sábado, 31 de março de 2012

Uma abordagem histórica da simbologia da Páscoa - Pessach dos Judeus


"Pessach" em hebraico, que significa "passagem"
"Pascha" em grego
"Pachons", em latim
"Pa-Khonsu" em egípcio ("Khonsu" é um epíteto para o deus sol Horus)

Ao contrário da crença popular, a origem da Páscoa não representa a histórica "crucificação" e "ressurreição" de Jesus Cristo.

Entre as civilizações antigas, historiadores encontraram informações que levam a concluir que há milhares de anos atrás, principalmente na região do Mediterrâneo, algumas sociedades, entre elas a grega, festejavam a passagem do inverno para a primavera.

Essa passagem se dá no equinócio de Março. O Sol cruza o equador celeste em dois pontos, que é o primeiro cruzamento, ocorrendo por volta de 21 de março, que é uma data em que no mundo todo, o dia e noite são de igual duração.

Este fenômeno notável é conhecido como Equinócio Vernal, vernal porque este equinócio não é o único do ano, ocorre novamente em setembro.

Geralmente, esta festa era realizada na primeira lua cheia da época das flores (primavera, após 21 de março). Entre os povos da antiguidade, o fim do inverno e o começo da primavera era de extrema importância, pois estava ligado a maiores chances de sobrevivência em função do rigoroso inverno que os castigava, dificultando a produção de alimentos.

No dia 21 de março, também o Sol entra no 1º signo do zodíaco - Áries, que é representado por um carneiro, um dos símbolos da Páscoa, aliás o sacrifício em carne e osso!

Os antigos povos pagãos europeus homenageavam Ostera, ou Esther – em inglês, Easter que quer dizer Páscoa. Ostera (ou Ostara) é a Deusa da Primavera - do amanhecer (correspondendo a Ishtar, Astarte, Astoreth e Isis), que segura um ovo em sua mão e observa um coelho, símbolo da fertilidade, pulando alegremente em redor de seus pés nus. A deusa e o ovo que carrega são símbolos da chegada de uma nova vida. Ostara equivale, na mitologia grega, a Perséphone. Na mitologia romana, é Ceres.

Estes antigos povos pagãos comemoravam a chegada da primavera decorando ovos. O próprio costume de decorá-los para dar de presente na Páscoa surgiu na Inglaterra, no século XIII, durante o reinado de Eduardo I, o qual tinha o hábito de banhar ovos em ouro e ofertá-los para os seus amigos e aliados. O ovo de chocolate se deu a partir do Séc. XVIII, pelos franceses, em substituição aos ovos duros e pintados.O ovo é um destes símbolos que praticamente explica-se por si mesmo. Ele contém o germe, o fruto da vida, que representa o nascimento, o renascimento, a renovação e a criação cíclica. De um modo simples, podemos dizer que é o símbolo da vida.

Os celtas, gregos, egípcios, fenícios, chineses e muitas outras civilizações acreditavam que o mundo havia nascido de um ovo. Na maioria das tradições, este “ovo cósmico” aparece depois de um período de caos, para os chineses por exemplo, antes do surgimento do mundo, quando tudo ainda era caos, um ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados, surgiu a Terra (Yin) e, de sua parte leve e pura, nasceu o céu (Yang).

Coelho não bota ovo! Mas a figura do coelho está simbolicamente relacionada à esta data comemorativa, pois este animal representa a fertilidade. O coelho se reproduz rapidamente e em grandes quantidades. Entre os povos da antiguidade, a fertilidade era sinônimo de preservação da espécie e melhores condições de vida, numa época onde o índice de mortalidade era altíssimo. No Egito Antigo, por exemplo, o coelho representava o nascimento e a esperança de novas vidas.

Alguns povos da Antigüidade consideravam o coelho, símbolo da Lua. É possível que ele se tenha tornado símbolo pascal devido ao fato dea Lua determinar a data da Páscoa. Para os cristãos, a páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois do equinócio de 21 março.

Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas. A igreja, para obter consistência na data da Páscoa decidiu, no Concílio de Nicea em 325 d.C, definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária – conhecida como a “lua eclesiástica”).Com esta definição, a data da Páscoa pode ser determinada sem grande conhecimento astronômico. Mas a seqüência de datas varia de ano para ano, sempre entre 22 de março a 24 de abril, transformando a Páscoa numa festa “móvel”.

