sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O apóstolo Paulo e a metáfora da escuridão


Assim chamo a experiência vivida pelo apóstolo Paulo durante a sua conversão a caminho de Damasco. Imagine como estava a cabeça deste homem, diante de um judaísmo em crise existencial e plena opressão romana. Naquele período existiam vários grupos e facções religiosas, porém todas elas viviam uma tensão a espera do messias e do livramento do julgo romano. Ele era um Fariseu e observante das Leis mosaicas, e também vivia num ambiente helenizado, onde a filosofia grega era muito influente na diáspora.

O acontecimento Jesus, mexeu com toda a estrutura daquele tempo, podemos considerar, que Jesus estabeleceu naquele época uma NOVA ORDEM MUNDIAL. A mensagem pregada por Jesus, apesar de ter como base o antigo testamento, passou a promover uma grande transformação na sua praxis, foi de encontro com todo o idealismo dos partidos judaicos, a espera pelo livramento daquele povo e a salvação da mão dos opressores, já não era algo externo, e sim, uma iniciativa interna, que devia brotar dentro do coração de cada pessoa, uma verdadeira mudança de mentalidade (metanóia) e consciência que Jesus chamou de Reino de Deus.

Essas mudanças de paradigmas, mexeram completamente com a cabeça daquele povo, principalmente de Paulo, aquele perseguidor implacável de cristãos, que derrepente viu-se abalado com a nova mensagem pregada pelos seguidores do nazareno. A cegueira daquele homem, é uma representação metafórica, que simboliza, que diante de uma grande ameaça, todos nós ficamos cegos, mas vai mais além disso, Paulo, como um bom fariseu, durante suas perseguições aos cristãos, deve ter tido contato com a comunidade essênia, situada em Qunram, e ali teve contato direto com os chamados Documentos de Damasco, que tinha esse nome, devido a existência de um local com esse nome, igual ao da cidade de Damasco na Síria, mas era localizada no deserto. Neste documento, encontrava-se várias regras da comunidade essência, desde textos relacionados a regras de guerra, conduta e hierarquia da comunidade e textos apocalípticos.
Tudo isso tem um papel fundamental na leitura e interpretação do Novo Testamento. O Professor R. Eisenman (California State University), que acredita na identidade, ou pelo menos numa estrita parentela, entre a comunidade de Qumran e o movimento judeu-cristão primitivo, afirma que o famoso trecho dos Atos dos Apóstolos no qual Paulo é enviado a Damasco pelo sumo sacerdote em busca de cristãos para prendê-los, tenha que ser completamente reinterpretada, entendendo com Damasco não a célebre cidade da Síria, mas este sitio de Qumran.

Essa metáfora vivida por Paulo, também é vivida por nós hoje em dia, diante de tantos problemas, crises e tribulações. Chegamos a ponto de perder o nosso referencial e acabamos entrando em profunda depressão e crise existencial. O mau do século é a depressão e a ansiedade, isso nos leva a ficar cegos metaforicamente, não vemos a luz no final do túnel, e a cada dia que passa, parece que as coisas vão piorando. Porém, a NOVA ORDEM MUNDIAL estabelecida por Jesus, de um reino de paz e justiça, nunca vigorou, pois o que veio na frente de sua mensagem, foi a instituição igreja, que acabou por cegar e formatar mais ainda seus seguidores.

Kadu Santoro

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As Bem-aventuranças: O Caráter dos Cidadãos do Reino


Jesus abriu esse importante sermão com uma série de oito declarações, pungentes e paradoxais, tradicionalmente conhecidas como as “bem- aventuranças” (Mateus 5.2-12). Elas devem ter caído como raios sobre aqueles ouvidos judeus do primeiro século. Uma fórmula para sucesso mais improvável poderia dificilmente ter sido imaginada. Elas assaltavam cada conceito da sabedoria convencional e deixavam o ouvinte chocado e perplexo. Deste modo, Jesus mostra o caráter essencial do Reino de Deus e seus cidadãos.

O mundo todo, então como agora, estava em busca, diligentemente, da felicidade e tinha tão pouco uma concepção de como obtê-la, como os homens de hoje. Não houve surpresa no anúncio de que havia verdadeira bem aventurança no reino. O choque veio com o tipo de povo que estava destinado a obtê-la.

As bem-aventuranças falam exclusivamente de qualidades espirituais. As preocupações históricas do homem, riqueza material, condição social e sabedoria secular, não recebem simplesmente pouca atenção, elas não recebem nenhuma. Jesus está claramente esboçando um reino que não é deste mundo (João 18.36), um reino cujas fronteiras não passam através de terras e cidades, mas através dos corações humanos (Lucas 17.20-24). Este reino totalmente improvável chegou, conforme anunciado, no primeiro século (Marcos 9.1; Colossenses 1.13; Apocalipse 1.9), porém muitos estavam despreparados para reconhecê-lo e aceitá-lo, assim como estão hoje.

Deve ser notado, ainda mais, que as qualidades do cidadão do reino não somente eram espirituais, mas são virtudes que o homem não receberia naturalmente. Elas não são o produto da hereditariedade ou do ambiente, mas da escolha. Ninguém, jamais, “cai” displicentemente nestas categorias. Elas não acontecem no homem naturalmente, e são de fato distintamente contrárias à “segunda natureza” que o orgulho e a ambição têm feito prevalecer nos corações de toda a humanidade.
Talvez não haja verdade mais importante a ser reconhecida sobre as bem-aventuranças do que o fato que elas não são provérbios independentes, que se aplicam a oito diferentes tipos de homens, mas são uma descrição composta de cada cidadão do reino de Deus. Estas qualidades são tão entrelaçadas num tecido espiritual que são inseparáveis. Possuir uma é possuir todas e não ter uma é não ter nenhuma. E como todos os cristãos têm que possuir todas estas qualidades de vida no reino, eles estão também destinados a receber todas as suas bençãos; bençãos que, como suas qualidades, são apenas componentes de um prêmio; um corpo chamado em uma só esperança (Efésios 4.4).

Em suma, então, as bem-aventuranças não contém uma promessa de benção sobre os homens em seu estado natural (todos os homens choram, mas certamente nem todos serão consolados, 5.4) nem de fato oferecem esperança àqueles que parecem cair numa categoria ou noutra. Elas são um quadro composto do que cada cidadão do reino, não somente uns poucos super-discípulos, têm que ser. Elas marcam a diferença radical entre o reino do céu e o mundo dos outros homens. O filho do reino é diferente naquilo que ele admira e valoriza, diferente naquilo que ele pensa e sente, diferente naquilo que ele procura e faz. É claro, que antes, jamais houve um reino como este.

Texto extraído do site da Ordem Rosacruz.org, que foi publicado no Jornal Prana na edição de dezembro de 2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

A guerra dos trinta anos - um retrato histórico da intolerância político-religiosa


A Guerra dos Trinta Anos ocorreu entre os anos de 1618 à 1648 na Europa, justamente num momento histórico tenso nesse continente durante o século XVII. Esse período ainda estava marcado pela transição do sistema feudal para a idade moderna, ou seja, para o período da ascensão da burguesia, onde o modelo teológico agostiniano já não atendia mais às necessidades da sociedade. As lutas européias do século XVII, podem ser consideradas como a extensão dos conflitos religiosos iniciados no século XVI, no período da Reforma Protestante e do conflito entre a França e o Império Germânico, iniciado na Época de Francisco I, onde essas nações buscavam maior hegemonia política.

O cenário deste período, é marcado por vários conflitos, os países escandinavos (Suécia, Dinamarca e Noruega) brigavam por questões territoriais ao norte, os turcos ameaçavam a Alemanha e a Itália. A maior oposição, porém, era a existente entre a Espanha e o Império Germânico, de um lado, e a França, do outro. A esses conflitos geopolíticos, se juntavam as lutas religiosas, pois a idéia de tolerância religiosa naquela época não existia. No Império Germânico, os príncipes protestantes se organizaram formando uma Liga Evangélica para se oporem à política do imperador. Essa atitude levou os príncipes católicos a se unirem, por sua vez, numa Liga Sagrada. Esses dois grupos entraram em choque em vários lugares, primeiro na região da Boêmia, que pertencia aos Habsburgos, onde havia uma grande concentração de protestantes, depois atacaram o castelo imperial de Praga, no ano seguinte, os protestantes recusam-se a aceitar o Imperador Ferdinando II, e escolheram um príncipe protestante, Frederico V, para ser rei da Boêmia. Neste momento, inicia-se a guerra sangrenta dos 30 anos.

O então, Imperador Ferdinando II, venceu os príncipes protestantes e tomou medidas severas contra eles: condenou à morte os chefes da revolta e confiscou seus bens, aboliu os privilégios políticos e a liberdade de culto na Boêmia, além disso tudo, confiscou os domínios de Frederico V e retirou-lhe o direito de voto para eleição de imperador, deixando de ser príncipe eleitor.



Pelo lado protestante, comandado pelo Conde Mathias Von Thurn, eles obtiveram algumas vitórias, estendendo a revolta para outras regiões, porém, vale a pena ressaltar, que, do lado protestante também havia divergências entre luteranos e calvinistas, o que enfraqueceu os protestantes e acabou abrindo espaço para a contra ofensiva católica, liderada pelo germânico T’Serklaes Von Tilly, que venceu os protestantes na Batalha da Montanha Branca, onde após essa vitória, muitos rebeldes foram condenados á morte e todos perderam seus bens e posses.

Finalmente, depois de vários anos de constantes lutas religiosas, em 1648, foi assinado o Tratado de Westfália, que marcou o fim do poder imperial na germânia, ficando decidido, que tanto o catolicismo quanto o luteranismo e o calvinismo ficassem permitidos no Império, ficando os príncipes com o direito de determinar a religião daqueles que governavam. A tomada das terras pertencentes à Igreja Católica, ocorrida em 1624, foi confirmada. O Império continuou eletivo, com exceção dos domínios diretos do imperador; os príncipes eleitores continuaram independentes. A França e a Suécia foram consideradas protetoras da liberdade dos príncipes alemães. A Alemanha foi reduzida a uma confederação de 350 pequenos estados independentes. A independência das Províncias Unidas foi reconhecida. O Tratado de Westfália, marcou o início da hegemonia francesa, pois deu à França a Alsácia, Lorena e os domínios Habsburgos dessa região.



