Por Kadu Santoro
“Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal;
eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Isaías 45.7
Segundo o texto do profeta Isaías, bem e mal são forças
complementares, a dualidade oriunda da unidade para que tudo viesse a existir.
O conceito de pecado, hamartia em
hebraico ou pecatum em latim, possuem
o mesmo sentido, errar o alvo, que como consequência significa a separação das
duas forças, criando assim uma polarização, desequilíbrio entre as forças
atuantes no universo, nada haver com questões de ordem moral nesse primeiro
momento, e sim, com as leis físicas.
O Zohar interpreta essa passagem através de uma parábola,
onde um rei decide testar a integridade de seu filho (lembre-se também da
narrativa de Jó), para confirmar se esse era digno da herança do trono (símbolo
de maturidade e estabilidade). Ele pediu a seu filho que se afastasse das
mulheres dissolutas, mantendo-se longe das tentações da carne. Então, o rei
contratou os serviços de uma mulher muito atraente para que tentasse o seu
filho (lembre-se da história de José e a mulher de Potifar no Egito)
seduzindo-o de todas as formas possíveis e imagináveis.
O Zohar, levanta a seguinte questão por meio de um pergunta
retórica: “Esta mulher também não seria uma fiel serva do rei?”A explicação é a seguinte, o objetivo do mal é o de nos
“tentar”, aguçar nossos sentidos, e assim permitir que possamos despertar a
nossa consciência a respeito da nossa livre-agência. Logo, sem a existência do
mal, não teríamos outra alternativa a não ser fazer somente o bem e, neste
caso, não haveria virtude no bem que fizéssemos, pois sem a força contrária não
poderíamos fazer juízo de valores.
Contudo, uma vez que o Criador nos concedeu a capacidade de
discernimento através da livre-agência, o mal desempenha uma papel importante
em seus planos para a estabilidade de toda a realidade criada. No final da parábola, o príncipe percebe que a mulher que
veio seduzi-lo, foi contratada pelo próprio pai, o rei, e logo ela deixa de ser
uma ameaça. O mesmo vale para mal quando tomamos consciência.
A síntese dessa história, nos mostra que bem e mal são faces
da mesma moeda, não como questão de relatividade e sim como complementariedade
a partir da unidade. Lembramos das sábias palavras do Apóstolo Cabalista Paulo
de Tarso: “E sabemos que todas as coisas
contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito.” Romanos 8.28
Paz profunda a todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário