terça-feira, 8 de outubro de 2019

Sobre os mistérios cabalísticos de Yom Kippur


Por Kadu Santoro

Segundo a fábula de Moisés, quando subira ao monte Sinai para receber as primeiras tábuas das leis em Shavuot, permaneceu por lá 40 dias e 40 noites. Em função do pecado da idolatria, retornara ao Monte Sinai, no período da lua nova correspondente ao mês de Elul (Virgem), e ficou por lá mais 40 dias e 40 noites, retornando em Yom Kippur, dia da expiação, décimo dia do mês de Tishrei (Libra), trazendo consigo as segundas tábuas das leis.

Vamos analisar o texto em nível sod (segredo/mistério). Subir ao monte significa a elevação da consciência do desperto, acessar o seu chakra coronário, local arquetípico da iluminação, lembra do Buda com o chakra coronário de mil pétalas, ou a auréola dos santos católicos. O centro correspondente a essa expansão de consciência, na Cabala se chama Neshamah, logo, Moshé (Moisés), que significa “filho”, “tirado nas águas”, é aquele que desperta, é o arquétipo da criança, do novo, metanóia, mudança de mentalidade.

As “tábuas de pedra” são outra representação alegórica para o coração do homem (Lev), que quando não é preenchido por Chesséd (Misericórdia), é linear e duro, o contrário do coração do justo (Tzadik) que é regido por Gevurá e Chesséd, ou seja, Justiça e Misericórdia, tendo como resultante, Tiféret (Beleza).

Os 40 dias e 40 noites, gematricamente falando, corresponde à 4 + 4 = 8, que na Cabala representa transcendência, elevação e comunhão com o infinito, ou também chamado com o mundo dos 99%. É um tempo fora do tempo, onde o buscador (Moshé) vislumbra aquilo que é bom e agradável em consonância com as leis universais, que para a grande maioria que não tem esse nível de evolução para compreender, fica apenas nas observâncias religiosas, as Mitzvot.

A descida do monte, também chamada na Cabala de descida da Árvore da Vida (Descida do relâmpago, daí por que diz que houve relâmpagos sobre o monte, que significa lampejos e insights), ocorre no décimo dia, ou seja, ele subiu a Kéter e retornou à Malchut, o reino, totalizando o ciclo das 10 sefirot, nada literal né?

E no retorno do alto, ele vem com as segundas tábuas, ou seja, um novo coração, que só será revelado cabalisticamente no Novo Testamento em especial no pentateuco neotestamentário, formado pelos 4 Evangelhos e o Livro do Apocalipse, onde reside a chave de Davi dos grandes mistérios. O Antigo Testamento corresponde à Gevurá (Leis/Justiça) e o Novo Testamento (Amor/Chesséd), a união entre esses opostos cria a estabilidade harmônica do universo.

Ainda na Torá, seguindo com os mistérios cabalísticos, em Vaikrá (Levítico = Lev = Leis do Coração) encontramos a seguinte passagem que respalda às observâncias de Yom Kippur: “Mas o décimo dia do sétimo mês é o dia das expiações. Tereis santa assembleia. Jejuareis e apresentareis ofertas queimadas a Iahweh. Neste dia não fareis trabalho algum pois é o dia das Expiações, quando se fará por vós o rito da expiação diante de Iahweh vosso Deus” (Levítico 23,27).

Vamos lá. Novamente o décimo dia, o número 10 que sempre representa uma totalidade, o absoluto (10 = 1) Echad, o único, como descrito no Livro da Criação (Sêfer Ietsirá): “Dez Sefirot do nada. Sua medida é dez; que não têm fim; A profundidade do princípio, a profundidade do fim, a profundidade do bem, a profundidade do mal, a profundidade do acima, a profundidade do abaixo, a profundidade do leste, a profundidade do oeste, a profundidade do norte, a profundidade do sul, O Mestre único, Deus, Rei Fiel (significado da palavra Amém) domina sobre todas elas desde sua Santa morada até a eternidade das eternidades.” Sêfer Ietsirá 1:5.

Sétimo mês, novamente a gematria presente, número 7, perfeição, consonância com os princípios cósmicos, o dia do Shabbat, pausa para que o homem reflita sobre o 6, as etapas da criação.

Tereis uma santa assembleia, na Cabala, um encontro interno, onde a assembleia é a reunião/conciliação entre as pluralidades de eus à serviço do ego, onde o homem observa-se atentamente, procura compreender a natureza de suas impressões, identificando suas possíveis origens desde a sua mais tenra infância, ou até mesmo possíveis vislumbres de vidas passadas. “Reconcilia-te, pois com ele e tem paz, e assim te sobrevirá o bem.” Jó 22.21.

O jejum e as ofertas, nada mais são do que símbolo do esforço para o conserto (Tkun), o árduo trabalho sobre si, fora isso, é mera observância mecânica religiosa. O rito de expiação, é justamente o expurgo de todas as identificações e impressões que impedem o homem de evoluir e conhecer-se a si mesmo.

Logo, quando chamam o Yom Kippur de dia do perdão, nada mais é do que primeiramente perdoar-se a si mesmo e consequentemente, se houver faltas contra o seu próximo, ter com ele admitindo-as.

Esse período, que por tradição se vivencia entre hoje, dia 8 de novembro e amanhã dia 9, é um período propício para perdoar-se a si mesmo, com os votos de um novo re-começo da jornada rumo à Luz Ilimitada (Ain Sof), assim como despertar a essência de Chéssed (Misericórdia) para a humanidade.

Abraços e Paz Profunda!




2 comentários:

  1. A que se ter muita gratidão quando vemos a humildade de grandes seres aqui na terra com a missão de abrir a nossa visao com ensinamentos. A evolução depende de cada um promovendo suas buscas e lapidando suas asperesas mas, mudamos o "spin" quando encontramos seres que lhe aponta certos caminhos. Kadu que bom, não por acaso, encontrei vc semeando em terrenos não importando se irá ou não germinar essas sementes, onde só o aquele que busca o semeador sabe da importância e preciosidade de fazer brotar, crescer É multiplicar a lavoura. Obrigado pela difusão de importante conhecimento na evolução humana.
    Que a paz esteja contigo.

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