terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um renascimento para o misticismo



Por Kadu Santoro

“O cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão.” Essa frase foi dita por Karl Rahner, um dos maiores teólogos católicos do século XX, frente a grande crise de paradigmas e sentido vivida pelas religiões mundiais, como descreveu claramente seu colega do Concílio Vaticano II, o Papa João Paulo II: “É importante observar que um dos aspectos mais significativos de nossa situação atual é a chamada crise de significado. As visões da vida e do mundo, frequentemente de natureza científica, proliferam a tal ponto que nos vemos diante de uma crescente fragmentação do conhecimento. Isso torna a busca de significado difícil e, frequentemente, infrutífera.”

Constantes e radicais mudanças já vem ocorrendo desde o início desse século no campo de domínio das religiões espalhadas pelo mundo. Porém, ainda seja um pouco cedo para termos clareza completa a respeito de tudo o que está realmente acontecendo e gerando essa grande crise de significado e banalização do sagrado.

Acredito que haverá em todas as religiões, sobretudo naquelas que se afastaram da sua vocação mais sublime de despertar a plena consciência através da experiência mística, um retorno significativo à suas raízes. A causa principal que vai gerar esse retorno, será justamente a descoberta progressiva por parte dos líderes dessas religiões, das evidências levantadas por áreas contemporâneas de pesquisas como a parapsicologia, a física quântica, as ciências noéticas e a psicologia transpessoal, as quais constituem sem sombra de dúvida, importantes ferramentas de confirmação em termos científicos de muitos textos sagrados encontrados em todas as religiões antigas, que se referem a visões proféticas, milagres, carismas e à iluminação entre outros inúmeros fenômenos metafísicos; isto aliás, põe um ponto final no ceticismo levantado pelo movimento racionalista filosófico e científico sobre essa fenomenologia, já que a comprovação do seu caráter real foi feita através de métodos puramente racionais e científicos dentro dos padrões do paradigma Newtoniano-Cartesiano, de ordem mecanicista. Com isso, vamos observar uma reaproximação progressiva da ciência com as tradições espirituais. Ao mesmo tempo, as religiões que se afastaram das suas próprias fontes primordiais, irão reencontrar a sua própria tradição. Essas duas formas de aproximação irão também influenciar em todo o escopo das teologias que no ocidente assumiram uma forma inteiramente racional e fundamentalista.

Existe também um outro motivo muito positivo para essa aproximação entre as religiões. São nos inúmeros encontros inter-religiosos que os representantes das mais diferentes religiões procuram pesquisar os seus diversos pontos comuns e chegam a conclusões, que seriam inimagináveis ainda há algumas décadas. Podemos ver esse avanço em uma declaração do teólogo John Hick, quando afirma que as religiões, cada uma delas, são totalidades complexas de resposta ao divino... “com suas diferentes formas de experiência religiosa, seus próprios mitos e símbolos, seus sistemas teológicos, suas liturgias e sua arte, suas éticas e estilos de vida, suas escrituras e tradições – todos elementos que interagem e se reforçam mutuamente. E estas totalidades diferentes constituem diversas respostas humanas, no contexto das diferentes culturas ou formas de vida humana, à mesma realidade divina, infinita e transcendente.”

Por outro lado, temos que reconhecer a existência atual de um crescente movimento oposto a estes encontros inter-religiosos, que se traduz pelo aparecimento dos fundamentalismos em praticamente todas as religiões atuais em especial nas religiões de caráter monoteísta, o judaísmo, o cristianismo e o Islamismo. O recrutamento dos seus seguidores fiéis é realizada nas camadas mais ignorantes e pobres da sociedade. Fundamentam suas doutrinas ao pé da letra e não no seu aspecto simbólico ou metafórico, ou seja, no seu sentido mais profundo. Provocam tumultos e promovem disputas e divergências doutrinárias entre seus líderes, e seus fiéis vivem de forma sectária e exclusivista, cultuando a prosperidade e mordomias terrenas. Chegam ao ponto de matarem em nome de Deus em função de suas convicções fundamentalistas, como disse F. Nietzsche: “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.” Porém, já existem também tentativas de aproximação entre líderes fundamentalistas, e observa-se que depois do primeiro choque de encontro, diante da constatação da existência de outras interpretações dos textos sagrados, opera-se uma evolução no sentido de maior abertura, mas só o futuro nos dirá se estes esforços serão coroados de êxito e em que proporções.

