa, o qual não existia anteriormente. Desta forma, o fogo é um princípio, assim como a luz que nasce do fogo, mas que, contudo, não é uma qualidade do fogo, mas tem uma vida própria.”

“Se a Divindade de acordo com o primeiro e segundo princípio é considerada apenas como um espírito, sem qualquer essencialidade concebível, há nela, contudo, o desejo de envolver um terceiro princípio, onde repousa o espírito dos dois primeiros princípios, onde se tornará manifestada como uma imagem”.

“O fogo recebendo em si a essência do desejo como seu alimento, a fim de poder queimar, fornece um espírito alegre e abre o poder da humilde essencialidade na luz”.

“Não escrevo com outro objetivo senão que o homem aprenda a conhecer a si mesmo”.

“Toda a nossa doutrina nada mais é do que uma instrução de como o homem pode criar um reino de luz dentro de si mesmo... Aquele em quem flui esta fonte de poderes divinos carrega consigo a imagem divina e a substancialidade celeste. Nele Jesus nasceu da Virgem, e ele não irá perecer na eternidade”.

“Todos aqueles que desejam falar ou ensinar os mistérios divinos devem possuir o Espírito de Deus. O homem deve reconhecer em si a luz divina da verdade, e nessa luz as coisas que ele deseja apresentar como sendo verdade. Ele nunca deve estar sem esse auto conhecimento divino, e nem fazer com que a força de seus argumentos dependa meramente do raciocínio externo ou de interpretações literais da Bíblia”.

“A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino”.

“Assim como o olho do homem busca as estrelas de onde teve sua origem primitiva, a alma penetra e vê no estado divino do ser, onde vive”.

“Não há centelha de vida divina naquele que está sem Deus. Não se deve culpar à Deus por isso, mas a própria pessoa. Tais pessoas tem a si mesmas, e por vontade própria, entraram em tal estado, abafando a consciência elevada, enquanto que a jóia preciosa, embora desconhecida deles, continua oculta no centro. Deixe, portanto, que eles saiam novamente da ignorância intencional ou malignidade, por vontade própria, e entrem novamente na vontade de Deus”.


Extraído do blog:
http://coracaomistico.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Olá, Kadu. Comecei a ler o livro A chave de Boehme, mas sinto um pouco de dificuldade em entender algumas ideias dele. Você tem alguma sugestão de leitura de apoio? ou talvez eu devesse começar por outro livro? é a primeira vez que entro em contato com este místico. Abraços.

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