quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Friedrich Schleiermacher - O Pai da Teologia Liberal


Biografia:
Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (Breslau 1768 / Berlim 1834), teólogo e filósofo alemão. Filho de um capelão militar, provém da tradição reformada e se educou em escolas moravianas e luteranas. Apreciava a piedade e o estudo do latim, grego e hebraico dos moravios. Estudou a filosofia kantiana e foi estudante de F. Von Schlegel, um líder do romancismo nos círculos literários de Berlim. Foi ordenado ao ministério em 1794. Foi clérigo em Berlim na Igreja da Trindade donde começou sua associação com os círculos da filosofia romancista. Foi o primeiro calvinista convidado a ensinar na Universidade Luterana de Halle em 1804. Em 1810 foi o primeiro teólogo convidado a ensinar na Universidade de Berlim. Defendeu a união das igrejas calvinistas e luteranas na Prússia. Elaborou seu sistema ético e religioso influenciado por Spinoza, Platão, Fichte, Kant e pelo romantismo alemão. Suas pricipais obras foram: Discursos sobre a religião (1799); Monólogos (1800); Crítica das Doutrinas e A Fé Cristã (1822).

Teologia:
Schleiermacher é considerado o pai da teologia liberal por causa de sua ênfase no direito do indivíduo de definir os termos de sua própria fé, sem ser intimidado por nenhuma autoridade. Sua teologia abriu portas para que o pensamento iluminista secular entrasse na esfera teológica. Ele não acreditava que a bíblia fosse a palavra de Deus inspirada, pois ninguém poderia estar seguro de nada além de sua própria experiência pessoal. Para ele, cada pessoa tem uma consciência de Deus que instila um senso de dependência para com algo para além de si mesmo. O Jesus encontrado no Novo Testamento e exaltado nos credos foi mal interpretado como Deus, sendo de fato um homem que alcançou a pura consciência de Deus, via a Cristo como o salvador, porque nele brilhava dependência absoluta em Deus, e sua obra consistia em transferir ao ser humano essa consciência de dependência absoluta na divindade. A religião é: “A consciência da divindade tal como se encontra em nós mesmos e no mundo”.

Religião: O sentimento e intuição do universo;
Cristianismo: O sentimento e a total dependência de Deus;

Para Schleiermacher os sentimentos é que interessa à religião, identifica Deus a molde de Spinoza, com o mundo, considerado como um todo, posteriormente identifica-se com os pensamentos de Agostinho e Calvino. A autoridade final na religião, não são as escrituras, nem a razão e nem uma relação entre as duas, antes é o sentimento religioso (uma espécie de intuição) combinado com a experiência religiosa dali derivada.

Para Schleiermacher a religião não podia ser estudada corretamente nem pela filosofia racionalista da ilustração, nem pelos dogmas eclesiásticos, apenas o sentimento e a intuição eram os melhores caminhos para relacionar-se com Deus.

Deus para ele era um realidade supra-pessoal e transcendente. Ele questionava o dogma da trindade, negava a interpretação da morte de Jesus como um substituto pelo ser humano, entendia o pecado como uma debilidade individual e coletiva dos seres humanos que se mantém em circulação através das influências sociais.

Concepção filosófica:
A concepção filosófica de Schleiermacher é, fundamentalmente, a do idealismo romântico, isto é, do monismo imanentista. Embora ele pense que não podemos conhecer nada a respeito de Deus, teoricamente, repete de muitos modos que a realidade é una, e que o espírito humano na sua plena atualidade é a consciência de Deus imanente. O absoluto não é atingido por via prática ou moral, é atingido pelo sentimento, não pelo sentimento de ordem psicológica, mas pelo sentimento potenciado romanticamente em sentido metafísico, sentimento este que seria precisamente a faculdade do absoluto, do uno, e a raiz comum das outras atividades psíquicas. Schleiermacher procura libertar a religião da ciência e da moral para poder celebrar uma religiosidade estética.

A religiosidade verdadeira e própria para Schleiermacher consiste em uma religiosidade em sentido específico, que seria a referência das várias e mutáveis determinações da autoconsciência ao absoluto, ao mais alto e mais puro Eu, que constitui a nossa essência. Para Schleiermacher a religião ocupa o mais alto grau da atividade humana, assim como o sentimento ocupa o vértice da vida espiritual. E como na vida espiritual o conhecimento e a vontade seriam secundários e derivados com respeito ao sentimento, assim na atividade religiosa a teoria e a prática, a doutrina e a moral, seriam expressões inadequadas e simbólicas da religiosidade.

A ação do infinito sobre o homem, é a intuição, e o sentimento é a resposta do sujeito: é o estado de espírito, ou seja, a reação da consciência. Este sentimento que acompanha a intuição do infinito é o sentimento de total dependência do sujeito em relação ao infinito. O sentimento religioso, portanto é o sentimento de total dependência do homem (finito) em relação à totalidade (infinita). Essa idéia básica vale para todas as formas de religião.

Igreja:
Schleiermacher foi um dos primeiros eruditos a questionar a interpretação sobre os autores dos evangelhos apresentados pela tradição da igreja. A igreja para ele, é um lugar de verdadeira comunidade humana, uma comunidade que se baseia neste sentido de dependância absoluta em Deus, compartilhada comunitariamente. Isto é base para uma plena humanização. A religião é um componente básico da natureza humana.

Hermenêutica:
Schleiermacher é considerado o pai da hemenêutica moderna, para ele a tarefa da hermenêutica era “entender o discurso também como o autor, e depois melhor que ele”. Ele intentou apresentar uma teoria coerente sobre o processo de interpretação dos textos, apresentou a teoria da comunicação entre um emissor e um receptor, baseado em um contexto social e linguístico comum. Adicionou à teoria tradicional da interpretação uma dimensão psicológica.


Bibliografia:
http://www.pfilosofia.xpg.com.br/geocities/encfil/schleiermacher.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Schleiermacher


Kadu Santoro

Um comentário:

  1. Porquê ele defendeu a necessidade de identificar um sentimento especificamente religioso.?

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