A palavra em hebraico para liberdade é cheirut e seu valor guemátrico é 614: Chet = 8 + Resh = 200 + Vav = 6 + Tav = 400 = 614 = 1 + 613, ou seja, todo o número hebraico corresponde ao seu valor mais um, por exemplo, quando dizemos que o alfabeto hebraico possui 22 letras, isso corresponde a 21 + 1 = 22. Isso acontece pelo fato de que Um – Echad é indivisível e dele tudo provém. É por essa mesma razão que a primeira letra da Torá é Bet, a primeira letra da palavra bereshit. Ainda dentro da guematria cabalística, podemos compreender que a liberdade só pode ser alcançada através da Sabedoria – Chochmá: 614 = 6 + 1 + 4 = 11 = 1 + 1 = 2 Chochmá.
Voltando à liberdade - cheirut,
cujo valor guemátrico é 613 + 1, significa que a liberdade surge para aquele Um
(1) que cumpre a Lei e suas Mitzvot (613 = 248 positivas + 365 = negativas) com
disciplina, amor, dedicação e consciência. No judaísmo religioso isso é
observado de forma literal, já na Cabala, o que importa é apenas a tomada de
consciência de sua origem divina e estar de acordo com as leis cósmicas.
O homem liberto é aquele que é
circuncidado em seu coração; o homem capaz de elevar sua consciência aos níveis
de Neshamah; o homem potencialmente apto a revestir-se da consciência
messiânica, da Glória de Deus (Hod). É por essa razão que a Torá se inicia com
a letra Bet e termina em seu último livro, Deuteronômio com a letra lamed na palavra
Israel. Cabalisticamente falando, aquele que se dedica à Torá do início (Bet)
ao fim (lamed) terá percorrido o caminho do coração, ou seja, a letra lamed +
Bet = a palavra Lev = Coração. Assim diz o salmista: “De todo o coração te
busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos. Guardo no coração as tuas
palavras, para não pecar contra ti.” Salmos 119.10-11
A liberdade só pode ser alcançada
com a sabedoria do coração – “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o
Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar,
para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os
seus mandamentos.” Deuteronômio 8.2
A interpretação cabalística dessa
passagem consiste na jornada do ser humano rumo a si mesmo, percorrendo o
deserto que se encontra entre a mente e o coração; os quarenta anos segundo o
Talmude significa a idade da razão, cujo todo ser humano nessa fase da vida já
teria passado por várias provas e perdas, assim como, quarenta consiste no
número 4, o Tetragramaton Sagrado, o nome inefável de YHWH, os quatro mundos ou
níveis da consciência alcançados, ou ainda, o período de maturação alquímica
capaz de produzir o quinto elemento, o ouro nobre dos alquimistas, que consiste
num coração valoroso. A palavra humilhar é uma péssima tradução, segundo a
Cabala, podemos entender como colocar o ego em seu devido lugar, como servo, e
não como senhor de nossas vidas.
Para encerrar, a liberdade também
só se conquista através do amor, como diz o apóstolo cabalista Paulo de Tarso: “Porque
vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar
ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros pelo amor.” Gálatas
5.13
Paz Profunda.
KADU SANTORO – Teólogo graduado pela Faculdade Batista do Rio de
Janeiro (FABAT-RJ), Escritor, Pesquisador das Ciências da Religião com ênfase
em Mística Judaica, Gnosticismo e Religiões Comparadas, Esoterista, Preletor em
diversos cursos de Cabala, Teologia Espiritualidade e Meditação, Terapeuta
Holístico e Consultor em Espiritualidade.
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