Por Kadu Santoro
Segundo o pensamento budista, “a vida é dor e viver é sofrer”,
porém, esse axioma existencial nos abre a mente para muitos questionamentos.
Cada um de nós possuímos diversos “dramas de existência”, pois desde o momento em
que nascemos, somos bombardeados de informações de todos os tipos e formas,
principalmente os “nãos”, ou seja, passamos por um processo de aprendizado
doloroso, repleto de negações e proibições, que acabam nos levando a uma
alienação quase total da nossa subjetividade, ou seja, do nosso processo de
pensar intuitivamente livre do julgo do Ego e da racionalidade.
Como disse Joseph Campbell: “Nós não nascemos humanos, nos tornamos
humanos.” Essa expressão nos leva a um entendimento muito amplo e
profundo. Logo que nascemos, passamos a ter contato com o mundo físico e
sensível, onde vivemos num processo de descobertas através dos sentidos e da
linguagem, que nos impulsionam de forma obrigatória a nos relacionar com essas
descobertas, fazendo com que nos tornemos seres convencionados e limitados,
presos nas grandes do Ego.
Todo esse processo se inicia de forma brusca, desde o momento do nosso
nascimento até o processo de assimilação e relacionamento com os sentidos, nos
trazem muitas marcas dolorosas, que ao longo da nossa existência vão se cristalizando
em traumas, fobias, transtornos emocionais e crises existenciais profundas.
Se pensarmos bem, no momento em que chegamos ao mundo, já nos encontramos
com nossos dias contados, ou seja, já começou a contagem regressiva, pois afinal
de contas, somos matéria composta, e como diz outra frase budista, “todo
composto é perecível”, logo, por sermos constituídos de uma gama de
elementos químicos e orgânicos, já passamos a nos decompor a partir do processo
de oxidação. O envelhecimento é inevitável, e por fim a morte, que é o processo
final e acelerado da nossa decomposição física.
Bem, até agora só falei das dores, mas quero de agora em diante, mostrar
como através delas, podemos tirar boas lições e com isso, transformá-las em
grandes oportunidades para despertar.
Como já vimos, o ciclo da vida não pode ser modificado nem física ou biologicamente,
porém, dentro da nossa mente, que é o nosso universo micro-cósmico podemos
transformar qualquer coisa através do pensamento. A nossa mente possui
infinitas faculdades, pena que aqui no mundo ocidental, conhecemos e utilizamos
muito pouco elas devido a nossa formação empírica cartesiana-aristotélica.
Existe um versículo bíblico muito interessante que nos leva a uma
profunda compreensão sobre o nosso pensar: “E não vos conformeis com este século, mas
trasnformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimentais qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12.2)
A expressão utilizada “não vos conformeis com este século”, demonstra que
o homem é um ser secular, fadado a um limite temporal que dura cerca de cem
anos, e o fato do não conformismo, está associado a nossa capacidade de
transformar através da mente as adversidades e sofrimentos em experiências e
entendimento, fazendo com que sejamos libertos de qualquer manifestação
negativa. Um verdadeiro processo de renovação dos nossos pensamentos que nos
levarão a despertar para uma nova condição psíquica e transcendente, onde
daremos lugar a nossa centelha divina que habita em nós de agir subjetivamente e
intuitivamente, ou seja, já não vamos viver de forma tão ansiosa e depressiva,
pois teremos a plena consciência que “Eu e o Pai somos Um” (Jo.10.30), logo,
tudo estará sobre controle, pois na dimensão inconsciente coletiva, todos estão
conectados ao Todo Supremo. A tomada dessa consciência nos levará a uma
verdadeira ascensão da massa crítica, fazendo com que a humanidade passe a
viver de uma forma mais harmônica, consciente e humanizadora. Para concluir,
deixo uma frase de Jung que sintetiza toda essa realidade: “Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para
dentro do seu coração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro,
desperta.”
Desperte você também!
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