terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Patrística - Aspectos em comum entre os Pais da Igreja


Traços comuns entre os Pais da Igreja são:
- Doutrina ortodoxa (comunhão fiel com a doutrina da Igreja);
- Santidade de Vida;
- Aprovação da Igreja (referência num Concílio);
- Antiguidade.

O ÚLTIMO PAI DA IGREJA DO OCIDENTE FOI ISIDORO DE SEVILHA (636). QUANTO AO ORIENTE, O ÚLTIMO PAI DA IGREJA FOI JOÃO DAMASCENO (750).

Os Escritores Eclesiásticos foram Tertuliano, Orígenes, Eusébio de Cesaréia.
Quanto aos Doutores da Igreja, esses foram, no Ocidente, Ambrósio, Jerônimo, Agostinho e Gregório Magno; e no Oriente, Atanásio e Basílio, Gregório de Nazianzeno e João Crisóstomo.

Divisão
O primeiro período da Patrística é o período dos Pais Apostólicos, sendo esses escritos anônimos.
O segundo período da Patrística é marcado pelo confronto da fé cristã com a cultura greco-romana através da reflexão e da obra dos Apologistas.
O terceiro período é marcado pelo surgimento das primeiras heresias e inícios da teologia através de uma reação anti-herética, feita pelos Polemistas.
O quarto período, considerado a idade de ouro da Patrística, é marcado pelo pensamento de Eusébio, Atanásio, Padres Capadócios, Crisóstomo, etc. no Oriente; e por Hilário, Ambrósio, Jerónimo, Agostinho no Ocidente.
O fim do período da Patrística se dá, no Ocidente, com Leão Magno, Pedro Crisólogo, Gregório Magno, etc.; e no Oriente, com Máximo Confessor e João Damasceno.

Os Pais Apostólicos

Os Pais Apostólicos são oito:

- Primeira Carta de Clemente Romano aos Coríntios
Segundo a tradição, Clemente era líder da Igreja de Roma no final do séc. I. A carta foi escrita devido aos desentendimentos internos na Igreja de Corinto, que motivam os apelos à concórdia e à paz. A carta menciona a viagem de Paulo à Península Itálica, o seu martírio e o de Pedro, a perseguição de Nero. Para resolução dos conflitos que motivaram a carta, Clemente propõe a submissão à hierarquia como solução para as discórdias no seio da Igreja, causadas por ambição e inveja (1-3). Logo, o remédio contra os problemas é a penitência, a obediência e a humildade (6-36), que culminam na submissão e na obediência (37-61). O resultado da carta parece ter sido positivo, com o acolhimento da carta pela comunidade e até mesmo a aceitação da mesma em alguns cânones do Novo Testamento.

- Sete Cartas de Inácio de Antioquia
Inácio de Antioquia foi Bispo de Antioquia (Síria). Encarcerado no tempo de Trajano (98-117), ele foi enviado para Roma e, no caminho, passou por várias comunidades. Ele escreveu suas cartas desde Esmirna às Igrejas de Éfeso, Magnésia, Trália e Roma e ao bispo Policarpo. Quando chegou em Trôade, escreveu às Igrejas de Filadélfia e Esmirna e ao bispo Policarpo. Por fim, Inácio foi martirizado em Roma em (110). Nas Cartas, ele aconselha, exorta e convence. Trata da hierarquia, afirmando que o bispo é a pedra angular em cada Igreja. Ele também condenou as primeiras heresias, como o gnosticismo e o docetismo. Em relação à espiritualidade, ele afirma que a união com Deus é a identificação com a vida de Cristo, o que se dá através do martírio.

- Carta de Policarpo de Esmirna aos Filipenses
Policarpo de Esmirna foi Bispo, sendo martirizado aproximadamente em 155. Segundo Irineu, Policarpo escreveu várias cartas, das quais só possuímos a Carta aos Filipenses. Essa carta foi transmitida parcialmente em grego e na totalidade em latim. Nessa carta, ele combate o docetismo (em Fil 7,1, como Inácio já o fizera), e de forma particular a Marcião. Ele também faz um apelo à unidade, conclamando para que a Igreja seja única e de caráter universal (“católica”). O seu martírio suscitou uma grande comoção entre os cristãos e originou o escrito “Martírio de Policarpo”.

