quarta-feira, 28 de julho de 2010

A evolução histórica da Doutrina da Trindade


O conceito de Trindade consiste num arquétipo muito antigo, todos os povos e civilizações antigas eram politeístas, e possuíam como base de suas teogonias (mitos de criação), um sistema trinitário, que geralmente era formado por uma divindade masculina, uma feminina e uma terceira representando a filiação. O cristianismo estabeleceu contatos com diversas dessas culturas, entre elas, as que mais lhe influenciaram, foram as culturas greco-romanas do mundo helenizado, persa, babilônica e egípcia. Enquanto que no Antigo Testamento, a preocupação central dos Hebreus era com a afirmação da unidade de Deus (YHWH), já no Novo Testamento, com o advento de Jesus, e a descida do Espírito Santo, os cristãos apresentaram Deus como triúno.

- Trindade do Egito: Isis, Osíris e Hórus;
- Trindade da Babilônia: Anu, Ea e Enlil;
- Trindade Helenística: Zeus, Maia e Hermes;
- Trindade Romana: Júpiter, Juno e Minerva;
- Trindade Hinduísta: Brahma, Vishnu e Shiva;

A doutrina da Trindade é o princípio organizador de quase toda a teologia cristã ocidental. Esse termo não é mencionado nenhuma vez se quer nas Escrituras, porém a doutrina pode ser inferida da mesma, a partir de textos que serviram de base para o seu desenvolvimento.

A doutrina da Trindade se desenvolveu mediante a necessidade que a Igreja cristã tinha de explicar a dinâmica do relacionamento de Jesus com Deus, perante os judeus e o mundo helenizado.

Sabemos que as cartas paulinas são os documentos mais antigos do Novo Testamento (anterior aos evangelhos), e nelas encontramos algumas citações que serviram de base para a formulação da doutrina da Trindade, como por exemplo, nas saudações, onde o autor faz referência a Deus como Pai e a Jesus como Senhor (Rm 1.7b) “...graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Essa saudação também se repete em outras cartas paulinas, como em 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, Filêmon, além das cartas atribuídas a Paulo, como 1 e 2 Timóteo e Tito.

Quanto aos evangelhos, de maneira bem nítida, a Trindade é vista em Três momentos distintos: no batismo de Jesus (Mt 3.17) “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”; na grande comissão e na benção apostólica, onde Jesus menciona as três pessoas (Mt 28.19) “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Também em João 14.26, percebemos a dinâmica trinitária, “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

A doutrina da Trindade veio se desenvolvendo desde o século II até o século IV. A controvérsia ariana e a contestação de Atanásio, ocuparam o centro desse desenvolvimento, que atingiu seu ápice no Concílio de Nicéia (325 a.C.), com a elaboração do Credo (Nicéia), que tinha como fundamento principal, a exposição trinitária e explícita das três pessoas da Trindade, rejeitando totalmente as heresias monarquianista e subordinacionista, além da condenação de Ário como herege.

No período dos Pais Apostólicos, a idéia central era, que Deus é Uno e Criador, era a linha divisória entre a fé da Igreja e o paganismo. Os Pais Apologistas, foram os primeiros a tentarem esboçar uma explicação de forma intelectual, sobre a relação entre Cristo e o Deus Pai. Os Pais Polemistas também continuaram defendendo a idéia de que Deus é Uno e Criador.

O Credo de Nicéia:
“Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus Verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressucitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos. Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: Ele era quando não era, e antes de nascer, ele não era, ou que foi feito do não existente, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substância ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja Católica a Apostólica anatematiza”.

O teólogo católico Hans Küng diz em seu livro Christianity and the World Religion (O Cristianismo e as Religiões do Mundo) que a Trindade é uma das razões pelas quais as igrejas têm sido incapazes de fazer algum progresso significativo junto aos povos não-cristãos.

Segundo o catecismo da Igreja Católica Romana, afirma que: “Trindade é o termo empregado para definir a doutrina central da religião cristã... Assim, nos dizeres do Credo Atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e, não obstante, não são três Deuses, mas um só Deus. Assim, a Trindade é considerada como “um só Deus em três pessoas distintas”. Afirma que nenhuma delas teve princípio, que sempre existiram, que cada qual é todo-poderosa, nenhuma maior ou menor do que a outra.


Quem deu à tradição ocidental a sua expressão madura e final a cerca da doutrina da Trindade, foi Agostinho de Hipona. Ele aceita indiscutivelmente a verdade que existe apenas um Deus trino, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simultaneamente distintos e co-essenciais, numericamente um quanto à substância; e seus escritos estão repletos de declarações detalhadas quanto a isso. Esse é o modelo trinitário que vigora até os dias de hoje na Igreja Católica.


Kadu Santoro


Bibliografia:
- LORENZEN, Lynne Faber – Introdução à Trindade, Tradução Euclides Luiz Calloni, SP, Paulus, 2002
- MAZZAROLO, Isidoro – O Apóstolo Paulo, o grego, o judeu e o cristão, Mazzarolo Editor, RJ, 2008
- Catecismo da Igreja Católica – Edição típica vaticana, Ed. Loyola, SP, 1998

4 comentários:

  1. Oi Kadu!

    Muito bom o texto. Gostei da simplicidade e da objetividade para apresentação de conteúdo tão complexo.
    Abraços

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  2. excelente explicação da doutrina da trindade.Parabens! pena não termos mais pessoas que se dizem conhecedoras da plalavra do SR não esplanarem coisas interessantes da Bíblia Sagrada.

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  3. Entendo como importantíssimo o Estudo do Tema Doutrina da Trindade; e pulsa de maneira intensa no meu coração (cognição, mente) o desejo de vê-la estudada e discutida de maneira madura e séria ─ quer defendida ou contestada ─, e nessa minha obstinada visão e intenção; postei um Blog com o título A DOUTRINA DA TRINDADE É HERESIA, endereço www.heresiadatriunidade.blogspot.com , para o qual peço toda atenção, como estou tendo para o seu Blog. E termino dizendo que o Blog em apreço é um Estudo de certa extensão textual de pesquisa séria: sujeita à também séria contestação de quem se dispuser a fazer.
    Atenciosamente JORGE VIDAL

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  4. Ola sr Kadu Santoro. Quando falas em Tradição Ocidental da religiosidade cristã, a qual supostamente teria forjado o Dogma Trinitário, significa dizer que foram difusores da uma ideologia ocidental personalidades orientais como: Inácio e Teófilo, ambos os 2 de Antioquia, Clemente, Orígenes e Atánásio, ambos os 3 de Alexandria, além dos capadócios Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, além de João de Antioquia, o Crisóstomo?

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