domingo, 31 de outubro de 2010
Baruch Spinoza - Um filósofo a frente do seu tempo
Baruch Spinoza nasceu em Amsterdam em 24 novembro de 1632, e terminou seu dias em 20 de fevereiro de 1677, vítima de tuberculose. Recebeu desde cedo uma sólida educação judaica tradicional, aprendeu hebraico, estudou a Bíblia e o Talmud a fundo. Além disso, Baruch estudou também, francês, latim e matemática. Um escritor a frente de seu tempo, espírito inquieto e questionador, que acabou fazendo com que fosse excomungado pela sinagoga, que acusou-o de perigosas heresias contra a tradição judaica. Logo passou a viver uma vida solitária, vagando de um lado para o outro dentro de sua própria filosofia, vivendo em quartos alugados no subúrbio de Leyde e finalmente em Haia. Para sobreviver, ele fabricava lentes de luneta, que era um ofício ligado à atualidade técnica e científica de sua época.
Spinoza se aproxima de Descartes no ideal e no método racionalista, porém, considera-se mais cartesiano que Descartes. Para ele, o procedimento racional é independente de qualquer dogma religioso. Spinoza rejeita qualquer forma transcendente e enigmática de Deus, para ele, Deus confunde-se com a natureza eterna e o homem não mais é uma criatura autônoma, mas apenas uma parte dessa natureza.
Para Spinoza, a idéia de Deus, é a idéia mais rica e plena, apesar dele não ser cristão como Descartes, mas, à sua maneira, é muito mais religioso que ele. Spinoza é panteísta, tudo o que existe, tudo o que pode ser concebido entra necessariamente numa das três definições enunciadas no início do Livro I da Ética: “Entendo por substância o que é em si e concebido por si, isto é, aquilo cujo conceito pode ser formado sem necessitar do conceito de uma outra coisa. Entendo por atributo aquilo que a razão concebe na substância como constituindo sua essência. Entendo por modos as afecções de uma substância, em outras palavras, o que existe em outra coisa e por meio da qual é concebido”. Uma vez que a substância é causa em si (idéia concebida do argumento ontológico cartesiano), ela é necessária, infinita e, por conseguinte, única. Por conseguinte, não poderia haver outra substância senão Deus, enquanto todo o resto só pode existir e ser concebido como atributo ou modo dessa substância única. Os atributos são os aspectos sob os quais a substância pode ser representada; são em número infinito, porém, só conhecemos dois, a extensão e o pensamento. Os modos não têm, como a substância, sua explicação em si mesmos, mas na própria substância. Em suma, eles são o equivalente, no sistema panteísta, do que são as criaturas na teologia tradicional. Eles são parte de Deus e não criaturas de Deus. Para finalizar, Spinoza diz que Deus é causa imanente e não transitiva, pois a causa transitiva, é aquela que modifica seu objeto, enquanto a causa imanente permanece inteira no sujeito e não modifica seu objeto.
O homem para Spinoza, é apenas um pequeno fragmento da natureza, é o modo finito da substância infinita. Ele divide a substância em dois atributos: um corpo, isto é, um pequenino fragmento da extensão infinita, e uma alma, parcela ínfima do pensamento infinito, como a idéia de centelha divina usada pelos gnósticos e alquimistas. Para Spinoza, o homem é inicialmente um escravo, porque ele vive na ignorância. Para ele, o único meio de nos libertar, de assegurar nosso poder e nossa plenitude, é o esclarecimento, pois quando o entendimento conhece Deus, ele nos conduz à salvação. Podemos concluir que para Spinoza, o conhecimento está subordinado à salvação, porém, para ele, o único meio de se atingir essa salvação, é através do conhecimento racional. Só a razão nos pode permitir o prazer do bem absoluto.
O conhecimento racional procede por dedução, cujo valor repousa, em última instância, numa intuição racional que a fundamenta. Essa intuição do que é verdadeiro, é uma luz que encontra sua garantia em sua própria clareza intrínseca: saber é saber que se sabe. Desse modo, o verdadeiro encontra em si mesmo seu próprio critério. Para Spinoza, o conhecimento encontra-se no nível do Ser, para ele, o conhecimento verdadeiro e autêntico de uma essência é uma participação de Deus.
Quanto a religião, Spinoza divide em dois tipos, a do povo e a do filósofo. A primeira, está relacionada à Lei: à lei hebraica ou a outra lei contida nos livros considerados sagrados. É pela obediência à lei, que o povo, ignorante, pode subjugar as paixões e conquistar a liberdade. A religião positiva, tem função puramente pedagógica. E essa também a função da Bíblia: o seu escopo não é ensinar a verdade, mas somente educar o homem para dominar as paixões e suas concupiscências. A religião superior é a dos filósofos, isto é, o conhecimento adequado, através desse conhecimento, o filósofo atinge a liberdade, e obedecendo aos ditames da razão, ele subjuga todas as paixões. Sintetizando: as duas formas de religião, tem o mesmo objetivo, subjugar as paixões, porém são bem distintas. A primeira é pela obediência às leis, e a segunda, pela via do conhecimento da verdade.
Bibliografia:
- MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
- VERGEZ, André – História dos Filósofos Ilustrada pelos Textos – Livraria Freitas Bastos – RJ - 1988
Kadu Santoro
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muito bom !! me ajudou bastante
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