domingo, 1 de abril de 2018

A quem se destina o estudo da Cabala?

Por Kadu Santoro

Certa vez me perguntaram por que eu não desenvolvo um método de ensino da Cabala mais fácil, com a alegação de que existem muitas pessoas que não encontram-se preparadas para receber esses conhecimentos, e outros que querem apenas esses conhecimentos de forma prática para resolverem os seus problemas imediatos.

A minha resposta foi a seguinte: em primeiro lugar, do mesmo modo, e com a mesma certeza de que o sol nasce no leste e se põe no oeste, assim acontece com a Cabala. Ela consiste em um sistema de ensinamento único imutável, presente em todas as culturas dos quatro cantos do mundo e do universo, e além disso, esse conhecimento encontra-se programado no DNA espiritual de todos os seres humanos, de forma que qualquer um que venha a receber esses ensinamentos, será despertado automaticamente para essa realidade superior que permeia todo o universo, do macrocosmo ao microcosmo. Esse argumento de que existem pessoas que não estão prontas para receberem tais ensinamentos, me soa presunçoso e preponderante, como os argumentos da Igreja Medieval em relação ao povo, dizendo que eles não tinham capacidade de lerem a Bíblia e compreendê-la de forma correta, pois somente os sacerdotes podiam fazer tal coisa, e como os rabinos que descrevem no Talmude que só podem estudar Cabala aqueles com mais de quarenta anos, família formada, estabilizados, etc. Porém, eu vos digo, que ninguém pode falar por ninguém, apenas aquele que encontra-se diante desses ensinamentos é que pode dizer qualquer coisa a respeito, até porque, como já disse, esses ensinamentos encontram-se dentro de cada um, como o próprio Evangelho nos diz que o Reino de Deus está dentro de nós, e as chaves de compreensão desse Reino (Malchuth) são justamente os ensinamentos cabalísticos, logo, eles fazem parte do nosso processo existencial. O mais interessante, é que quando começo uma nova turma de Cabala, percebo já no primeiro dia de aula como os alunos sentem-se familiarizados e a vontade com os ensinamentos, a ponto de muitos dizerem ter a impressão de que já conheciam tudo isso de alguma época ou lugar, mas não sabem explicar de onde, pois na verdade tudo está dentro deles mesmos, apenas é acessado durante as aulas.

Existe uma máxima universal que diz que conhecimento é poder, e é por isso que aqueles que ocupam os altos escalões do staff global, não querem que a humanidade evolua em conhecimento, pois assim, todos continuam na ignorância em relação a tudo e todas as coisas, sendo mais fáceis de serem governados e manipulados através do medo e da culpa. Sempre foi assim em todas as culturas, principalmente no âmbito religioso, onde o que havia de melhor era reservado apenas a pequenos e seletos grupos, como aconteceu com o Cristianismo que tinha como melhor os gnósticos e esses foram sucumbidos, assim também aconteceu com os Sufis, que foram dizimados pelos Islâmicos e também com o Judaísmo rabínico que sufocou os cabalistas neoplatônicos, pois esses últimos tinham como propósito despertar a consciência do seu povo, a gnosis universal, ensinando sobre as relações de imanência e transcendência que produzem o verdadeiro encontro do Ser e seu propósito aqui e agora, livre das superstições e observâncias religiosas que sempre deram e continuam dando muito lucro aos sacerdotes mal intencionados.
A outra questão, falo a um grupo de pessoas imediatistas que não querem buscar o seu autoconhecimento e continuam na imaturidade, querem apenas o peixe, porém não querem aprender a pescar, por isso que não se interessam em aprofundar-se no estudo mais sublime da Cabala de forma disciplinada e refletida, que trata justamente da nossa natureza e nossas relações com o mundo que nos cerca. Como Freud dizia, que as pessoas que não querem amadurecer porque isso requer responsabilidade, ora, é mais fácil o indivíduo continuar culpando os outros e se queixando a Deus como vítima do que parar, refletir e perceber que tudo está dentro da lei de causa e efeito, ou seja, somos totalmente responsáveis por tudo que o que ocorre em nossas vidas, exceto quando é algo definido pela natureza superior ou pela lei do Carma, e mesmo assim, não é por acaso, nós e que nos equivocamos muitas vezes pensando que Deus se confundiu ou se esqueceu de nós. Aqueles que procuram a Cabala apenas para resolverem seus problemas, como uma receita de bolo, estão ocupando-se apenas com uma parte da realidade, e a única que é transitória e passageira, correspondente ao mundo do 1%, deixando de lado a outra parte que é eterna e perfeita que representa o mundo dos 99%. Tem um versículo Bíblico que diz: “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33. Cabalisticamente falando, se o Reino de Deus encontra-se dentro de nós, então devemos buscar em primeiro lugar nos conhecer, o autoconhecimento, a livre auto iniciação, como dizia o Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo.” E a justiça (Gevurah), consiste na equidade baseada nas leis divinas conforme a máxima: “Não julgueis para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes par medir a outros, igualmente medirão a vós...” Mateus 7:1,2.

A Cabala encontra-se aberta para todos aqueles que querem adentrar pela porta estreita e percorrer o apertado caminho, pois esses sabem para onde querem ir, ao contrário daqueles que buscam a porta larga e o caminho espaçoso e querem viver apenas de ilusões efêmeras e passageiras, escravizados pela roda de samsara (roda das encarnações) em pleno estado de sono, sem despertar para a realidade maior que habita dentro de cada um. Não existe outro pré-requisito para estudar Cabala que não seja um coração humilde e sincero, pois o resto é apenas comentário.

Para finalizar, deixo aqui um pensamento totalmente relacionado com tudo o que falamos acima, do grande mestre oriental Lao Tsé:

"Aquele que conhece os outros é sábio.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.

Aquele que vence os outros é forte.
Aquele que vence a si mesmo é poderoso.

Aquele que conhece a alegria é rico.
Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.

Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.

Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo."

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
O sábio não se faz notar, e por isso é notado.

O sábio não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo,
ninguém no mundo pode competir com ele."





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