quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Reino de Deus, proposta de plenitude e harmonia
Por Kadu Santoro
Segundo os evangelhos, Jesus não estabeleceu uma instituição física chamada Igreja, ele proclamou o Reino de Deus, um novo paradigma de vida embasado nos ideais de liberdade, fraternidade, justiça e harmonia. Esse novo modelo tem sua origem no amor incondicional de Deus (Jo.3.16) manifestado na vida e nas atividades do ministério terreno de Jesus por meio de milagres que oferecem saúde, libertação do pecado, das leis e rituais opressivos, das discriminações sociais e da própria morte, fazendo com que a partir da experiência desse amor, os que se voltam para ele, são transformados e permanecem abertos à sua dádiva de vida nova.
O Reino de Deus anunciado por Jesus, remete à visão simbólica dos profetas, que anteviram não apenas um reino terreno, uma terra prometida, fértil, onde jorram leite e mel, mas principalmente um estado de paz, harmonia e plenitude, como relatado pelo profeta Isaías: “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e já desmamando meterá a mão na cova do basilisco.” (Is.11.6-8). O sentido mais profundo dessa harmonia e plenitude encontra-se na relação entre as diferenças de cada indivíduo. Será um tempo onde as diferenças de personalidades, hábitos e princípios não serão motivos de divergências e desunião, pois a unidade será na essência e não na forma. Não haverá mais escândalos, pois aquele que atinge maturidade espiritual e tem consciência de sua liberdade e a do seu próximo, sabe viver de maneira misericordiosa, tem em seu coração amor e compaixão, enxerga e tem discernimento para buscar estabelecer a paz e não julgar e sentenciar o próximo. Esse reino começa em nosso interior, onde é preciso olharmos para dentro de nós e refletirmos sobre tudo e todas as coisas, conhecer a nós mesmos, buscar a centelha divina dentro de nós e avivá-la.
No livro do Apocalipse também encontramos uma referência sobre essa nova harmonia cósmica no mundo: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap.21.3,4).
A proposta de Jesus sobre o Reino de Deus transcende toda a religiosidade, as práticas e as obras já não serão exercidas segundo a racionalidade dogmática institucionalizada, e sim, de forma espontânea, gratuita, totalmente desprovida de qualquer intenção de retorno ou aplausos, como era no tempo da Lei, muito menos debaixo de autoridades eclesiásticas, pois como o próprio Jesus disse: “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras.” (Jo.14.9,10). Esta é a revelação maior e mais profunda de toda a jornada espiritual mencionada nos evangelhos, é o ponto mais alto de todo o processo de iniciação cristã, o estágio em que todo ser humano que busca à Deus em verdade (conhecimento) e espírito (graça) (IIPe.3.18) passa a viver de forma una com o Espírito de Deus. Isso é para todos, assim como tudo que Jesus realizou aqui, faz parte do processo de caminhada e acesse cristã, até atingirmos a estatura madura de varão perfeito (Ef.4.13), não mais pelas obras, vigilâncias morais e religiosas, e sim pela tomada de consciência da sua relação com o cosmos e a natureza divina, vivendo a verdadeira liberdade espiritual, transbordando luz e paz por onde passar, apontando sempre para o caminho do alto, de onde nós viemos e um dia retornaremos.
A proposta de Jesus é: “Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas.” (Lc.12.31). Mergulhe em sua vereda interior, busque a voz de Deus no teu silêncio, medite a respeito das características do cidadão do Reino de Deus, pois assim você alcançará a harmonia necessária para viver em plenitude.
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Caro Kadu, boa tarde!
ResponderExcluirEm primeiro lugar, obrigado por enxergar algo de bom no meu trabalho antipático; refiro-me ao meu artigo recente em Debates Culturais. É assim mesmo que ele deve ser. Não escolhi ser assim por gosto pela antipatia, você me entende. Alguém precisa apenas ser, diante do fato, e eu só consigo ser assim. Para mim é impossível ser outro, especialmente quando a grande maioria tende a zelar pela estética pessoal. O que é normal e lamentável. A idéia antropomorfa de Deus, no Ocidente, assim o é porque foi roubada. Na verdade, nós os goim não sabemos o que vem a ser o judaísmo. Para o budismo não existe a idéia de Deus, pois esta idéia e nome estão inevitavelmente ligados aos deuses, e os budistas não roubaram nada. Outras crenças orientais admitem deuses, também, sem terem roubado nada de ninguém. Todo ser realmente pensante não ignora a existência da inteligência cósmica. Não a chamo de Deus porque eu nego o deus cultural de Israel, ela, a inteligência cósmica, é a minha ignorância inominada. Existem inúmeras recitas para se lidar com ela e inúmeros conflitos por causa disso também. Os conflitos que envolvem o deus cultural de Israel são os que mais me incomodam. É isso. Meu gosto tende mais para história do que para a teologia e a filosofia e, historicamente, o deus de Israel é explicável. Ele não vai se livrar de mim facilmente.
Um forte abraço amigo.
Grande Ivani, boa noite!
ResponderExcluirQuero agradecer pela sua nobre presença no meu humilde blog, é sempre uma honra ter vc por aqui.
Gosto muito do seu "gênero antipático" de escrever, é claro, se assim os "religiosos" entendem né rsrs. Na verdade, as pessoas rotulam seus artigos porque estão condicionadas e engaioladas pela religiosidade, e deixam de lado as coisas mais belas da vida, como o amor, a fraternidade e a espiritualidade, aquela que não engaiola ninguém, pelo contrário, liberta. O próprio Jesus disse (seja ele mito ou realidade, o que importa é a essência da mensagem): "conhecereis a verdade e ela vos liberterá". Isso numa exegese mais profunda, claro que não é a utilizada nas igrejas, representa que na verdade, os judeus conheciam todos os mandamentos e suas sistemáticas legalistas mosaicas, e não viam a verdade que habita em cada indivíduo, ou seja, eram apenas religiosos.
Já no âmbito da filosofia, concordo com vc, pois se Deus é pessoal e explicável, ele já deixou de ser Deus a muito tempo, Tomás de Aquino que o diga rsrs... Não sou simpatizante da Teologia Sistemática, mas simpatizo com idéia de Deus que reside entre os pensamentos de Boaventura e Espinoza. São totalmente opostos, mas se complementam, pois o primeiro fala da transcendência e o segundo da manifestação através das leis cósmicas, isso chamo de transcendência e imanência, ou seja, Deus está em tudo e não está em nada ao mesmo tempo.
Um forte e fraterno abraço,
Kadu Santoro
Amigo Kadu, Deus sempre em todos os momentos, quem fala de Deus tão bem é claro, tem o dom da linguagem dos anjos...Um abraço
ResponderExcluirCresce em nosso país a violência e a desigualdade social. Eu não sei a onde está Deus nessa situação, parece que estamos abandonados. Na verdade, precisamos de Deus para quê se temos que nos virar praticamente sozinhos para sobreviver.
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