Bibliografia:
- JOBSON, José de A. Arruda, História Moderna e Contemporânea – Ed. Ática – SP - 1988


Kadu Santoro

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Rabi Moshé Ben Maimon - Maimônides, vida e obra do grande pensador judeu


Rabi Moshé Ben Maimon, mais conhecido como Maimônides, ou como Rambam, nasceu em uma família de judeus estudiosos da Torá na Espanha, na cidade de Córdoba em 1135, bem no período de ocupação dos Mouros. Aos treze anos de idade no ano de 1148, presenciou o ataque a sua cidade pelos fanáticos Almoâdas, uma seita que pregava a restauração da fé pura islâmica, obrigando as pessoas a se converterem ou então eram expulsas da cidade. Maimônides e sua família decidiram fugir para o norte da África ao invés de converterem-se a outra fé que não fosse a deles. As perseguições religiosas duraram um período de onze anos, Maimônides e sua família se estabeleceram em Fez, capital do Marrocos, local onde os judeus influentes como seu pai, podiam professar sua fé e culto em público.

Durante a sua permanência em Fez, além de ter começado seus primeiros tratados e comentários sobre o Talmud, também estudou medicina e se aprofundou mais ainda na Torá, com o objetivo de que todos os judeus tivessem acesso a esses estudos, tanto da Torá, quanto do Talmud da Guemará etc. Ele buscou simplificar os textos e fazer com se tornassem acessíveis a todos os judeus dispersos de suas tradições. Ainda em Fez, começo a compilar seu trabalho para o comentário da Mishná, ele escrevia em árabe, para que todos pudessem entender. Neste período, ele publicou seus famosos “treze princípios de fé”.

Após esse período, foi para Fostat (antiga capital do Egito) em 1168. Seu irmão Davi, comerciante, mantinha economicamente a família, e Maimônides dedicava-se aos estudos. Após o trágico naufrágio que matou o seu irmão, passou a exercer medicina para sustentar a família. Já era então um importante membro da comunidade judaica local. Em 1177 era reconhecido como líder, e entre suas ocupações somavam-se a de juiz e administrador. Tornou-se médico e conselheiro do vizir al-Fadil, a quem Saladino deixou a cargo quando conquistou o Egito, tendo sua reputação ganho reconhecimento internacional. Comunidades judaicas de várias partes do mundo lhe escreviam em busca de sua sabedoria na lei judaica.

Maimônides escreveu dez trabalhos de medicina em árabe e vários trabalhos de teor religioso, onde reflete sua visão filosófica sobre o judaísmo. É o codificador dos treze princípios fundamentais do judaísmo. Sua grande popularidade lhe rendeu a frase elogiosa que diz: "De Moshê (o Legislador) até Moshê (ben Maimon) não há outro como Moshê". Além dos seus treze princípios de fé, as suas duas obras mais importantes são: a Mishnê Torá ou Yad Hazaká (Mão Forte), composta por quatorze livros contendo 982 capítulos e milhares de leis, e o Guia dos Perplexos, uma obra filosófica com base aristotélica fundamentada nos princípios da Torá, além de muitas outras obras.

Maimônides foi um filósofo racionalista religioso. Condenava interpretações literais da Torá como “o dedo de Deus” e prescrevia seu livro O Guia dos Perplexos para estas pessoas. Maimônides via muitas coisas na Torá como metáforas. Os anjos, por exemplo, ele identificou com as leis da natureza, pois, dizia Maimônides, Deus nunca viola as leis da natureza. Mesmo que um evento seja considerado um milagre, não é uma alteração da ordem do mundo.
Este pensamento levou Maimônides a sustentar um ponto de vista um tanto complexo. Maimônides tinha uma posição muito peculiar em relação à ressurreição dos mortos quando da vinda de Messias. Maimônides considerava oOlam Haba (mundo vindouro) puramente espiritual, não físico, com pessoas andando e vivendo normalmente. Mas ele mesmo afirma que os mortos ressuscitarão (mas não especifica quando). Agora, se Deus não viola as leis da natureza, como pode alguém ressuscitar e viver eternamente? Maimônides acreditava na imortalidade espiritual e foi a partir disto que resolveu seu dilema. Para ele, a ressurreição era parte da profecia de Daniel e poderia se cumprir a qualquer momento, não sendo necessariamente universal e não tendo necessariamente relação com a vinda de Messias. Maimônides prossegue e diz que haverá uma era Messiânica aqui na Terra, mas somente depois disto que teríamos acesso aoOlam Haba, puramente espiritual, aonde haveria a imortalidade de todas as almas criadas por Deus.
Maimônides morreu, aos setenta anos, em 1204 e foi enterrado em Tiberíades, na Palestina. Na ocasião de sua morte os judeus do Egito declararam três dias de luto. Seus filhos ocuparam o cargo de Nagid (líder da comunidade egípcio) por quatro gerações e sua obra influenciou muitos filósofos que vieram depois dele, não somente os judeus. Maimônides foi citado por pensadores como Tomás de Aquino, Francis Bacon e Spinoza.


Bibliografia:
- http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/rambam/home.html
- http://www.sobresites.com/judaismo/personalidade/maimonid.htm


Kadu Santoro

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Breve síntese do período dos Juízes no Antigo Testamento


CONTEXTO HISTÓRICO:

Logo após a morte de Josué, em torno de 1200 AC.(?) ( Js. 24 ), as tribos ficaram sem uma liderança que pudesse unir as forças para se protejerem da ofensiva dos povos vizinhos como os filisteus, midianitas, amonitas, cananeus entre outros.

Em função da ocupação das terras em Canaã pelos hebreus, eles ainda conviveram muito tempo com esses povos vizinhos e começaram a serem influenciados culturalmente e religiosamente por estes. A partir desta convivência com estes povos vizinhos, os hebreus começaram a se afastar de YHWH, e começaram a entrar num ciclo chamado de ciclo do pecado, onde neste momento, YHWH começou a levantar e a estabelecer juízes. O período dos juízes, corresponde a mais ou menos dois séculos de história.

O CICLO DO PECADO ( O DECLÍNIO MORAL DE ISRAEL ):

O povo passou por mais de três séculos nos quais, “não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” ( Jz. 17.6; 21.25 ). Durante este período, o povo vivia da seguinte forma:

1º) o povo obedecia a YHWH durante um tempo;
2º) em seguida afastavam-se dele;
3º) por causa da desobediência, YHWH permitia a opressão pelos inimigos;
4º) o povo se arrependia e clamava pela libertação;
5º) Deus levantava juízes para livrar o povo das mãos do inimigo;
6º) O povo depois do livramento servia a YHWH;

Este ciclo do pecado, virá se repetindo ao longo da história desse povo, passando pelo período da monarquia, até culminar no exílio.

OS JUÍZES:

Os juízes eram homens e mulheres carismáticos, levantados e estabelecidos por YHWH para libertarem o povo da opressão e escravidão dos inimigos. Eram pessoas tementes a YHWH, marcadas por uma forte personalidade, capazes de se imporem moralmente perante as tribos. Eles também tinham a função de julgar. Foram ao total, doze juízes, sendo que eles eram classificados como:


1º) Juízes Maiores – Carismáticos ou salvadores:
Otoniel ( 3.7-11 ); Eúde ( 3.12-31 ); Débora e Barac ( 4.1-5,32 ); Gideão ( 6.11-8,35 ); Jefté ( 11.1-40 ); e Sansão ( 13.1-16, 31 ).

2º) Juizes Menores - Estatais:
Abimeleque ( 9 ); Tola ( 10.1-2 ); Jair ( 10.3-5 ); Ibsã ( 12.8-10 ); Elon ( 12.11-12 ); e Abdon ( 12.13-15 ).

OS TEMAS PRINCIPAIS:

O livro de juízes é rico em narrativas, vejamos alguns temas principais desenvolvidos ao longo da história dos juízes:

1º) A continuação da história da vida dos Hebreus na terra prometida;
2º) A apostasia dos Hebreus em relação à aliança com YHWH e a opressão resultante nas mãos dos inimigos;
3º) A idolatria praticada pelos Hebreus junto com os povos canaeus;
4º) YHWH mostra que ele é o único Deus verdadeiro e juiz;
5º) O declínio da condição espiritual dos juízes;
6º) O poder da fé e da oração ( Hb. 11.23,33 );
7º) A difícil relação entre as tribos, que irão resultar posteriormente na divisão em dois reinos no período da monarquia;

VALOR HISTÓRICO DO LIVRO DE JUÍZES:

O livro de juízes, é considerado como um “livro histórico” da bíblia, segundo o modo de se relatar a história naquele tempo. O livro nos fornece um precioso quadro geral do modo de vida das tribos de Israel após a sua instalação em Canaã, relatando sobre a vida política, social e religiosa daquele povo. O livro também nos revela o declínio espiritual e moral daquelas tribos, após se estabelecerem na terra prometida. Este registro deixa claro os infortúnios que sempre ocorriam ao povo Hebreu quando eles se esqueciam do seu concerto com YHWH e buscavam a outros deuses, praticando a idolatria e a devassidão.

VISÃO TEOLÓGICA:

O livro de juízes nos apresenta um olhar teológico de como Deus acompanha o seu povo ao longo da história concreta, mesmo no meio dos mais graves acontecimentos, como as guerras contra os povos inimigos. Em função da desobediência e da idolatria, vem o castigo, que aparece nas derrotas perante os povos estrangeiros; de depois a vitória, mediante os intermediários do Senhor, os juízes “salvadores”.

Resumindo, a idéia teológica que ressalta deste livro é, pois, a imagem que um povo livre tem de Deus, que o acompanha para o libertar após o seu arrependimento.


BIBLIOGRAFIA:
SCHULTZ, Samuel J. , A história de Israel no Antigo Testamento, Vida Nova, SP, 1995.
BRIGHT, John, História de Israel, Ed. Paulinas, SP, 1978.

Kadu Santoro

domingo, 31 de outubro de 2010

Baruch Spinoza - Um filósofo a frente do seu tempo


Baruch Spinoza nasceu em Amsterdam em 24 novembro de 1632, e terminou seu dias em 20 de fevereiro de 1677, vítima de tuberculose. Recebeu desde cedo uma sólida educação judaica tradicional, aprendeu hebraico, estudou a Bíblia e o Talmud a fundo. Além disso, Baruch estudou também, francês, latim e matemática. Um escritor a frente de seu tempo, espírito inquieto e questionador, que acabou fazendo com que fosse excomungado pela sinagoga, que acusou-o de perigosas heresias contra a tradição judaica. Logo passou a viver uma vida solitária, vagando de um lado para o outro dentro de sua própria filosofia, vivendo em quartos alugados no subúrbio de Leyde e finalmente em Haia. Para sobreviver, ele fabricava lentes de luneta, que era um ofício ligado à atualidade técnica e científica de sua época.

Spinoza se aproxima de Descartes no ideal e no método racionalista, porém, considera-se mais cartesiano que Descartes. Para ele, o procedimento racional é independente de qualquer dogma religioso. Spinoza rejeita qualquer forma transcendente e enigmática de Deus, para ele, Deus confunde-se com a natureza eterna e o homem não mais é uma criatura autônoma, mas apenas uma parte dessa natureza.

