sábado, 4 de julho de 2020

A SABEDORIA QUE PROVÉM DO CORAÇÃO



A letra Lamed - למד ocupa uma posição particular no alfabeto hebraico. Ela é a 12ª letra, e em sua grafia, é a maior letra do alfabeto. Ela significa estudar ou ensinar, inclusive a expressão Talmud, consiste em uma declinação da letra Lamed. Os cabalistas desenvolveram um acrônimo constituído por três letras do alfabeto hebraico: Lamed, Mem e Dalet, formando a expressão “Lev mevin Da’at” – “O coração compreende o conhecimento.”


Observe que aquele que compreende o conhecimento com coração – Lev, é um sábio – Chachám - חָכָם, que é exatamente o sentido da resultante da gematria da palavra Lamed, que corresponde à segunda sefira da árvore da Vida, Chochmá – Sabedoria, Lamed = 30 + Mem = 40 + Dalet = 4 = 74 = 7 + 4 = 11 = 1 + 1 = 2 = Chochmá – Sabedoria.


Observe que a gematria da palavra Chachám – Sábio, corresponde à sétima sefira da Árvore da Vida – Nêtzach - Vitória, ou seja o número 7 sagrado, logo podemos dizer que um sábio é um vitorioso, aquele que conhece as coisas relacionadas à espiritualidade – 3, e as relacionadas com a materialidade – 4, Chet = 8 + Caf = 20 + Mem Sofit = 600 = 8 + 20 + 600 = 628 = 6 + 2 + 8 = 16 = 1 + 6 = 7.


É fundamental saber que tanto na Torá quanto em toda a Bíblia, não existe a palavra cérebro, só se fala do coração, considerando que é a partir dele que o homem pensa. A esse respeito a Torá dos diz o seguinte: “Deus não vos tem dado um coração para conhecer.” Deuteronômio 29.3, nos ensinando que dentro do judaísmo, mais precisamente na psicologia esotérica da Cabala, o conhecimento passa através do coração.

Assim também, na prece cotidiana, o shemá, encontra-se dito o seguinte: “Estas palavras estarão em teu coração.” Aqui isto significa: “tu deves compreendê-las.” A palavra “coração” possui um sentido muito amplo nas Escrituras Sagradas. Podendo definí-la como a parte “cognitiva” do homem, tanto no nível intelectual quanto no nível emocional – “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.” Salmos 119.11 Depois podemos diferenciar o cérebro e o coração.


Uma vez estabelecida essa diferenciação, as pessoas se interrogam frequentemente sobre a “distância” que os separa – “A distância mais longa a ser percorrida é da mente ao coração.” Thomas Merton.


A maior questão na vida permanece: quais são as relações entre o coração e a razão se as vezes eles nem sequer se falam? A resposta parece simples, porém, colocá-la em prática consiste no maior desafio humano: O centro intelectual corresponde ao nível da alma chamado Neshamah, enquanto o centro emocional, ao nível da alma chamado Rúach, e ainda temos o terceiro nível que é chamado Néfesh que corresponde aos instintos e as atividades motoras. Logo, o objetivo do ser humano a partir do seu tikkun - conserto a ser realizado, consiste justamente no alinhamento desses três níveis da alma: Néfesh (ações), Rúach (sentimentos) e Neshamah (pensamentos), a restauração do triângulo equilátero perfeito, símbolo muito usado pelos esotéricos.


Outra observação importante dentro do tema, é a questão da meditação. É de fundamental importância para os estudantes de Cabala, discernir o que é meditar segundo a tradição judaica das demais tradições. A palavra hebraica para meditação é Hagah, que possui o sentido de; ou seja, uma referência à prática que muitos têm, durante a meditação, falar sozinho ou em baixa voz, refletindo sobre uma determinada questão, alguns comparam ao ato de ruminar dos bois, dessa forma devemos ficar mastigando as palavras e refletindo sobre elas – “Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” Salmos 1.2. Outras práticas meditativas voltadas para a contemplação e recolhimento interior, foram enxertadas na Cabala tardiamente na transição da Idade Média para a Idade Moderna, e com certeza tiveram influências de tradições orientais e dos Padres do Deserto.


Um exercício simples para despertar os centros constitutivos (os três níveis da alma), consiste ao acordar pela manhã, ainda sentado na cama, inspirando e expirando suavemente, colocar uma das mãos em forma de concha levemente sobre o topo da cabeça, em cima do chakra coronário e dizer: EU QUERO SER; em seguida, abaixando a mão, levar para o peito e colocar novamente em forma de concha na posição do chakra cardíaco e dizer: EU POSSO SER; e por último, baixando mais as mãos, colocá-la na região do chakra umbilical dizendo: EU SOU. Fazer isso por três vezes já é o suficiente.


Em síntese, nós não podemos sentir nenhuma emoção sem discernimento prévio. Não é possível amar se não há um “objeto” a ser amado, assim como eu não posso odiar sem ter o “objeto” do meu ódio. O cérebro indica todos esses objetivos. O coração é, decerto, capaz de fabricar emoções, mas antes disso, é preciso conceber as coisas. Antes tenho que saber do que estou falando. Depois, decidir se sou contra ou a favor. Uma vez estabelecido que “há alguma coisa”, a palavra é do coração.


Segundo os filósofos, não existe conhecimento “objetivo”, até mesmo na física se encontra esse pressuposto. Quer dizer, mais precisamente, que o cérebro transmite um dado ao coração, este julga se o dado lhe convém ou não, porém, esse julgamento se opera segundo critérios subjetivos, ou seja, o coração possui sua própria lógica, conforme disse Pascal, que “o coração possui razões que a própria razão desconhece.”


Assim, podemos dizer que o cérebro possui um conhecimento “global”, e que depois, o coração distingue o que é bom do que é mal, ou seja, entre o que lhe convém e o que lhe agrada, conforme disse o apóstolo cabalista Paulo: “Tudo me é lícito, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não deixarei que nada domine.” I Coríntios 6.12 Esse é o princípio da sabedoria e do discernimento o qual devemos buscar despertar mais a cada dia.


A função do cérebro é pensar as coisas com objetividade. O coração busca compreender (faculdade de Biná – Compreensão e Entendimento), de modo subjetivo, de que modo isto é importante para mim. Aliás, o verbo “conhecer”, além destes conceitos evocados, possui um significado muito preciso. Toda vez que se encontra o verbo da’at, que designa diversos conhecimentos, ele expressa sempre o fato de que isto me “concerne ou me diz respeito.”


Paz Profunda.


KADU SANTORO – Teólogo graduado pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro (FABAT-RJ), Escritor, Pesquisador das Ciências da Religião com ênfase em Mística Judaica, Gnosticismo e Religiões Comparadas, Esoterista, Preletor em diversos cursos de Cabala, Teologia Espiritualidade e Meditação, Terapeuta Holístico e Consultor em Espiritualidade.


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