O caminho para a tão desejada aproximação entre as religiões, será a via mística, a vereda menos percorrida, pois requer um profundo e contínuo mergulho dentro do Ser, ou seja, um encontro com o nosso Eu Interior, aquela centelha divina que habita em nós e é parte do Todo. O misticismo está presente em todas as religiões, mantém com elas uma espécie de “independência”, ou seja, tem pouco que ver com a experiência propriamente religiosa (ou numinosa) da fé. Porém, o que há de comum entre as experiências mística e religiosa, é que quem a procura deseja, antes de tudo, libertar-se das amarras e das limitações da razão, transcendendo-a com um mergulho numa dimensão misteriosa, cósmica. A característica comum entre os misticismos encontrados em todas as religiões é, além da busca de transcendência, a da união íntima com Deus, com a divindade, com o Sagrado, com a realidade última, ou ainda, com alguma crença oculta, além e acima da razão. Essa união consiste no apogeu da via mística, que antes de ser plenamente alcançada passa pelos estágios da purgação e da iluminação. Por meio de diversas práticas, escritos e experiências do sentido, o místico alcança a união com a divindade de forma tão intensa, que, enquanto dura, como que o despersonaliza da condição mortal, experiência descrita como uma verdadeira “intoxicação”, o mergulho tão profundo no Divino descrito pelos místicos como o “nada que é”.

Segundo C. G. Jung, a pessoa que atingiu alta maturidade psicológica é sempre um místico. Não há ninguém na face da terra mais maduro do que um místico [...] E Jung observa que o místico é aquele que não tem nostalgia do passado e muito menos ansiedade diante do futuro.

O misticismo, segundo Margaret Smith, “ultrapassa a religião, pois aspira a união íntima com o divino feita com a alma, a uma anulação da individualidade, com sua maneira habitual de agir, pensar e sentir, na divina substância. O místico é aquele que almeja transcender tudo o que é fenomenal e todas as formas de realidade comum, para se transformar no Ser, ele próprio.

A solução é mesmo o retorno às raízes das religiões primitivas, onde essas não enfrentam oposição ao misticismo, que só surgiu quando o homem foi capaz de mergulhar dentro de si mesmo, numa reflexão mais profunda sobre sua condição, o que ocorreu como consequência da sua gradativa capacidade de abstração e subjetividade, capacidades que são agudas na via mística. Ela por fim, decorre do fato de que o místico não está condicionado por um sistema teológico rígido e menos ainda por ritos consagratórios: a união mística é, assim, a abstração desses condicionamentos levada ao ponto extremo. É nesse estágio que Jesus diz que Ele e o Pai são UM.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Você já despertou a sua consciência?




Responda e reflita sobre o questionário abaixo que foi embasado no livro "Adulto Índigo" de Ingrid Cañete e veja se você é uma pessoa realmente desperta da consciência e pronta para a grande transformação do mundo:

1. Sente a necessidade de romper fronteiras, quebrar paradigmas, questionar regras e padrões estabelecidos mesmo sofrendo ostracismo devido ao seu modo de ser?

2. Desde a mais tenra idade vive em busca das razões de existir?

3. Sente que a profundidade de seu modo de ver a vida é totalmente diferente daqueles que lhe rodeiam?

4. Até hoje vive em busca de sua missão nesta vida? Busca incessantemente pelo sentido de sua existência?

5. Tem experimentado dificuldades de se relacionar com os demais devido sua autenticidade, sinceridade e capacidade de ver o falso, bem como a urgente necessidade de expô-lo?

