Por Kadu Santoro
A ignorância e a ilusão são
características da mente degenerada, condição essa que chamamos muitas vezes de
“trevas” ou escuridão. Apesar da grande colaboração negativa da
institucionalidade religiosa em manter as mentes e corações manipulados e
dirigidos para fora em busca de Deus, tal condição de ignorância é confirmada e
suportada pelo nosso sentimento de “ego” – a idéia que todos nós nos
encontramos separados uns dos outros e principalmente de Deus.
Jesus, apesar de sua formação judaica,
pautada na relação com um Deus pessoal, nos ensinou a buscar o Deus interior.
Podemos conferir essas palavras no evangelho de Lucas, onde diz o seguinte: “O
Reino de Deus não possui aparência ostensiva; nem se poderá dizer: ei-lo aqui
ou ei-lo ali! Porque o Reino de Deus está dentro de vós.” Embora essa afirmação
tenha sido sustentada por muitos estudiosos para demonstrar a historicidade das
atividades terrenas de Jesus entre seus discípulos e os homens, também devemos
entender essa afirmação como uma referência à divindade dentro do homem, como
podemos perceber na prece ensinada por ele: “Eu neles, e tu em mim, para que
possam tornar-se perfeitos na unidade...?”, ou quando o apóstolo Paulo declara
aos Coríntios: “Ignorais acaso que sois o templo de Deus, e que o Espírito de
Deus habita em vós?”.
A ignorância e cegueira religiosa nos
impede de perceber esta verdade de que Deus está sempre presente dentro de nós.
Sem despertarmos a nossa consciência, fica muito difícil para nós acreditarmos
nesse encontro genuíno com Deus dentro de nós. Porém, grandes almas iluminadas
na história tiveram essa experiência, como diz um mestre védico: “Conheci
aquele grande Ser de luz fulgurante, além de toda a treva. Tu também, conhecendo
essa Verdade, superarás a morte.” Jesus também disse: “E conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará.” O encontro com essa verdade acontece através do
despertar da consciência e de um renascimento espiritual como Jesus falou a
Nicodemos.
Hoje no
mundo existem milhares de religiosos, sejam cristãos, muçulmanos, judeus entre
outros, que frequentam assiduamente suas igrejas e templos prestando cultos,
ofertas e adorações, mas desses, poucos buscam a união com Deus, pois ocupam-se
na maior parte do tempo com rituais e formalidades, além de que, a maioria das
pessoas satisfaz-se em viver uma vida morna, mais ou menos ética aqui na terra,
na esperança de que vão ser recompensadas numa vida além dessa pelas suas boas
ações realizadas aqui.
Dentre os
cristãos, muitos falam em ter Cristo renascido em seus corações ou que
aceitaram a Jesus, mas o que quer dizer isso? Segundo os Upanishads védicos, o
homem vive dentro de três estados de consciência: acordado, sonhando e dormindo
sem sonhar. Nesses três estados é impossível ver Deus. Mas, além desses três
estados, existe um q ue podemos chamar de
quarto estado, que é muito conhecido pelos místicos, um estado que transcende o
tempo, o espaço e a causalidade. É o Reino de Deus de que fala Jesus Cristo. Aquele
que passa por esse estado, não é contrariado em tempo algum por nenhuma outra
experiência, passa a ver tudo de forma arquetípica e comum ao todo, ao
contrário das fantasias dos estado de sonho, que são anuladas quando acordamos.
Quando atingimos esse estado, iluminamos nosso coração e acontece uma
transformação genuína e permanente. Renascemos em espírito. Nesse estado
transcendental, desparace toda consciência do mundo e de sua multiplicidade.
Para os hindus esse estado atingido é chamado de samadhi; os budistas chamam de
nirvana e os cristãos de união mística com Deus.
Infelizmente
são poucas as pessoas que entram nesse Reino de Deus, porque poucos são os que
lutam para encontrá-lo, como diz o Gita: Quem se preocupa em procurar a
liberdade perfeita? Um indivíduo, talvez entre milhares.” Jesus também nos
alerta que a porta é estreita, porém, para muitos, estreito é sinônimo de
princípios éticos e morais, zelo pela observância religiosa desconhecendo o
verdadeiro significado que é o caminho interior, aquele que nos conduz a Deus.
As instituições
religiosas ensinam a seus adeptos a se contentarem com o mínimo, ou seja,
apenas com as práticas exteriores, superficiais, rituais e dogmas, fazendo com
que esses não alcancem o progresso na evolução espiritual, ou seja, ater-se ao
estrito cumprimento dos deveres religiosos é condenar-se à mediocridade,
renunciando assim a um anseio profundo do coração humano que é progredir
sempre. Comodismo e mediocridade barram a evolução espiritual do homem levando
esse a um estágio de alienação completo e cegueira espiritual. São aqueles que
por anos frequentam os ministérios eclesiásticos, seja envolvido com música,
teatro, liturgias ou qualquer outro setor, onde vivem segundo o exterior, o ego
camufla-se por trás de uma pseudo religiosidade, deixando de vivenciar a
verdadeira prática interior da ascese espiritual, ou seja, escuta, escuta mas
não ouve, vê mas não enxerga, e assim acaba vivendo uma espiritualidade vazia.
Em suma, quando
encontramos Deus dentro de nós, encontramos a nossa centralidade, logo passamos
a perceber que o nosso mérito não está na grandeza material das obras que
realizamos, mas na profundidade e dimensão do amor com que dedicamos à elas em
prol do nosso próximo de forma incondicional.
Parabêns meu irmão. Ha algum tempo é que enchergo as coisas nesta mesma linha, apesar de estar iniciando meu trabalho pessoal em busca de mim mesmo. Não é facil seguir essa lógica, porém não é impossivel e nem tão dificil o quanto imaginei ao iniciar nesta jornada.
ResponderExcluirabraço!