segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
As relações entre o texto bíblico sobre o anúncio da natividade aos pastores do campo com os manuscritos de Qumran.
Por Kadu Santoro
Quando os anjos apareceram aos pastores que viviam no campo, conforme o texto bíblico encontrado no Evangelho de Lucas (Lc.2.14), anunciando o nascimento do messias salvador – Jesus Cristo, na cidade de Belém, encontramos neste texto alguns questionamentos exegéticos polêmicos. As últimas palavras do anjo dizendo: “Glória a Deus nas alturas...” (Lc.2.14a), por muito tempo foi alvo de questionamentos e discussões entre as denominações cristãs. A pergunta que não se cala é a seguinte, será que após a primeira parte deste versículo, os anjos quiseram dizer: “e na terra paz às pessoas de boa-vontade” (conforme a Vulgata Latina), ou seria: “e na terra paz e às pessoas harmonia” (versão de Martinho Lutero através de sua interpretação: “...a boa vontade de Deus ou o agrado..., que ele, por intermédio de Jesus Cristo, tem em relação às pessoas”, mas também: “o coração pacífico, que tudo suporta e aceita”), ou ainda: “e na terra paz às pessoas, de quem Deus se agrada” (aquelas segundo Deus escolhe e elege)?
Percebemos que essa passagem foi controvertida confessionalmente por muito tempo. Segundo alguns católicos, viam recompensada a boa vontade das pessoas e para a maioria dos protestantes, viam como a confirmação da soberania divina em eleger quem ele quer, independentemente de obras e méritos da pessoa. Devido a esse questionamento, forma-se outra pergunta fundamental: se tratava da vontade divina em relação às pessoas ou da boa e grata vontade dessas?
Graças a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, ou seja, os Textos de Qumran, foi possível tentar esclarecer essas questões a respeito do texto de Lucas, em relação a vontade eletiva de Deus.
Nos textos de Qumran encontra-se a seguinte expressão: “filhos do seu agrado/arbítrio”, como por exemplo nos hinos: “...a plenitude de sua misericórdia para com todos os filhos de seu agrado” (1 QH[1] 4.32-33), muito parecido em 11.9). Em 1 QS[2] 8.6, são mencionados os “eleitos de seu agrado”. O significado disto é: Deus escolheu livremente as pessoas através de sua própria e exclusiva resolução. Nós podemos nos orientar pelo arbítrio de Deus ou por aquilo que é do seu agrado. De todo o modo, o critério sempre é a sua vontade.
Podemos concluir que, o hino dos anjos em Lucas 2.14, diz da seguinte forma: “Glória a Deus nas alturas e na terra paz às pessoas que Deus escolheu segundo o seu agrado”. Resumindo, são aquelas pessoas, às quais Deus deseja presentear com sua salvação. São aquelas pessoas que o Evangelho consegue alcançar. De forma semelhante, conforme os textos de Qumran, Deus concede sua misericórdia às pessoas. Tudo passa pela soberania divina. Porém, se falamos de eleição, logo pressupomos que exista o contrário, os não eleitos. Podemos perceber que alguns textos de Qumran tem como característica o “dualismo” (possivelmente de influência Persa), uma divisão de pessoas entre aquelas que pertencem a Deus e as que pertencem ao outro lado, ou seja, chamados nos textos de Qumran como “Filhos das trevas” e “Crianças da luz”. Provavelmente seja por isso que Jesus fala aos seus discípulos em Mateus 18.1-5 que aquele que não vos converterdes e não vos tornardes como criança, de modo algum entrará no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus, ou quando ele diz que deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus (Mt.19.14).
Bibliografia:
BERGER, Klaus, Qumran e Jesus: uma verdade escondida? Klaus Berger; tradução Ivoni Richer Reimer. Petrópolis, RJ : Vozes, 1994.
Bíblia TEB versão de estudos, Tradução Ecumênica, Loyola, SP
[1] 1 QH – Rolo de Hinos, da caverna 1
[2] 1 QS – Regra da Seita, da caverna 1
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chega mais um natal, com ele luzes e muitos enfeites. Mas, o mais lindo enfeite de um natal é um grande sorriso - que sua vida tenha grandes enfeites - lamarque
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