segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

FINALMENTE ACABAMOS DOMESTICADOS E EMBURRECIDOS?



Por Kadu Santoro

            Essa é a conclusão assustadora que cheguei. Depois de muitos anos estudando o comportamento humano, seus rumos e perspectivas, percebo que chegamos a um ponto extremamente crítico, a humanidade emburreceu consideravelmente em todos os sentidos, pioramos e continuamos piorando a cada dia. Hoje o que vemos é um show de barbáries em todas as esferas da sociedade, e o pior, é que a grande maioria das pessoas perderam totalmente a sensibilidade e o poder de discernimento das coisas, encontram-se alheios a tudo. Os preços aumentam abusivamente, o custo de vida está insuportável, a violência generalizada em todos os níveis, a banalidade cultural associada com a decadência do pensar, a corrupção desenfreada, a sexualidade vulgarizada e o amor totalmente reduzido a uma mera conveniência. Poderia passar muito tempo aqui relacionando coisas terríveis que estão diante de nossos olhos e ninguém ao menos se sensibiliza com tal situação. É lastimável ver como a vida perdeu o seu valor, se mata por qualquer coisa ou motivo, o egoísmo e a ganância já não tem limites, o mundo se tornou pequeno para tanta coisa ruim que vem acontecendo, é preciso despertarmos urgentemente e fazer uma revisão radical de conceitos e valores.

            Falar hoje em dia em ética, compromisso, respeito, sustentabilidade, é muito comum e bonito de se escutar, porém, fica apenas nas palavras, no campo teórico das idéias, isso quando essas não são usadas como discurso de manipulação das massas. Até no campo religioso, as palavras sábias e inspiradas foram substituídas por chavões e clichês motivacionais que geram apenas emotividade e massageiam o ego. O advento da tecnologia da informação veio como um grande aliado de todo esse processo de alienação e distanciamento, as pessoas não conversam e interagem mais pessoalmente, agora elas teclam, ninguém presta mais atenção a natureza, fica-se vislumbrando e compartilhando fotos no Facebook de forma distante e fria como escravos voyeristas da tecnologia da informação. Os valores do Ser estão deturpados, as pessoas buscam autoafirmação através do consumo e da vaidade estética, nunca estão satisfeitos consigo mesmo, procuram sempre algo exterior para satisfazerem suas vontades, desejos e prazeres, esses que são os grandes causadores de todo o nosso sofrimento. Sem falar da cultura, essa que se tornou cara e escassa, foi substituída por um engodo televisivo e midiático, recheado de futilidades e apelo sensual, uma verdadeira vulgarização cultural.

            O quadro é caótico, vivemos a política do “panis et circenses” característico da época da dominação romana dos primeiros séculos de nossa era cristã, porém hoje em dia, o pão e circo foram substituídos por futebol e bebedeira, consumo e sexualidade desenfreada, nada além disso. Os entretenimentos de hoje são pautados em futilidades e vulgaridades de forma coletiva como raves, chopadas, boites extasiantes, bares lotados cheirando a cigarro e bebida, a palavra de ordem é balada, típico de um país infantilizado e atrofiado culturalmente e emocionalmente como o Brasil, um país que perdeu, ou melhor, talvez nunca tenha tido profundidade e conteúdo, agora é uma coisa rasa, é só festa, sertanejo, pagode e funk, todo mundo se matando para ficar com corpos sarados e as mentes cada vez mais atrofiadas, enquanto isso milhares de pessoas passando fome e vivendo abaixo da linha de pobreza, não há lugar para o amor sincero, o papo saudável, a caridade o cuidado a cultura e amizade verdadeira sem interesses. Isso foi substituído pelo egocentrismo, ou seja, a política do cada um por si e (sei lá) Deus por todos, farinha pouca, meu pirão primeiro, a lei de Gerson, onde todos querem apenas levar vantagens custe o que custar.

            As políticas públicas deitam e rolam diante de tanta mediocridade, pois a população não está nem aí para nada, a inflação se eleva de forma galopante, os salários cada vez mais baixos, o mercado de trabalho vulgarizado, a escassez de mão de obra qualificada, a deficiência e precariedade do serviço público, os roubos, nepotismo, armações e fraudes por parte dos governantes em todas as esferas da política, etc. Estamos domesticados, cada vez mais alienados diante de tantos problemas graves, por isso que a “burrocracia” aumenta cada vez mais e como diz o adágio popular: o povo tem o governo que merece. Até no meio religioso só vemos enganos e mentiras, pregações vazias e apelativas, somente batendo em cima de dízimos, ofertas e prosperidade, ninguém procura mais entrar em comunhão autêntica e verdadeira com o Sagrado, agradecer ao invés de pedir, é o que eu chamo de Evangelho fast-food, uma forma interesseira e tosca de se comunicar com Deus.

            Infelizmente é isso, viramos marionetes da seleta elite global, como gados domesticados, prontos e condicionados apenas para obedecerem sem questionar nada, totalmente disciplinados em relação ao sistema capitalista, até porque as pessoas não se ocupam em buscar conhecimento, ampliar o seu background cultural e muito menos desenvolver um censo crítico a partir de si mesmo e em relação ao mundo que o cerca. A situação é crítica e a tendência é piorar mais a cada dia. Vivemos em meio a uma grande crise de sentidos e valores, estamos diante de um grande abismo existencial, a instituição família está em decadência, para cada matrimônio realizado, são dez divórcios, não há mais diálogo nos lares, cada um vive sua vida, pais contra filhos e vice e versa, não há mais respeito, todos em busca de “ter” egoisticamente, possuir e conquistar bens materiais, conforto e prazer, nada além disso. Cada vez mais estamos nos alimentado pior, vivendo a síndrome de falta de tempo, dormindo mau, vivendo uma vida superficial, precária e vazia de sentido e espiritualidade, e mesmo assim, ninguém dá uma pausa para refletir sobre essas coisas e tenta buscar alguma alternativa para sair desse círculo vicioso.


            Lamentavelmente, dou por encerrado esse desabafo e espero que ele sirva de luz e incentivo para outras pessoas que estão sofrendo e observando tais acontecimentos e possam fazer uma profunda reflexão continuando em busca de não se tornar mais um alienado emburrecido diante da mediocridade humana atual. Procure buscar conhecimento, ampliar seus horizontes do “Ser”, pensar mais, aculturar-se, espiritualizar-se, amar e permitir ser amado de forma pura e sincera, não acredite em tudo que se fala, antes questione, avalie e por último critique se for necessário. Evite se expor nas teias das redes sociais, ocupe mais seu tempo com coisas sublimes como leitura, arte, cultura e lazer ligado a natureza, pratique a caridade, desenvolva sua espiritualidade, preste mais atenção a sua família, dedique-se mais aos seus filhos, esposas e maridos. Viva e seja você simplesmente, não queira ser mais uma mera reprodução em série, pelo menos faça como disse o filósofo Nietzsche: Eu não sei o que quero ser, mas sei muito bem o que não quero me tornar. não se torne mais um zumbi domesticado.

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