Por Kadu Santoro
Não é de agora que a humanidade se
voltou para o sectarismo e a segregação, dividindo-se em grupos ideológicos que
ascenderam em todos os setores da sociedade, e nenhum dos modelos até agora deu
certo.
Esse processo iniciou-se entre o
homo sapiens na transição do período de caçador coletor para o período
agricultor, em torno de 40.000 mil anos atrás. Durante essa transição, o homem
perdeu o contato intuitivo direto com a natureza, e com o advento dos
assentamentos agrícolas, passou a desenvolver uma relação racional pautada na
seguinte fórmula: Eu semeio e peço aos deuses que enviem a provisão, ou seja,
já não era mais uma relação natural, intuitiva como antes, e sim, uma relação
de barganha e submissão à uma autoridade superior.
Segundo a Cabala, a partir do
momento em que o ser humano deixou de olhar para dentro de si, seguindo o seu
coração e suas intuições (mito da queda), acabou por gerar uma profunda
separação, investindo toda a sua energia para o mundo material (Assiah) através
do estabelecimento de relações de poder, que consequentemente foi a causa de
todas as fragmentações vivenciadas até os dias de hoje.
Logo, cada ponto de vista
tornara-se “verdade absoluta”, e assim aqueles que pensavam de forma parecida,
se agrupavam, de forma que o não entendimento profundo sobre si mesmo já não
fazia mais sentido, limitando-se agora a ver apenas um ponto diante da figura
completa. E assim, a cada nova concepção filosófica, científica, social ou de
qualquer ordem diversa, tornou-se cada vez mais fragmentada.
Essa fragmentação veio
gradativamente destruindo a realidade pessoal de cada indivíduo, deixando de
lado a sua essência esotérica, onde a partir de cada religião, filosofia,
partidos políticos, correntes de pensamentos, tribos, nações, etnias, hábitos e
costumes, etc, virou motivo para conflitos e divisões.
O momento atual em que nos
encontramos, está profundamente marcado pela fragmentação, essa que gera a cada
dia mais intolerância e ódio. É de suma importância saber que toda essa
fragmentação é conscientemente planejada por um pequeníssimo grupo de
sociopatas megalomaníacos. Basta fazer uma análise bem cuidadosa dos eventos
históricos e logo irá juntar as peças do quebra-cabeças.
Para um cabalista, o mais
importante é se posicionar de forma imparcial diante dos fatos como um simples
expectador diante do grande teatro montado pelos diabólicos (diábolós do grego,
aquele que separa), lembrando que tudo o que é partido, não é inteiro, pleno,
assim, voltando-se cada vez mais para dentro de si, de forma a não perder a sua
preciosa energia.
A Cabala nos ensina que vivemos
no mundo da ação (Assiah - Malchut), e o nosso papel nesse mundo, é de
reunificação a partir do processo de individuação, respeitando a realidade de
cada um em sua dimensão microcósmica, é o conceito alegórico do despertamento
do messias individual, o despertar da consciência espiritual, de forma que como
o Zohar nos ensina, que todos nós nos encontramos interligados, a despertar o
messias coletivo, a consciência crística planetária, que é a centelha
propulsora para o grande salto quântico da humanidade para um padrão mais sutil
e elevado de existência.
Nesse momento atual, o que um
verdadeiro cabalista deve fazer, é procurar não se identificar com nenhuma
forma, partido ou agrupamento de ideias, pelo contrário, dedicar toda a sua
força em prol do bem e da evolução espiritual de todos. Sua ferramenta mais
potente é a meditação e a observação de si, reconhecendo que tudo e qualquer
coisa, não passa de gotas no imenso oceano cósmico, e que por tudo se encontrar
em constante movimento, tudo é apenas passageiro e impermanente. Um cabalista
não perde tempo com discussões infrutíferas e não se agremia com as multidões,
antes permanece no mundo sabendo que não pertence ao mundo, e sim, a totalidade
que abarca todas as realidades.
Paz Profunda.
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