No histórico das deidades, muitos nasceram, morreram e ressuscitaram. A Igreja tem habilmente plantado as sementes da nova fé no antigo parque do paganismo, podemos supor que a celebração da Páscoa de Cristo morto e ressuscitado foi plagiado sobre uma celebração similar da morte e ressuscitação dos deuses Adonis, Krishna, Attis. "

A origem do conto de nascimento, morte e ressurreição de Jesus, tem origem nas histórias pagãs dos “antigos” Deuses.


A Páscoa - Pessach dos judeus

De acordo com a tradição, a primeira celebração de Pessach (passagem) ocorreu há 3500 anos, quando de acordo com a Torá, Deus enviou as Dez pragas sobre o povo do Egito. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebréia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.
Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os primogênitos dos animais até mesmo os primogênitos da casa do Faraó. Então o Faraó, temendo ainda mais a Ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo. Como recordação desta liberação, e do castigo de Deus sobre o Faraó foi instituído para todas as gerações o sacríficio de Pessach.

É importante notar que Pessach significa “a passagem”, porém a passagem do anjo da morte enviado por Deus, e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho ou outra passagem qualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos. Pessach caracterizava-se por ser uma das três festas de peregrinação ao Templo de Jerusalém feito pelos judeus.

O sacrifício de Pessach constituia-se de uma oferenda: cordeiros ou cabritos, machos, de um ano de idade, e abatidos pela família (era permitido um cordeiro por família) em qualquer lugar no pátio do Templo. Efetuava-se o abate, o sangue era recolhido em recipientes de prata e ouro e derramado na base do altar.

O animal era pendurado e esfolado, e aberto tinha suas entranhas limpas de todo e qualquer excremento. A gordura das entranhas, o lóbulo do fígado, os dois rins com a gordura sobre estes e a cauda até a costela eram retirados e colocados em um recipiente, salgados e queimados sobre o altar.

Os levitas entoavam o Halel (louvor em hebraico), que é uma oração judaica baseada nos Salmos 113-118, utilizada como louvor e agradecimento, e repetiam-no (se necessário) até que todos houvessem sacrificado seus animais.

Com a destruição do Segundo Templo, a impossibilidade de haver um local de reunião e sacrifício tornou inviável a continuação dos sacríficios de cordeiros. Inicia-se então a transformação de Pessach em uma noite de lembranças, sem o sacrifício pascal.

“A cada geração cada ser humano deve se ver como se ele pessoalmente tivesse saído do Egito. Pois está escrito: "Você deverá contar aos seus filhos que neste dia, "Deus fez estes milagres para mim, quando eu saí do Egito..."

Há milhares de anos, civilizações antigas comemoravam a passagem do inverno para a primavera (Equinócio de março), tematizavam as festas homenageando Deusas e Deuses.

Comemorações e Deuses não deixam de existir, são substituídos de acordo com os interesses de quem comanda festa.

Simboliza o Sol, é a figura da Era de Peixes, era preciso integrar num determinado período à estória plagiada da morte e ressurreição de Jesus para coincidir com o Equinócio de março, assim como o nascimento do “Salvador” – Sol, acontece no solstício de inverno – astroteologia.

O festejo para os cristãos, era realizado no domingo seguinte a lua cheia posterior ao equinócio da Primavera (21 de março), mas isso foi modificado em 325 dc no Concílio de Nicea com a lua imaginária.

Já no Concílio de Antioquia em 341 dc, proibiu aos cristãos a celebração da Páscoa com os Judeus e o Concílio de Laodicéia proibiu os cristãos de observar o Shabbat e de receber prendas de judeus ou mesmo de comer pão ázimo nos festejos judaicos.

Assim, a Páscoa para os cristãos passou a ser exclusivamente, uma comemoração da morte e ressurreição de Jesus Cristo, onde Jesus se sacrifica para salvar os pecados do mundo.


Os sacerdotes judeus quanto cativos na Babilônia copiavam o "folclore" e tudo de mais interessante em matéria de costumes e crenças religiosas. Quando chegaram em Roma e Alexandria, encontraram ali apenas a prática de uma religião oral, terreno propício para a introdução de novas superstições religiosas, dessa conjuntura nasceu o cristianismo, com grande habilidade o cristianismo caiu no gosto popular penetrando na casa do escravo, do senhor e invadindo até os palácios imperiais.

Jesus Cristo foi uma entidade ideal, criada para fazer cumprir as escrituras, visando dar sequência ao judaísmo devido a destruição do templo e de Jerusalém. Teria sido um arranjo feito em defesa do judaísmo que então morria, surgindo uma nova crença.

O cordeiro que servia de alimento na Páscoa apontava para o Cordeiro de Deus (Jesus Cristo) que se sacrificou por nós.(Jo 1.29) O cordeiro que foi imolado e cujo sangue foi passado nas portas das casas simbolizava o sangue do Cristo que seria imolado num madeiro e do qual todos que estão nele são lavados. Assim como os judeus comemoraram a saída e libertação da escravidão, nós cristãos comemoramos a libertação da nossa alma. (1Co 5:7, Jo 8:32-36 e Mt 11:28).

Na Páscoa da Antiga Aliança se sacrificava um cordeiro toda vez para lembrar dessa passagem. Na páscoa da Nova Aliança não tem mais cordeiro no banquete. Agora é pão e vinho (Carne e sangue). É a ceia que une, em síntese o pão que representa a carne(corpo) do Cristo Filho do homem.


Mas isso ainda pode piorar...

Por volta de 1570 ac aconteceu Êxodo judeu, liderado por Moisés e de acordo com a tradição, os quatro livros do Torá e o livro do Êxodo, foram escritos por Moisés nessa mesma época (1570 ac, há 3581 anos), entretanto estudiosos modernos divergem da autoria por Moisés, sustentam que capítulos foram acrescentados e modificados por sacerdotes após o exílio na Babilônia.

Estão sempre alterando e controlando as informações, diante disso, alguns pesquisadores sugerem que Pessach na verdade é a celebração da última passagem de Nibiru, Nemesis, Planeta X, Hercobulo, planeta Vermelho.

Tudo indica que a severidade do cataclismo depende da distância relativa e do ângulo entre Nibiru e a Terra durante sua passagem).
Na Bíblia é descrito que o “Senhor passou” por sobre o Egito matando centenas de pessoas. Moisés, conduziu seu povo para fora do Egito durante a troca polar, vagou por muitos anos na sombra do vale da morte sob intensa obscuridade vulcânica.


Lembrando que originalmente Pessach significa a passagem do anjo da morte enviado por Deus. E isso ocorreu há 3.581 anos. De acordo com Sitchin que traduziu as tabuinhas sumérias, Nibiru - o planeta que cruza - o planeta de passagem - nos visita a cada 3.600 anos, o que torna possível tal teoria.


Fonte:
http://evoluindo sempre.blogspot.com.br/search/label/Simbologia%20na%20B%C3%ADblia

segunda-feira, 26 de março de 2012

Kadu Santoro no programa Debates Culturais na rádio falando sobre as genealogias de Jesus e os Evangelhos Apócrifos



Acima, em sentido horário: Kadu Santoro e Sérgio Russo.

Programa Debates Culturais de 24 de março de 2012

Participantes: Alessandro Lyra Braga (historiador), Edna Pereira da Silva (ativista em proteção aos animais), Marli Moraes (coordenadora da Equipe Resgato – sociedade civil pelos direitos dos animais), Kadu Santoro (teólogo e professor), Washington Reis (professor de Língua Portuguesa e articulista), Sérgio Russo (ufólogo, historiador e escritor) e Carlos Rosa (autor do livro Líder: Gestor de expectativas e transformador de sonhos em realidade).

Assuntos abordados: Iniciamos o programa debatendo sobre a genealogia de Jesus Cristo e sobre a existência de evangelhos apócrifos. Conversamos também sobre as políticas e ações de proteção aos animais realizadas pelos moradores do Complexo do Alemão. Falamos também sobre as recentes denúncias de corrupção feitas pelo programa televisivo Fantástico. Também debatemos sobre o exercício da liderança, tema do livro Líder: Gestor de expectativas e transformador de sonhos em realidade. Ao longo do programa, Sérgio Russo expôs sobre a chamada Teoria da Conspiração e as ações por uma nova ordem mundial.

