Por Kadu Santoro
Diante dessas mudanças radicais
de paradigmas que estão acontecendo de forma rápida e avassaladora em nosso
mundo, os ensinamentos cabalísticos mais do nunca nos oferecem um programa
estratégico de ajuste pessoal para o novo modelo civilizatório que está se
configurando.
O número seis na Cabala remete ao
homem. De forma mais aprofundada, corresponde ao símbolo do hexagrama, as duas
tríades, ascendente e descendente, o espiritual e o material em perfeito
equilíbrio e estado de harmonia.
Baseado nos seis dias da criação
conforme os relatos da Torá, também chamado em grego de hexaemeron, esse
programa visa despertar os potenciais adormecidos na humanidade para a
consciência de sua verdadeira natureza, divina, ou seja, somos imagem e
semelhança do altíssimo, estabelecidos aqui no mundo de Assiá (mundo da ação ou
realização) através da metáfora do Adão decaído, para fazermos a grande
restauração do mundo (Tikun Há Olam), ou seja, nossa missão aqui e agora, é de
sermos coparticipantes nos processos de criação, manutenção e transformação,
com o objetivo de elevar os padrões vibratórios do planeta despertando a
consciência para o paradigma da comunhão, do compartilhamento, pois
infelizmente até agora, a humanidade atingira o seu nível mais baixo através do
paradigma da competição e da divisão, ou seja, temos que sair da dimensão
dia-bólica (do grego diabolós – aquilo que separa) para a dimensão sim-bólica
(do grego simbólon – aquilo que junta).
As diretrizes desse programa
encontram-se em forma de um acróstico, associadas as seis iniciais da palavra
Cabala, que provém do verbo lecabel, que significa recebimento, transmissão ou
tradição recebida, que inicialmente era realizada de forma oral, da boca para o
ouvido, e consiste na expressão máxima da Antiga Tradição dos Hebreus, Shemá,
que é formado pelas letras hebraicas shin = dente e Mem = Água, que
correspondem à forma e substância da boca, que utilizando a gematria, resulta
no número sete, o Poder e Presença de Deus, Shin = 300 + Mem = 40 = 300 + 40 =
340 = 3 + 4 = 7. Resumindo, as palavras que são transmitidas através dos
ensinamentos da Cabala, são segredos de Deus revelados para o homem.
São seis aspectos a serem
trabalhados dentro de cada um simultaneamente: Crescimento, Atenção Plena,
Beatitude, Autoconhecimento, Liberdade e Assertividade.
Crescimento: visa a tarefa
de expansão da consciência e percepção produzindo um grau mais elevado de
maturidade e sensibilidade através do exercício da contextualização dos
acontecimentos num âmbito mais amplo, desenvolvendo uma visão periférica.
Atenção Plena: Não é
meditação, e sim, procurar estar presente, seja numa tarefa simples como
descascar uma batata ou complexa como ajustar um componente em um equipamento
de precisão. O importante é sentir-se a partir da lembrança de si, reconhecendo
que passamos a maior parte do tempo no automático num verdadeiro estado se
sono, não vivendo, apenas existindo, deixando a vida levar.
Beatitude: termo pouco
utilizado que significa estado permanente de perfeita satisfação e plenitude,
felicidade (felicidade beatífica) profunda e incondicional, objetivo mais nobre
que alguém pode alcançar nesse mundo, é estar além do bem e mal, reconciliado
com a natureza. O exercício para alcançar esse estado é a prática constante do
desapego, buscando viver uma vida minimalista, satisfazendo-se com o necessário
e essencial para a passagem pelo mundo. As leituras dos livros sagrados e a
prática da contemplação ajudam nesse processo para a beatitude.
Autoconhecimento:
“Conhece-te a ti mesmo”, já dizia o Oráculo de Delphos. O primeiro passo para
auto conhecer-se é reconhecer o seu estado de ignorância e incapacidade de se
relacionar diretamente com as coisas, ou seja, tudo que vivemos e conhecemos
passa primeiramente pelo crivo do ego e das nossas falsas projeções (eus) como
acontece no Mito da Caverna de Platão, onde só vemos as sombras da verdade. O
exercício para despertar o autoconhecimento consiste na observação dos nossos
pensamentos, sentimentos e instintos, procurando identificar as suas origens
entre as milhares de vozes internas. É necessário escutar a voz do silêncio, o
seu Eu Superior, aquele que É.
Liberdade: a liberdade é
um passo para a beatitude. Só é realmente liberto aquele que reconhece que não
está no controle de absolutamente nada e que a vida flui conscientemente para
aquilo que tem que ser de acordo com as leis cósmicas. O liberto não é aquele
que supõe ter razões, e sim, aquele que pretende ser feliz, desapegou-se de
suas falsas projeções, sabe que ele é apenas um grão de areia na imensidão do
universo. Um grande exercício para despertar a sensação de liberdade, é
procurar sentir conscientemente a
respiração, o ar entrando pelas narinas, enchendo os pulmões e expirando pela
boca, fazendo isso sem pressa, e se quiser pode ao inspirar expirar usar o
mantra shemá, assim, quando estiver inspirando pronuncie em silêncio o shem, e
quando expirar o má, shemmmmáaaaaaa.
Assertividade: a
assertividade está relacionada com a capacidade do indivíduo expressar aquilo
que pensa, os seus direitos ou de outras pessoas de forma sábia, sem ser
agressivo ou aceitar passivamente algo que não concorde. Segundo os mestres
cabalistas, a assertividade é mais do que uma técnica, é uma arte que não
envolve apenas a dialética e a retórica, e sim, um estado de espírito
equilibrado, pronto para ouvir, tardio para falar e se irar como descrito da
Epístola de Tiago 1.19. Um exercício para desenvolver a capacidade assertiva, é
buscar ler textos inspirados, como os das Sagradas Escrituras de forma bem
lenta e pausada, e também praticar como disse Rubem Alves, a arte da
escutatória, pois de oratória já estamos fartos. Fala e se expressa melhor que
mais ouve.
Depois de toda essa explanação sobre o programa estratégico cabalístico de seis passos para o desenvolvimento pessoal, resta duas orientações, a primeira é não criar expectativas de resultados e nem estabelecer metas, apenas se dispor a realizar o trabalho sobre si. E em segundo lugar não acreditar em nada, sem antes fazer a experiência. O trabalho consiste num método de livre auto iniciação, não há graus, estágios ou qualquer outro tipo de hierarquia, pois mestre e discípulo são um.
Bom trabalho sobre si.
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