- Exegese dos Discursos do Senhor de Pápias de Hierápolis
Pápias de Hierápolis foi bispo, e viveu entre os anos 70 e 140. Segundo Irineu, ele se converteu após ouvir a pregação do apóstolo João (Adv. Haer. V,33,4). Após a conversão, tornou-se amigo de Policarpo. Ele é autor de uma obra da qual só restam fragmentos em Irineu e Eusébio: a “Exegese dos discursos do Senhor”, obra composta de cinco livros. Essa obra, redigida entre 130 e 140, faz referências aos evangelhos de Mateus e Marcos. Não menciona nada sobre os Evangelhos de Lucas e João, nem mesmo sobre as cartas de Paulo. Eusébio dá um testemunho pouco favorável sobre Pápias por causa do seu milenarismo.

- Escritos anônimos
- Carta do Pseudo-Barnabé
A Carta do Pseudo-Barnabé é posterior ao ano 70 e anterior ao século II. Atribuída ao apóstolo Barnabé por Clemente de Alexandria, a carta aparece em listas e cânones junto aos escritos do Novo Testamento. Ainda assim, Eusébio e Jerônimo retiram do cânone esse escrito, que se divide em duas partes: a didática/polêmica/doutrinária (1-17); e a prática/moral (18-21). Na carta, destaca-se o valor da revelação do AT enquanto prefiguração do NT. A carta também faz menção à exegese alegórica ou tipológica (muito comum na Escola de Alexandria). No documento, é condenada interpretação literal da Escritura aplicada pelo judaísmo. Há também a proclamação da preexistência de Jesus na criação do Mundo. Sobre Jesus, afirma-se ainda a Encarnação e a Paixão de Cristo enquanto instrumentos de redenção e salvação do homem pecador. A carta também exalta o batismo porque através dele o ser humano se torna filho de Deus e templo do Espírito Santo. Ele também faz referência ao Domingo como dia celebrativo para substituir o Sábado dos hebreus, e destaca o valor dos dois caminhos (vida/morte; luz/trevas; bem/mal). Há grande proximidade desse escrito com a Didaqué.



- “Pastor” de Hermas
O “Pastor” de Hermas recebe esse nome devido ao título grego que recebe: “O Pastor”. Do autor, sabe-se apenas que era um escravo cristão que, liberto, dedica-se ao comércio e constitui família. Os filhos denunciam-no como cristão. A obra foi composta na metade do séc. II, e divide-se em três secções: Cinco visões; Doze preceitos/Mandamentos e Dez parábolas. As quatro primeiras visões (que constituem a primeira parte da obra) tratam, na sua essência, da Igreja (1ª - Uma idosa convida-o ao arrependimento / 2ª - Entrega-lhe um livro para transcrever (anúncio de perseguição à Igreja) / 3ª - A idosa aparece rejuvenescida e aparece uma torre em construção com pedras boas e más (santos e pecadores) / 4ª - Aparece um monstro (símbolo das perseguições). A quinta visão é o passo para a segunda parte da obra. O pastor aparece em figura de Anjo que ordena a Hermas que ponha por escrito tudo quanto ouviu e viu. Os doze preceitos enumeram as virtudes a praticar: fé e temor de Deus; caridade; amor à verdade; continência; paciência. E os vícios a evitar: cólera e tristeza; falsos profetas; maus desejos, etc. As parábolas transmitem conselhos para o aperfeiçoamento da vida: os cristãs como peregrinos na terra, devem ajudar os mais necessitados, manter-se sempre vigilantes e arrepender-se. Esse escrito conheceu grande divulgação entre os séculos II e V como texto de edificação espiritual, mas foi posteriormente esquecido no Ocidente.

- Didaquê
A Didaquê é um escrito anónimo que pertence ao período pós-apostólico, provavelmente do final século I ou entre 140-150. O título significa doutrina ou ensinamento, sendo o nome da obra completo Doutrina do Senhor aos gentios por meio dos doze apóstolos. O único manuscrito existente foi descoberto em 1873. A obra está dividida em três secções distintas: parte moral (I-VI): “Teoria dos dois caminhos”; liturgia sacramental (VII-X): Batismo e Eucaristia (finalizando com uma Oração Eucarística); vida comunitária (XI-XV): a última parte caracteriza-se pela sua escatologia (XVI).Na compreensão da Didaquê, a segunda vinda do Senhor está eminente. No texto, recomenda-se a recitação do Pai Nosso três vezes ao dia, está presente a mais antiga oração eucarística até agora conhecida, há a menção da confissão dos pecados antes do convite eucarístico, destaca-se a hierarquia (bispos, sacerdotes e diáconos, mas também apóstolos, profetas e doutores).


- Segunda Carta de Clemente Romano aos Coríntios.
Bibliografia - Colecções
Biblioteca de Autores Cristianos [BAC]: Madrid 1954s.
Edição bilingue.

Biblioteca de Patrística [BPa] – Ciudad Nueva: Madrid 1989s.
Tradução apenas, com introduções e notas breves. Estão publicados 66 volumes até ao momento.

Corpus Christianorum. Series Graeca [CCL] – Brepols: Turnhout 1977s.
Corpus Christianorum. Series Latina [CCG] – Brepols: Turnhout 1953s.
Edições críticas.
Os volumes não apresentam tradução.

Fuentes Patrísticas [FuP] – Ciudad Nueva: Madrid 1991s.
Edição bilingue considerada crítica. Foram publicados 17 volumes.

Patrística – Paulus: São Paulo 1995s.
Edição feita no Brasil e apresenta apenas a tradução. Publicados mais de 20 volumes.

Patrologiae cursus completus. Accurante Jacques-Paul Migne, Series Graeca [PG] – Paris 1857-1866.
O texto aparece em duas colunas. De um lado o texto grego, do outro a tradução latina. Conta com 161 volumes.

Patrologiae cursus completus. Accurante Jacques-Paul Migne, Series Latina [PL] – Paris 1841-1864.
O texto latino é disposto em duas colunas. Conta com 221 volumes.

Philokalia – Alcalá: Lisboa 2001s.
Edição bilingue: grego ou latim e português. Publicados 5 volumes até ao momento.

Sources Chrétiennes [SCh] – Cerf: Paris 1941s.
Edição crítica bilingue (latim/grego e francês). Estão publicados 493 volumes.

Bibliografia - Dicionários
BERARDINO, Angelo Di [Dir], Dicionário Patrístico e de Antigüidades cristãs, Vozes/Paulus: Petrópolis/São Paulo 2002.

MANZANARES, César Vidal, Diccionario de patrística (s. I-VI), Verbo Divino: Estella 31999.

Bibliografia - Manuais
BERARDINO, Angelo Di [Dir], Patrología, vol. III, BAC: Madrid 31993.
BERARDINO, Angelo Di [Dir], Patrología, vol. IV, BAC: Madrid 2000.

DROBNER, Hubertus R., Manual de Patrologia, Editora Vozes: Petrópolis 2003.

ETCHEVERRÍA, Ramón Trevijano, Patrologia, BAC: Madrid 32001.

FRANGIOTTI, Roque, História das Heresias (Séculos I-VII): conflitos ideológicos dentro do cristianismo, Paulus: São Paulo 32002.

HAMMAN, Adalbert, Os Padres da Igreja, Paulinas: São Paulo 1980.

HAMMAN, Adalbert, Para ler os Padres da Igreja, Paulus: 22002.

LAPORTE, Jean, Les Pères de l’Église. Les Pères latins, Cerf: Paris 2001.

LAPORTE, Jean, Les Pères de l’Église. Les Pères grecs, Cerf: Paris 2001.

LIÉBAERT, Jacques, Os Padres da Igreja. Séculos I-IV, Loyola: São Paulo 2000.

MOLINÉ Enrique, Los Padres de la Iglesia. Una guia introductória, Palavra: Madrid 31995.

PADOVESE, Luigi, Introducción a la Teología Patrística, Verbo Divino: Estella 1996.

QUASTEN, Johannes, Patrología, vol. I, BAC: Madrid 41991.
QUASTEN, Johannes, Patrología, vol. II, BAC: Madrid 51994.

SPANNEUT, Michel, Os Padres da Igreja. Séculos IV-VIII, Loyola: São Paulo 2002.

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