Para escutar esse programa e outros, acesse o endereço abaixo:
http://www.debatesculturais.com.br/audio/

Vocês também podem acompanhar meus artigos
pela minha coluna da revista eletrônica
www.debatesculturais.com.br

domingo, 18 de março de 2012

A genealogia de Jesus Cristo em um nível mais profundo



Por Kadu Santoro


Muitas pessoas já tiveram contato através da leitura ou pelo menos já ouviram falar nas genealogias de Jesus Cristo apresentadas na Bíblia nos dois Evangelhos sinóticos, Mateus e Lucas. Infelizmente pouquíssimas pessoas se aprofundam nessas passagens encontradas nos dois Evangelhos, chegando a ponto de pularem esses versículos em suas leituras, exceto, alguns exegetas bíblicos e acadêmicos de teologia, mesmo assim, a maioria ainda segue uma linha ortodoxa e tendenciosa em suas investigações, não permitindo assim, uma leitura mais imparcial e libertadora de dogmas pré-concebidos.

A genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus (Mt.1.1-17) apresenta quarenta e dois antepassados divididos em três módulos de catorze gerações cada: de Abraão a Davi, em seguida até o cativeiro babilônico, chegando por último em José, marido de Maria, mãe de Jesus. Em Lucas (Lc.3.23-38), esta genealogia é diferente, são descritos cinquenta e quatro antepassados, sendo que a partir de Davi, a lista segue por Natan e não por Salomão como está em Mateus.

Segundo a interpretação conservadora da igreja, a diferença entre essas duas genealogias encontra-se no objetivo de cada autor. No caso de Mateus, a intenção seria apresentar Jesus como o Messias Rei da linhagem de Davi, que veio para libertar o povo eleito do julgo da escravidão. Em Lucas, a preocupação do autor encontra-se em apresentar Jesus como o Salvador Universal (Sóter), que tem sua linhagem desde Adão, ou seja, Jesus seria um segundo Adão, que veio para resgatar a humanidade da queda ocorrida no Éden.

Analisando a interpretação tradicional da igreja, percebemos que a preocupação com a transmissão da mensagem dos autores dos Evangelhos, encontra-se atrelada aos acontecimentos de ordem histórico-salvífica coletiva, e não num âmbito mais transcendente e individual, que na realidade, como tudo indica, seria mais provável. Tanto é, que para os próprios Judeus, Essa idéia de Jesus como Messias Rei, é totalmente absurda, pois em sua historicidade e trajetória, não se enquadra em nenhum requisito para ocupar tal posição na história do povo escolhido.

A partir de agora apresentarei algumas questões de aprofundamento sobre o tema, buscando com isso, despertarmos para uma reflexão mais profunda e refinada a respeito da genealogia de Jesus, livre das amarras dogmáticas e fundamentalistas.

Levando em consideração os propósitos teológicos das genealogias de Jesus, começo com algumas perguntas polêmicas: Qual seria o sentido transcendente (mais profundo e oculto) para tais descrições detalhadas? E o significado dos números em ordens harmônicas e nomes citados? Poderia haver uma relação entre ambos, sabendo que cada nome originariamente em aramaico (língua derivada do hebraico) possuía um sentido particular (inclusive mais de um sentido de acordo com a gematria numérica)? Essas são apenas algumas das várias perguntas que o texto nos leva a refletir e consequentemente buscar pistas para a solução das questões levantadas.

Como falamos acima, são muitas as dificuldades encontradas nas duas genealogias, cuja solução nos leva a algumas observações interessantes feitas por grandes teólogos, pesquisadores e estudiosos heterodoxos. Segundo o Abade e Filósofo Perenista Stephane [1], afirma o seguinte: “Pode-se afirmar que Mateus apresenta a genealogia "legal" e Lucas a genealogia "natural". Sendo a primeira referente a José a segunda a Maria. Embora aparentemente se refiram ambas a José, não se deve esquecer que José e Maria seriam primos, e com certas considerações levando em conta que entre os nomes citados Heli, Heliakim e Joaquim (pai de Maria), seriam sinônimos. Ambas as genealogias tem Davi como ponto de referência comum por uma série diferente de nomes, o que confirmaria a proposição de uma genealogia legal e outra natural. Assim os evangelistas dariam a genealogia de Jesus sob dois aspectos diferentes, apresentando-o como herdeiro de Davi não somente legal, mas natural. Mas do ponto de vista teológico as duas exprimem a sua maneira o dogma das duas naturezas do Cristo: a natureza divina e a natureza humana, unidas na Pessoa do Verbo. A genealogia legal corresponde à natureza divina posto que parte de Abraão, pai do Povo eleito, e se situa por consequência na ordem da Graça. Enquanto isso a genealogia natural remonta a Adão e se situa na ordem natural.”

Para o hermeneuta Roberto Pla [2], “O "filho" da promessa de Davi, o fruto de seu seio de varão, foi com efeito, por descendência manifesta da dinastia davídica, Jesus, o Cristo, manifesto e oculto ao mesmo tempo, mas Jesus se cuida de que fique consignado no evangelho que o nascido do céu, o Cristo oculto, o Filho do homem eterno, pré-existente, que se senta à direita do Pai, é nomeado por Davi não como "filho", senão como "seu Senhor". Confirma Jesus com esta pontualização sua presença em Davi, sua identidade essencial com o ungido, tal como havia confirmado sua presença em Abraão e antes de Abraão: "Antes que Abraão existira, Eu Sou". Sem dúvida, antes que Abraão existira e também em tempos de Davi, a Palavra já se havia feito carne e havia disposto sua morada entre nós.”

Para Antônio Orbe [3], “nos primeiros séculos em torno da aparição do Logos, alguns escritos descrevem o mistério desde a vertente do Logos como "assimilação, apropriação, assunção, vestição". O Filho de Deus "assume" substâncias ou elementos de natureza variada para salvar por seu meio aos homens. O acento é sobre a "apropriação" — pelo Logos — do espírito, alma e corpo (carne) peculiares ao homem.

Segundo as substâncias assumidas pelo Filho de Deus, conviria distinguir três aspectos fundamentais: a) "espiritualização", ou assunção do pneuma; b) "animação", apropriação da alma (racional); c) "encarnação", assimilação da carne (sarx).

Os três aspectos têm sua importância. E talvez, conforme à soteriologia gnóstica, decrescem em ordem de dignidade. Mais importa para os heterodoxos a "espiritualização" do Logos que sua "animação", e mais esta última que sua "encarnação". O interesse dos mistérios se mede conforme a sua vinculação à salvação, de um lado, e à dignidade da salvação a que se ordenam, por outro. Se, gnosticamente falando importa, sobretudo, a salvação dos indivíduos "espirituais", o primeiro na aparição do Logos entre os homens será sua "espiritualização" (=assunção do pneuma). A "animação" (= apropriação da alma racional) virá depois. E somente por último lugar se deixará sentir a estrita "encarnação" (= "vestição" do corpo).

Dentro da perspectiva heterodoxa, a "encarnação" forma parte do mistério global da assunção pelo Logos das substâncias (= gêneros) humanas. Como apropriação da natureza íntima do homem, a estrita "encarnação" não somente se subordina à "animação" e à "espiritualização", mas — para alguns gnósticos — resulta inteiramente secundária e cede posto à "encarnação sui generis" necessária e suficiente para salvar a rigorosa "animação" e "espiritualização" do Filho de Deus entre os homens. Se o Logos pudesse "salvar" a "alma" (resp. linhagem racional humana) e o "pneuma" (resp. linhagem espiritual humana) sem aparecer (sensivelmente) e viver (e morrer) entre os homens, sobraria o mistério da "encarnação".

Mas na atual ordem de coisas não lhe bastam simplesmente, as duas essências salváveis (pneuma e alma racional). Além de assumir as primícias das duas igrejas chamadas à salvação, o Logos deve aparecer entre os homens, anunciar-lhes sua doutrina, morrer nas mãos deles. Para tal fim a "encarnação" ou parusia entre os homens carnais.”



Talvez as respostas mais profundas e arquetípicas sobre a questão das genealogias de Jesus, pode ser encontrada na tradição Hermética Cristã, que analisa o fato através do simbolismo da espiral histórica, bem nos moldes da teologia egípcia que é revelada através das setenta e oito cartas do Tarô (22 cartas dos Arcanos Maiores, que tem uma estreita relação com as 22 letras do alfabeto Hebraico, e 56 cartas dos Arcanos Menores, que expressam os resultados e as formas das idéias, contidos no primeiro conjunto). Vale a pena lembrar que a história de Jesus é muito semelhante em sua narrativa a de Hórus (filho do sol) e Osíris, além do mais, sabemos que os Evangelhos foram reunidos pelo Bispo Atanásio em Alexandria, no Egito, o principal berço intelectual e filosófico da época. Confira a análise segundo o hermetismo cristão: “Outro exemplo do simbolismo da espiral, enquanto arcano do crescimento, é a preparação da vinda de Cristo na história. O Evangelho segundo Mateus faz dela uma espécie de genealogia de Jesus, resumida numa única frase:
"De Abraão até Davi?, quatorze gerações; de Davi? até o exílio na Babilônia, catorze gerações; e do exílio na Babilônia até Cristo, quatorze gerações (Mt 1,17).