6. Devido ao seu modo de ser, por vários momentos já se sentiu como um E.T., um estranho no ninho?

7. Sente profunda aversão a rótulos, dogmas e padrões de controle?

8. Sente aversão a trabalhos rotineiros?

9. Têm dificuldades em empregos com serviços supervisionados?

10.  Prefere trabalhar sozinho do que em grupo?

11. Têm problemas com os sistemas que considera arcaicos e disfuncionais?

12. Alienação ou uma irritação com a política, sentindo que a sua voz não conta e que o resultado realmente não importa?

13. Sente frustração ou rejeição diante do tradicional "sonho" de carreira, casamento, filhos, casa com uma cerca branca etc.?

14. Sente um ardente desejo de fazer algo para mudar ou melhorar o mundo?

15. Possui forte intuição?

16. Prefere a própria companhia do que a de grandes grupos?

17. Sente atração pelo sobrenatural, o metafísico, a tecnologia de ponta e o entendimento espiritual?

18. Sente aversão a sistemas de crença organizada, mantendo uma espiritualidade própria?

19. Possui um forte sentido de missão o qual lhe impede de seguir os padrões de vida rotulados como "normais"?

20. É sensível a conflitos?

Se você se enquadra nesses itens, parabéns! Você é realmente um agente de transformação do mundo e com uma enorme missão de estabelecer um novo paradigma global baseado em relações sustentáveis e harmoniosas entre o Ser e o Cuidar, entre a fé e a razão, elevando assim, a massa crítica planetária que encontra-se totalmente nivelada por baixo, alienada e domesticada, ainda engessada em princípios arcaicos e ultrapassados.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Todo Iniciado



Todo iniciado compreendeu que somos um com o todo, somos um com o Cosmos e com todo o Universo, sabe que todos os Mestres, Deuses e Anjos habitam em seu interior como parte do mesmo universo da manifestação, nossa comunicação nunca esteve interrompida, cada pensamento, cada intenção, cada oração é ouvida e recebida.

Todo iniciado entende que seu corpo é extensão do corpo de seu semelhante e todo mal causado ao próximo em verdade causado foi em si mesmo, por isso anda sempre atento e com FOCO, sabe que a natureza e os animais são partes dele mesmo por isso os respeitam e os preservam como sanctum sagrado concebido pelo Pai de todas as luzes.

Todo Iniciado aprendeu que seu próprio caminho se faz silenciosamente, discretamente, nada quer para si e por tudo e todos se sacrifica para manter a Paz, a Ordem e a Harmonia.

Todo verdadeiro iniciado irradia com seu perfume o amor e a alegria, consola os oprimidos, aprende a amar seu próximo como ele é sem mais gerar expectativas, entende o profundo significado do amor de Cristo que transcende as aparências da superfície ilusória deste mundo caótico e distorcido pelo egoísmo humano e por tudo se sacrifica para trazer vida em abundância.

Todo autentico iniciado aprende com seus erros e os supera, mantém seu foco em seu coração interno, não usa as palavras de forma vulgar, entende que o verbo, o sexo e a criação estão intimamente ligados e são profundamente sagrados.

Todos os iniciados do passado ou do futuro são os mesmos do eterno agora, romperam com as leis de tempo e espaço e se estabeleceram além de todo egoísmo e de toda a dualidade.

Não mais julgam, apenas observam e amparam com infinito amor e sabedoria os nossos irmãos e semelhantes.

Aqueles que a tudo renunciaram tudo conquistaram, depois de tantas batalhas, atritos e conflitos causados pelo ego renunciam a si mesmos e se entregam sem mais resistência ao cristo intimo que os conduzem em retorno para o ventre do Pai, então se fusionam a Luz de todas as luzes cessando assim todo um ciclo de aprendizado neste universo manifestado.

“Venham a mim as criancinhas, pois delas é o reino dos Céus”.

Extraído do site: http://osolinterno.blogspot.com.br/2010/11/todo-iniciado.html

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A Kabbalah em poucas palavras



Por Kadu Santoro

A palavra Kabbalah, KaBaLaH, KBLH, hlbq, cabalá é de origem hebraica, provém do verbo KBL, lbq, cabeil que significa receber, o que é recebido, aquilo em presença de que se está, é a Sabedoria do Alto. Ela representa primeiramente a tradição mística do judaísmo, que percorre uma cadeia iniciática que remonta aos Patriarcas de Israel e ao próprio Adão.

