Por
Kadu Santoro
Essa
questão é paradoxal, pois quanto mais buscamos nos conhecer, reconhecemos que
precisamos cada vez mais nos empenhar nessa árdua e libertadora tarefa, como
dizia Sócrates: só sei que nada sei, o princípio da sabedoria é o
reconhecimento do nosso estado de ignorância perante nós mesmos, igualmente
como dizia um provérbio oriental: aquele que conhece os outros é sábio, porém,
aquele que conhece a si mesmo é iluminado.
O
âmago mais profundo de nossa alma parece esconder-se a todo momento da nossa
consciência. Por isso, faz-se necessário aumentar o isolamento, a elevação no
pensar, a penetração do pensamento, a libertação da mente e do sentir: até que,
por fim, nossa alma se revele a nós através da centelha divina produzindo uma
expansão de consciência. Então, descobrimos a bem-aventurança, transcendendo
todas as humilhações (arquétipo da via crucis culminando da ressurreição) ou
tudo o que aconteça, por atingires a equanimidade (estatura de homem perfeito
prefigurado pelo apóstolo Paulo), por te tornares uno com tudo o que aconteça,
por te reduzires tanto a ponto de nulificar (que diminua eu...) tua forma
individual imaginária, de nulificar a existência nas profundezas de teu eu.
“O
que somos nós?” Então tu conheces todas as centelhas da verdade, todo raio de
integridade a faiscar em qualquer lugar. Então congregas tudo, sem ódio, inveja
ou espírito de rivalidade (diabolós, aquilo que separa e desagrega). Em ti se
manifestam a luz da paz e uma coragem feroz. O esplendor da compaixão e a
glória do amor brilham por meio de ti. O desejo de agir e trabalhar, a paixão
por criar e restaurar-se, o anseio pelo silêncio e pelo interior de júbilo,
todas essas coisas se agrupam em teu espírito, e tornas-te santificado.
Essa
pergunta não existe para uma resposta definitiva, e sim para uma experiência
contínua como disse Jesus: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que
Abraão existisse, Eu Sou.” João 8:58. O que difere o ser humano de outros seres
da natureza, é a sua condição inacabada, sempre aberta a todas as
possibilidades, aberta ao transcendente, e viver de acordo com essa realidade
requer muita coragem, como dizia OSHO: “conviver com a dúvida requer muita
coragem.” A verdade não é um alvo a ser atingido, e sim, um caminho a ser
percorrido, logo, o Ser constitui-se num caminhar contínuo, lado a lado consigo
mesmo, deixando de lado a tentação de viver a vida que planejamos para viver a
vida que nos espera (Joseph Campbell).
O
ponto principal do estudo da Cabala consiste nesta pergunta: “o que somos nós.”
E todo o resto de informações e conhecimentos giram em torno dessa pergunta, de
forma a nunca fechar-se em si mesma, sempre aberta, proporcionando novas e
contínuas possibilidades, fazendo com que o indivíduo perceba qual é o seu
papel perante o universo, o aqui e o agora, sendo um Deus em essência, capaz de
agir, fazer e realizar obras cada vez maiores, como no simbolismo da cruz,
crescendo na horizontalidade (ser existencial) e na verticalidade (ser
essencial) de forma a superar-se a si mesmo e finalmente dar o grande salto
quântico, culminando na grande união mística com o Uno, afirmando em essência
como disse Jesus: “Eu e o Pai somos Um, quem vê a mim, vê ao Pai.” Esse é o
nobre objetivo produzido por uma pequena pergunta. Seja apenas, isso é tudo!
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