quarta-feira, 16 de março de 2011

O debate teológico atual e os quarenta anos no deserto


O discurso teológico de hoje, muito se parece com aqueles quarenta anos, que o povo hebreu ficou rodando pelo deserto após o êxodo do Egito. As pesquisas acadêmicas, sempre foram e continuam sendo totalmente influenciadas pela fé e doutrinas cristãs, não permitindo que sejam feitas análises comparativas com outras expressões e manifestações religiosas que se encontram espalhadas pelo mundo, e achando pontos em comum entre elas, permitindo que possamos olhar a religião como um fenômeno arquetípico universal, onde Deus está acima de todo mito religioso construído a partir do homem e suas cosmogonias. São anos e anos girando em torno dos mesmos assuntos, só variando as modalidades, mas a amostragem é sempre a mesma, sempre direcionando a historicidade para a doutrina dominante, seja ela mais liberal ou conservadora.

Desde o período da escolástica, como o próprio nome já fala (escolas), na idade média, a igreja é que controlava o ensino as fontes e métodos de pesquisas, que até então, era apenas permitido nos mosteiros e círculos fechados eclesiásticos. Todas as matérias tinham um enfoque doutrinário, ainda naqueles moldes agostinianos, onde a Fé precedia a Razão. Ou seja, todo discurso filosófico-teológico, girava apenas em torno das tradições da Igreja e da filosofia clássica, com mais ênfase na filosofia de Aristóteles (especialmente em Alberto Magno e Tomás de Aquino).

Hoje em dia não é muito diferente, quando ingressamos numa faculdade ou seminário teológico, nos deparamos com a mesma problemática. A preocupação maior dos magistrados nessa área, é tomar a maior parte do seu tempo, com técnicas e metodologias de pesquisas, dando mais ênfase nos formatos, fontes e processos de apresentação de teses e monografias, ou seja, a preocupação maior está na embalagem, e não no conteúdo, porque se fosse o contrário, geraria muitas polêmicas em torno dos assuntos e temas analisados, logo, colocaria tanto os magistrados, quanto a própria instituição em risco de extinção.

Infelizmente, esse quadro medieval, se encontra no meio de teólogos cristãos, tanto católicos quanto protestantes. A fundamentação da Fé cristã está tão enraizada historicamente, que ela acaba se tornando fundamentalista, onde fora dela, não há salvação e nem redenção, mesmo nas discussões acadêmicas. Encontramos grandes catedráticos, doutores, e especialistas em diversas áreas da teologia, que mesmo tendo um vasto conhecimento, sabendo em “off”, que tudo o que eles ensinam e apresentam, é totalmente questionável e polêmico, porém, eles apresentam aos seus alunos, da forma que a sua instituição lhe ordena, não permitindo que as pessoas possam refletir certas questões numa dimensão mais ampla e universal, e acabam ficando engessados naquelas velhas historinhas contadas no catecismo e nas escolas bíblicas dominicais, mas com uma roupagem mais elaborada e técnica.

Para concluir, de que adianta ficar fazendo exegeses, hermenêuticas e estudos críticos em cima das tradições bíblicas, se não é permitido, analisá-las num âmbito maior, saindo das matrizes dogmáticas estipuladas pela Igreja Cristã dominante e estabelecendo paralelos com as diversas outras religiões milenares espalhadas pelo mundo, estudando as diversas teologias. Acho que se começarmos a fazer uma teologia com um discurso universal, e não restrito apenas as regiões e religiões do mediterrâneo, vamos evoluir muito mais, pois vamos passar a fazer o papel que infelizmente as religiões monoteístas não conseguiram fazer até hoje: “ESTABELECER HARMONIA E PAZ ENTRE OS POVOS DA TERRA”.

Pensem nisso, e passamos a respeitar as outras culturas e religiões da nossa grande morada chamada "PLANETA TERRA".


O autor da charge do artigo é o argentino pai da Mafalda, Quino.


