domingo, 2 de outubro de 2011

Será que hoje em dia existem mais “Martas” do que “Marias” nas igrejas?


Por Kadu Santoro


Trago essa reflexão para os nossos dias, pois vivemos na era da globalização e da nova ordem mundial, onde a letra deu lugar a imagem, e a essência à forma. Porém, é dever e compromisso do cristão questionar e dialogar com o seu tempo, observar se todas essas mudanças de tendências que vem ocorrendo no mundo rapidamente acabam prejudicando nossas vidas, tanto no contexto da família quanto na comunidade cristã.

Com certeza, todos cristãos leitores e estudantes da bíblia, conhecem a famosa passagem sobre Marta e Maria, que é mencionada apenas no evangelho de Lucas (Lc.10.38-42). Essa passagem fala sobre as duas irmãs de Lázaro que viviam em Betânia, perto de Jerusalém. Sabendo elas que Jesus ficaria hospedado em sua casa, ficaram radiantes, porém, Marta entrou em pânico, esmerando-se na arrumação da casa e na preparação dos pratos. Quando Jesus chegou, Maria correu para perto de Jesus e assentou-se aos seus pés, e dando-lhe toda a atenção não perdia nenhuma palavra se quer da sabedoria e ensinamentos de Jesus. Maria não só estava escutando as palavras de Jesus, como também estava sendo acolhedora, agradável, dando toda a atenção devida ao mestre, pois afinal de contas, era um visitante em sua casa, por sinal, um ilustre visitante.

O texto bíblico fala que enquanto Maria estava com Jesus, Marta não parava um minuto se quer e não vinha dar atenção para o ilustre convidado. Para ela, fazer as coisas bem feitas com zelo demasiado parecia mais importante do que estar aos pés do Mestre escutando as sábias palavras que saíam de sua boca. Observando toda a agitação de Marta, Jesus lhe disse: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.

Agora, analisando esse texto e trazendo ele aos nossos dias, podemos fazer várias observações. A primeira observação que eu faço, é em relação a falta de discernimento entre o que é ser zeloso e caprichoso com as coisas, e não dar prioridade ao que é mais importante. Naquele caso, Jesus e sua mensagem deveriam ser entendidos por Marta, como algo mais importante do que o resto dos afazeres. O fato de querer fazer bem as coisas, com capricho e zelo, é uma grande virtude e um dever moral, porém devemos saber o momento para cada coisa. A vida é feita de prioridades. Para o cristão, buscar a Deus (Mt.6.33), deve ser prioridade absoluta em sua vida, o resto pode ser realizado posteriormente, até porque, é Ele que nos concede o tempo e a direção para tudo o que vamos realizar.

Hoje em dia, vivemos muito mais preocupados com a forma e a aparência do que com o conteúdo e a essência, o próprio sistema capitalista cria seus paradigmas, um dos mais famosos é aquela velha frase de uma grande grife de modas: “O mundo trata melhor quem se veste bem”. Podemos perceber nitidamente como a questão exterior fala mais alto no nosso mundo, a ponto de fazer juízo e disseminar preconceitos em relação ao próximo.

A segunda observação que eu faço dentro desta passagem bíblica, é voltada para o contexto das nossas igrejas hoje em dia. Sabemos que o fundamento principal de toda mensagem cristã, encontra-se no amor e no acolhimento no corpo de Cristo (Igreja). Percebemos que em muitas igrejas, tem pessoas tão dedicadas nos seus ministérios e afazeres que acabam ficando como Marta. Totalmente ocupados e concentrados que acabam deixando de lado e esquecendo a acolhida e a atenção carinhosa que o visitante merece. As vezes aquela pessoa que acabou de entrar na igreja, e você nem percebeu a sua presença devido as suas tarefas, ou até viu, mas deixou pra outro fazer a acolhida, poderia ser uma pessoa a ponto de se suicidar ou em estado de profunda tristeza e desesperança, que as vezes através de um simples sorriso e um abraço poderia operar poderosamente um milagre naquela vida.

Quando percebermos que estamos muito ocupados com os afazeres na igreja, a ponto de não darmos mais atenção aos nossos irmãos e visitantes, ou que a igreja está se tornando uma grande casa de shows frequentada por artistas gospels virtuosos, cuidado! É o momento que devemos parar e refletir, e perguntarmos a nós mesmos, se estamos sendo Marta ou Maria.

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