terça-feira, 21 de junho de 2011

Viver, um eterno aprendizado.


Por Kadu Santoro


Vivemos em um era onde a informação e a tecnologia, andam de braços dados e a passos largos, buscando a cada dia, “facilitar” a vida de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. A pergunta que fica, é: facilitar a vida em que e para que? Para respondermos essa pergunta, é preciso, antes fazermos algumas reflexões. A primeira análise é de caráter ontológico. O ato de viver e existir é primordial, vem antes de qualquer outra ação, é através desse primeiro ato, que começamos uma longa jornada chamada vida. É através desta jornada que praticamos todas as ações possíveis, e a única ação que não se esgota nessa caminhada, é o aprendizado, como diz a sabedoria popular: “é videndo e aprendendo”. Quando paramos e pensamos, estamos colocando em prática a ação mental, logo, estamos produzindo aprendizado também.

O grande perigo de todos esses avanços tecnológicos, é acabar sufocando a ação de aprendizado do ser humano. Quanto mais se investe em tecnologia e informação, mais as pessoas vão tender a ficar paralisadas na frente de uma televisão ou computador, totalmente automatizadas, respondendo apenas aos estímulos visuais e auditivos dispensados pelo aparelho transmissor. A corrida desenfreada para acompanhar as inovações tecnológicas, também contribuem muito para o afastamento do aprendizado e raciocínio humanos. Uma criança dos dias de hoje, nasce e já tem o primeiro contato com a tela da televisão, já um pouquinho maior, está ganhando intimidade com a tela do monitor e daí em diante, mais da metade de sua vida será focada naquele mundo virtual, onde a única coisa que não é permitida, é que você pense e faça reflexões, o resto, é só perguntar o que você deseja, e imediatamente, como uma consulta a um oráculo, vem a resposta, aliás, as vezes milhares de possobilidades. Essa seria a primeira análise sobre a questão da atrofia do pensamento e do aprendizado ao longo da vida.

Uma outra questão está relacionada ao aspecto comportamental. Com todo esse avanço tecnológico, o ser humano está ficando cada vez mais solitário, vivendo mais tempo isolado do que em companhia. A tendência é acabar o bate papo nas filas, os encontros nos shoppings e nas feiras, as tardes nos cafés etc. Todas essas coisas faziam parte do contexto vivencial coletivo do homem, dando-lhes a oportunidade de interagir, trocar experiências e até transmitir seus sentimentos, coisa que hoje é superada pela rede virtual.

O ato de viver deve em primeiro lugar, celebrar o que lhe é concedido de mais precioso, a própria vida e sua condição existencial, como dizia o filósofo Sócrates: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”, ou seja, quando tomamos conhecimento de que nunca saberemos o suficiente, então passamos a entender o objetivo da jornada chamada vida. Vivemos num processo contínuo de aprendizado, onde as verdades não se encontram no objetivo, e sim no caminho por que é percorrido, independente do tempo que nos é permitido viver.

Quando reduzimos a velocidade e o estresse do dia a dia, passamos a observar todas as coisas ao nosso redor com mais detalhes, se pararmos mais um pouco, passamos a refletir e questionar sobre essas mesmas coisas, logo chegaremos num ponto de compreensão mais amplo dessas mesmas coisas.

Não pretendo com essa linha de raciocínio, retroceder a um estágio primitivo das coisas, pois também acho que a evolução é fundamental e necessária, apenas alerto para a o perigo de uma total dependência desta evolução para viver. O ser humano foi feito para governar e manter todas as coisas, e não para se tornar escravo delas. Hoje em dia, muitas pessoas não sabem mais fazer uma operação matemática sem o uso da calculadora, porém, a calculadora é muito importante a partir do momento em que ela vier a falhar, você saber resolver a operação.

Estamos num processo de constante aprendizado, em tempo e fora de tempo, em todas as ocasiões de nossa vida, estamos tirando alguma lição a todo instante. O mais importante desse aprendizado, ao longo da jornada chamada vida, são os frutos do conhecimento, esses que nos transformam a cada dia, nos tornando mais sensíveis, conscientes, solidários e humanos. Por final, o somatório de todas essas informações, só terá um único objetivo durante a vida, a prática do amor verdadeiro, aquele que está apto e preparado para acolher, consolar, instruir e animar a todos que estiverem cansados, abatidos e desiludidos. Viva de forma intensa, aprendendo e ensinando, sempre com entusiasmo e boa vontade, pois só temos essa oportunidade aqui nessa vida.

Reflita você também!

Kadu Santoro

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