Kadu Santoro

terça-feira, 8 de março de 2011

ALBERTO MAGNO: O DOCTOR UNIVERSALIS


Com Alberto Magno a ordem dos dominicanos, que tanto contribuiu para a alta vida espiritual da Idade Média, ocupa o primeiro lugar e, com ela, rompe o aristotelismo, a grande novidade medieval. Já Boécio sonhara com o plano de dotar o seu tempo com todo Platão e todo Aristóteles, sem conseguir realizá-lo. Mas o plano veio de novo a ser tentado. Gregório IX, em 1231, incumbiu vários sábios, entre os quais Guilherme Altissiodorense (de Auxerre), de estudar a possibilidade de empregar Aristóteles e a sua filosofia para a ciência da fé.. Alberto vinha de nutrir a intenção de "tornar compreensível aos latinos todas as partes da filosofia aristotélica", e esta vez a empresa vingou. Não somente a lógica, mas também a física, a metafísica, a psicologia, a ética, a política do estagirita fazem parte, daí por diante, do patrimônio filosófico da escolástica, juntamente com as idéias da ciência e da filosofia judeu-árabe e ainda a de muitas outras fontes, particularmente neoplatônicas. Alberto tem o título de doctor universalis e é, de fato, um enciclopedista universal de grande estilo e, com os seus trabalhos, prestou inestimável serviço à escolástica. Sessenta anos depois da sua morte, escreve dele um ,cronista anônimo: "Nesse tempo floresceu o bispo Alberto, da ordem dominicana, o mais ilustre e sábio de todos os mestres, comparado com o qual, depois de Salomão, não apareceu nenhum maior nem mesmo igual, em toda a filosofia… Mas, como de nação era germânico, é odiado por muitos, .sendo o seu nome denegrido, embora se sirvam das suas obras."

Vida

Presume-se ter Alberto nascido em 1193 em Lauingen, na Suábia, talvez da família dos condes de Bollstädt. Estudou em Pádua, fêz-se dominicano aos 30 anos, foi leitor em Hildsheim em 1233 e mais tarde em Friburgo, Ratisbona, Estrasburgo, Colônia. Entre 1245-18, encontramo-lo na Universidade de Paris como magister in sacra pagina. Talvez foi então Tomás seu aluno. Mas seguramente o foi desde 1248 até 1252 em Colônia, para onde Alberto tinha voltado, de Paris. Em 1254 foi provincial dos dominicanos alemães. Dois anos mais tarde encontramo-lo na corte papal em Anagni, dois anos mais tarde em Florença, em 1259 elabora, no capítulo geral em Valencienses, com Tomás, Pedro de Tarantásia e outros, um novo plano de estudos. Em 1261 é eleito bispo de Ratisbona; mas depois de ter aí ordenado as cousas principais, desonerou-se das suas funções, passando doravante a pregar a cruzada. De novo vemo-lo aparecer em Colônia, em Estrasburgo, em 1274 no Concilio de Lião, em 1277 ainda uma vez em Paris. Morreu em Colônia em 15 de novembro de 1280. Quando se pensa que Alberto fez, para obedecer às prescrições da sua ordem, todas as suas viagens a pé, é deveras espantoso que, além das suas múltiplas ocupações, conseguisse tempo e concentração de espírito para escrever obras que, na edição de Borgnet (1890 ss.) enchem 38 vols. in 4.°. "Nostri temporis stupor et miraculum", assim lhe chamou o seu discípulo Ulrico de Estrasburgo.

Obras

1. Paráfrases às obras de Aristóteles com o mesmo título; também às obras de lógica, à física, à metafísica, à psicologia, à ética, à política, às obras de ciências naturais. Está inédito um comentário à ética em forma de questões .(ca. 1250, redigida por Tomás). —

2.. Comentário às Sentenças (c. 1245). — 3. Summa de creaturis (c. 1245). .— 4. Summa theologica (dep. 1270), incompleta. — 5. Comentário ao Liber de causis e aos escritos areopagiticos. — 6. Muitas obras inéditas, como as referentes aos Elementos de Euclides, à óptica do Alma-gesto; e a sua primeira obra Tractatus de natura boni, que constitui o primeiro tomo publicado até agora na edição crítica das suas Opera omnia (Cur. Institutum Alberti Magni Coloniense B. Geyer praes.) (1951 ss.).

