terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Relato de uma experiência de despertar



“Nas últimas semanas, o ataque de forças negativas foi muito intenso. Vi-me diante de situações e de envolvimentos que pensava estarem resolvidos. Na realidade, era como se os corpos estivessem sendo provados em pontos que o ser interno já havia superado. Há alguns anos vivi situações semelhantes, mas o que ocorria então era um processo da alma, que buscava imprimir nos corpos da personalidade certas determinações. Desta vez, percebia como se os corpos, eles mesmos, tivessem de superar estados negativos e atingir um nível de vibração mais elevado.

Foi um período difícil, de muitas lutas. Fiquei diante da natureza humana, com toda a sua limitação, constatando que nesse nível nada podia fazer por mim mesmo. A segurança que antes sentia com o respaldo da energia interna se esvaziara, transformando-se numa capa de orgulho a camuflar as tendências e idiossincrasias do ego. Não posso dizer que essa fase tenha sido uma “noite escura”, mas os corpos estavam entregues a si próprios. Nas quedas fazia intenção de levantar-me; nas vitórias, de prosseguir — mas caía em pensamento, em sentimento e ação.

A vigilância é necessária sempre, pois a conivência vai sutilmente se infiltrando, sugerindo pensamentos, insuflando a imaginação, estimulando desejos e, pior, justificando-os. A natureza material, por si mesma, não se eleva; por isso é preciso dar condições para que ela seja continuamente atraída para o Alto por uma energia superior.

Orava muito nesses momentos, numa intensidade que há tempos desconhecia. Conscientemente invocava a ajuda e a luz da Hierarquia. Via que cada célula dos meus corpos tinha de acender o fogo em seu interior, também eles tinham de aspirar ao Supremo.

Lembrei-me do trabalho realizado pela Mãe, no sentido de liberar a luz existente no âmago das células físicas. Ela dizia que seria fácil, para o seu ser interno, tornar o sadio corpo que usava; porém, não era esse o trabalho que ela tinha de fazer, mas sim o de levar cada célula a liberar a sua luz, a aspirar ao Divino.


Nas instruções deixadas pela Mãe encontrei uma oração que me foi de auxílio:


Apodere-se dessas células,
Apodere-se desse cérebro,
Apodere-se desses nervos,
Apodere-se corpo,
Apodere-se dessa matéria,
Apodere-se desses átomos,
Om, Senhor Supremo,
Manifesta Teu Esplendor.

Nas provas que vivera, constatei profundamente a limitação dos seres, enquanto restritos ao âmbito humano e, dessa constatação, emergiu a percepção do sofrimento que paira sobre a vida de superfície. Certo dia, tendo passado o período de lutas mais veementes, estava em quietude quando de dentro de meu ser emergiu um intenso clamor, uma oferta a Deus, como nunca havia ocorrido. Não era um processo mental, era algo que fluía de dentro para fora, e me tomava por inteiro. A mente apenas observava. O meu ser ofertava-se, sem reservas, para assumir em si próprio a carga do sofrimento do mundo. Tal era a intensidade da energia naquele instante, que o consciente não apresentou temor algum a dores ou doenças. Tampouco restrições ou expectativas. Não era um desejo, era um movimento interno, pleno, diferente de situações anteriores nas quais ‘tinha a intenção de doar-me’. Naquele momento a doação aconteceu e tomou todo o meu ser. Era algo que não se podia engendrar intelectual ou emocionalmente, nem os níveis humanos podiam cercear. Apesar de incluí-los e de neles imprimir sua vibração, essa energia era independente desses níveis.


Não saberia dizer quanto tempo durou essa experiência. Parece-me ter sido rápida. Estas linhas muito parcamente retratam o que realmente se deu, pois foi algo que não pode ser descrito sem se tornar limitado.”