Define-se Cabala como a tradição esotérica e mística dos hebreus. Ela era de uso exclusivo dos sacerdotes e iniciados;

Para o povo era oferecido apenas a leitura do Primeiro Testamento (Torah), de forma jurídica e moral, além das recomendações de sanitarismo ausentes no misticismo judaico;

Esse conhecimento sagrado era inicialmente transmitido de forma oral. Somente a partir da era cristã que os rabinos passaram a registrar por escrito essa tradição, devido à dispersão dos judeus (diáspora) pelo continente mediterrâneo, que ameaçava com a perda deste conhecimento.

Dentro da visão prática, Cabala é aquilo que é recebido. Aquilo que não pode ser conhecido apenas através da ciência ou da busca intelectual. Um conhecimento interior que tem sido passado de sábio para aluno desde o despertar dos tempos chegando aos nossos dias. Uma disciplina que desperta a consciência sobre a essência das coisas.

”E sonhou: Eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu; e anjos de Deus subiam e desciam por ela.” Gn. 28.12

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A importância do silêncio e da dimensão contemplativa em nossa vida



Por Kadu Santoro

A ausência do silêncio e da dimensão contemplativa tem sido a causa de tantos distúrbios e convulsões existenciais entre os seres humanos. Estamos vivendo mergulhados em um imenso profundo vazio existencial que parece aumentar mais e mais a cada dia. Nos encontramos atrelados a condicionamentos e ilusões impostos por nossa imersão, desde a infância, dentro de uma cultura individualista e exageradamente apegada ao consumo e ao materialismo.

O resultado de toda essa crise tem levado inúmeros indivíduos a experimentar formas difusas e intensas de desajuste, traduzidas em sentimentos de insatisfação, ansiedade, medo angústia, fragmentação de personalidade, frustração e carência afetiva, às vezes associados à sensações de esgotamento ou mal estar físico, metal e psicológico. Tudo isso tem nos conduzido ao que chamamos “mal do século”, ou depressão, que envolve o indivíduo em uma profunda crise de sentidos, envolvendo tanto a parte fisiológica quanto a espiritual, levando até a perda de vontade de viver e consequentemente à morte.

O grande dilema diante desse quadro caótico, é a falta de conhecimento de Si próprio. O indivíduo atual encontra-se totalmente voltado para o mundo exterior, voltado para a condição do ter, deixando de lado a verdadeira essência do Ser, essa que nos aproxima da divindade em potencial que habita em todos nós e consiste na realidade suprema, a nossa parte imortal, a nossa essência, ao contrário da forma que consiste apenas na nossa aparência física, ilusória e transitória.

Em função de todo esse desequilíbrio que estamos atravessando, é que tem surgido em diversas pessoas uma grande necessidade de aproximação com a presença verdadeira, o nosso Eu Interior, que só é possível acessar através de uma mudança radical de vida e da nossa forma de pensar e agir diante desse mundo conturbado. É preciso em primeiro lugar, despertar a consciência, buscar o silêncio, esvaziar-se, para que assim, possamos abrir espaço para o nosso verdadeiro Ser, para recebermos a Luz Eterna, essa que nos inunda e nos coloca diante do nosso centro interior, diante da realidade suprema, além do mundo sensível das aparências.

Há séculos que dispomos de diversos mecanismos para nos elevarmos ao encontro com a nossa essência verdadeira, entre eles, temos as diversas modalidades de meditações, acesses, orações, técnicas de controle da mente e interagência corporal, além das terapias holísticas e exercícios espirituais encontrados tanto no ocidente quanto no oriente. O melhor disso, é que hoje gozamos da plena liberdade de escolha, basta nos identificarmos com uma dessas linhas e buscarmos viver seus princípios e fundamentos, aplicando em nossas vidas, no nosso dia a dia, sem que haja necessidade de nos tornamos “religiosos”, apenas seres livres para cultivar a espiritualidade de forma integral, tanto na esfera individual quanto coletiva. Todos esses processos nos conduzem há um retorno a nossa dimensão mística, que foi sufocada pela religiosidade positivista do século passado. Como disse o teólogo alemão Karl Rahner em sua obra – Elementos de Espiritualidade na Igreja do Futuro: “O cristão do futuro ou será um místico, ou nada será”.