Bibliografia
M. Grabmann, Der Einfluss Alberts des Grossen auf das mittelalterliches Geistealeben, in: Mittelalterliches Geisleslelen, II, 325-412.

a)Caráter geral da sua filosofia

A obra de Alberto, tanto no seu conjunto como nas suas partes, não foi completamente elaborada. A riqueza do material que carreia teve como conseqüência o prejudicar às vezes a unidade. Mas muitas discrepâncias se resolveriam se se pudesse distinguir entre o que simplesmente refere e o seu pensamento própria Na sua Summa filosófica (De creaturis) contudo, onde expõe o seu próprio modo de ver, o pensamento está bem elaborado. Mas não podemos considerá-lo, pura e simplesmente, nem como aristotélico nem como neoplatônico. Tende antes para uma conciliação entre o pensamento platônico e o aristotélico: Et saias, diz, quod non perficitur homo in philosophia nisi ex scientia duarum philosophiarum Aristotelis et Platonis" (Met. 1. I, tr. 5, e. 15). Seria de grande importância um exame meticuloso do aristotelismo de Alberto para caracterizar o sentido da terminologia aristotélica, também em Tomás e, assim; na escolástica em geral. Pois devemos sempre, quando os textos escolásticos citam Aristóteles e as suas idéias, indagar que espécie de Aristóteles é esse e o sentido em que as suas palavras são tomadas. Dentre as idéias filosóficas de.Alberto queremos salientar sobretudo três:, as concernentes aos fundamentos do ser, à questão dos universais e à substancialidade da alma.

b) Fundamentação do ser

Alberto dá um fundamento ao ser de modo semelhante ao de Roberto Grosseteste na metafísica da luz. Deus é a luz incriada e produz, como o intellectus universalites agens a primeira inteligência. Dele procede (emanatio) o ser, mediante, a alma do mundo, por gradação até o ente corpóreo, no estilo do Liber de causis e de Avicena. Mas Alberto rejeita o monismo neoplatônico dos árabes. O ser da primeira Inteligência já não é Deus, mas algo de próprio, talvez "a luz escurecida." Quidam dixerunt, omnia esse unum et quod diffusio primi in omnibus est esse eorum (De Wulf II 6, 138), nota ele, afastando-se assim do ponto de vista oposto.

c)Os universais

Alberto resolve a questão dos universais já prenunciando a solução do Aquinata. Conhece a distinção dos universais em universale ante rem, in re, post rem. Em conformidade com isso afirma: a essência específica dos seres é independente da sua realização no mundo espácio-temporal e a precede. As nossas idéias universais são, como tais, apenas objeto do pensamento e, assim, post res. O indivíduo é uma concretização da essência específica e, assim, há um universale in re. Temos aí o cerne da síntese escolástica entre platonismo e aristotelismo, a Idéia e o mundo concretizados. E também vemos aqui quanto a metafísica dos escolásticos é platonizante; pois, a doutrina das Idéias, nesta composição, também Tomás de Aquino já não a abandona.

