domingo, 12 de janeiro de 2014

Meditação cristã – Ministério de silêncio e quietude



Por Kadu Santoro

Vivemos em mundo barulhento e conturbado em plena era da informação, nossa sociedade é regida pela mente objetiva, totalmente voltada para o raciocínio e a interpretação, porém, isso tem trazido duras consequências para o homem pós-moderno, uma angústia interior, um abismo existencial enorme. Como disse Jean-Yves Leloup: “Todos nós estamos condenados a dar um sentido para o que nos acontece. A única dor insuportável é aquela que não somos capazes de interpretar, destituída de qualquer sentido.”
           
O que podemos fazer diante de tal situação? O que falta para podermos ajustar nosso corpo e espírito? A saída para essas questões encontra-se numa palavra pequena e esquecida em nossos dias, silêncio. Como cristãos, devemos refletir profundamente sobre a noção do silêncio de Deus. O ofício do silêncio é a quietude, essa que podemos encontrar de maneira sublime na prática diária da meditação cristã.

A meditação cristã faz parte da tradição monástica da igreja, muito praticada pelos pais do deserto desde os primeiros séculos da era cristã e que ainda é hoje muito difundida em muitas comunidades espalhadas pelo mundo. Segundo a tradição cristã, meditar é o caminho para a unidade, uma total harmonia entre corpo e espírito. É o caminho para o mistério infinito do amor de Deus, é crescimento e transcendência que nos conduz ao estágio que o apóstolo São Paulo nos diz: “A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo.” (Ef.4,13). São Pedro em sua primeira carta nos diz: “Não vos perturbeis, mas guardai o Cristo Nosso Senhor em reverência nos vossos corações.” (IPd.3,15). Assim como nós hoje em dia, os primeiros cristãos também sabiam que as mudanças, confusões e caos eram encontrados não apenas fora no mundo, mas na sua maioria dentro de nós mesmos. O constante desafio do ser humano é encontrar harmonia e paz dentro de si. Cristo é o princípio vivo de harmonia, de ordem e amor.

O primeiro passo para praticarmos a meditação é estabelecermos o silêncio e o estado de quietude, devemos aprender a estar imóvel. A meditação consiste na imobilidade perfeita do corpo e espírito. É nessa imobilidade que fazemos a experiência da simplicidade e abrimos o nosso coração ao silêncio eterno de Deus, para sermos arrebatados para fora de nós, para além de nós mesmos.

Segundo o monge beneditino John Main (OSB), para iniciarmos a prática da meditação, é preciso estabelecer algumas regras básicas:

Sentar-se. Fique imóvel e em posição ereta. Feche os olhos ligeiramente. Sente-se de forma relaxada, mas atenta. Silenciosamente, comece a dizer dentro de si uma única palavra (mantra). Nós recomendamos a palavra-frase “Maranata” (vem, Senhor!). Recite-a como quatro sílabas de igual duração. Ouça-a enquanto estiver a dizê-la, suave e continuamente. Não pense ou imagine alguma coisa – espiritual ou de outra natureza. Se vierem à mente pensamentos e imagens, estes são distrações na hora da meditação; portanto, apenas volte simplesmente a dizer a palavra. Medite cada manhã e cada noite entre vinte e trinta minutos.[1]

Queridos irmãos, a igreja e o mundo estão passando por dias difíceis devido a falta de sabedoria e amor. O que vimos é uma sensação profunda de ruína e de ausência de sentido e valores, porém, nós como homens e mulheres de Cristo podemos reverter essa situação, pois não há ato de maior responsabilidade social, política ou religiosa do que permanecermos plenamente conscientes e enraizados em Deus. Não vamos deixar que o mundo nos desanime da prática da meditação com se esta fosse um caminho em oposição ou em conflito com a responsabilidade social, política ou religiosa. Devemos lembrar sempre que a única coisa que todas as sociedades necessitam é sabedoria, e existe apenas um caminho para esta. E a fonte original dessa sabedoria encontra-se dentro dos nossos corações, no ministério da oração, como o apóstolo São Paulo fala aos romanos: “Do mesmo modo, vós deveis considerar-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em união com Jesus Cristo. [...] Colocai-vos à disposição de Deus, como mortos que voltaram à vida, e oferecei os vossos corpos a Ele como instrumentos de sua justiça; pois o pecado não mais deverá ser o vosso mestre, porque vós já não estais debaixo da Lei, mas sob a graça” (Rm.6,11.13-14).



[1] MAIN, John, O caminho do não conhecimento: expandindo os horizontes espirituais através da meditação / John Main; introdução de Laurence Freeman; tradução de João Mendonça; revisão da tradução de Gentil Avelino Titton – Petrópolis RJ: Vozes, 2009 – (Coleção Espiritualidade de Bolso)