Depois do primeiro passo, que foi a busca do conhecimento de Si mesmo, do despertar da consciência, e do segundo, onde buscamos uma corrente, método, escola ou modo de vida voltado para a busca do salto quântico, é preciso agora dentro desse processo, buscar atingir a dimensão do silêncio e da contemplação, para que possamos discernir a voz interior do Espírito. Para que isso se dê de forma autêntica, é preciso tomar uma postura de escuta atenta que envolva ao mesmo tempo atenção, confiança e abandono. Somente no silêncio é que podemos atingir um estado de atenção pura, de quietude mental e corporal, pois assim é que vamos descobrir o que é a dimensão contemplativa.

Por muitos séculos, principalmente aqui no ocidente, fomos adestrados para falar muito, ter respostas prontas para tudo, inclusive no meio religioso, onde as teologias sempre ocuparam lugares de destaque, controlando os indivíduos através de medos, dogmas e confissões de fé, sempre doutrinando as pessoas com vãs repetições e longos discursos repletos de sofismas e regras. Geração após geração aprendendo a falar cada vez mais, até nas orações, sempre repletas de muitas palavras rebuscadas, porém, isso só gerou um esgotamento profundo e uma sociedade inserida numa cultura ruidosa, barulhenta que não sabe escutar.

É preciso com certa urgência rever nossos conceitos e valores, enxergarmos com os nossos próprios olhos o mundo que nos cerca, e não ficarmos alheios aos fatos e acontecimentos que a cada dia tornam a humanidade cada vez mais emburrecida e domesticada. Somente através do silêncio é que podemos fazer reflexões profundas, nos tornarmos portadores de sabedoria e conhecimento, esses que nos tornam homens e mulheres livres das amarras da ignorância.

Devemos buscar escutar mais o nosso coração, despertar a nossa vocação mística que há muito tempo foi sufocada pela religiosidade dogmática, silenciarmos a nossa mente racional, deixando que a dimensão contemplativa abra todos os canais de conexão com a divindade, o Uno, de onde provém todos os insights capazes de transformar nossas vidas. Devemos lembrar sempre que todas as respostas estão dentro de nós, basta nos conectarmos com o nosso templo interior, e através do silêncio, deixarmos que a voz interior fale aos nossos corações.

Para entrarmos em comunhão com Deus, é preciso antes nos apresentarmos diante dele em silêncio e estado de contemplação, e depois proceder como Jesus nos ensinou: “...Quando orares, entra em teu aposento interior, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo. E teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”. (Mt.6.6) dessa forma vamos estar o conectados a fonte primordial, o Reino como Jesus também nos disse, que encontra-se dentro de nós (Lc.17.21), logo, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus, todas as coisas vos serão acrescentadas (Mt.6.33).

terça-feira, 24 de junho de 2014

O Olhar Integral



Por Jean-Yves Leloup

"No coração da sombra existe a luz. E no coração da luz existe a sombra. 
A experiência do ser é a experiência do círculo que mantém os dois juntos.
O momento de repouso que fazemos é semelhante à nossa respiração. 
O inspirar e o expirar é uma não-dualidade. Se só inspiramos, sufocamos, se só expiramos, morremos. 

O sopro contem a inspiração e a expiração e o que é verdadeiro em nossa vida fisiológica é também verdadeiro em nossa vida psicológica.

Tornar-se adulto é passar da idade dos contrários para a idade do complementar, para um outro modo de olhar as coisas. Se alguém diz algo contrário ao que penso e sou capaz de entender esse contrário como complementar, vou crescer em consciência e em compreensão. Se em vez de rejeitar ou negar alguns elementos de minha vida obscura, sou capaz de acolhê-los, torna-me-ei mais inteiro.

A sombra é o que dá relevo à luz. 

Quando amamos alguém, um dos sinais de amor verdadeiro é que amamos os seus defeitos. É fácil amar os defeitos de nossos filhos. É difícil amar os defeitos dos adultos ou de nossos cônjuges. 


Esse amor de que falamos não significa complacência, não é dizer ao outro que me agrada o que ele tem de desagradável, pois isso seria mentira e hipocrisia. 

O amor de que falamos é dar ao outro o direito de ser diferente. É dar a 
ele o direito de experimentar sua liberdade. De experimentar em mim mesmo esta capacidade de amar o que é amável e de amar, também, o que não é amável. Dessa maneira passaremos, de uma vida submissa para uma vida escolhida. 

Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela. Os olhares de juiz nos enchem de culpa. Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade. 

Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, mas falta a eles a misericórdia e o amor.

Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade.

Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que 
lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar sua sombra sem julgá-la, apesar de não se mostrar complacente com ela. 
Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, de um tal olhar pousado sobre nós. 

Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, de usarmos máscaras. 

Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, com seus desejos e seus medos. 

Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos e suas ignorâncias. 


Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também capaz de dureza e indiferença. Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoável. Sob este olhar nossa vida pode crescer. Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona em uma imagem faz-nos ficar parados, enquanto que o outro olhar nos impulsiona a dar um passo adiante desta imagem que os outros têm de nós."


Jean Yves Leloup em Além da Luz e da Sombra

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mães, acima de tudo mulheres virtuosas e bem aventuradas



Por Kadu Santoro
Neste mês de maio comemoramos o Dia das Mães, período onde  sensibilidade e sentimento materno afloram de forma quase divina, aliás, realmente há algo de divino na maternidade, o poder de gerar vida como gesto sublime de amor e escolha. Há em toda mulher essa porção “divinizada” do dom da maternidade. Porém, é preciso lembrar que por trás da imagem de mãe, existe a condição primordial de mulher, com todas as suas potencialidades de amor, cuidado e doação, também com seus limites, fragilidades e incapacidades comuns a todos os seres humanos.
Não são poucas as mulheres que se dedicam intensamente de corpo e alma num ato quase “crístico” por seus filhos e maridos, muitas vezes esquecendo até de si mesmas, lembra-me as palavras de Jesus quando nos deixa o mandamento maior: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mc.12:33).
Pensamos também nas muitas mulheres que não podem gerar filhos biologicamente ou ainda aquelas que não se sentem prontas e preparadas para assumirem o papel de mãe e por isso carregam muito sofrimento dentro de si. Sofrimento por sentimento de inferioridade, incapacidade e até por pressão e discriminação social.
O ofício da maternidade pode ser vivenciado e expandido para todo corpo que se prontifica a acolher, amparar, proteger e amar, não é tarefa exclusiva das gestantes biológicas, pois todo o cuidado integra e assume toda a plenitude da experiência maternal, logo, a maternidade não pode ser reduzida a um útero engravidado. Lembremo-nos de nossa “mãe terra” que acolhe toda a humanidade, ou então o estereótipo da “grande mãe”, da mãe virgem do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Também aproveitamos esse período para lembrarmos das mulheres mães da genealogia de Jesus, descrita em Mateus 1:1-17, mulheres que contrariam esse modelo estereotipado pela sociedade, vão na contramão de ser mãe, o que as salva não é o ventre engravidado, mas o poder de decisão sobre os seus estados de gravidez. Entre elas estão Tamar, Raabe, Rute, Bete Seba, mulheres, mães que constam na genealogia de Nosso Senhor Jesus escapando dos esquemas etereotipados de sua época, e são lembradas não por sua superioridade ética ou por ser modelo de virtude, mas pela coragem latente de agir em favor de si mesmas e de sua comunidade.

