Por
Kadu Santoro
Vivemos em mundo barulhento e
conturbado em plena era da informação, nossa sociedade é regida pela mente
objetiva, totalmente voltada para o raciocínio e a interpretação, porém, isso
tem trazido duras consequências para o homem pós-moderno, uma angústia
interior, um abismo existencial enorme. Como disse Jean-Yves Leloup: “Todos nós estamos condenados a dar um
sentido para o que nos acontece. A única dor insuportável é aquela que não
somos capazes de interpretar, destituída de qualquer sentido.”
O que podemos fazer diante de tal
situação? O que falta para podermos ajustar nosso corpo e espírito? A saída
para essas questões encontra-se numa palavra pequena e esquecida em nossos
dias, silêncio. Como cristãos, devemos refletir profundamente sobre a noção do
silêncio de Deus. O ofício do silêncio é a quietude, essa que podemos encontrar
de maneira sublime na prática diária da meditação cristã.
A meditação cristã faz parte da
tradição monástica da igreja, muito praticada pelos pais do deserto desde os
primeiros séculos da era cristã e que ainda é hoje muito difundida em muitas
comunidades espalhadas pelo mundo. Segundo a tradição cristã, meditar é o
caminho para a unidade, uma total harmonia entre corpo e espírito. É o caminho
para o mistério infinito do amor de Deus, é crescimento e transcendência que
nos conduz ao estágio que o apóstolo São Paulo nos diz: “A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no
conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na
maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo.” (Ef.4,13). São
Pedro em sua primeira carta nos diz: “Não
vos perturbeis, mas guardai o Cristo Nosso Senhor em reverência nos vossos
corações.” (IPd.3,15). Assim como nós hoje em dia, os primeiros cristãos
também sabiam que as mudanças, confusões e caos eram encontrados não apenas
fora no mundo, mas na sua maioria dentro de nós mesmos. O constante desafio do
ser humano é encontrar harmonia e paz dentro de si. Cristo é o princípio vivo
de harmonia, de ordem e amor.
O primeiro passo para praticarmos a
meditação é estabelecermos o silêncio e o estado de quietude, devemos aprender
a estar imóvel. A meditação consiste na imobilidade perfeita do corpo e
espírito. É nessa imobilidade que fazemos a experiência da simplicidade e
abrimos o nosso coração ao silêncio eterno de Deus, para sermos arrebatados
para fora de nós, para além de nós mesmos.
Segundo o monge beneditino John Main
(OSB), para iniciarmos a prática da meditação, é preciso estabelecer algumas
regras básicas:
Sentar-se. Fique imóvel e em posição
ereta. Feche os olhos ligeiramente. Sente-se de forma relaxada, mas atenta.
Silenciosamente, comece a dizer dentro de si uma única palavra (mantra). Nós
recomendamos a palavra-frase “Maranata” (vem, Senhor!). Recite-a como quatro
sílabas de igual duração. Ouça-a enquanto estiver a dizê-la, suave e
continuamente. Não pense ou imagine alguma coisa – espiritual ou de outra
natureza. Se vierem à mente pensamentos e imagens, estes são distrações na hora
da meditação; portanto, apenas volte simplesmente a dizer a palavra. Medite
cada manhã e cada noite entre vinte e trinta minutos.[1]
Queridos irmãos, a igreja e o mundo
estão passando por dias difíceis devido a falta de sabedoria e amor. O que
vimos é uma sensação profunda de ruína e de ausência de sentido e valores,
porém, nós como homens e mulheres de Cristo podemos reverter essa situação,
pois não há ato de maior responsabilidade social, política ou religiosa do que
permanecermos plenamente conscientes e enraizados em Deus. Não vamos deixar que
o mundo nos desanime da prática da meditação com se esta fosse um caminho em
oposição ou em conflito com a responsabilidade social, política ou religiosa.
Devemos lembrar sempre que a única coisa que todas as sociedades necessitam é
sabedoria, e existe apenas um caminho para esta. E a fonte original dessa
sabedoria encontra-se dentro dos nossos corações, no ministério da oração, como
o apóstolo São Paulo fala aos romanos: “Do
mesmo modo, vós deveis considerar-vos mortos para o pecado e vivos para Deus,
em união com Jesus Cristo. [...] Colocai-vos à disposição de Deus, como mortos
que voltaram à vida, e oferecei os vossos corpos a Ele como instrumentos de sua
justiça; pois o pecado não mais deverá ser o vosso mestre, porque vós já não
estais debaixo da Lei, mas sob a graça” (Rm.6,11.13-14).
[1]
MAIN, John, O caminho do não conhecimento: expandindo os horizontes espirituais
através da meditação / John Main; introdução de Laurence Freeman; tradução de
João Mendonça; revisão da tradução de Gentil Avelino Titton – Petrópolis RJ:
Vozes, 2009 – (Coleção Espiritualidade de Bolso)
Precisamos silenciar a mente para ouvir nossa alma.
ResponderExcluirO Silêncio é uma bela oração
ResponderExcluirSendo a meditação uma das formas de silenciar o pensamento, e se para orar necessário será silenciar, então meditar é orar.
ResponderExcluirComo a oração é a nossa forma (primitiva) de comunicarmos com o divino, muitas vezes não ouvimos a resposta exatamente por não silenciarmos o ruido poluidor de pensamentos estranhos à oração.
O meu blog
vocês tem algum centro de meditação em itu? há muitos anos sigo John Main pelo site.
ResponderExcluir