Para Spinoza, a idéia de Deus, é a idéia mais rica e plena, apesar dele não ser cristão como Descartes, mas, à sua maneira, é muito mais religioso que ele. Spinoza é panteísta, tudo o que existe, tudo o que pode ser concebido entra necessariamente numa das três definições enunciadas no início do Livro I da Ética: “Entendo por substância o que é em si e concebido por si, isto é, aquilo cujo conceito pode ser formado sem necessitar do conceito de uma outra coisa. Entendo por atributo aquilo que a razão concebe na substância como constituindo sua essência. Entendo por modos as afecções de uma substância, em outras palavras, o que existe em outra coisa e por meio da qual é concebido”. Uma vez que a substância é causa em si (idéia concebida do argumento ontológico cartesiano), ela é necessária, infinita e, por conseguinte, única. Por conseguinte, não poderia haver outra substância senão Deus, enquanto todo o resto só pode existir e ser concebido como atributo ou modo dessa substância única. Os atributos são os aspectos sob os quais a substância pode ser representada; são em número infinito, porém, só conhecemos dois, a extensão e o pensamento. Os modos não têm, como a substância, sua explicação em si mesmos, mas na própria substância. Em suma, eles são o equivalente, no sistema panteísta, do que são as criaturas na teologia tradicional. Eles são parte de Deus e não criaturas de Deus. Para finalizar, Spinoza diz que Deus é causa imanente e não transitiva, pois a causa transitiva, é aquela que modifica seu objeto, enquanto a causa imanente permanece inteira no sujeito e não modifica seu objeto.

O homem para Spinoza, é apenas um pequeno fragmento da natureza, é o modo finito da substância infinita. Ele divide a substância em dois atributos: um corpo, isto é, um pequenino fragmento da extensão infinita, e uma alma, parcela ínfima do pensamento infinito, como a idéia de centelha divina usada pelos gnósticos e alquimistas. Para Spinoza, o homem é inicialmente um escravo, porque ele vive na ignorância. Para ele, o único meio de nos libertar, de assegurar nosso poder e nossa plenitude, é o esclarecimento, pois quando o entendimento conhece Deus, ele nos conduz à salvação. Podemos concluir que para Spinoza, o conhecimento está subordinado à salvação, porém, para ele, o único meio de se atingir essa salvação, é através do conhecimento racional. Só a razão nos pode permitir o prazer do bem absoluto.

O conhecimento racional procede por dedução, cujo valor repousa, em última instância, numa intuição racional que a fundamenta. Essa intuição do que é verdadeiro, é uma luz que encontra sua garantia em sua própria clareza intrínseca: saber é saber que se sabe. Desse modo, o verdadeiro encontra em si mesmo seu próprio critério. Para Spinoza, o conhecimento encontra-se no nível do Ser, para ele, o conhecimento verdadeiro e autêntico de uma essência é uma participação de Deus.

Quanto a religião, Spinoza divide em dois tipos, a do povo e a do filósofo. A primeira, está relacionada à Lei: à lei hebraica ou a outra lei contida nos livros considerados sagrados. É pela obediência à lei, que o povo, ignorante, pode subjugar as paixões e conquistar a liberdade. A religião positiva, tem função puramente pedagógica. E essa também a função da Bíblia: o seu escopo não é ensinar a verdade, mas somente educar o homem para dominar as paixões e suas concupiscências. A religião superior é a dos filósofos, isto é, o conhecimento adequado, através desse conhecimento, o filósofo atinge a liberdade, e obedecendo aos ditames da razão, ele subjuga todas as paixões. Sintetizando: as duas formas de religião, tem o mesmo objetivo, subjugar as paixões, porém são bem distintas. A primeira é pela obediência às leis, e a segunda, pela via do conhecimento da verdade.


Bibliografia:
- MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
- VERGEZ, André – História dos Filósofos Ilustrada pelos Textos – Livraria Freitas Bastos – RJ - 1988


Kadu Santoro

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Escola de Frankfurt



Foto ao lado de Theodor Adorno e Max Horkheimer, dois dos maiores expoentes
e fundadores da escola.


A Escola de Frankfurt, surgiu em 1924, inicialmente como um instituto de pesquisas, voltado para o debate intelectual, visando primariamente uma união entre o pensamento marxista e a psicanálise criada por Freud, com a principal tarefa de esclarecer as novas realidades surgidas com o desenvolvimento do capitalismo no século XX, num período da história contemporânea, onde seus principais expoentes, observaram estarrecidos, as mudanças nos cenários políticos, sociais e culturais, como a deflagração da Revolução Russa, em 1917, o surgimento do regime fascista e a ascensão do nazismo na Alemanha.

A Escola de Frankfurt, é considerada como o último expoente da filosofia alemã, foi fundada e financiada por Félix Weil, e reunia em torno de si, um círculo de cientistas sociais e filósofos de mentalidade marxista e de origem judaica. Esses renomados pensadores, eram adeptos da Teoria Crítica da Sociedade. Seus principais integrantes eram, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Walter Benjamim, Léo Löwenthal, Erich Fromm, Jürgen Habermas, Ernst Bloch, entre outros.

A gama de temas tratados pela escola era amplo, desde assuntos relacionados aos processos civilizatórios modernos, envolvendo o destino do ser humano na era da técnica até a política, passando também pelas questões da arte, música e literatura. Essa corrente filosófica, também foi responsável pela disseminação de expressões como: “indústria cultural” e “cultura de massa”.

A Teoria Crítica elaborada por Adorno e Horkheimer, tinha como principal objetivo, apresentar as coisas como são, sob forma de tendências presentes no desenvolvimento histórico, procurando diagnosticar o tempo presente baseando-se em estruturas de modelos sociológicos vigentes e condições históricas concretas. A Teoria Crítica utiliza-se de idéias do Marxismo para tentar explicar o funcionamento da sociedade e a formação de classes, e também, da psicanálise para explicar a formação do indivíduo.

Quanto ao conceito de “indústria cultural”, podemos citar a tese central do livro “Dialética do Iluminismo”, que nos afirma, que o projeto iluminista original, foi um mito que levou a humanidade a um verdadeiro impasse, no qual a ciência e o positivismo estavam a serviço da opressão. “Ao invés de trazer liberdade aos homens, acabou nos trazendo o potencial de destruição em massa.” (Max Horkheimer e Theodor Adorno). A origem da indústria cultural, se deu através da sociedade capitalista que acabou transformando a cultura num produto comercializado. A produção da indústria cultural, é direcionada para o retorno lucrativo, tendo como base, padrões de imagem cultural. Para Horkheimer e Adorno, os termos modernos criaram a idéia de que não apenas somos seres livres e distintos, como podemos construir uma sociedade capaz de permitir a todos uma vida digna, onde cada indivíduo possa se realizar.

Horkheimer, Adorno e Marcuse, referiam-se com o termo indústria cultural, à conversão da cultura em mercadoria, ao processo de subordinação da consciência à racionalidade capitalista. Para eles, o problema maior, era não apenas o fato de o conhecimento, a literatura e a arte em si, senão os próprios seres humanos se tornarem produtos de consumo. A prática da indústria cultural, segue a linha da menos resistência, não deseja mudar as pessoas, desenvolve-se com base nos mecanismos de oferta e procura, explorando necessidades e predisposições individuais que não são criadas por ela, mas, sim, pelo processo histórico global da sociedade capitalista.

Podemos concluir, que os pensadores da Escola de Frankfurt, faziam uma crítica a cultura de massa, não porque ela era popular, mas, sim, porque boa parte dessa cultura conservava as marcas da violência e da exploração, que as massas tinham sido submetidas desde as origens da história, como um bom exemplo disso, podemos citar a propaganda ideológica nazista, que tinha um poder de persuasão incrível, movimentando milhares de jovens em prol do extermínio em massa dos judeus, alegando serem eles, os judeus, a causa de todos males da humanidade. Hoje em dia, vimos esse contexto se repetir com a massificação de programas televisivos, evasivos e alienatórios, deixando o telespectador totalmente narcotizado diante de tanta futilidade e sedução de consumo nas telas da televisão, proporcionando lucros astronômicos às emissoras e enriquecendo os bolsos dos patrocinadores.



Bibliografia:
- MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Frankfurt


Kadu Santoro

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VIVA E DEIXE VIVER!


Pois é, essa é a grande questão. Vivemos num mundo onde o discurso tem o seu poder maior, como dizia Michel Foucault. A maior expressão desse poder, encontramos nos dogmas construídos por séculos nos átrios das igrejas, atingindo seu ápice, quando convocados, segundo a grande comissão bíblica de levar a todos cantos da terra as boas novas do evangelho, os “crentes” saem com essa missão, quase que uma cruzada, pois para eles, aqueles que não receberem por guela abaixo as boas novas, e todo seu escopo de usos, costumes e dogmas, estão sumariamente excluídos, do que eles chamam de salvação, ou seja, o discurso religioso, sempre teve como propósito maior, o controle e a formatação de seus seguidores.

Longe dessa forma agressiva de abordagem, Jesus nunca mencionou a institucionalização da religião, pelo contrário, ele sempre atacou as formas dominantes eclesiásticas de seu tempo, sendo ele considerado pela própria igreja como um verdadeiro “herege”, a ponto de ser levado à morte or crucifixação pelos “pastores” da igreja da época. O reino anunciado por Jesus, era e sempre foi algo interior, uma mudança de mentalidade (metanóia), conversão de toda forma de hipocrisia, egoísmo, austeridade em virtudes e qualidades. Ele apresentou a vida no sermão do monte, usou o poder de sua linguagem para libertar as pessoas, e não para aprisioná-las nas grades sistemáticas da religiosidade, pregou um “re-ligare” interior, comunhão direta com o Pai, uma vida abundante, sem traumas e sentimentos de culpas.

Infelizmente, o que nos chegou, como “igreja”, foi apenas um organismo institucionalizado, cheio de hierarquias, dogmas, campanhas, estratégias, lideranças, trazendo em seu escopo, uma linguagem opressora, onde aquele que pensa diferente, já não pode compartilhar da mesa daquele que nos chamou para a grande comunhão do amor. Esse tipo de “pregação”, na verdade, é uma forma de convencimento, onde faz com que você reconheça que é “pecador”, diferente, e logo assim, você acaba morrendo, perdendo sua personalidade, características próprias e passa a ser uma “nova criatura”, mesmo que morta e empalhada, onde suas asas são cortadas, e só lhe resta a nostalgia do vôo da liberdade interior, da consciência plena da comunhão maior com Deus.

