O mundo nunca esteve tão polarizado como nos dias atuais, e o
cenário próximo é bem alarmante. De um lado a possibilidade da instauração de
uma Nova Ordem Mundial orquestrada pela famigerada elite global, que detém 70%
da economia mundial seguindo o regime capitalista neoliberal, e do outro lado,
surge o gigante bloco eurasiático de sistema totalitário comunista. Mas apesar
da polarização, o que poucos sabem, é que tanto um modelo quanto o outro, são extremamente
semelhantes e letais para a humanidade.
Vamos ver a parábola budista sobre os dois espinhos: “Certo
dia, Buda caminhando pela estrada encontra um jovem sentando a beira desta
chorando, então ele se aproxima e pergunta, o que houve meu jovem? E o jovem
responde, estou com um espinho enfiado no meu pé. Então Buda diz a ele, pega
outro espinho e com esse retira o outro. Assim fez o jovem, ficando agora com
os dois espinhos nas mãos, e pergunta ao Buda, e agora o que eu faço com os
espinhos? E Buda responde, jogue-os fora.”
A partir dessa introdução, podemos fazer muitas
considerações. A primeira, é tomarmos consciência de que essa polarização não
se iniciou nos governos e seus regimes políticos, e sim, dentro de cada indivíduo,
a partir da intolerância e da não aceitação do próximo como ele é e pensa, ou
seja, um espinho não é inimigo do outro, são apenas dois espinhos frutos do
mesmo espinheiro.
Segunda, a parábola nos ensina que ser diferente não
significa sermos inimigos. O espinho que entrou no pé do jovem não é ruim,
consiste apenas num espinho que se encontrava no caminho, e devido a distração
do rapaz acabara por ferí-lo, enquanto o outro espinho não foi bom porque
contribuiu para retirar o outro, foi apenas um instrumento para removê-lo.
Terceira, ambos os dois espinhos devem ser descartados sem passar
por nenhum juízo de valores ou apego, apenas descartá-los, pois são apenas dois
espinhos de um mesmo espinheiro. Diante da atual polarização em que nos
encontramos, é preciso descartar as duas realidades ideológicas, que já tiveram
o seu tempo e infelizmente nada contribuiu para a evolução harmônica e
construtiva da humanidade em nível individual ou coletivo.
É preciso olharmos para frente, levantarmos do choro a beira
da estrada e caminharmos rumo ao novo, um novo paradigma pautado na unidade na
diversidade, na comunhão e cooperação ao invés da competição e disputa como tem
sido até agora.
Precisamos de um novo ethos humanitário, uma nova forma de
pensar, sentir e agir com consciência, livre das identificações e
partidarismos. Não precisamos mais de partidos, e sim, de inteiros, indivíduos
plenos, responsáveis e conscientes da sua missão de terapeutas, cuidadores da
nossa mãe Terra. Cuidarmos uns dos outros com a lembrança de que somos apenas
hóspedes temporários nesse mundo, e que a hospitalidade é requisito fundamental
para com o viajante.
Antes do desarmamento bélico é preciso desarmarmos as
couraças que impendem as nossas relações salutares com o próximo, lembrando que
a mesma essência que nele habita, encontra-se em todos nós, e que todos somos
uns, como espinhos do mesmo espinheiro. Não adianta colocar remendo novo em
roupas velhas.
O novo está sempre batendo a porta dos nossos corações, mas
antes é preciso acordarmos para a vida que nos espera e deixarmos de lado a
vida que supomos ser a correta, pois essa é fruto das nossas sombras,
condicionamentos e dos mecanismos de autopreservação, manipulados pelo ego com
os seus desejos e caprichos.
Quando Buda recomenda para jogarmos fora os dois espinhos, significa
abandonar a condição de ter e assumir a condição de ser, pois assim, como ficar
com dois espinhos nas mãos, é igual aquele que possui dois agasalhos e não
partilha um com o seu próximo.
O verdadeiro desperto é aquele que acorda para a realidade do
Ser, e sem ter que estar de lado algum, contribui para a evolução da humanidade
a partir do trabalho sobre si, em estado de plenitude e em total comunhão com
todos. Do espinheiro também brotam flores.
Paz Profunda.
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