sábado, 27 de fevereiro de 2010
A necessidade de uma ecoteologia
Quando falamos de teologia, pensamos logo em um discurso do homem sobre Deus. Porém, esse discurso passa por várias fases dentro dos livros sagrados, começa desde a criação e perpassa por toda a história, culminado num processo salvífico em um plano eterno ou através de encarnações sucessivas. Podemos observar que a natureza e todo o ecossistema foram criados antes do homem, assim sendo uma forma de preparação de um ambiente favorável e harmônico para o surgimento do homem, logo, entender os propósitos de Deus para com a natureza no contexto da criação, é uma forma de fazer teologia.
A vida só se torna possível no mundo, quando estamos em perfeito equilíbrio com a natureza, pois fomos criados e integrados à ela, todo o nosso corpo é formado por partículas e substâncias comuns no meio natural, segundo os mitos de muitos povos primitivos, fomos criados do barro, do pó da terra, ou seja, somos parte de um todo em perfeita harmonia, as narrativas míticas dos livros sagrados são repletas de metáforas associadas a elementos naturais, por exemplo: o sal da terra, pão da vida, água viva, todos componentes necessários para que haja a vida na terra.
Encontramos na Bíblia muitos relatos sobre a relação do homem com a natureza, mas a passagem que está mais de acordo com nossos dias se encontra no livro do profeta Oséias (Os 4.3) “Por isso, a terra se lamentará, e qualquer que morar nela desfalecerá com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar serão tirados.” Esse reflete exatamente o quadro da situação caótica atual, em função da ganância e do egoismo, o homem está destruindo o meio ambiente, atacando contra o seu próprio patrimônio, em consequência disso, vimos constantemente, o aumento de furacões, tsunamis, terremotos, aquecimento global, surgimento de novas doenças etc.
Essa teologia que está predominando por aí, ainda é um ranço sistemático e ortodoxo de uma época de repressão religiosa violenta, onde aqueles que pregavam a favor da liberdade de pensar, da paz e da harmonia entre o homem e a natureza, eram considerados hereges jogados na fogueira. Como dizia o filósofo Voltaire em seu livro Cândido ou o otimismo: “é preciso cuidar de nosso jardim”, esse jardim, é o nosso meio ambiente, a natureza, que está pedindo socorro, é preciso uma nova teologia, que aborde as questões relacionadas ao nosso meio ambiente, a mãe terra que chora vendo seus filhos se destruirem, os mares virando esgotos ao céu aberto, a poluição pairando sobre os ares, devemos compreender que em todo meio ambiente ou paisagem natural, existe a manifestação do sagrado, e é nesta dimensão do sagrado que devemos trabalhar nossa nova teologia, voltada da terra como dádiva para o homem, coroa da criação.
Para finalizar, devemos lembrar que quando surgiu nossa tradição judaico-cristã, com todo seu corpo de doutrinas teológicas, já existia uma cultura milenar ligada à terra e a natureza, espalhada pelo mundo, como por exemplo, os índios de diversas etnias, os xamãs, astecas, incas, maias, aborígenes australianos, hindus, africanos entre outros, então, chegou a hora de repensarmos sobre nossos conceitos teológicos, e procurar estabelecer uma nova aliança com Deus através do respeito ao meio ambiente e a natureza.
Reflita você também,
Kadu Santoro
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