Eis aí a espiral da história da preparação da vinda de Cristo, espiral de três círculos ou "passos", cada um de catorze gerações. O primeiro círculo ou "passo" da espiral é aquele no qual a tríplice impressão dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó — impressão do alto, correspondente ao sacramento do batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo — tornou possível a revelação e a aliança do monte Sinai e chegou ao estado em que a Lei se tornou alma numa pessoa humana, a de Davi?. Porque foi em Davi? que os mandamentos e as ordenações da Lei revelada "com trovões, relâmpagos e uma espessa nuvem sobre a montanha . . . ao povo amedrontado", se interiorizaram ao ponto de se tornarem amor e consciência, coisas do coração atraído pela verdade e beleza deles. Em Davi? a Lei se tornou alma: por isso, também as suas transgressões deram lugar, na alma, a uma força nova, a penitência interior.

O primeiro "passo" da espiral, as catorze gerações de Abraão até Davi?, corresponde, pois, ao processo de interiorização, que se verificou desde o sacramento do batismo (os três patriarcas), passando pelo sacramento da confirmação (a Aliança no deserto do Sinai), até o sacramento da penitência.

O segundo círculo ou "passo" da espiral, as catorze gerações de Davi? até a deportação para Babilônia, é a escola de Davi?, a escola da penitência interior, a qual alcançou seu fim exterior, a expiação, a deportação para Babilônia.

O terceiro círculo ou "passo" da espiral, as catorze gerações da deportação em Babilônia até Cristo, corresponde ao que se passa espiritualmente entre o último ato do sacramento da penitência — a absolvição — e o sacramento da Sagrada Comunhão ou Eucaristia, o da presença e recepção de Cristo.”


Através deste pequeno estudo percebemos o quanto é profundo e complexo fazer uma análise das genealogias de Jesus Cristo, montrando-nos que elas não estão ali pelo simples fato de estar relatando uma historicidade, ou apenas como uma recordação bibliográfica do Antigo Testamento e suas origens na forma de promessa e cumprimento. Sua complexidade vai muito além, transcende toda sistemática teológica tradicional, nos leva a um estágio mais elevado, revelando-nos que toda a trajetória é ao mesmo tempo individual e coletiva, ou seja, a elevação a um estado de consciência superior (iluminação), é fruto da experiência individual ao longo desta jornada histórica, e a manifestação dessa realização acontece e é reconhecida coletivamente, visto que é preciso que todos os seres humanos despertem primeiro, pois senão, não será possível reconhecer a Glória de Deus.


[1] ABADE STEPHANE. Nada publicou em vida embora muito tenha escrito e refletido, tendo por base, a partir de um certo momento sua profunda leitura de René Guénon. Graças a Jean Borella e François Chenique, foram publicados dois volumes de coletâneas de seus ensaios, "Introduction à l'ésotérisme chrétien" - Dervy-Livres, onde se pode admirar sua apropriação do pensamento de Guénon em termos cristãos.

[2] ROBERTO PLA. Pensador tradicionalista com trabalhos de grande profundida como sua tradução do Tratado da Unidade, atribuído a Ibn Arabi ou a sua escola, e a notável exegese do Evangelho de Tomé que utilizamos em nossa seção "Biblioteca de Nag Hammadi". A beleza da hermenêutica praticada por Roberto Pla, deste evangelho, está na abordagem tradicional de se valer do Novo Testamento ele mesmo, como "chave" para "re-velar" o Cristo e seu ensinamento.

[3] ANTONIO ORBE é um dos mais conceituados estudiosos do gnosticismo dentro da Igreja Católica, tendo se notabilizado por seus “Estudos Valentinianos”, hoje em dia difíceis de se encontrar. Suas obras servem de referência a todos aqueles que desejam se aprofundar de modo sério na tradição dos gnósticos e da própria tradição cristã dos primeiros séculos do cristianismo.


Bibliografia:

Cristologia gnostica: Introduccion a la soteriologia de los siglos II y III (Biblioteca de autores cristianos; 384-385 : 2, Autores contemporaneos) (Spanish Edition)

Abbé Henri Stéphane, Introduction à l’ésotérisme chrétien II ; « De l’ésotérisme chrétien », Edition Dervy.

http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-index.php?page=Genealogia%20de%20Jesus%20Cristo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tarot