sexta-feira, 3 de maio de 2019

Liberdade


Por Kadu Santoro

Fala-se muito em liberdade, mas raramente paramos para refletir na profundidade e na essência desta palavra, que em si, em sua forma substantiva é praticamente impossível alcançá-la.

Ser liberto é o anseio de todo o indivíduo. Infelizmente a maioria dos seres humanos preconizam apenas a liberdade no âmbito material, esquecidos de que muitos que se encontram encarcerados, sofrendo torturas, podem muitas vezes encontrar-se mais libertos do que outros que têm amplas possiblidades de ir e vir sem restrições de terceiros, mas cuja mente é refém, cativa de preconceitos, futilidades e crenças limitantes que avassalam o seu ser.

Só é livre, só vive em plena liberdade, quem já se despojou de todas as vãs ilusões do mundo das aparências, das algemas do sentimentalismo, das artimanhas e caprichos do ego, e com isso não se permite mais ser atingido pelas contingências e seduções da vida secular. O prazer do verdadeiro liberto encontra-se em servir ao próximo como expressão de amor, como disse o apóstolo cabalista Paulo de Tarso: “Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns ao outros mediante o amor.” Gálatas 5.13.

Uma pessoa liberta respira, anda e se movimenta em harmonia com a vida, em meio à chama da incompreensão humana, sem se conturbar e ainda podendo ajudar aos que lhes conspiram o mal e tentam lhe massacrar, apontando-lhe, generosamente, a senda para alcançar a meta da libertação.

A liberdade nos convida a uma profunda reflexão filosófica. Ao mesmo tempo que tomamos consciência de que não estamos no controle de absolutamente nada, a liberdade encontra-se como uma possibilidade constante diante do desenrolar da vida, ou seja, ela faz parte dessa tomada de consciência, de que tudo consiste nas possiblidades do já e ainda não, e assim, a ânsia de alcançá-la já não é mais um sofrimento, como disse Rubem Alves: “Se alguma coisa deu certo na minha vida, foi porque tudo deu errado.” Basta apenas observar o processo suspendendo qualquer forma de juízo, lembrando que nada, mas nada mesmo acontece por acaso, como disse Einstein que Deus não joga dados.

Ainda na dimensão humana, o que guarda mágoas e ressentimentos, o que não compreende que ainda encontra-se trilhando na estrada árdua e perigosa da vida temporária terrena, e portanto, como qualquer um, encontra-se sujeito a tropeçar e derrubar alguém, pois ainda não firmou os pés no caminho e permanece vagando na estrada, sem bússola e cajado.

A bússola é seu coração, a centelha divina que remove as crenças limitantes, e o cajado da esperança que ampara o que cansado pereceria no caminho se esse não fosse o seu apoio, de forma que ao cair, levanta-se e prossegue, lembrando que não há onde chegar, e sim do caminho a percorrer, como disse o poeta espanhol Antônio Machado: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”

Liberdade é reconhecer nossa humanidade, que todo ser humano é um ser inacabado em constante processo de humanização, como disse Paulo Freire. Porém, completo em essência e uno com o Todo.

Liberdade também é desvencilhar-se do passado, o desligamento total de tudo que impeça a ascensão. É manter a mente como uma tela limpa, serena, tranquila a fim de que possa captar as mensagens, os ensinamentos que virão ao longo da jornada, com a finalidade de mostrar como se apaga o erro cometido, ou a mágoa que persiste em nos atormentar e deixar em seu lugar, delineado, o roteiro certo para que evitemos novas desilusões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário