Por
Kadu Santoro
No
post anterior falei sobre a cabala e sua dinâmica em nossa vida, agora estarei
falando sobre as pedras no caminho do cabalista. Segundo a Cabala, onde a muita
luz em potencial, também há muitas trevas (força oposta), ou seja, um grande
estabelecimento de equilíbrio das forças complementares, pois tudo no universo
criado é dual, caso contrário não existiria essa realidade em que nos
encontramos. É como querer ligar uma tomada somente com o polo positivo sem o
negativo, não acontecerá absolutamente nada.
Trazendo
isso para o nosso cotidiano, percebemos que quando buscamos acertar, fazer o que
na Cabala chamamos tikum (conserto) em nossa vida reparando tudo aquilo que
precisa de mudanças, logo entra em cena uma força contrária nos proporcionando
desânimo, procrastinação, negativismo, baixa auto estima e sensação de fracasso
e insatisfação com tudo, de forma que não conseguimos explicar racionalmente
esses sentimentos. Isso corresponde o que chamo de força contrária, cabalisticamente
chamada de shatan (oponente) que na
verdade não tem a função de nos destruir e sim de nos fortalecer através da
lembrança de quem realmente somos, Deuses em essência.
É
muito comum no início da jornada do neófito cabalista, acontecer eventos
sucessivos visando atrapalhar o seu desenvolvimento, por exemplo: quando esse
se dispõe a disciplina do estudo e meditação em determinadas horas e dias,
justamente nesses acontecerá coisas inusitadas com o intuito de atrapalhar o desenvolvimento.
Porém, são essas dificuldades proporcionadas pela força contrária que
despertará em cada um de nós um espírito inabalável, fortalecido de forma
consciente de sua missão e propósito, como diz no Evangelho: “porque estreita é
a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que
acertam com ela.” Mateus 7:14.
Para
um cabalista a compreensão de que tudo contribui para o crescimento faz-se
necessário, como relatado no Novo Testamento: “E sabemos que todas as coisas
contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito.” Romanos 8:28.
O
segredo da Cabala em relação a esse confronto de forças, é de que não devemos
reagir, apenas observar, sentir e compreender que tudo isso faz parte do
processo e da dinâmica do mundo criado. O que devemos fazer no momento de
aflição é apenas resistir e estar presente, pois assim não criamos fagulhas
explosivas e contendas (carma) na certeza de que tudo é transitório e
passageiro, como dito na epístola de Tiago: “Sujeitai-vos, pois, a Deus,
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” Tiago 4:7. Resistir e não reagir, ser
proativo ao invés de ser reativo, ou seja, agir de forma a neutralizar a força
contrária com uma ação positiva, cheia de Luz, como diz o dito popular: “quando
um não quer, dois não brigam.” Dessa força anulamos a ação da força contrária e
não perdemos nossa preciosa energia.
Na
visão cabalística somos Deuses, e em conformidade com o texto do profeta
Isaías: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o
Senhor, faço todas estas coisas.” Isaías 45:7, tudo e todas as coisas e
possibilidades estão em nosso poder de ação, somos responsáveis por todos os
nossos atos, e devemos estar conscientes que tudo passa pela Lei de Causa e
Efeito.
A
força contrária tem a função de nos lembrar de caminhar, pois segundo a nossa
natureza, temos uma tendência a ficarmos paralisados e prostrados numa zona de
conforto, e as vezes é preciso uma sacudida em nossa vida para relembrarmos da
nossa essência divina e que estamos em constante movimento, co-criadores com o
Eterno.
A
Cabala não prega visões triunfalistas e nem teologia da prosperidade, apenas a
consciência do caminho, de forma a despertarmos em nós um espírito de
discernimento, lembrando que todas as coisas fazem parte da evolução e
encontram-se acima do bem e do mal, rumo ao despertar do messias interior até
atingirmos o despertar coletivo e assim estabelecer o que foi dito no livro do
Apocalipse: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe.” Apocalipse 21:1, lembrando que o conceito de
mar no Antigo Testamento era considerado alegoricamente lugar de trevas e do
desconhecido.
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