d)Substância da alma

Igual síntese encontramos ainda uma vez na doutrina da substância da alma. Todas as substâncias criadas são compostas de essência e existência; isto nos leva, às vezes, a crer que Alberto admite uma diferença real entre essência e existência, como Avicena; e outras vezes que a admite apenas lógica, como Averróis. As substâncias corpóreas nascem por obra da energia solar combinada com a agência da primeira Inteligência. Os conceitos de matéria e forma ele os emprega, mas não num sentido puramente aristotélico; pois, a forma da corporeidade é a luz. Mas, para as substâncias espirituais Alberto não aceita nem a composição de essência e existência nem a de matéria e forma. Mas elas devem ser compostas e. assim, chega ele à distinção já feita por Boécio do quo est e do quod est. O poder atribuir-se à alma o quod est mostra ser ela uma substância concreta e portanto individual; e o seu quod est lhe indica a qualidade específica, podendo então falar-se de uma forma geral, da alma. Alberto não se decide a considerar a alma como a mera enteléquia do corpo. Ele teme, como Nemésio, com quem concorda, comprometer-lhe assim a substancialidade. Assim, segundo Alberto, só na medida em que ela confere ao corpo a vida, é a forma dele; mas "em si mesma ela é, como diz Platão, um espírito incorpóreo e vida perene" tra. 12, q. 69, m. 2, a. 2 ad 1). Por isso se inclina também a conceber, com Platão, a alma como o piloto do corpo, para lhe salvar a substancialidade; e neste passo podemos lembrar que também Aristóteles, no oitavo livro da Física usa dessa imagem. Por causa da substancialidade. da alma Alberto se volta contra Averróis. Cada alma, ensina ele contra o filósofo árabe, tem o seu intelecto ativo e passivo próprios (De unitate intellectus contra Averroes).

e)O naturalista

O que dissemos até aqui não deve dar a impressão que tivesse Alberto cultivado de preferência a filosofia especulativa. Conhecia ele, quanto a esta, toda a tradição e podia proferir a sua opinião. Mas além disso tinha particular inclinação para a observação imediata e a descrição da Natureza. Não é exagerado considerá-lo como zoólogo e botânico. A observação imediata da natureza (experimentum) ele a promoveu sob todas as formas. – O principal editor das suas obras, H. J. Stadler, escreve nos Baeumker-Beitraägen (16 e 17). "Se a evolução das ciências naturais tivesse continuado no caminho trilhado por Alberto, ter-se-ia poupado um rodeio de trezentos anos" (Jp. H. Balss, Albertus Magnus als Biologe, 1947).

f)Alberto e a mística

Tara terminar assinalemos ainda a importância de Alberto para a mística alemã. Foi o patrimônio espiritual, parte, da patrística, parte, das obras areopagíticas e parte, da filosofia árabe, em que ele se abeberou, que se tornou fecundo, a este respeito. Echardo, antes de todos, Tauler, Suso, João de Tambach e Nicolau de Cusa se utilizarão dos trabalhos de Alberto.

g)Escola de Alberto

À escola de Alberto pertencem Hugo Ripelin de Estrasburgo, Ulrico de Estrasburgo, Dietrich de Freiberg (+ 1310) e Bertoldo de Mosburgo. Segundo Grabmann, caracteriza essa escola a tendência para o neoplatonismo, a preferência pelas questões das ciências naturais, a independência do pensamento, e aquela universalidade espiritual já característica do mestre.


Extraído do site:
http://www.consciencia.org/filosofia_medieval18_alberto_magno.shtml

segunda-feira, 7 de março de 2011

As fontes arquetípicas do Cristianismo


a crença em um deus redentor é muito anterior ao judaísmo, sempre ligada à ânsia da necessidade de redenção das tremendas aflições do povo. Quanto ao Jesus Cristo, este resultou de uma série de mitos que os hebreus copiaram dos babilônicos, dos egípcios e de outros povos, visando com isto dar consistência ao judaísmo.

Estudos filológicos forneceram as bases para o estabelecimento de um traço de união entre as crenças dos deuses orientais e o judaísmo. Vejamos, por exemplo, as palavras Ahoura-Mazzda e Jeová, que significam “O que é”. Partindo de velhas lendas orientais, e baseando-se na origem comum da palavra, foi compilado o Gênese, numa tentativa de explicar a criação do mundo. Segundo o Zend-Avesta, o Ser Eterno criou o céu e a Terra, o Sol a Lua, as estrelas, tudo em seis períodos, aparecendo o homem por último.