Assim, a exemplo de todas essas mulheres virtuosas e bem aventuradas, todas as mulheres de hoje são desafiadas a resistir à mitificação e aos estereótipos impostos pela sociedade, bem como ter o pleno direito de dizer neste dia que todas são mães, mas antes, são mulheres possuidoras de dignidade, amor e compaixão. 

Parabéns a todas as mães!

domingo, 6 de abril de 2014

Páscoa Cristã – Pessach Judaico ( פסח ) - A relação entre promessa e cumprimento para a redenção de toda a humanidade.


Por Kadu Santoro
           
            A palavra Páscoa é traduzida do hebraico Pessach - פסח, que significa “passar sobre” ou “saltar por cima”. Essa palavra assim como a sua celebração festiva apontam para o evento teológico onde Deus libertou o seu povo, ou seja, os hebreus do cativeiro egípcio, que durou por 430 anos. No livro do Êxodo, no capítulo 12.1-28, encontramos a instituição desta festa, celebrando quando Deus, executando o seu juízo, envia ao Egito a décima praga, fazendo com que todos os primogênitos da terra fossem exterminados. Porém, quanto aos hebreus, Deus os orienta a imolar um cordeiro e aspergir seu sangue nos umbrais das portas, para que quando o anjo exterminador viesse, reconhece-se o sinal de que aquela casa deveria ser poupada do juízo divino. Logo o significado teológico de pessach segundo o Antigo Testamento representa que Deus passou por cima das casas dos hebreus no Egito, quando feriu os egípcios (Ex. 12.27).

            No Novo Testamento, João Batista chama Jesus de o Cordeiro de Deus, ou em latim agnus dei (Jo. 1.29), apontando para o sacrifício vicário que Ele viria passar, e também o apóstolo Paulo o chama de Cordeiro Pascal (ICo. 5.7). Para os cristãos não há outro cordeiro, somente Ele foi escolhido e enviado pelo Pai para sacrificar-se por nós.

            As relações entre as páscoas judaica e cristã são complementares, pois a primeira é baseada na promessa e a segunda no cumprimento desta, encerrando assim a grande história da salvação. É uma questão de entendimento de que o sentido completo da festa judaica só ocorre na plenitude dos tempos no advento de Jesus Cristo em seu quádruplo ministério terreno - nascimento, paixão, morte e ressurreição.

            A páscoa do Antigo Testamento marcou o início de uma saída do regime de escravidão; de fato, era o poder divino por detrás dessa libertação. Assim, do mesmo modo, em Jesus Cristo encontramos um êxodo a percorrer, que nos convida à libertação do velho homem escravo do pecado e da concupiscência. O êxodo judaico teve sua importância dentro da história da salvação (heilgeschichte), pois libertou um povo inteiro da servidão física, porém, o êxodo cristão ofereceu a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorgou do Reino da Luz, onde pela Lei, ou antiga aliança (Berit) seria impossível.

Confira na tabela abaixo as relações entre as páscoas judaica e cristã:






segunda-feira, 31 de março de 2014

CURSO DE KABBALAH

Nesse mês de abril estarei ministrando uma palestra sobre Kabbalah, falando sobre os 3 níveis constitutivos da alma humana segundo a Kabbalah. Uma ótima oportunidade de aproximação hermenêutica entre as mais variadas interpretações e leituras sobre às questões pertinentes à alma humana dentro das mais variadas culturas espalhadas pelo mundo.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

O poder da palavra e a superioridade do silêncio



Por Kadu Santoro

“Porque é segundo tuas palavras que serás justificado e é segundo tuas palavras que serás condenado.” Mt.12.37

            As palavras possuem enorme poder, através delas podemos edificar ou destruir, dar vida ou matar, alienar ou libertar, por isso, faz-se necessário antes refletirmos muito no que vamos pronunciar. É nesse exato momento de reflexão que o silêncio tem importância vital, permitindo que a nossa voz interior não nos deixe cometer equívocos e consequentemente pronunciamos palavras precipitadas que podem causar graves danos tanto em nossa vida quanto na do nosso próximo.

