domingo, 20 de dezembro de 2015

Qual a essência do Natal?



Por Kadu Santoro

Mais um final de ano se aproxima, e com ele a lembrança do Natal. Uma data fundamental para o cristianismo, porém quase esquecida e esvaziada em sua essência, que é o anúncio e a natividade do Deus Menino, pobre, frágil e indefeso, que veio como a luz do mundo e ninguém o reconheceu e recebeu (João 1.10-11), para que todos pudessem despertar a consciência para as coisas do alto pertinentes ao Reino de Deus, como o amor a justiça e a misericórdia.

Nesse período é muito comum fazermos reflexões sobre tudo o que aconteceu ao longo do ano nas mais diversas áreas de nossas vidas, porém, aproveito essa pequena reflexão para falarmos um pouco sobre justamente o que fica cada vez mais esquecido, sobre a essência do Natal.

A humanidade encontra-se profundamente mergulhada no materialismo, cada vez mais longe de sua essência, da sua vocação divina de filhos legítimos de Deus, vivendo apenas em função do ter em detrimento do Ser. As pessoas estão cada vez mais voltadas para o consumismo, alienadas em si mesmas, insensíveis, com os egos inflados totalmente envaidecidos, coloridos por um verniz social, vivendo apenas de aparências, num estado de trevas (que representa o grau de ignorância), longe de uma vida simples, harmônica, voltada para valores mais elevados.

Nessa data tão linda e profunda em seu simbolismo que é o Natal, vamos voltar nossos pensamentos para o nascimento de uma nova consciência, para o despertar do novo (a imagem do menino), para darmos uma chance a nós mesmos de nos tornarmos pessoas melhores, mais sensíveis, solidárias, caridosas e amorosas, contemplando em nosso próximo o que ele é em sua essência, e não no que ele tem ou que pode nos dar em troca.

Nesse período, ao invés de nos voltarmos para os Shoppings Centers suntuosos, as lojas de departamentos em busca de enfeites, brilhos e presentes, ficarmos preocupados com cardápios apetitosos para a ceia, elaborando discursos pomposos para noite de Natal, preocupados com o que vestir, etc, etc... Vamos aproveitar essa ocasião para refletirmos e lembrarmos da trágica realidade a nossa volta, daqueles que não tem um teto para dormir, um prato de comida para se alimentar, um agasalho para se proteger do frio, estão desorientados pelas ruas, solitários, abandonados e mortos internamente, sem nenhuma perspectiva de uma vida digna. É aí que o Natal encontra seu verdadeiro e mais profundo sentido, onde devemos nos voltar para aqueles que estão na escuridão, abandonados, indefesos (como o menino Jesus ao nascer numa manjedoura), totalmente às margens da sociedade, e assim acolhermos de forma a levar a luz que tanto precisam, um consolo, um olhar de misericórdia que seja, um compartilhar com amor, lembrando que todos somos filhos do mesmo Criador, e estamos aqui para ajudarmos uns aos outros cumprindo o maior de todos os mandamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.

Que a Luz Crística ilumine nossos corações neste Natal e ao longo de nossas vidas, nos proporcionando um crescimento sublime na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pe.3.18).


Feliz Natal em Cristo!!!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Os estágios da busca de unicidade



1 - Renúncia aos interesses mundanos - Quando se deseja ardentemente os estados místicos, o primeiro estágio consiste em despojar o eu de todos os obstáculos materiais; há renúncia e desinteresse. Essa renúncia parece um prelúdio comum às experiências regressivas em geral. O místico, de modo voluntário e com plena consciência, renúncia aos prazeres e às recompensas da vida mundana para ir em busca daquilo que ele considera o Bem Supremo. Desse modo, Buda abandonou sua herança régia a fim de descobrir as causas do sofrimento humano e os modos de abrandá-lo. Um exemplo recente de renúncia às coisas deste mundo pode ser encontrado na vida de Albert Schweitzer, que abandonou uma carreira auspiciosa na Europa para fundar um hospital no coração da selva africana. Ele revelou que a base de sua filosofia, a "reverência pela vida", foi-lhe revelada através de um súbito vislumbre místico.
    
2 - Inefabilidade (aquilo que pode exprimir por palavras) - Os místicos, por ocasião do regresso, geralmente encontram dificuldades em revestir suas experiências de palavras. Ao se reportarem ao conteúdo, sentem que as palavras que estão usando não expressam, na realidade, a natureza de suas experiências. Os místicos sempre declaram que sua experiência é indescritível, pois extrapola o alcance do pensamento discursivo.

3 - Qualidade noética (o pensamento, a percepção, a imaginação) - Os místicos acreditam terem-se apossado de profundas verdades durante suas experiências. Eles saciaram sua sede na fonte do significado. Aprenderam direta e imediatamente a verdade evidente por si mesma. Essa experiência faz com que o místico se esqueça do corpo e das suas reações sensuais, resultando numa purificação das tendências narcíseas e, de fato, numa impessoalização do pessoal em todos os seus aspectos (Vida Impessoal). Essa qualidade é o resultado da obtenção do conhecimento direto da realidade... que difere da percepção sensorial comum ou uso do raciocínio lógico. Os efeitos dessa experiência perduram para toda a vida do místico.

4 - Êxtase - uma sensação de felicidade e júbilo que ultrapassa o natural; parece ser uma característica de muitos estados místicos - particularmente daqueles do tipo denominado misticismo da natureza e misticismo deístico (Sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer igreja, aceitam, todavia, a existência de um Deus destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo). Esse estado de felicidade e júbilo tem um efeito redentor: a libertação da contaminação do interesse mundano egoísta para um estado de visão pura, espontânea e serena.  O místico tem a sensação de estar “retornando ao lar",retornando à sua fonte - cósmica, não maternal; que ele também está se entregando, com segurança, a um poder infinitamente mais forte do que ele próprio - um poder universal e não pessoal; que está participando de uma nutrição primária, elementar, natural ao homem e superior a todas as outras - alimentando para a mente e para o espírito, e não para o corpo; e que seu êxtase o purifica de modo a sentir-se, mais uma vez, puro e inocente como um bebê. O êxtase do místico tem sido uma fonte de poder redentor, que o purga da dúvida a respeito de si mesmo e da vacilação.

5 - A experiência de fusão (síntese) - A experiência de fusão, é como vimos, típica de todos os tipos de experiência mística. Ela consiste numa sensação de que nossa individualidade, os limites do eu, desapareceu - o eu e a natureza se entremesclam. Nosso ser se funde com umser mais amplo, de algum tipo, às vezes a tal ponto que não mais duas coisas, mas apenas uma só coisa que se difunde em tudo. Esta experiência traz consigo a sensação da dissoluçãocompleta dos limites. A universalidade que o místico experimenta pode resultar, temporariamente, numa perda da identidade pessoal; mais tarde, há um aprofundamento da percepção do eu com o conhecimento de que todos os eus são UM.  Aquele que pode participar verdadeiramente da natureza, ou fundir-se com a universalidade da vida, entra em contato com uma fonte de serenidade, ordem, beleza e harmonia que exala sua fragrância a cada momento da sua vida.

Claire M. Owens - O mais Elevado Estado da Consciência – Ed. Cultrix