O descanso foi posto no sétimo dia. Manu havia ensinado, muito antes, que no começo tudo era trevas, quando Bhrama dispersou-as, criou e movimentou a água, em seguida produziu os deuses secundários, os anjos dirigidos por Mossura, os quais posteriormente se rebelariam contra Deus. Veio então Shiva, e os prendeu no inferno. Shiva tornou-se a terceira pessoa da Santíssima Trindade Bhramânica em conseqüência das sucessivas invasões bárbaras sofridas pela Índia. Os bárbaros, crendo em Shiva, o deus da lascívia e da sensualidade, impuseram sua inclusão, surgindo assim a trindade divina de Bhrama.

Manu ensinara igualmente que Deus criara o homem e a mulher, fazendo-os apenas inferior a Devas, isto é, Deus. O primeiro homem recebera o nome de Adima ou Adam, e a primeira mulher, Heva, significando o complemento da vida. Foram postos no paraíso celeste e receberam ordem de procriar. Deveriam adorar a Deus, não podendo sair do paraíso. Mas, um dia, indo ver o que havia fora dali, desapareceram. Bhrama perdoou-os, mas expulsou-os, condenando-os a trabalhar para viver. E disse que, por haverem desobedecido, a Terra se tornaria má, porque o espírito do mal dela se apoderara.

Entretanto, mandaria seu filho Vishnu que, se encarnando em uma virgem, redimiria a humanidade, libertando-a definitivamente do pecado da desobediência.

Ormuzd teria prometido ao primeiro casal humano que, se fossem bons, seriam felizes na terra. Mas Arimã mandou que um demônio em forma de serpente aconselhasse a desobedecerem a deus. Comeram os frutos que Arimã lhes deu, acabou a felicidade humana, e todos os que nascessem daí em diante seriam infelizes. Sendo levados cativos para a Babilônia, os judeus ali encontraram tal lenda. Libertos, voltando à Judéia, trouxeram essa crendice, como também a crença da imortalidade da alma e da vida futura, dos espíritos bons e espíritos maus, surgindo daí os anjos Gabriel, Miguel e Rafael, os querubins e serafins. Nasceu daí o mito do diabo, o anjo rebelado.

A palavra paraíso é o termo persa que significa jardim. Os persas, os hindus, os egípcios e os gregos acreditavam no paraíso. Da mesma forma, todos eles acreditavam no inferno. Entretanto, as crenças antigas desconheciam os castigos eternos, que foram criados pelo cristianismo, aliás, uma das poucas coisas originárias dessa crença. Também o purgatório, naturalmente, é outra novidade do cristianismo, sendo desconhecido do judaísmo. A idéia do purgatório vem de Platão, que havia dividido as almas em puras, curáveis e incuráveis.

Os filhos de Adima e Heva haviam se tornado numerosos e maus. Por isso, Deus mandou o dilúvio para matá-los. Mas deu ordem a Vadasuata para construir um barco e nele entrar com a família, devido ao fato de ser um homem virtuoso. Deveria levar consigo, além da família, um casal de cada espécie de animal existente: esta é a história do dilúvio relatada nos Vedas, e que foi incluída na Bíblia dos cristãos.

Os caldeus e os fenícios, como os judeus, haviam se especializado no comércio, e por dever de ofício, se alfabetizaram. Assim, sabendo ler e escrever, puderam copiar as lendas e o folclore dos povos com os quais comerciavam e conviviam, os quais puderam adquirir longevidade e se fixar melhor na memória humana.

Sendo comerciantes por excelência, os judeus perceberam que a religião poderia se tornar uma boa mercadoria, através da qual adviria o domínio de muitos povos e vontades. Desta forma, tendo compilado o que julgaram mais interessante ou mais proveitoso em relação aos seus propósitos, passaram a difundir pelo mundo as suas idéias religiosas. Com isto, o conhecimento e a razão foram substituídos pelas crendices e superstições religiosas.

A Bíblia cita dez patriarcas que teriam morrido em idade avançada, antes do dilúvio. Contudo, essa lenda provém da tradição caldáica, segundo a qual dez reis governaram durante 432 anos. Da mesma forma, as lendas hindus, egípcias, árabes, chinesas ou germânicas fazem referência a homens que tiveram uma longa vida, como a do Matusalém da Bíblia.

