quarta-feira, 8 de abril de 2020

A parábola budista dos dois espinhos e o cenário atual

O Espinho na Carne - Pregações e Estudos Bíblicos
Por Kadu Santoro

O mundo nunca esteve tão polarizado como nos dias atuais, e o cenário próximo é bem alarmante. De um lado a possibilidade da instauração de uma Nova Ordem Mundial orquestrada pela famigerada elite global, que detém 70% da economia mundial seguindo o regime capitalista neoliberal, e do outro lado, surge o gigante bloco eurasiático de sistema totalitário comunista. Mas apesar da polarização, o que poucos sabem, é que tanto um modelo quanto o outro, são extremamente semelhantes e letais para a humanidade.

Vamos ver a parábola budista sobre os dois espinhos: “Certo dia, Buda caminhando pela estrada encontra um jovem sentando a beira desta chorando, então ele se aproxima e pergunta, o que houve meu jovem? E o jovem responde, estou com um espinho enfiado no meu pé. Então Buda diz a ele, pega outro espinho e com esse retira o outro. Assim fez o jovem, ficando agora com os dois espinhos nas mãos, e pergunta ao Buda, e agora o que eu faço com os espinhos? E Buda responde, jogue-os fora.”

A partir dessa introdução, podemos fazer muitas considerações. A primeira, é tomarmos consciência de que essa polarização não se iniciou nos governos e seus regimes políticos, e sim, dentro de cada indivíduo, a partir da intolerância e da não aceitação do próximo como ele é e pensa, ou seja, um espinho não é inimigo do outro, são apenas dois espinhos frutos do mesmo espinheiro.
Segunda, a parábola nos ensina que ser diferente não significa sermos inimigos. O espinho que entrou no pé do jovem não é ruim, consiste apenas num espinho que se encontrava no caminho, e devido a distração do rapaz acabara por ferí-lo, enquanto o outro espinho não foi bom porque contribuiu para retirar o outro, foi apenas um instrumento para removê-lo.

Terceira, ambos os dois espinhos devem ser descartados sem passar por nenhum juízo de valores ou apego, apenas descartá-los, pois são apenas dois espinhos de um mesmo espinheiro. Diante da atual polarização em que nos encontramos, é preciso descartar as duas realidades ideológicas, que já tiveram o seu tempo e infelizmente nada contribuiu para a evolução harmônica e construtiva da humanidade em nível individual ou coletivo.

É preciso olharmos para frente, levantarmos do choro a beira da estrada e caminharmos rumo ao novo, um novo paradigma pautado na unidade na diversidade, na comunhão e cooperação ao invés da competição e disputa como tem sido até agora.

Precisamos de um novo ethos humanitário, uma nova forma de pensar, sentir e agir com consciência, livre das identificações e partidarismos. Não precisamos mais de partidos, e sim, de inteiros, indivíduos plenos, responsáveis e conscientes da sua missão de terapeutas, cuidadores da nossa mãe Terra. Cuidarmos uns dos outros com a lembrança de que somos apenas hóspedes temporários nesse mundo, e que a hospitalidade é requisito fundamental para com o viajante.

Antes do desarmamento bélico é preciso desarmarmos as couraças que impendem as nossas relações salutares com o próximo, lembrando que a mesma essência que nele habita, encontra-se em todos nós, e que todos somos uns, como espinhos do mesmo espinheiro. Não adianta colocar remendo novo em roupas velhas.

O novo está sempre batendo a porta dos nossos corações, mas antes é preciso acordarmos para a vida que nos espera e deixarmos de lado a vida que supomos ser a correta, pois essa é fruto das nossas sombras, condicionamentos e dos mecanismos de autopreservação, manipulados pelo ego com os seus desejos e caprichos.

Quando Buda recomenda para jogarmos fora os dois espinhos, significa abandonar a condição de ter e assumir a condição de ser, pois assim, como ficar com dois espinhos nas mãos, é igual aquele que possui dois agasalhos e não partilha um com o seu próximo.

O verdadeiro desperto é aquele que acorda para a realidade do Ser, e sem ter que estar de lado algum, contribui para a evolução da humanidade a partir do trabalho sobre si, em estado de plenitude e em total comunhão com todos. Do espinheiro também brotam flores.

Paz Profunda.