Por
Kadu Santoro
São
infinitos os caminhos que nos conduzem ao Criador, seja ele filosófico,
religioso ou científico, ou até mesmo através da mescla dos três. A certeza é
que de alguma forma e em determinado tempo chegaremos ao status de espíritos
perfeitos em comunhão plena com o Criador, que é a própria Consciência Suprema.
A
Cabala consiste em um desses caminhos, abrindo muitas portas e respondendo a
uma infinidade de perguntas de ordem interior (ES-otérica) e exterior (EX-otérica),
utilizando-se das relações intrínsecas entre o micro e o macrocosmo.
Os
princípios cabalísticos encontram-se presente em quase todas as culturas
espirituais e religiosas do nosso planeta, consiste em um verdadeiro acervo de
arquétipos fundantes implícitos por trás de mitos, símbolos, rituais e
cosmogonias. Porém, venho através desse artigo falar sobre as três vertentes
mais emblemáticas da Cabala.
A
primeira e talvez a mais antiga é a Cabala Egípcia (KABASH), praticada pelos
magos e sacerdotes do Antigo Egito, essa que teria sido transmitida a Moisés e
temos muito poucas informações sobre ela. Essa Cabala é extremamente reservada
e segundo alguns pesquisadores, só existem hoje no mundo apenas doze
representantes dessa escola esotérica egípcia.
A segunda
vertente cabalística é a Hebraica (QABALAH), essa que foi conservada e
transmitida oralmente para um grupo bem seleto de iniciados durante os séculos
até os dias de hoje. Reza a lenda que essa tradição começou a ser difundida pelo
Patriarca Abraão através do Livro Sefer Yetzirah (Livro da Formação), que teria
recebido esses ensinamentos de épocas remotas desde Adão, passando a Enoch e
sendo difundida por meio da Ordem de Melquisedek inspirada pelo anjo Haziel.
A
terceira vertente corresponde a Cabala Hermética, ou também chamada de Cabala
Cristã, que surgiu em torno do século XII, através de grandes expoentes da
mística e espiritualidade de seu tempo como Giovanni Pico della Mirandola,
Jacob Boehme, Johannes Reuchilin, Athanasius Kircher, Raimundo Lúlio, Stanislau
de Guita entre outros.
O
trabalho da Cabala tem por finalidade nos orientar sobre quem somos, de onde
viemos e para onde vamos, explicando que há várias dimensões que nos permeiam e
encontram-se ao mesmo tempo ao nosso redor, de acordo com os princípios
modernos da física quântica, onde já não se fala mais em uni-verso, e sim e
multi-versos. A Cabala também nos revela que a morte não existe, pois somos de
origem divina e logo não possuímos fim. Nesse processo não existe espaço para a
involução, pois tudo o que existe dentro dos múltiplos universos encontra-se em
constante movimento na forma espiral ascendente (arquétipo simbólico do chapéu
cônico do Mago).
Como
em todas as teologias, na Cabala também temos dois aspectos formativos: o
arquitetônico e o hermenêutico, onde o primeiro está relacionado com as revelações
de seus arquétipos através das leis imutáveis do universo, enquanto o segundo
possui caráter filosófico buscando interpretar e dar sentido a essas leis por
meio da linguagem dentro dos preceitos antropológicos, psicológicos e
sociológicos. De acordo com essa visão, o Cabalista Gershon Scholem diz: “Cada
homem tem seu próprio e único acesso à Revelação. A autoridade não mais reside
em um singular e inequívoco significado da comunicação divina, mas na sua
infinita capacidade de assumir formas novas.” Em função disso que a
Cabala também é chamada de “Sabedoria Oculta”, pois seus ensinamentos são
perenes e sua revelação tem caráter íntimo, pessoal, visando o despertar da
consciência para estágios mais sutis de evolução, como diz um preceito
cabalista: “Existem entre os homens vários níveis de evolução e vários níveis de
compreensão.”
Para
quem deseja ingressar na senda da Cabala, em especial a hebraica, o ponto de
partida é começar a estudar a Torá, também chamada de Chumash (O Pentateuco),
os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica, atribuído a autoria a Moisés, que
são Gênesis (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Vayikrá), Números (Bemidbar)
e Deuteronômio (Devarim), onde encontram-se os 613 preceitos da Lei Mosaica.
O
segundo livro a ser estudado pelo neófito cabalista, é o Livro da Formação
(Sefer Yetzirah), que tem por base os manuscritos do Rabi Isaac Luria (ARI),
que explica sobre a existência de 32 caminhos da sabedoria, vias ocultas, falando
sobre as dez sefirot da Árvore da Vida e as 22 letras do alfabeto hebraico.
O
terceiro caminho a seguir, é o estudo do livro do Zohar (Sefer Ha Zohar),
também chamado de Livro do Esplendor, que é sem dúvida a obra mais sagrada para
os cabalistas onde nela se revela toda a dimensão mística do judaísmo. Essa
obra é composta por 22 tomos, correspondentes às 22 letras do alfabeto
hebraico. O Zohar é considerado pelos cabalistas como a coluna vertebral da
Cabala, também chamada de Chochmah há emet – a sabedoria da verdade.
A
partir desse tríplice percurso, posso sugerir a leitura de alguns livros
adicionais como o Sefer Ha Bahir (O Livro da Iluminação), O Talmud, que
consiste na legislação como código moral hebraico consistindo na junção das
Mischinah (livro sobre a lei judaica) com a Guemarah (comentário e elucidação
da Mischinah) e a Torá.
A
partir desses estudos teremos como compreender que os cabalistas nos falam da
realidade do mundo espiritual através da linguagem dos ramos e das raízes. Nós
que vivemos no mundo dos resultados e das causas e feitos, ou seja, no mundo do
1%, só possuímos a compreensão dos ramos, pois não temos acesso ao mundo das
raízes ou dos 99%, ou seja, do mundo espiritual, onde tudo é criado e
concebido. Logo, o estudo da Cabala tem como objetivo promover um itinerário
para que todos tenham acesso ao Criador, onde esse caminho da alma consiste em
125 etapas de forma alegórica, onde somente um cabalista que passa por todas
essas etapas passa a ter em seu íntimo um ardente desejo de compartilhar o que
colheu nessa jornada com a humanidade.
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