Igualmente, a lenda de Abraão, que deveria sacrificar o seu filho Isaac, procede de lendas anteriores ao judaísmo. O livro das profecias hindus relata uma história igual. Ramatsariar conta que Adgitata, protegido de Bhrama por ser um homem de bem, teve um filho que nasceu tão milagrosamente como Jesus. Entretanto Bhrama, para experimentá-lo, lhe ordena que sacrificasse o filho. Ele obedece, mas Bhrama impede-o no momento exato. Seu filho seria o pai de uma virgem a qual, por sua vez, seria a mãe do deus-homem.

José e a mulher de Putifar foi a cópia de uma velha lenda egípcia, conforme documentos recentemente traduzidos. Era uma história intitulada “Os dois irmãos”.

Emílio Bossi, relatando o achado, dá a palavra a Jacolliot: “Um homem da Índia fez leis políticas e religiosas; chamava-se Manu. Esse mesmo Manu foi o legislador egípcio, Manas. Um cretense vai ao Egito estudar as instituições que pretende dar ao seu país, e a história confirma isto dizendo que esse cretense foi Minos. Enfim, o libertador dos escravos judeus chamava-se Moisés, que teria recebido as leis das mãos do próprio Jeová. Temos, então, Manu, Manes, Minos e Moisés, os quatro nomes que predominaram no mundo antigo. Aparecem na hitória de quatro povos diferentes para representar o mesmo papel, rodeados da mesma auréola misteriosa, os quatro são legisladores, grandes sacerdotes e fundadores das sociedades teocráticas e sacerdotais. Esses quatro nomes têm a mesma raiz sânscrita. O hinduismo deu origem ao judaísmo. Por isso, de Jeseu Krishna fizeram Jesus Cristo”.

Documentos recentemente estudados mostram terem sido os hindus os prováveis colonizadores do Egito. A documentação demonstra que o conhecimento nasceu do saber hindu.

A assiriologia mostra que a lenda de Moisés foi copiada da de Sargão I, rei acádio, que igualmente teria sido salvo em um cesto deixado no rio, à deriva.

A lenda de Sansão é outro exemplo. Sansão representa o Sol. O poder que lhe foi atribuído é o mesmo dos deuses solares. E assim, examinando os escritos de antigas civilizações, chegamos ao conhecimento das origens de tudo o que a Bíblia narra como fatos reais.

sábado, 5 de março de 2011

HANS KÜNG - O grande defensor de um novo paradigma religioso e da nova ética mundial


Hans Küng é um importante teologo católico crítico da infalibilidade papal e da doutrina papal com relação ao celibato,ordenação de mulheres e ecumenismo. Hans Küng nasceu em 19 de Março de 1928 em Sursee no cantão de Lucerna na Suiça, entrou para vida religiosa estudando na Universidade Gregoriana em Roma e Paris, foi ordenado padre católico-romano em 1954 e em 1957 concluiu seu doutoramento em teologia com a tese Justification, em que trata da questão da justificação da fé. Se tornou professor de teologia da Universidade de Tübigen (1960 - 1996) na Alemanha, onde também a partir de 1963 dirigiu o Instituto de Pesquisa Ecumênica. Teve papel fundamental no Concílio Vaticano II sendo nomeado peritus (consultor teológico) pelo Papa João XXIII e ajudou na redação das conclusões do concílio que renovou áreas fundamentais do ensino e das práticas católicas.

Desde os anos da década de 1960 Küng foi um dos críticos mais severos da Infalibilidade Papal, publicou em 18 de janeiro de 1970, centenário da declaração da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, o livro Infallible? An Inquiry em que esmiuçou e rejeitou o caráter infalível de qualquer decisão papal e da cúria. Em 1979 publicou nos principais jornais do mundo seu artigo Um ano de João Paulo II que demonstrou o reacionarismo do papa ao aceitar só nominalmente o Concílio Vaticano II, quando na substancia fortaleceu a centralização curial, impôs o culto a personalidade, endossou a exclusão das mulheres do sacerdócio e a permanência do celibato; como conseqüência desse artigo e sua críticas a infalibilidade, teve sua licença para lecionar como teologo católica cassada pelo Papa João Paulo II.