A mensagem do evangelho, oferece-nos um convite à vida, ao contrário da mensagem do antigo testamento, que nos coloca um jugo pesado em nossas costas, fundamentado na Lei. Se observarmos bem, no contexto das igrejas atuais, percebemos, que noventa por cento das pregações, seguem a cartilha do antigo testamento, são campanhas baseadas na turma da “paulada”, Sansão, Davi, Gideão, Moisés, um Deus ciumento, rancoroso e irado, e o evangelho da “vida”, acaba ficando de fora, sendo o único lugar destinado à Jesus, o lado de fora da igreja, como foi com os profetas, banidos e expulsos.

Infelizmente, essa é a realidade atual, porque pregando o antigo testamento, as “lideranças eclesiásticas” sente-se poderosas, com autoridade sobre os fiéis, centralizando todo evento espiritual no templo, fazendo campanhas atrás de campanhas, batendo metas de “conversões”, que na verdade são formatações, uma verdadeira indústria de clones formatados, que geram “prosperidade” ao templo e ao sacerdócio, enquanto milhares desses fiéis passam até fome por isso. A proposta de Jesus é totalmente contrária, desloca a atividade e servidão do templo, para uma comunhão interior, (“E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. (II Coríntios 6.16), nos conduzindo a uma vida plena.

A proposta de Jesus é: viva e deixe viver, pois quando você passa a amar verdadeiramente seu próximo, não há religião que possa separar você dessa comunhão, não vimos para sermos juízes. Então, é hora de deixarmos de lado, toda essas estratégias “satânicas” de convencimento e conversão, pois afinal de contas, você não precisa ficar elaborando estratégias pelos domingos de manhã, para se chegar as pessoas e convencê-las de um monte de baboseiras, como, não fume, não beba, na faça isso, não faça aquilo, trantando os outros como crianças rebeldes, pois Deus conhece o coração de todos, e não nós, e passe a ser o próximo, aquele que está ao lado para ajudar, amar, e não para ficar condenando igual fariseu, construa pontes, e não muros, conviva harmoniosamente com todos, independentemente de religião, nível cultural, social, racial e qualquer outra diferença, “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens”. (Romanos 12.18).


Reflita nisso!

Fraternalmente,

Kadu Santoro

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A religião do Antigo Egito


A Religião do Egito de 4400 a.C. e semelhanças com o Cristianismo.


O Livro dos Mortos

Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte:
o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.

O homem egípcio e sua conceituação

A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT. Ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem era CU que era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que também ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes, pois se o nome for eliminado poder-se-á se destruir o homem, ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome, e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".

O julgamento da alma e a vida eterna

A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens, porém muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo, porém os deuses encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (O Juízo Final e os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é: "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal!. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............ verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente, pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o Faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade (10 Mandamentos).
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam (O Deus cristão).

A criação do Mundo conforme os egípcios

Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão (e Deus fez a Luz), nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, (o Verbo Divino) que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, ....... És Uno, ......... Os homens te exaltam e juram por ti, pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, .......... seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.

Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz

Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se, dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por seu irmão Set, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus (Jesus Cristo). Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava, pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo, pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos capital do Antigo Egito e que recebe as tumbas dos 1os Faraós e lá onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal e aonde, a partir o Reino Médio, se fazem peregrinações anuais com milhares de peregrinos, inclusive com a participação do próprio Faraó, para celebrar a ressurreição de Osíris. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Há outros templos, Ahmose, Senusret III, Seti I, Ramses II, cujas construções se sucedem desde as 1as Dinastias, continuam pelo Reino Médio (1975-1640 a.C.) atravessam o Reino Novo (1539-1075 a.C.) até o Último Período (715-332 a.C.). Com o tempo, Osíris passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos e Osíris se torna um deus nacional igual e, em alguns casos, maior que Rá. Nas XVIII e XIX dinastias (1600 a.C.), ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.

Outros Deuses do Egito

Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses, mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris.

São esses os 9 deuses, da grande companhia de Heliópolis.
Seb é a terra, era filho de Xu e é o pai dos deuses: Osíris, Ísis, Set e Néftis, passou, mais tarde, a ser o deus dos mortos.
Nut é o céu, é esposa de Seb e mãe de: Osíris, Ísis, Set e Néftis é considerada mãe dos deuses e de todas as coisas vivas.
Seb e Nut existiam no aqüífero primevo ao lado de Xu e Tefnut.
Osíris, filho de Seb, e de Nut, marido de Ísis, e pai de Horo, é o Deus da Ressurreição e sua história já foi retro citada.
Ísis esposa e irmã de Osíris e mãe de Horo, é a deusa da natureza, a divina mãe, nessa qualidade tem milhares de estátuas onde está sentada amamentando o filho Horo, (Virgem Maria e Jesus Cristo) suas peregrinações em busca do corpo de Osíris, a tristeza ao dar a luz e educar o filho, Horo, no pântano de papiro do Delta do Nilo, a perseguição que sofreu dos inimigos do marido são citados em textos de todas as dinastias.
Set, filho de Seb e Nut, é marido de Néftis sua irmã, e é irmão de Osíris e Ísis, representa a noite, e estava sempre em guerra com Horo, o dia e é a personificação de todo o mal.
Néftis, mulher, e irmã, de Set, irmã de Osíris e Ísis, e é mãe de Anúbis filho dela e de Osíris; ela ajudava os mortos a superar os poderes da morte e do túmulo.

A seguir, os principais deuses das outras companhias:

Nu, pai dos deuses, e progenitor da grande companhia dos deuses, era a massa aqüífera primeva.
Ptá, é uma forma de Rá e é tipificado como o abridor do dia.
Ptá-Sequer, é o deus duplo da encarnação do Boi Ápis de Mênfis com Ptá.
Ptá-Sequer-Ausar, três deuses em um, simbolizava: a vida, a morte e a ressurreição.
Cnemu, foi quem modelou o homem numa roda de oleiro, ajudava Ptá a cumprir as ordens de Tot (o homem moldado no barro por Deus).
Quépera, é o tipo da matéria que contem em si o germe da vida em vias de aflorar numa nova existência, significava o corpo morto que estava preste a fazer surgir o corpo espiritual.
Amon, era um deus local de Tebas com seu santuário fundado na XII dinastia (2500 a.C.), significa oculto, e passou a ser um deus de primeiríssima importância nas XVIII, XIX e XX dinastias e, a partir de 1700 a.C. foi declarado representante do poder oculto e misterioso que criou e sustenta o universo e o fundiram com os deuses mais antigos e ele usurpou os poderes de Nu, Cnemu, Ptá e vira um deus sagrado senhor de todos os deuses, Amon Rá, como está no papiro da princesa Nesi-Quensu de 1000 a.C.. A partir de 800 a.C. declina o poder de Amon.
Maât, grande deusa, tipifica a Verdade/Justiça. Presente no julgamento dos mortos, dela dependia a salvação.
Horo, simbolizado pelo falcão, que parece ser a 1a coisa viva que os egípcios adoraram, era o deus sol como Rá que em épocas mais recentes foi confundido com Horo filho de Osíris e Ísis. Ele estava associado aos deuses que sustentam o céu nos 4 pontos cardeais, os 4 espíritos de Horo, que são: Hapi, Tuamutef, Amset e Quebsenuf. É, também, tipificado como o dia sempre em luta contra Set.
Anúbis, filho de Osíris com Néftis que presidia a morada dos mortos, era o condutor dos mortos e protetor dos cemitérios.
Tot, deus da Palavra criadora e mágica, divindade lunar, encarnação da sabedoria, toda a cultura humana era obra de suas inspirações.
Ápis, touro que recebia culto, pois acreditavam que a alma de Osíris tivesse habitado o seu corpo, tinha uma mancha branca, em forma de crescente, na testa.
Rá, o deus Sol, é, provavelmente, o mais antigo dos deuses adorados no Egito, ele velejava pelo céu em 2 barcos o Atet, desde o nascer do sol até o meio dia, e o Sectet, do meio dia até o por do sol. Visto ser Rá o pai dos deuses nada mais natural que cada deus representasse uma fase dele e que ele representasse cada um dos milhares de deuses egípcios, numa explícita alegoria do fundamento moneteista da religião egípcia.

A trindade Egípcia:

Temu ou Atmu, isto é, o que fecha o dia, seu culto vem da V Dinastia e é o fazedor dos deuses, criador de homens.
Xu, é o primogênito de Temu e tipifica a luz. Ele colocava um pilar em cada ponto cardeal para sustentar o céu, os suportes de Xu são os esteios do céu.
Tefnut, era irmã gêmea de Xu e tipificava a umidade, seu irmão Xu é o olho direito, e ela é o olho esquerdo de Temu.
Os deuses Temu, Xu e Tefnut formavam uma trindade e Temu na história da criação diz:
"Assim, sendo um deus, tornei-me 3" (a Santíssima Trindade católica).

O Barco do Sol representa a lua, seu quarto crescente, tendo o disco do Sol sobre ele e, essas 2 luminárias, formam essa imagem que é o núcleo central da religião egípcia, a Lua é fria e úmida, sempre em eterna mutação, governa a afeição, os amores, é feminina. O Sol é quente e seco e governa a razão de modo impessoal e objetivo, é masculino. Essas duas forças são equipotentes, com naturezas opostas, é o Yin e Yang da religião chinesa, o Enxofre e o Mercúrio da Alquimia, o Positivo e o Negativo da Eletricidade, a eterna oposição do bem e do mal,do amor e do ódio, do dia e da noite, a sublime dualidade de todas as coisas, desde sua Criação do aqüífero primevo, na gênese do mundo contada pelos egípcios, há 6.000 anos atrás, através dessa religião e sistema moral complexo e maduro, que nada fica a dever às concepções desenvolvidas pela Grécia que dizia que: a matéria era uma carga muito pesada para o espírito, nascido no Céu e, consequentemente, a vida consistia em viver morrendo, enquanto a morte era, para a alma, a porta da Liberdade.

Anibal de Almeida Fernandes, Junho, 2006.

Bibliografia:

O Livro dos Mortos, Hemus, Editora LTDA SP.
A Religião Egípcia, E. A Wallis Budge, Cultrix, SP.
Egypt's First Pharaohs, National Geographic, April 2005, pgs 106 a 121.

domingo, 3 de outubro de 2010

O método alegórico de interpretação bíblica e suas origens


O método alegórico, faz a aproximação dos textos bíblicos por analogia figurada, mostrando que o sentido literal da própria palavra é insuficiente para revelar o significado da verdade dos mistérios cristãos. Assim, por intermédio de alegorias, que são metáforas, símbolos e mitos, acreditam expressar de forma mais profunda a essência da doutrina.

A Escola de Alexandria, foi sem dúvida, a maior representante da interpretação alegórica das Escrituras do Antigo Testamento. Seu sistema interpretativo, teve influência direta da filosofia grega, principalmente de dois filósofos muito importantes. O primeiro foi Heráclito (Éfeso, 540 a.C.? – 475 a.C.?), ele criou o conceito de “huponóia”, que significa, um sentido mais profundo, para ele, o verdadeiro sentido do texto, estava além das palavras. O segundo foi Platão, ele formou um conceito de que o mundo em que vivemos, é apenas uma representação do que existe no mundo perfeito das realidades imateriais, o “mundo das idéias”.

