O Mito da Caverna de Platão nos dias atuais no contexto das igrejas

Trazendo o mito para os dias de hoje, podemos aplicar ele no âmbito das igrejas. A igreja como espaço físico, representa a caverna, a porta é simbolizada como a fenda por onde passa o feixe de luz, onde todos ficam de costas para ela, o pastor no púlpeto, representa as sombras e as imagens aparentes transmitidas, uma falsa realidade, de um homem cheio de falhas, fraquezas e imperfeições como qualquer outro ser humano, digno de misericórdia tanto na sua postura, quanto nas suas palavras, os dogmas e usos e costumes, são as correntes que aprisionam os cristãos ali reunidos mecanicamente, temerosos pela ira de Deus e pelas chamas ardentes do inferno, impedidos de olharem para qualquer outro lado que não seja o apresentado de forma distorcida pela Bílbia, só podem escutar louvores, praia, nem pensar, roupas sufocantes, cabelos presos, não pode isso, não pode aquilo, a literatura deve ser orientada pelo pastor (fariseu) uma total condição alienatória e de formatação, tornando aquele ser humano, incapaz de questionar e refletir sobre si próprio, os outros e o mundo que vive.

Em um determinado dia, um prisioneiro da caverna-igreja, começa a estudar teologia e filosofia, estudando a bíblia sem mitos e metáforas e começa a questionar muitas coisas e percebe quanto tempo ficou aprisionado nas grades das palavras, aí ele resolve sair pra fora da caverna-igreja e derrepente fica cego com tanta informação que acabou por descobrir. Aos poucos ele vai adiquirindo conhecimento, logo vai enxergando mais e mais, vendo que o Deus verdadeiro (dimensão ideal) transcende aquele Deus sistematizado (mundo das aparências, alegorias e mitos) pela caverna-igreja. A partir daí, esse homem está liberto de toda e qualquer religiosidade, ele já vive uma espiritualidade leve, light, sem culpas e temores, através da íntima dimensão contemplativa com o Deus verdadeiro, que é aquele onde ele conhece pelas vias intelectuais (Tomás de Aquino) e místicas (Mestre Eckart, Tauller, João da Cruz etc.) totalmente individuais.

Depois de atingir conhecimento e crescimento, o velho prisioneiro da caverna-igreja volta para falar sobre as novidades do mundo exterior aos seus colegas, começa falando da sua liberdade de ir e vir, sem nenhum sentimento de culpa, sendo ele verdadeiramente autêntico, com suas qualidades e defeitos, fala-lhes sobre as cores e nuances do mundo multiforme, da riqueza das culturas espalhadas sobre o mundo da experiência com o próximo que pensa diferente. Então começam a dizer que ele se desviou, está possuído e não o reconhecem mais, assim, como ele também não aceita mais aquela moldura sobre si, logo então, acabam matando e crucificando o velho prisioneiro com as palavras.

Kadu Santoro


Somos como pássaros, onde Deus nos dá a nostalgia pelo vôo, e as religiões constroem gaiolas. As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o Pássaro Encantado. E não percebem que o pássaro que tem presos nas suas gaiolas de palavras é um pássaro empalhado. É por isso que, no Antigo Testamento, era proibido falar o nome de Deus. Hoje, ao contrário, os religiosos não só falam o nome sagrado como também escrevem tratados de anatomia e fisiologia divinas, e proclamam que o pássaro só pode ser encontrado dentro de suas gaiolas. Religiões: uma enorme feira onde se vendem pássaros engaiolados de todos os tipos.
Os hereges que as religiões queimam e matam não são assassinos, terroristas, ladrões, adúlteros, pedófilos, corruptos. Esses são pecados suaves, que podem ser curados pelo perdão e pelos sacramentos. Os hereges, ao contrário, são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas, para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor.

O infinito na palma de sua mão
Rubem Alves