Depois da proibição foi nomeado professor de teologia ecumênica de Tübigen onde pode desenvolver seus estudos sobre ecumenismo em particular com relação ao Luteranismo; nesta tarefa Küng se sente totalmente à vontade já que se dedica prioritariamente à união dos povos, das raças, das religiões, enfatizando o que há de comum entre eles, relativizando o que os separa. Em sua tese de doutorado , Justificação em 1957 já tinha chegado a conclusão da possibilidade de um acordo teológico entre catolicismo e luteranismo que foi efetivamente realizado em 1999.

Küng se aposentou como professor em 1996 e logo a seguir foi eleito presidente da Fundação Ética Global de Tübigen.

Considerado como o teólogo mais polêmico e problemático de hoje, seus 70 anos apresentam, em retrospectiva, um panorama esplêndido de atividade acadêmica, científica e literária como muito poucos podem oferecer. Seu pensamento destina-se a esclarecer o genuinamente cristão e católico, desmascarando, sem medo, tudo o que de espúrio e corrupto se introduziu no cristianismo ao longo de sua história de séculos. O viver e o acontecer da Igreja é seu campo de pesquisa e sua luta, que o levaram a enfrentamentos, acareações e condenações da Igreja oficial.

Alguém disse que o seu trabalho científico e teológico reproduz na Igreja de Roma o que século e meio realizara Newman na Igreja da Inglaterra: procurar razões e fundamentos para a sua fé católica. Desde a tese doutoral, Justificação. A doutrina de Karl Barth e uma reflexão católica (1957), passando pelo trabalho como conselheiro no Vaticano II, até a última obra Projeto de ética global (1990), toda a sua produção é uma pesquisa do cristão em todos os seus planos e dimensões. Assim devemos ler os seus livros: Existe Deus?; Ser cristão; Infalível?. Todos eles suscitaram polêmica e o colocaram contra a parede. Negaram-lhe o título de teólogo e até o de cristão. Muitos se perguntaram: Küng é verdadeiramente católico? Por que continua sendo católico? Ele mesmo se fez esta pergunta e lhe responde da seguinte forma: “A resposta, tanto para mim, quanto para muitos outros, é que não quero deixar que me arrebatem algo que faz parte de minha vida. Nasci no seio da Igreja Católica: incorporado pelo Batismo à imensa comunidade de todos os que acreditam em Jesus Cristo, vinculado por nascimento a uma família católica que amo entranhadamente, a uma comunidade católica da Suíça à qual volto com prazer em qualquer oportunidade; em uma palavra, nasci num solar católico que não gostaria de perder nem abandonar, e isto como teólogo...”.

“Desde muito jovem conheço Roma e o papado mais a fundo do que muitos teólogos católicos, e não guardo, apesar do que se tem dito contra, nenhum afeto anti-romano. Quantas vezes ainda terei de falar e de escrever que não estou contra o papado nem contra o papa atual, mas que sempre tenho defendido, ante os de dentro e frente aos de fora, um ministério de Pedro purificado de traços absolutistas, de acordo com os dados bíblicos! Sempre me pronunciei a favor de um autêntico primado pastoral no sentido da responsabilidade espiritual, direção interna e solicitude ativa pelo bem da Igreja universal... Um primado não de domínio, mas de serviço abnegado...

“Desde muito jovem vivi a universalidade da Igreja Católica e nela pude aprender e receber muitas coisas de inumeráveis homens e amigos de todo o mundo. Desde então resulta-me mais claro que a Igreja Católica não se identifique mais com a hierarquia nem com a burocracia romana...

