terça-feira, 24 de março de 2020

Programa estratégico cabalístico de seis passos para o desenvolvimento pessoal em tempos de transição.


Por Kadu Santoro


Diante dessas mudanças radicais de paradigmas que estão acontecendo de forma rápida e avassaladora em nosso mundo, os ensinamentos cabalísticos mais do nunca nos oferecem um programa estratégico de ajuste pessoal para o novo modelo civilizatório que está se configurando.

O número seis na Cabala remete ao homem. De forma mais aprofundada, corresponde ao símbolo do hexagrama, as duas tríades, ascendente e descendente, o espiritual e o material em perfeito equilíbrio e estado de harmonia.

Baseado nos seis dias da criação conforme os relatos da Torá, também chamado em grego de hexaemeron, esse programa visa despertar os potenciais adormecidos na humanidade para a consciência de sua verdadeira natureza, divina, ou seja, somos imagem e semelhança do altíssimo, estabelecidos aqui no mundo de Assiá (mundo da ação ou realização) através da metáfora do Adão decaído, para fazermos a grande restauração do mundo (Tikun Há Olam), ou seja, nossa missão aqui e agora, é de sermos coparticipantes nos processos de criação, manutenção e transformação, com o objetivo de elevar os padrões vibratórios do planeta despertando a consciência para o paradigma da comunhão, do compartilhamento, pois infelizmente até agora, a humanidade atingira o seu nível mais baixo através do paradigma da competição e da divisão, ou seja, temos que sair da dimensão dia-bólica (do grego diabolós – aquilo que separa) para a dimensão sim-bólica (do grego simbólon – aquilo que junta).

As diretrizes desse programa encontram-se em forma de um acróstico, associadas as seis iniciais da palavra Cabala, que provém do verbo lecabel, que significa recebimento, transmissão ou tradição recebida, que inicialmente era realizada de forma oral, da boca para o ouvido, e consiste na expressão máxima da Antiga Tradição dos Hebreus, Shemá, que é formado pelas letras hebraicas shin = dente e Mem = Água, que correspondem à forma e substância da boca, que utilizando a gematria, resulta no número sete, o Poder e Presença de Deus, Shin = 300 + Mem = 40 = 300 + 40 = 340 = 3 + 4 = 7. Resumindo, as palavras que são transmitidas através dos ensinamentos da Cabala, são segredos de Deus revelados para o homem.

São seis aspectos a serem trabalhados dentro de cada um simultaneamente: Crescimento, Atenção Plena, Beatitude, Autoconhecimento, Liberdade e Assertividade.

Crescimento: visa a tarefa de expansão da consciência e percepção produzindo um grau mais elevado de maturidade e sensibilidade através do exercício da contextualização dos acontecimentos num âmbito mais amplo, desenvolvendo uma visão periférica.

Atenção Plena: Não é meditação, e sim, procurar estar presente, seja numa tarefa simples como descascar uma batata ou complexa como ajustar um componente em um equipamento de precisão. O importante é sentir-se a partir da lembrança de si, reconhecendo que passamos a maior parte do tempo no automático num verdadeiro estado se sono, não vivendo, apenas existindo, deixando a vida levar.

Beatitude: termo pouco utilizado que significa estado permanente de perfeita satisfação e plenitude, felicidade (felicidade beatífica) profunda e incondicional, objetivo mais nobre que alguém pode alcançar nesse mundo, é estar além do bem e mal, reconciliado com a natureza. O exercício para alcançar esse estado é a prática constante do desapego, buscando viver uma vida minimalista, satisfazendo-se com o necessário e essencial para a passagem pelo mundo. As leituras dos livros sagrados e a prática da contemplação ajudam nesse processo para a beatitude.

Autoconhecimento: “Conhece-te a ti mesmo”, já dizia o Oráculo de Delphos. O primeiro passo para auto conhecer-se é reconhecer o seu estado de ignorância e incapacidade de se relacionar diretamente com as coisas, ou seja, tudo que vivemos e conhecemos passa primeiramente pelo crivo do ego e das nossas falsas projeções (eus) como acontece no Mito da Caverna de Platão, onde só vemos as sombras da verdade. O exercício para despertar o autoconhecimento consiste na observação dos nossos pensamentos, sentimentos e instintos, procurando identificar as suas origens entre as milhares de vozes internas. É necessário escutar a voz do silêncio, o seu Eu Superior, aquele que É.

Liberdade: a liberdade é um passo para a beatitude. Só é realmente liberto aquele que reconhece que não está no controle de absolutamente nada e que a vida flui conscientemente para aquilo que tem que ser de acordo com as leis cósmicas. O liberto não é aquele que supõe ter razões, e sim, aquele que pretende ser feliz, desapegou-se de suas falsas projeções, sabe que ele é apenas um grão de areia na imensidão do universo. Um grande exercício para despertar a sensação de liberdade, é procurar sentir  conscientemente a respiração, o ar entrando pelas narinas, enchendo os pulmões e expirando pela boca, fazendo isso sem pressa, e se quiser pode ao inspirar expirar usar o mantra shemá, assim, quando estiver inspirando pronuncie em silêncio o shem, e quando expirar o má, shemmmmáaaaaaa.

Assertividade: a assertividade está relacionada com a capacidade do indivíduo expressar aquilo que pensa, os seus direitos ou de outras pessoas de forma sábia, sem ser agressivo ou aceitar passivamente algo que não concorde. Segundo os mestres cabalistas, a assertividade é mais do que uma técnica, é uma arte que não envolve apenas a dialética e a retórica, e sim, um estado de espírito equilibrado, pronto para ouvir, tardio para falar e se irar como descrito da Epístola de Tiago 1.19. Um exercício para desenvolver a capacidade assertiva, é buscar ler textos inspirados, como os das Sagradas Escrituras de forma bem lenta e pausada, e também praticar como disse Rubem Alves, a arte da escutatória, pois de oratória já estamos fartos. Fala e se expressa melhor que mais ouve.

Depois de toda essa explanação sobre o programa estratégico cabalístico de seis passos para o desenvolvimento pessoal, resta duas orientações, a primeira é não criar expectativas de resultados e nem estabelecer metas, apenas se dispor a realizar o trabalho sobre si. E em segundo lugar não acreditar em nada, sem antes fazer a experiência. O trabalho consiste num método de livre auto iniciação, não há graus, estágios ou qualquer outro tipo de hierarquia, pois mestre e discípulo são um.

Bom trabalho sobre si.


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