Por Kadu Santoro
Enfim, chegamos em mais um final de
ano, contemplando o encerramento de mais um ciclo de 12 meses. Nesse último mês
de dezembro, mesmo não correspondendo à realidade dos fatos históricos,
teológicos e astronômicos, ficou convencionado pela Igreja Católica Romana,
baseado no culto ao Sol Invictus no
império romano, o dia 25 de dezembro como o dia do advento natalino, o dia em
que Jesus, O Cristo teria vindo ao mundo na cidade de Belém na palestina.
O meu ponto de vista sobre o advento
do Natal, vai muito além das interpretações históricas e literais
convencionadas ao longo dos séculos pela tradição eclesiástica. Até porque, não
me prendo de forma alguma à forma, e sim, a essência desse acontecimento que na
verdade acontece dentro de cada um de nós, como uma verdadeira teofania.
Infelizmente, toda essa expectativa
em relação ao Natal, como ficou convencionado até os nossos dias de maneira
totalmente distorcida e sem sentido, só é de interesse ao comércio, pois é um
período altamente lucrativo. É um período onde o consumismo desenfreado fala
mais alto e as pessoas voltam-se totalmente para as compras de iguarias,
presentes e lembrancinhas para todos os gostos.
Para começar falar sobre o Natal, é
preciso antes compreender o sentido alegórico das passagens em torno do advento
do nascimento de Jesus, O Cristo, pouco se importando com fatos históricos, e
sim, com a simbologia pertinente a cada personagem descrito principalmente na
narrativa do Evangelho de Mateus. Vou citar alguns pontos para reflexão em um
nível mais profundo sobre alguns desses personagens, de forma a despertar a
nossa consciência para um processo de autoconhecimento, e assim, promover o
grande advento dentro de cada um de nós.
Logo no início do Evangelho de
Mateus, no segundo capítulo, fala o seguinte: “Tendo nascido Jesus na cidade de
Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do oriente, chegaram a
Jerusalém, e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos Judeus? Nós vimos
a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem.”
Temos aqui três personagens para
serem refletidos: o rei Herodes, os magos do Oriente e o recém-nascido. O
recém-nascido, simboliza a novidade de vida do novo homem desperto, O Cristo
interno ou força crística que é acolhido dentro de cada um de nós; o rei
Herodes, aquele que determina a morte dos recém-nascidos, representa o nosso
ego, que procura resistir ao nosso despertar e a nossa auto rendição, tentando
de todas as formas impedir o irromper do novo homem. Os magos, conforme o
princípio esotérico da Lei de Três: Belchior, Gaspar e Balthasar, representam os
três níveis da alma humana: Belchior, o nível de Neshamah, correspondendo a
nosso centro intelectual – simbolizado pela oferta de Ouro, pensamentos nobres
e elevados, Gaspar, o centro emocional – Rúach, simbolizado pelo elemento
Insenso, suavidade e fluidez de alma, e Balthasar, os nossos instintos, Nefesh,
simbolizado pelo elemento Mirra, lembrando o amargor da nossa jornada carnal.
Ambos vem contemplar o novo homem, demonstrando o total equilíbrio entre estes
três centros constitutivos do Ser.
Quanto aos pais de Jesus: José e
Maria, representam o aspecto dual, onde José está associado aos pensamentos,
enquanto Maria aos sentimentos, logo, somente estabelecendo o equilíbrio entre
os pensamentos e sentimentos, é que podemos gerar O Cristo, o novo, a nova
consciência desperta.
Ainda, podemos falar sobre os animais
presentes no cenáculo da manjedoura. O burro, o boi e o carneiro, ambos
representam qualidades instintivas inerentes ao homem à serem superadas: o
burro, às nossas teimosias; o boi a condição de indolência e o carneiro, a
qualidade de ser identificado com os outros, onde todos vivem como rebanhos
obedientes alienando-se de si mesmos sobre a sua verdadeira essência.
A estrela do Oriente que os magos
seguiram, representa a centelha divina que habita em cada um de nós, também
chamado em algumas tradições, de a Rosa do Coração, o Átomo Centelha do
Espírito, etc.
O nascimento em um estábulo e o
acolhimento em uma manjedoura, representa a pobreza e rudez do mundo material
em contraste ao esplendor do mundo espiritual, em consonância com as palavras
de Cristo a Pilatos, que o seu Reino não é desse mundo. Como na tradição
budista em que o lótus, flor majestosa em beleza nasce em meio ao lodo
pantanoso.
Ainda temos o Egito, local onde o
Anjo do Senhor mandou a José que levasse o menino, que significa local de
espera, exílio, momento esse que o indivíduo após despertar a consciência
precisa passar, para superar as investidas de Herodes, o famigerado ego.
Depois de toda essa explanação em um
nível hermenêutico amplamente profundo, apenas nos resta reconhecer que o
advento do Natal, corresponde ao advento do despertamento da essência crística
dentro de cada um de nós, cada qual a seu tempo, a ascensão do Novo Homem, isso
que não tem um dia específico para acontecer e muito menos para celebrar,
apenas manter essa chama acesa. Logo, os aniversariantes desse nascimento somos
todos nós, aqueles que acolheram O Cristo em seu coração, como disse o
Salmista: “Acolhi a tua palavra no meu coração, para eu não percar contra ti.”
Samos 119.11
Desejo a todos um Natal pleno,
repleto de saúde, paz profunda, amor e que a luz do seu Cristo interior venha a
brilhar por todos os dias de sua vida, reinando sobre o velho homem.
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