“Por que, então, continuo sendo católico? Não apenas em razão de minhas raízes católicas, mas também em razão dessa tarefa que para mim é a grande oportunidade de minha vida e que somente posso realizar plenamente, sendo teólogo católico no marco de minha faculdade teológica. Mas isso nos leva a outra pergunta: Que significa propriamente o católico, isso que me impulsiona a continuar sendo teólogo católico?

“Segundo a etimologia do termo e da antiga tradição, é teólogo católico quem, ao fazer teologia, sabe-se vinculado à Igreja Católica, isto é, universal, total. E isto em duas dimensões: temporal e espacial... Nesse duplo sentido, quero continuar teólogo católico e expor a verdade da fé católica com uma profundidade e abertura igualmente católicas. Neste sentido podem ser também católicos certos teólogos que se chamam protestantes ou evangélicos, coisa que acontece de fato e, particularmente, em Tubinga. Isso deveria constituir um motivo de alegria para a Igreja oficial...

“Essa aceitação da catolicidade no tempo e no espaço, na profundidade e na abertura, significa que é preciso aprovar tudo o que as instâncias oficiais ensinaram, prescreveram e observaram ao longo do século XX?... Não, não é possível que se refira a uma concepção tão totalitária da verdade... De tudo se depreende que ser católico não pode significar aceitar e suportar tudo submissamente com uma falsa humildade em aras de uma pressuposta ‘plenitude’, ‘totalidade’ e ‘integridade’. Isso constituiria uma má complexio oppositorum, um trágico amálgama de contradições, de verdade e erro...

“Em todo caso, a catolicidade deve ser entendida sempre com um sentido crítico fundamentado no Evangelho... A catolicidade é dom e tarefa, indicativo e imperativo, enraizamento e futuro. Nesta tensão quero continuar fazendo teologia e continuar expondo a mensagem de Jesus aos homens de hoje com a mesma resolução que até agora, disposto a aprender e retificar sempre que se trate de um diálogo amistoso e fraterno...”.

Atualmente Hans Küng mantém boas relações com a igreja. Hans Küng é uma das figuras mais dignas de nota da teologia contemporânea. Dedica-se ao estudo das grandes religiões, sendo autor de obras conceituadas em todo o mundo.

Obras de Hans Küng em português:

- Uma ética mundial e responsabilidades globais
- A Igreja Católica
- Por que ainda ser Cristão hoje?
- Religiões do mundo em busca dos pontos comuns
- Teologia a caminho
- Religiões do Mundo
- Projeto de ética mundial

PENSAMENTOS DE HANS KÜNG

"Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro".

"A religião pode fundamentar de maneira inequivocável porque a moral, as normas e os valores éticos devem vincular incondicionalmente (e não apenas quando é cômodo) e, portanto, universalmente (para todas as linhagens, classes e raças). O humano émantido exatamente porque é concebido como fundadono divino. Tornou-se claro que somente o incondicionado pode obrigar de maneira absoluta, somente o Absoluto pode vincular de maneira absoluta"

"Não é o consumo de luxo que decide a longo prazo sobre a qualidade de uma situação econômica, mas sim uma melhor infra-estrutura, uma maior segurança, um mundo ambiente intacto, e (...) os trabalhadores com melhor formação, nos quais é preciso investir".

"Devemos avançar de uma ciência eticamente livre, para outra eticamente responsável; de uma tecnocracia que domina o homem, para uma tecnologia que esteja a serviço do próprio homem;... de uma democracia jurídico formal a uma democracia real, que concilie liberdade e justiça".

“Se hoje uma exegese a-histórica já está totalmente superada, também o está uma teologia
dogmática a-histórica. E se a Bíblia precisa ser interpretada de forma mais histórico-crítica, então com muito mais razão também o dogma pós-bíblico. Uma teologia que, em vez de questionar criticamente os ‘dados’, permanece aberta ou veladamente autoritária, não poderá responder às exigências científicas do futuro".


Extraído do blog:
http://teologia-contemporanea.blogspot.com/2008/02/hans-kng-1928.html


Kadu Santoro