segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Sobre a Cabala – Parte 2


Por Kadu Santoro

No post anterior falei sobre a cabala e sua dinâmica em nossa vida, agora estarei falando sobre as pedras no caminho do cabalista. Segundo a Cabala, onde a muita luz em potencial, também há muitas trevas (força oposta), ou seja, um grande estabelecimento de equilíbrio das forças complementares, pois tudo no universo criado é dual, caso contrário não existiria essa realidade em que nos encontramos. É como querer ligar uma tomada somente com o polo positivo sem o negativo, não acontecerá absolutamente nada.

Trazendo isso para o nosso cotidiano, percebemos que quando buscamos acertar, fazer o que na Cabala chamamos tikum (conserto) em nossa vida reparando tudo aquilo que precisa de mudanças, logo entra em cena uma força contrária nos proporcionando desânimo, procrastinação, negativismo, baixa auto estima e sensação de fracasso e insatisfação com tudo, de forma que não conseguimos explicar racionalmente esses sentimentos. Isso corresponde o que chamo de força contrária, cabalisticamente chamada de shatan (oponente) que na verdade não tem a função de nos destruir e sim de nos fortalecer através da lembrança de quem realmente somos, Deuses em essência.

É muito comum no início da jornada do neófito cabalista, acontecer eventos sucessivos visando atrapalhar o seu desenvolvimento, por exemplo: quando esse se dispõe a disciplina do estudo e meditação em determinadas horas e dias, justamente nesses acontecerá coisas inusitadas com o intuito de atrapalhar o desenvolvimento. Porém, são essas dificuldades proporcionadas pela força contrária que despertará em cada um de nós um espírito inabalável, fortalecido de forma consciente de sua missão e propósito, como diz no Evangelho: “porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” Mateus 7:14.

Para um cabalista a compreensão de que tudo contribui para o crescimento faz-se necessário, como relatado no Novo Testamento: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Romanos 8:28.

O segredo da Cabala em relação a esse confronto de forças, é de que não devemos reagir, apenas observar, sentir e compreender que tudo isso faz parte do processo e da dinâmica do mundo criado. O que devemos fazer no momento de aflição é apenas resistir e estar presente, pois assim não criamos fagulhas explosivas e contendas (carma) na certeza de que tudo é transitório e passageiro, como dito na epístola de Tiago: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” Tiago 4:7. Resistir e não reagir, ser proativo ao invés de ser reativo, ou seja, agir de forma a neutralizar a força contrária com uma ação positiva, cheia de Luz, como diz o dito popular: “quando um não quer, dois não brigam.” Dessa força anulamos a ação da força contrária e não perdemos nossa preciosa energia.

Na visão cabalística somos Deuses, e em conformidade com o texto do profeta Isaías: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Isaías 45:7, tudo e todas as coisas e possibilidades estão em nosso poder de ação, somos responsáveis por todos os nossos atos, e devemos estar conscientes que tudo passa pela Lei de Causa e Efeito.

A força contrária tem a função de nos lembrar de caminhar, pois segundo a nossa natureza, temos uma tendência a ficarmos paralisados e prostrados numa zona de conforto, e as vezes é preciso uma sacudida em nossa vida para relembrarmos da nossa essência divina e que estamos em constante movimento, co-criadores com o Eterno.


A Cabala não prega visões triunfalistas e nem teologia da prosperidade, apenas a consciência do caminho, de forma a despertarmos em nós um espírito de discernimento, lembrando que todas as coisas fazem parte da evolução e encontram-se acima do bem e do mal, rumo ao despertar do messias interior até atingirmos o despertar coletivo e assim estabelecer o que foi dito no livro do Apocalipse: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.” Apocalipse 21:1, lembrando que o conceito de mar no Antigo Testamento era considerado alegoricamente lugar de trevas e do desconhecido.

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