A ausência do
silêncio e da dimensão contemplativa tem sido a causa de tantos distúrbios e
convulsões existenciais entre os seres humanos. Estamos vivendo mergulhados em
um imenso profundo vazio existencial que parece aumentar mais e mais a cada
dia. Nos encontramos atrelados a condicionamentos e ilusões impostos por nossa
imersão, desde a infância, dentro de uma cultura individualista e
exageradamente apegada ao consumo e ao materialismo.
O resultado de
toda essa crise tem levado inúmeros indivíduos a experimentar formas difusas e
intensas de desajuste, traduzidas em sentimentos de insatisfação, ansiedade,
medo angústia, fragmentação de personalidade, frustração e carência afetiva, às
vezes associados à sensações de esgotamento ou mal estar físico, metal e
psicológico. Tudo isso tem nos conduzido ao que chamamos “mal do século”, ou
depressão, que envolve o indivíduo em uma profunda crise de sentidos,
envolvendo tanto a parte fisiológica quanto a espiritual, levando até a perda
de vontade de viver e consequentemente à morte.
O grande
dilema diante desse quadro caótico, é a falta de conhecimento de Si próprio. O
indivíduo atual encontra-se totalmente voltado para o mundo exterior, voltado
para a condição do ter, deixando de lado a verdadeira essência do Ser, essa que
nos aproxima da divindade em potencial que habita em todos nós e consiste na
realidade suprema, a nossa parte imortal, a nossa essência, ao contrário da
forma que consiste apenas na nossa aparência física, ilusória e transitória.
Em função de
todo esse desequilíbrio que estamos atravessando, é que tem surgido em diversas
pessoas uma grande necessidade de aproximação com a presença verdadeira, o
nosso Eu Interior, que só é possível acessar através de uma mudança radical de
vida e da nossa forma de pensar e agir diante desse mundo conturbado. É preciso
em primeiro lugar, despertar a consciência, buscar o silêncio, esvaziar-se,
para que assim, possamos abrir espaço para o nosso verdadeiro Ser, para
recebermos a Luz Eterna, essa que nos inunda e nos coloca diante do nosso
centro interior, diante da realidade suprema, além do mundo sensível das
aparências.
Há séculos que
dispomos de diversos mecanismos para nos elevarmos ao encontro com a nossa
essência verdadeira, entre eles, temos as diversas modalidades de meditações,
acesses, orações, técnicas de controle da mente e interagência corporal, além
das terapias holísticas e exercícios espirituais encontrados tanto no ocidente
quanto no oriente. O melhor disso, é que hoje gozamos da plena liberdade de
escolha, basta nos identificarmos com uma dessas linhas e buscarmos viver seus
princípios e fundamentos, aplicando em nossas vidas, no nosso dia a dia, sem
que haja necessidade de nos tornamos “religiosos”, apenas seres livres para
cultivar a espiritualidade de forma integral, tanto na esfera individual quanto
coletiva. Todos esses processos nos conduzem há um retorno a nossa dimensão
mística, que foi sufocada pela religiosidade positivista do século passado.
Como disse o teólogo alemão Karl Rahner em sua obra – Elementos de
Espiritualidade na Igreja do Futuro: “O
cristão do futuro ou será um místico, ou nada será”.
Depois
do primeiro passo, que foi a busca do conhecimento de Si mesmo, do despertar da
consciência, e do segundo, onde buscamos uma corrente, método, escola ou modo
de vida voltado para a busca do salto quântico, é preciso agora dentro desse
processo, buscar atingir a dimensão do silêncio e da contemplação, para que
possamos discernir a voz interior do Espírito. Para que isso se dê de forma
autêntica, é preciso tomar uma postura de escuta atenta que envolva ao mesmo
tempo atenção, confiança e abandono. Somente no silêncio é que podemos atingir
um estado de atenção pura, de quietude mental e corporal, pois assim é que
vamos descobrir o que é a dimensão contemplativa.
Por
muitos séculos, principalmente aqui no ocidente, fomos adestrados para falar
muito, ter respostas prontas para tudo, inclusive no meio religioso, onde as
teologias sempre ocuparam lugares de destaque, controlando os indivíduos
através de medos, dogmas e confissões de fé, sempre doutrinando as pessoas com
vãs repetições e longos discursos repletos de sofismas e regras. Geração após
geração aprendendo a falar cada vez mais, até nas orações, sempre repletas de
muitas palavras rebuscadas, porém, isso só gerou um esgotamento profundo e uma
sociedade inserida numa cultura ruidosa, barulhenta que não sabe escutar.
É
preciso com certa urgência rever nossos conceitos e valores, enxergarmos com os
nossos próprios olhos o mundo que nos cerca, e não ficarmos alheios aos fatos e
acontecimentos que a cada dia tornam a humanidade cada vez mais emburrecida e domesticada.
Somente através do silêncio é que podemos fazer reflexões profundas, nos
tornarmos portadores de sabedoria e conhecimento, esses que nos tornam homens e
mulheres livres das amarras da ignorância.
Devemos
buscar escutar mais o nosso coração, despertar a nossa vocação mística que há
muito tempo foi sufocada pela religiosidade dogmática, silenciarmos a nossa
mente racional, deixando que a dimensão contemplativa abra todos os canais de conexão
com a divindade, o Uno, de onde provém todos os insights capazes de transformar nossas vidas. Devemos lembrar
sempre que todas as respostas estão dentro de nós, basta nos conectarmos com o
nosso templo interior, e através do silêncio, deixarmos que a voz interior fale
aos nossos corações.
Para
entrarmos em comunhão com Deus, é preciso antes nos apresentarmos diante dele
em silêncio e estado de contemplação, e depois proceder como Jesus nos ensinou:
“...Quando orares, entra em teu aposento
interior, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo. E teu Pai, que vê no
segredo, te recompensará”. (Mt.6.6) dessa forma vamos estar o conectados a
fonte primordial, o Reino como Jesus também nos disse, que encontra-se dentro de
nós (Lc.17.21), logo, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus, todas as coisas
vos serão acrescentadas (Mt.6.33).
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