Fílon de Alexandria, judeu erudito, também foi influenciado pela filosofia grega, principalmente pela filosofia platônica, para ele Moisés e Platão eram dois heróis. Além de possuir uma sólida formação judaica, Fílon era um grande estudioso das Escrituras veterotestamentárias traduzidas para o grego (LXX – Septuaginta), da qual, estabeleceu de forma alegórica (alegorese), uma harmonização dessas Escrituras com a filosofia grega. Fílon escreveu vários comentários bíblicos utilizando o método alegórico, como por exemplo, nos seus comentários de Gênesis, um deles é sobre a criação do jardim do Éden (Gn 2.8-14), onde o rio Gion (2.13) significa “coragem” e circunda a terra de Cuxe, que significa “humilhação”; o sentido alegórico encontrado nessa passagem, é que a coragem dá demonstrações de bravura diante da covardia. Já o rio Tigre (2.14) significa temperança, pois como um tigre, resiste resolutamente ao desejo. O Eufrates (2.14) não se refere ao rio. O sentido alegórico é “justiça”. O rio Pisom (2.11) significa “mudança na boca” e Havilá “tagarelar”, que Fílon interpreta como significando “insensatez”. A interpretação alégórica da passagem, é que a insensatez é destruída pela “mudança na boca”, que é o falar com prudência.

A Escola de Alexandria, usava uma teologia com base na interpretação alegórica das Escrituras, formada pela combinação entre a erudição filosófica grega e as verdades fundamentadas nos escritos veterotestamentários. Para essa escola, as Escrituras Sagradas tinha a função de narrar os acontecimentos, sugerir ensinos, conceitos morais e exigir a busca de um sentido mais profundo. Os principais representantes dessa escola foram: Panteno (fundador), Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (185-253 d.C.). Clemente de Alexandria, foi o primeiro a lidar seriamente com questões de interpretação bílbica, usava a interpretação alegórica para descobrir o sentido oculto das passagens bíblicas, e harmonizar os dois Testamentos. Para ele, o objetivo de Deus em revelar-se alegoricamente, era para ocultar a verdade dos incrédulos e descortiná-la apenas para os realmente espirituais. Orígenes, era um estudioso muito respeitado, para ele, a melhor maneira de se compreender a Bíblia, é através da perspectiva platônica. Para ele, a Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender. O sentido literal é valioso, mas algumas vezes, obscurece o sentido primordial, que é o sentido espiritual. O sentido literal, é apenas para os neófitos, mas o espiritual é para os maduros na fé. Orígenes influenciou muitos Pais da Igreja como: Dionísio o Grande, Eusébio de Cesaréia e Cirilo de Alexandria.


Bibliografia:
BOGAZ, Antônio S. - Patrística: Caminhos da tradição cristã – Paulus – SP – 2008. FRÖHLICH, Roland, Curso Básico de História da Igreja, São Paulo, Paulus, 1987.


Kadu Santoro

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Análise crítica da Epístola de Judas


A Epistola de Judas, apesar de ser pequena e negligenciada, provocou muita polêmica durante o processo de canonização, sendo considerada como um livro antilegômena, ou seja, antes de serem aceitos pela tradição da igreja, foram muito questionados. A maioria das contestações sobre o livro, foram em função das referências mencionadas do livro pseudoepígrafo de Enoque (Jd vs.14,15) e numa possível referência ao livro Ascenção de Moisés (Jd 9). Segundo os Pais da Igreja, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano, aceitaram o livro como inspirado e confiável, pois as citações pseudoepígrafas tinham explicações semelhantes a das citações de Paulo, quando cita poetas gregos não cristãos, como Arato (At 17.28) e Epimênides (Tt 1.12), porém, essas citações em Judas, não alteram seu teor cristão, pois o que ele utilizou desses pseudoepígrafos, foram pouquíssimos fragmentos de verdade, não alterando a mensagem inspirada. Tanto o Cânon Muratório quanto o recente papiro de Bodmer (P72) recentemente descoberto, confirmam o uso de Judas na Igreja Cristã Copta do Egito do século III.

Quanto a autoria, o próprio autor chama a si mesmo de Judas, como servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago (maior) chamado de “irmão do Senhor”, logo Judas é citado entre os irmãos de Jesus, aquele citado em Mc 6.3 e Mt 13.55. A epístola talvez tenha sido escrita durante o reinado de Domiciano entre os anos 80 e 90 d.C. segundo o relato de Hegésipo . O autor provavelmente era um cristão judeu, pois tinha conhecimento de escritos judaicos, tais como a Ascensão de Moisés, o Apocalipse de Enoque e as lendas judaicas.

Segundo Marshall, o objetivo principal da epístola, era alertar e combater os falsos ensinos dos mestres gnósticos-libetinos (Jd 3-16;17-19,22-23), que se infiltravam nas comunidades cristãs, criando divisões e pertubações, falando muitas vezes de maneira arrogante, alegando serem pneumáticos (segundo os gnósticos, homens verdadeiramente espirituais e detentores do conhecimento maior), porém, na realidade, eram mundanos e visionários. Segundo o autor, esses se desviaram da graça de Deus e negam a Jesus Cristo como Senhor.

Segundo Judas, o pecado maior imputado por essas pessoas, era a permissividade para atos imorais, fazendo com que as pessoas achassem que pelo simples fato de se acharem salvas pela graça de Deus, poderiam livremente dar lugar ao pecado, ou seja, corromper a carne, pois para os gnósticos, a carne era a prisão da alma, logo ela era considerada má, e precisava ser punida.

Outro aspecto analisado na Epístola de Judas por Marshall, foi a questão da perseverança na fé (Jd vs. 20,21), mediante a infiltração de tais doutrinas heréticas na comunidade, ela ressaltava a importância da fé e a oração, como base para a perfeita edificação, mantendo-se firmes no amor e na misericórdia de Deus. Quanto a natureza de Deus e Jesus, Judas, coloca em pé de igualdade as duas pessoas, dando maior ênfase no título “Deus”, sendo que a glória lhe é atribuída por intermédio de Jesus Cristo. Judas também nos fala que os crentes possuem o Espírito (Jd 19), ao contrário dos pecadores, que não possuem, ele faz uma divisão radical entre os santos e pecadores, que depois são chamados de ímpios (Jd 4.15) e já se encontram condenados segundo suas transgressões, como aconteceu a Sodoma e Gomorra.

Judas considera a salvação como posse dos santos, também descritos como os “chamados”, que tem como qualidade maior, a sua fé (elemento de grande valor em Judas). Para ele, o objetivo principal dos crentes é apresentar-se aprovado e sem mancha diante de Deus. Segundo Judas, a igreja está vivendo nos últimos dias, e a profecia está sendo cumprida (Jd 18).

Conclusão: Podemos concluir que a epístola de Judas, é dirigida aos que foram “chamados”, amados por Deus Pai e guardados em Jesus Cristo, por meio da fé e da perseverança, o contexto teológico é cristão-judaico, apresentando nuances da apocalíptica hebraica, tendo como foco narrativo a mesma fé e perseverança, debaixo da proteção e justiça de Deus, apesar das circunstâncias, onde se encontram entre eles, os falsos mestres com seus falsos ensinos.

Bibliografia:

MARSHALL, I. Howard, Teologia do Novo Testamento: diversos testemunhos, um só evangelho, tradução Maria K. A. de Siqueira Lopes, Sueli da Silva Saraiva., São Paulo, Vida Nova, 2007.

KÜMMEL, Werner Georg, Introdução ao Novo Testamento, 17º edição, São Paulo, Paulus, 1982.

Kadu Santoro

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A época e o pensamento de Tomás de Aquino


Tomás de Aquino viveu no século XIII, um período marcado socialmente por muitas transformações, como a crise do sistema feudal, que foi fortemente marcado por três grandes episódios simultâneos: a grande fome gerada em função de períodos de rigoroso inverno e pela estagnação da terra, a peste negra, que exterminou milhares de pessoas e por fim as sucessivas guerras européias fomentadas pela igreja e pela nobreza, em função de expandir seus territórios. O modelo teocrático proposto por Agostinho ( clero / nobreza / escravos ) estava se diluindo em função do surgimento da classe dos burgueses e do êxodo rural para os grandes centros urbanos. Por outro lado, esse século também ficou marcado como o século de ouro da idade média, onde a civilização européia medieval, atingiu pontos culminantes nos campos das artes, literatura, política, filosofia e teologia.

O que distigue o pensamento dos homens deste tempo, é a tentativa de se buscar um perfeito equilíbrio entre a fé e a razão, entre a autonomia do homem e a sua mais rígida submissão à Deus. Esses traços se manifestam em especial na pessoa de Tomás de Aquino, considerado uma das figuras mais influentes deste período, e sem dúvida um dos maiores filósofos e teólogos de todos os tempos.

Tomás de Aquino nasceu em 1225 na cidade de Roccasecca, perto de Nápoles, filho de nobres, quando jovem, recebeu sua primeira educação dos beneditinos do mosteiro de Montecassino, em 1239 ingressou na Universidade de Nápoles, e pouco tempo depois entrou para a ordem dos dominicanos. Após atritos entre a família, Tomás de Aquino foi para o convento dominicano de Paris, onde lá, recebeu ensino e instruções de Alberto Magno, cuja influência sobre o jovem foi intensa, especialmente na formação filosófica, onde Tomás teve seu primeiro encontro com a filosofia de Aristóteles, que graças a dois grandes filósofos do mundo árabe, Averrois e Avicena, a civilização ocidental passou a conhecer esse grande gênio da filosofia grega e seus pensamentos. Depois de obter o grau de “mestre em teologia”, Tomás lecionou essa disciplina em Sorbona, e mais tarde assumiu o cargo de teólogo papal na corte pontifícia. Passou seus últimos anos no convento de Nápoles, onde compôs sua majestosa obra “Suma Teológica”, comentando Aristóteles e pregando ao povo. Em janeiro de 1274, a convite do papa Gregório X, pôs-se a caminho de Lião, para participar do concílio, porém, antes de chegar a esse encontro faleceu em 7 de março de 1274 no claustro cisterciense.

O pensamento de Tomás de Aquino era com base Aristotélica, contrário ao pensamento de seu adversário Boaventura, que tinha como base de raciocínio filosófico, o platonismo. Ao mesmo tempo que Tomás usava os métodos aristotélicos para elaborar seus pensamentos, ele também não permitia que esse, viesse de encontro com as doutrinas da Igreja Católica. O seu propósito era construir uma grande síntese entre a fé e a razão, entre a filosofia e a teologia, e por final, entre a filosofia de Aristóteles e a doutrina da Igreja. Tomás também demonstra verdadeira admiração pela obra de Agostinho de Hipona, mas também critica muitos aspectos dessas doutrinas, e propõe outras mais sólidas. Tomás de Aquino participou de muitas discussões pertinentes aos dogmas da Igreja, como por exemplo, questões sobre a criação do universo, sobre as naturezas de Deus, quem é Deus e a questão da transubstanciação.

Para concluir, Tomás de Aquino coloca a filosofia a serviço da verdade e esta, a serviço de Deus, todas suas obras estão voltadas para um único fim, que é a majestade e soberania de Deus. A questão “quem é Deus”, foi o motivo e o lema que caracterizaram toda a obra de Tomás de Aquino, para ele, Deus existe, ele é a causa de todos os seres e, é infinitamente superior a tudo, essa é a conclusão e o ponto mais alto do saber na vida terrena, segundo Tomás de Aquino.


Bibliografia:
- LANE, Tony, Pensamento Cristão vol. I – Dos Primórdios à Idade Média, Editora Abba Press, SP, 2007.
- MONDIN, Batista, Curso de Filosofia – Vol. I, Paulus, SP, 1981


Kadu Santoro

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sepher ha Zohar - O Livro do Esplendor



O Livro do Esplendor

É considerado o mais completo registro de informação sobre o conhecimento e a natureza da doutrina da Cabalá, verdadeira fonte de sabedoria e conhecimento, seus ensinamentos e revelações, estão no mesmo patamar da Torá e do Talmud. Também chamada de Chochmat ha-Emet ( a sabedoria da verdade ), o Zohar é considerado como a coluna vertebral da Cabalá, que significa “recebimento”, ou “o que foi recebido”. Por ser parte intregral da Torá, possui origem e natureza divina.

História

O Zohar foi escrito em torno do século II da era cristã em meio a opressão romana contra judeus e cristãos. Foi escrito pelo Rabi Shimon bar Yohai, que era discípulo do Rabi Akiva. Segundo a história, Depois da morte do Rabi Akiva, Rabi Shimon e seu filho Rabi El`azar partiram em segredo para uma caverna nas montanhas da Galiléia, onde permaneceram por treze anos estudando a fundo os ensinos da Torá, até a morte do imperador romano.

Segundo a própria obra, coube a Rabi Abba, um dos alunos de Rabi Shimon, a tarefa de registrar por escrito os ensinamentos de seu mestre. Porém, parte do Zohar não foi transcrita na época; foi preservada e transmitida de forma oral pelos discípulos de Rabi Shimon, que eram conhecidos como “a Chevraiá”. Segundo a tradição, os manuscritos originais ficaram escondidos durante mil anos e foram descobertos apenas no século XIII, e ficaram restritos aos círculos cabalísticos fechados. Finalmente, chegaram às mãos de um místico judeu espanhol, Rabi Moshe de Leon (1238-1305), que os editou e publicou na década de 1290.

Por que teria essa obra permanecida escondida por tanto tempo? O próprio Livro do Esplendor, revela a razão ao afirmar que sua sabedoria e luz, seriam reveladas como preparação para a redenção final, que deveria ocorrer 1.200 anos mais tarde, após a destruição do templo sagrado em 70 d.C.

O estudo da Cabalá floresceu na Espanha e na Provença, mas até a expulsão dos judeus da Península Ibérica, o Zohar só era conhecido no meio de restritos círculos de sábios e cabalistas. Após a expulsão, ele emerge desses círculos e passa a exercer uma grande influência sobre os judeus sefaraditas. Perseguidos e expulsos, os judeus da Espanha encontraram em seus ensinamentos sobre a Redenção Messiânica uma grande fonte de conforto e esperança e tanto a obra como seu autor passaram a ser reverenciados por eles. Até hoje, o Zohar está presente no dia-a-dia dos judeus dessa origem, pois seus ensinamentos moldaram grande parte de suas tradições e seus costumes religiosos.

Muitos dos cabalistas forçados a sair da Península Ibérica se estabeleceram na cidade sagrada de Safed, em Israel, que se tornou um centro de estudos místicos. Em Safed, o Sefer ha'Zohar serviu de base para os ensinamentos de dois dos maiores cabalistas - ambos sefaraditas - da era moderna: Rabi Moshe Cordovero (falecido em 1570), conhecido como o Ramak; e o grande Rabi Yitzhak Luria (1534-1572), o Arizal.
Foi em Safed que o Arizal transmitiu seus conhecimentos sobre o Livro do Esplendor e a Cabalá. Desenvolveu um novo sistema para a compreensão de seus mistérios, chamado de Método Luriânico. Seus ensinamentos são reconhecidos como a autoridade máxima da Cabalá, tendo sido estudados pelas gerações de cabalistas que o seguiram. A partir de seus ensinamentos, a Cabalá se tornou mais acessível e passou a ser disseminada por sábios e místicos judeus. O próprio Arizal afirmara que havia chegado a era na qual não só seria permitido revelar a sabedoria da Cabalá, mas tornar-se-ia uma obrigação fazê-lo.Mas, foi na primeira metade do século XVIII, com o surgimento do chassidismo - como passou a ser chamado o movimento iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov - que a Cabalá que fora ensinada pelo Arizal passou a atingir um número ainda maior de judeus. A principal contribuição do chassidismo foi sua adaptação da doutrina da Cabalá a uma linguagem cotidiana e de fácil compreensão. Desta maneira, a profunda sabedoria de Rabi Shimon bar Yochai passou a influenciar as massas de judeus asquenazitas do leste Europeu. Com a expansão do chassidismo os ensinamentos do Zohar passaram a influenciar um número cada vez maior de judeus.

Conteúdo

Sua primeira versão teria sido escrita em aramaico, e sua autoria atribuida ao Rabi Shimon bar Yohai, foi traduzido para o hebraico e publicado em Jerusalém com 21 volumes pelo Rabi Yehuda Ashlag (1886-1955).
Muitas de suas doutrinas são fundamentais e suplementares e podem ser também encontradas nos trechos mais antigos dos Talmuds Babilônico e Palestino, bem como farta literatura apocalítica judaica, produzida nos séculos imediatamente anteriores e posteriores à destruição do segundo Templo.

Ensaios sobre a lei judaica e interpretações bíblicas, que muitas vêzes são repetições verbais de passagens contidas nos dois textos revistos do Talmud, especulações sobre teologia, teosofia e cosmogonia, que encontram paralelo na literatura helenistica, e que em alguns casos mostram semelhanças com idéias contidas no Zend Avesta, o que levou a alguns estudiosos a situar parte do conhecimento do Zohar no Zoroastrismo.

Teorias gnósticas sobre a relação do homem com o divino, reproduções de crenças medievais concernentes a astrologia, fisiognomonia, necromancia, magia e metempsicose, que são estranhas ao espírito judaico, todos estes elementos se embaralham caóticamente no Zohar, um verdadeiro depósito de anacronismos, incongurências e surpresas"...

O Zohar, assim como o Talmud, cobre todas as manifestações do espírito judaico. Porém, enquanto o primeiro é essencialmente uma obra sobre a Lei Judaica, com pitadas de misticismo, o segundo é principalmente um trabalho místico que aborda e elabora sobre algumas leis do Torá. O Zohar descreve a realidade esotérica subjacente à experiência cotidiana. Nele, temas e histórias, tópicos legais e assuntos litúrgicos são vistos e expostos através de uma interpretação mística.

Relação de questões e temas abordados no Zohar, o Livro do Esplendor:

- Questões relativas à Essência;
- Propósito da Criação;
- Identidade das Almas – “Diferença de Forma”;
- Sistemas de Luz e Trevas;
- As Fases da Alma;
- Sofrimento e Tormento;
- Nossa Essência;
- Ressurreição dos Mortos;
- Corrente de Existência;
- Os Quatro Níveis;
- Os Cinco Mundos;
- Essência Espiritual e Elevação;
- Luz e Trevas;
- Os Efeitos da Contrição;
- O Declínio da Espiritualidade e a Revelação do Zohar;

Bibliografia:
http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=441&p=1


Kadu Santoro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

VOCÊ SABE QUE ESTÁ FICANDO LOUCO NO SÉCULO XXI QUANDO:


1. Você envia e-mail ou MSN para conversar com a pessoa que trabalha na mesa ao lado da sua;

2. Você usa o celular na garagem de casa para pedir a alguém que o ajude a desembarcar as compras;

3. Esquecendo seu celular em casa (coisa que você não tinha há 10 anos), você fica apavorado e volta para buscá-lo;

4. Você levanta pela manhã e quase que liga o computador antes de tomar o café;

5. Você conhece o significado de naum, tbm, qdo, xau, msm, dps, Cc, Cco,...;

6. Você não sabe o preço de um envelope comum;

7. A maioria das piadas que você conhece, você recebeu por e-mail (e ainda por cima ri sozinho...);

8. Você fala o nome da firma onde trabalha quando atende ao telefone em sua própria casa (ou até mesmo o celular !!);

Você digita o '0' para telefonar de sua casa;

10. Você vai ao trabalho quando o dia ainda está clareando e volta para casa quando já escureceu de novo;

11. Quando seu computador pára de funcionar, parece que foi seu coração que parou;

11. Você está lendo esta lista e está concordando com a cabeça e sorrindo;

12. Você está concordando tão interessado na leitura que nem reparou que a lista não tem o número 9;

13. Você retornou à lista para verificar se é verdade que falta o número 9 e nem viu que tem dois números 11;

14. E AGORA VOCÊ ESTÁ RINDO CONSIGO MESMO;

15. Você já está pensando para quem você vai enviar esta mensagem;

16. Provavelmente agora você vai clicar no botão ''Encaminhar''... É a vida...fazer o quê... foi o que eu fiz também...


Feliz modernidade.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GANHEI CORAGEM


Rubem Alves
colunista da Folha de S. Paulo


"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre."
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.
Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusama ser assimilados à coletividade.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: - "Caminhando e cantando e seguindo a canção..." Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Verdade como Caminho, segundo o Novo Testamento.


Dentro de toda discussão teológica sistemática atual, essa é sem dúvida, uma das questões mais importantes e polêmicas dentro do contexto do Novo Testamento. O princípio do entendimento do que é a “verdade”, segundo o Novo Testamento, se dá num processo radical de conversão, atingindo assim, todas as formas metafóricas dos nossos pensamentos e do nosso agir ao longo da vida, e são confrontadas com o conceito metafórico desse caminho, como “espaço” onde reside a verdade. A partir dessa metáfora, entendemos que a verdade não é um resultado que já atingimos, e está em nossas mãos, ela consiste em algo que está diante de nós, e que nos leva através do caminho numa jornada contínua e progressiva. A verdade nesse contexto, é um processo e não um ponto de partida ou um resultado final.

Os primeiros cristãos eram chamados de “os do caminho” (At. 9.2), como também, o próprio evangelho era chamado por eles de “o caminho” (At. 19.9,23; 24.22). Em Hebreus 12.1-2 encontramos novamente a metáfora do caminho, e o que está descrito é a caminhada da fé, aquela antes definida pelo autor como “a certeza do que se espera, a convicção do que não se vê” (Hb. 11.1). O centro, o alvo desta caminhada é descrito como “o autor e consumador da fé, Jesus”. É ele próprio que se encontra no início da caminhada da fé, e também ele mesmo é o próprio alvo, logo a sua presença e a sua relação com ela ( a fé) é vão determinar a trajetória do caminho.

Também podemos citar a passagem paulina que diz: “a partir dele, por meio dele e para ele são todas as coisas” (Rm. 11.36), significa que a fé é dada por ele próprio, é mediada também por ele e finalmente se dirige a ele mesmo. Encontramos nesse texto, as mesmas qualificações do texto anterior, onde Jesus é o ponto de partida, o final e a mediação ao longo do caminho, logo então nesse entendimento, ele mesmo é “o caminho”.

No evangelho de João, o próprio Jesus diz: “Eu sou o caminho”, em seguida ele diz também: “Eu sou a verdade”, e finaliza o versículo dizendo: “Eu sou a vida”. Analisando esse versículo, fazendo um paralelo com o pensamento hebraico, percebemos que estes três termos devem ser vistos um à luz do outro, remetendo todos à mesma realidade, ou seja, a verdade, então é o próprio caminho, e também é a vida. Fazendo o paralelismo, “vida” aqui é o caminho que é a verdade. Então podemos definir da seguinte forma essa questão, a verdade se encontra no processo de vida, entendido como caminho.

Chegamos a conclusão, de que, a verdade segundo a visão do Novo Testamento só se faz e só se deixa aprender no próprio caminho, não em conceitos sobre o mesmo e muito menos em práticas que mostram que estamos no caminho de forma sistemática.


Kadu Santoro

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Decreto Gelasiano 371 D.C. (Decretum Gelasianum) Sobre os livros aceitos e não aceitos pela Igreja


Muito se discute sobre a autoria do presente documento: para alguns, seria documento original do papa Dâmaso [366-384], oriundo do Concílio Regional de Roma de 371, já que seu conteúdo se identifica perfeitamente com os dados existentes sobre seu temperamento, pensamento e relacionamento interno e externo; para outros, teria sido redigido pelo papa Gelásio [492-496], em razão da nota acrescentada no início do cap. III, existente em uma recensão mais breve; para outros, ainda, seria obra de algum clérigo, muito provavelmente do início do séc. VI, que teria se servido de outro documento de base, este sim, da lavra de Dâmaso, que conteria o fundamento para os 3 primeiros capítulos.

Seja como for, de particular importância para nós é o capítulo II, que traz a lista completa dos livros que integram o Antigo e Novo Testamento. Repare-se que os livros deuterocanônicos (chamados de "apócrifos" pelos protestantes e, por este motivo, excluídos de suas Bíblia) encontram-se integrados ao cânon sagrado, fazendo eco, talvez (caso considere-se este decreto posterior ao papa Dâmaso), às decisões tomadas pelos concílios regionais de Cartago e Hipona.



I. RELAÇÕES DA SANTÍSSIMA TRINDADE


Aqui começa o Conselho de Roma, no tempo do Papa Dámaso,(Damásio) sobre a explicação da fé.

Foi dito:

1. Primeiramente, deve-se discutir os sete dons do Espírito se encontram em Cristo:

* O espírito da sabedoria: "Cristo, o poder e a sabedoria de Deus".
* O espírito do entendimento: "Darei a vós o entendimento e vos mostrarei o caminho que devem seguir".
* O espírito do conselho: "E seu nome é chamado 'mensageiro do valioso conselho'".
* O espírito das virtudes: conforme acima, "o poder de Deus e a sabedoria de Deus".
* O espírito do conhecimento: "Em razão da eminência do conhecimento do apóstolo de Cristo Jesus".
* O espírito da verdade: "Eu sou o caminho, a vida e a verdade".
* O espírito do temor de Deus: "O temor a Deus é o princípio da sabedoria".

2. Entretanto, a revelação de Cristo é denominada de diversas maneiras:

* Deus, que é espírito;
* O Verbo, que é Deus;
* O Filho, que é o unigênito do Pai;
* O homem, nascido da Virgem;
* O sacerdote, que ofereceu a si mesmo como sacrifício;
* O pastor, que é o guarda;
* [O alimento do] verme, que ressurgiu dos mortos;
* A montanha, que é forte;
* O caminho, que é reto;
* O refúgio, único que pode conduzir à vida;
* O cordeiro, que foi imolado;
* A pedra, que é angular;
* O mestre, que traz a vida;
* O sol, que dá a luz;
* A verdade, que provém do Pai;
* A vida, da qual é o Criador;
* O pão, cujo valor é inestimável;
* O samaritano, o qual é protetor e misericordioso;
* O Cristo, o Ungido [de Deus];
* Jesus, o Salvador;
* Deus, provindo de Deus;
* O mensageiro, que foi enviado;
* O noivo, que é o mediador;
* O vinho, cujo próprio sangue nos redimiu;
* O leão, que é rei;
* A rocha, que é o fundamento;
* A flor, que foi escolhida;
* O profeta, que revelou o futuro.

3. Quanto ao Espírito Santo, não provém só do Pai nem só do Filho, mas do Pai e do Filho; por isso está escrito: O que se deleita no mundo, o Espírito do Pai não está nele; e novamente: Quanto a todo aquele que não tenha o Espírito de Cristo, não lhe pertence. Deste modo se entende que o Espírito Santo seja nomeado Como do Pai e do Filho, sendo que o próprio Filho disse no Evangelho que o Espírito Santo procede do pai e por mim Ele é aceite e anunciado.


II. CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

Também foi dito:

Agora verdadeiramente devemos discutir sobre as Divinas Escrituras, quais são aceitas pela Igreja Católica no universo e quais devem ser rejeitadas.

1. Esta é a ordem do Antigo Testamento: Gênese, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro; Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rute, 1 livro; Reis, 4 livros; Crônicas, 2 livros; 150 Salmos, 1 livro; 3 livros de Salomão: Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Outros: Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro.

2. Semelhantemente, esta é a ordem dos profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias, 1 livro, contendo o Cinoth, isto é, suas lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Amós, 1 livro; Miquéias, 1 livro; Joel, 1 livro; Obadias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Nahum, 1 livro; Habacuc, 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaquias, 1 livro.

3. Semelhantemente, esta é a ordem dos [livros] históricos: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras, 2 livros; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros.

4. Semelhantemente, esta é a ordem das Escrituras do Novo Testamento, sustentadas e veneradas pela santa e católica Igreja romana: 4 livros dos Evangelhos: segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro; também os Atos dos Apóstolos, 1 livro; as epístolas do apóstolo Paulo, em número de 14: aos Romanos, 1 epístola; aos Coríntios, 2 epístolas; aos Efésios, 1 epístola; aos Tessalonicenses, 2 epístolas; aos Gálatas, 1 epístola; aos Filipenses, 1 epístola; aos Colossenses, 1 epístola; a Timóteo, 2 epístolas; a Tito, 1 epístola; a Filemon, 1 epístola; aos Hebreus, 1 epístola; também o Apocalipse de João, 1 livro; também as epístolas canônicas, em número de 7: do apóstolo Pedro, 2 epístolas; do apóstolo Tiago, 1 epístola; do apóstolo João, 1 epístola; do outro João, o ancião, 2 epístolas; do apóstolos Judas, o zelota, 1 epístola. Aqui se encerra o cânon do Novo Testamento.


III. PRIMAZIA DA SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA


Também foi dito:

(Alguns manuscritos, de recensão mais breve, começam este ponto com o seguinte cabeçalho: "Aqui inicia o decreto 'sobre os livros que devem ou não devem ser recebidos', redigido pelo papa Gelásio e 70 dos mais eruditos bispos, reunidos em concílio apostólico na cidade de Roma")

1. Após termos discutido sobre os Escritos dos profetas e as Escrituras evangélicas e apostólicas acima, sobre os quais a Igreja Católica está fundada pela graça de Deus, também achamos necessário dizer, embora a Igreja Católica universalmente esteja difundida sobre todo o mundo, sendo a única noiva de Cristo, que à Santa Igreja romana é dado o primeiro lugar sobre as demais igrejas, não por decisão sinodal, mas sim pela voz do Senhor, nosso Salvador, pois no Evangelho obteve a primazia: "Tu és Pedro" - Ele disse - "e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; e te darei as chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligardes sobre a Terra será também ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra será também desligado no Céu".

2. Somou-se também a presença do bem-aventurado Apóstolo Paulo, o vaso escolhido, que não em oposição como dizem os hereges teimosos, mas ao mesmo tempo e no mesmo dia, foi coroado com uma morte gloriosa junto com Pedro na cidade de Roma, padecendo junto com Pedro na cidade de Roma sob César Nerón; e juntos consagraram para Cristo o Senhor à mencionada Santa Igreja de Roma e deram-lhe preferência com a sua presença e triunfos dignos de veneração ante todas as outras cidades no mundo inteiro.
3. Portanto, primeira é a cátedra da Igreja romana, do apóstolo Pedro, por não haver qualquer mancha, ruga ou qualquer outro [defeito]. Porém, o segundo lugar foi concedido, em nome do bem-aventurado Pedro, a Marcos, seu discípulo e autor do Evangelho, para Alexandria. Ele mesmo escreveu a Palavra da Verdade, no Egito, conforme [ouvira do] apóstolo Pedro; lá foi gloriosamente consumada [sua vida] no martírio. O terceiro lugar é guardado por Antioquia, do bem-aventurado e venerável apóstolo Pedro, que ali viveu antes de vir à Roma e onde pela primeira vez foi ouvido o nome da nova raça: "cristãos".


IV - ESCRITOS QUE PODEM SER RECEBIDOS


E embora nenhum outro fundamento possa estabelecer-se, senão aquele que foi estabelecido, Cristo Jesus, porém, para edificação, depois dos livros do, Velho e do Novo Testamento previamente enumerados de acordo com o cânone, a Santa Igreja Romana não proíbe receber os escritos seguintes:
1. o Concílio de Nicea, constituído por 318 bispos e presidido pelo imperador Constantino o Grande, no qual foi condenado o herege Arrio; o Santo Concílio de Constantinopla, presidido pelo imperador Teodósio o Velho, em que o herege Macedónio se livrou da sua merecida condenação; o Santo Concílio de Êfeso, no qual Nestório foi condenado com o consentimento do bem-aventurado Papa Celestino, presidido por Cirilo de Alexandria no assento do magistrado, e por Arcádio, o bispo enviado de Itália.
O Santo Concílio de Calcedónia, presidido pelo imperador Marciano, e por Anatólio, o bispo de Constantinopla, no qual as hereges Nestoriana e Eutiquiana, juntamente, com Dióscoro e o seus simpatizantes, foram condenados.
2. Mas como também há concílios apoiados até agora pelos Santos Padres, de menor autoridade que estes quatro, nós decretamos que estes devem ser mantidos e recebidos. Em continuação juntamos as obras dos Santos Padres que são recebidos na Igreja Católica:
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Cecílio Cipriano, mártir e bispo de Cartago;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Gregório Nazianceno;
igualmente, as obras do bem-aventurado Basílio, bispo de Capadocia,;
igualmente, as obras do bem-aventurado João, bispo da Constantinopla,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Teófilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Círilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Hilário Pictaviense;
igualmente, as obras do bem-aventurado Ambrósio, bispo de Milão;
igualmente, as obras do bem-aventurado Augusto, bispo de Hipona;
igualmente, as obras do bem-aventurado sacerdote Jerónimo;
igualmente, as obras do bem-aventurado Próspero, um homem extremamente religioso;
3. igualmente, a epístola do bem-aventurado Papa León (Leão) destinada a Flaviano, bispo de Constantinopla; mas se alguma parte de seu texto for contestada, não sendo aquela que foi recebida por todos desde a antiguidade, seja anátema; igualmente, as obras e todos os tratados dos padres ortodoxos que não se desviaram em nada do [ensino] comum da Santa Igreja Romana, e que nunca se separaram da fé e adoração, mantendo-se em comunhão pela graça de Deus até ao último dia das suas vidas,decretamos que sejam lidos; igualmente, os decretos e epístolas oficiais que os bem-aventurados papas enviaram de Roma, por consideração a vários padres e em diversas épocas, devem ser mantidas com reverência;
4. igualmente, as atas dos Santos Mártires, que receberam a glória pelas suas múltiplas torturas e as suas maravilhosas vitórias de persistência. Que católico duvida que a maioria deles tiveram de suportar agonias com todas as suas forças, e resistiram pela graça de Deus e a ajuda dos restantes? Mas, de acordo com um costume antigo, por precaução não se lêem na Santa Igreja Romana, porque los nomes de quem as escreveu não são conhecidos com propriedade e não é possível separá-los dos não crentes e idiotas; ou porque o que declaram é de ordem inferior aos eventos ocorridos; por exemplo, as atas de Quirício y Julita, assim como as de Jorge, e os sofrimentos de outros como estes, que parecem ter sido compostas por hereges. Por esta razão, tal como se disse, para no dar pretexto à burla casual, não são lidas na Santa Igreja Romana. No entanto, veneramos em conjunto com a mencionada Igreja a todos os mártires e seus gloriosos sofrimentos, que são mais conhecidos por Deus que pelos homens, com toda a devoção; igualmente, as vidas dos padres Paulo, António e Hilário, assim como todos os eremitas, que são descritas pelo bem-aventurado homem Jerônimo, recebêmo-las com honra; igualmente, as atas do bem-aventurado Silvestre, bispo da cadeira apostólica, que são permitidas ainda que se desconheça o seu autor, já que sabemos que são lidas por muitos católicos inclusive da cidade de Roma, e também pelo uso antigo das gerações, que é imitado pela igreja; igualmente, os escritos sobre a descoberta da cruz, e outras novelas sobre a descoberta da cabeça de João Baptista, que são romances e alguns deles são lidos por católicos; mas quando estes cheguem ás mãos de católicos, deve considerar-se primeiro o que disse o Apóstolo Paulo: Examinai todas as coisas, retendo o que seja bom; igualmente, Rufino, um homem sumamente religioso, que escreveu vários livros sobre as obras eclesiásticas e algumas interpretações das escrituras; contudo, desde que o venerável Jerônimo demonstrou que fez uso de certas liberdades arbitrárias nalguns desses livros, consideramos como aceitáveis aqueles que o bem-aventurado Jerônimo, anteriormente citado, considerava como aceitáveis; e não só os de Rufino, mas também aqueles de qualquer um que seja recordado pelo seu zelo por Deus e criticado pela fé na religião; igualmente, algumas obras de Orígenes, que o bem-aventurado homem Jerônimo não recusou, recebêmo-las para serem lidas, mas dizemos que o restante de sua autoria deve recusar-se; igualmente, a Crônica de Eusébio de Cesaria e os livros da sua História Eclesiástica, já que ainda que haja muitas coisas duvidosas no primeiro livro de sua narração e logo tenha escrito um livro elogiando e desculpando o cismático Orígenes, no entanto, considerando que na sua narração há coisas destacáveis e úteis para a instrução, no diremos a ninguém que devam recusar-se; igualmente, elogiamos Osório, um homem sumamente erudito, que nos escreveu una história muito necessária contra as calúnias dos pagãos e de uma brevidade maravilhosa; igualmente, a obra pascal do venerável homem Sedúlio, que foi escrita com versos heróicos e merece um elogio significativo; igualmente, a incrível e laboriosa obra de Juvêncio, que não desdenhamos, mas que nos assombramos com ela.


LISTA DE APÓCRIFOS


V. Os restantes escritos que foram compilados ou reconhecidos pelos hereges ou cismáticos, a Igreja Católica Apostólica Romana não recebe de nenhuma maneira; destes consideramos correto citar alguns que passaram de geração em geração e que são recusados pelos católicos:

Igualmente, lista de livros apócrifos:

1. Lista de livros apócrifos: primeiro, o sínodo de Sirmium, convocado por Constâncio César, filho de Constantino, e moderado pelo prefeito Tauro, que foi, é e sempre será condenado. A viagem em nome do apóstolo Pedro, que é chamado de nono livro de São Clemente: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo André: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Tomé: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Filipe: apócrifo. O evangelho em nome de Matias: apócrifo. O evangelho em nome de Barnabé: apócrifo. O evangelho em nome de Tiago Menor: apócrifo. O evangelho em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. O evangelho em nome de Tomé, usado pelos maniqueus: apócrifo. Os evangelhos em nome de Bartolomeu: apócrifos. Os evangelhos em nome de André: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Luciano: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Hesíquio: apócrifos. O livro sobre a infância do Salvador: apócrifo. O livro da natividade do Salvador e de Maria ou "A Parteira": apócrifo. O livro que é chamado de "O Pastor": apócrifo. Todos os livros da pena de Leúcio, discípulo do diabo: apócrifos. O livro chamado de "A Fundação": apócrifo. O livro chamado de "O Tesouro": apócrifo. O livro das filhas de Adão Leptogeneseos: apócrifo. O centão de Cristo incluído com versos de Virgílio: apócrifo. O livro que é chamado "Atos de Tecla e Paulo": apócrifo. O livro que é chamado de "Nepos": apócrifo. Os livros de Provérbios escritos por hereges e assinalados anteriormente com o nome de Santo Sisto: apócrifo. A Revelação dita de Paulo: apócrifo. A Revelação dita de Tomé: apócrifo. A Revelação dita de Estevão: apócrifo. O livro chamado de "Assunção de Santa Maria": apócrifo. O livro chamado de "A Penitência de Adão": apócrifo. O livro sobre Gog, o gigante que após o dilúvio lutou com o dragão, segundo os hereges: apócrifo. O livro chamado "Testamento de Jó": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Orígenes": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de São Cipriano": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Jamne e Mambre": apócrifo. O livro chamado "A Fortuna dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Lusa dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Cânon dos Apóstolos": apócrifo. "O Fisiólogo", escrito por hereges e assinalado com o nome do bem-aventurado Ambrósio: apócrifo. A "História" de Eusébio Pampilo: apócrifo. As obras de Tertuliano: apócrifas. As obras de Lactâncio, também conhecido como Firmiano: apócrifas. As obras de Africano: apócrifas. O opúsculo "Potumiano e Gallo": apócrifo. As obras de Montano, Priscila e Maximila: apócrifas. As obras de Fausto, o maniqueu: apócrifas. As obras de Comodiano: apócrifas. As obras do outro Clemente de Alexandria: apócrifas. As obras de Táscio Cipriano: apócrifas. As obras de Arnóbio: apócrifas. As obras de Ticônio: apócrifas. As obras de Cassiano, sacerdote gaulês: apócrifas. As obras de Vitorino Petavionense: apócrifas. As obras de Fausto Regiense Galliaro: apócrifas. As obras de Frumêncio Cego: apócrifas. A carta de Jesus a Abgaro: apócrifa. A carta de Abgaro a Jesus: apócrifa. A Paixão dos Ciricianos e Julitanos: apócrifa. A Paixão dos Georgianos: apócrifa. Os escritos chamados de "Interdição de Salomão": apócrifos. Todos os filatérios que não provêm dos anjos, como pretendem alguns, mas foram escritos em nome dos piores demônios: apócrifos.

2. Estas e outras obras similares, tais como as de Simão Mago, Nicolau, Cerinto, Marcião, Basílides, Ebion, Paulo de Samósata, Fotino e Bonóso, que sofrem de erros similares, bem como Montano e suas obscenas seguidoras, Apolinário, Valentino Maniqueu, Fausto Africano, Sabélio, Ário, Macedônio, Eunômio, Novato, Sabácio, Calisto, Donato, Eustácio, Joviano, Pelágio, Juliano de Eclanum, Celéstio, Maximiano, Prisciliano da Espanha, Nestório de Constantinopla, Máximo Cínico, Lampécio, Dióscoro, Êutiques, Pedro e o outro Pedro - um desgraçou a Alexandria e o outro, a Antioquia - Acácio de Constantinopla e seus partidários, e ainda todos os discípulos da heresia, dos hereges e dos cismáticos, cujos nomes quase não foram preservados, que ensinaram ou compilaram [o erro], confirmamos que não devem meramente ser rejeitados mas também eliminados de toda a Igreja Católica e Apostólica romana, sendo que os autores e seguidores desses autores devem ser amaldiçoados com a corrente inquebrável do anátema eterno.

A pergunta que fica aqui, depois de lermos esse documento e sua história, é, porque ninguém fala mais a respeito desse episódio da história, e porque ninguém busca maiores explicações sobre esses documentos rejeitados? O que a Igreja queria esconder?Afinal de contas, só foi permitido aquilo que interessava a um grupo seleto da alta hierarquia da Igreja Imperial.

Kadu Santoro

estudo extraído do endereço
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Evangelhos%20Apocrifos/Apocrifos/Evangelhos%20Apocrifos.htm