            O silêncio é mais do que um ato de sabedoria, é uma disciplina urgente que a humanidade precisa desenvolver. Muitas vezes não atingimos nossas metas por intermédio do ato de falar. O silêncio, em grande parte de nossa vida é muito mais representativo e pode nos fazer atingir nossos objetivos de uma forma mais adequada. Através dele podemos expressar mais do que muitas palavras sem que isso signifique falta de capacidade ou conhecimento.

            O silêncio sempre foi reverenciado e cultuado dentro das diversas tradições religiosas do mundo. No cristianismo monástico o silêncio no qual cada um de nós é convocado a entrar, é o silêncio eterno de Deus. Este silêncio pode ser encontrado no coração e cultivado através da disciplina da meditação. Na maioria das religiões espiritualistas, o silêncio é o caminho para a unidade, é através dele que descobrimos que a vida exterior e interior estão unificadas. Esse silêncio que precisamos desenvolver deve estar além de todas as palavras, ideias, pensamentos e imaginação, pois somente assim podemos sentir paz e liberdade.

            A tradição bíblica judaica do Antigo Testamento nos mostra vários casos onde o silêncio foi fundamental para o êxito do povo eleito. Uma das grandes virtudes dos descendentes de Benjamim (filho de Jacó), era saber ficar em silêncio nos momentos certos. O rei Saul, escolhido como o primeiro rei de Israel, era descendente da tribo de Benjamim. Ele fez bom uso do silêncio, conforme consta na Tanach (bíblia hebraica). Quando o profeta Samuel comunicou-lhe que seria rei, ele não mudou seu comportamento e continuou sendo a mesma pessoa, não lhe subindo à cabeça o fato de ser o futuro rei, tanto que nem fez questão de contar a seus familiares.

            Durante o período do Purim, em meio ao exílio persa, o povo de Israel também foi salvo devido ao silêncio da Rainha Ester, que obedecendo à ordem de Mordechay, não falou ao rei sobre suas origens. Tanto Mordechay quanto a rainha Ester eram também descendentes da tribo de Benjamim.

            Em uma parashá (porção semanal de textos estudados na Torá), fala que após a tragédia que acarretou a morte de dois filhos de Aarão, este se silenciou, como relatado na Torá: “Vayomer Moshê El Aharon hu asher diber Hashem lemor bricovay ecadesh veal pene chol haám ecaved vaydom Aharon (Vaycrá 10:3) – “E disse Moisés a Aarão: Isto é o que falou o Eterno dizendo: Por meus escolhidos me santificarei e perante todo o povo Eu serei glorificado. E calou-se Aarão.” Segundo a sabedoria judaica, o difícil silêncio de Aarão, nesse momento de dor, demonstra conformismo e confiança na justiça divina, onde mais tarde esse seria recompensado com a visita do próprio Todo Poderoso.

            Segundo outro sábio israelita, o Maharal de Praga zt”l, em seu livro Dêrech Hachayim, escreve que o poder da fala é um poder físico (do corpo) e o raciocínio é um poder espiritual. Estes dois fatores antagônicos não podem trabalhar simultaneamente dentro do indivíduo. Portanto, o silêncio é essencialmente importante para que possamos evitar erros e atitudes precipitadas, uma vez que quando falamos, estamos de certa forma, anulando o raciocínio. Mahatma Gandhi fala o mesmo na seguinte frase: “Aqueles que têm um grande autocontrole, ou que estão totalmente absortos no trabalho, falam pouco. Palavra e ação juntas não andam bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio.”

            Mabel Collins em seu livro Luz no Caminho, diz: “Do seio do silêncio, que é a paz, uma voz ressoante se elevará. E esta voz dirá: Faz falta alguma coisa mais; tu colheste, agora tens que semear. E sabendo que esta voz é o silêncio mesmo, obedecerás. Tu que és agora um discípulo capaz de manter-te firme, capaz de ouvir, capaz de ver, capaz de falar, que venceste o desejo e obtiveste o conhecimento de ti mesmo; tu que viste a tua alma em sua flor e a reconheceste e que ouviste a voz do silêncio, encaminha-te ao Templo do Senhor e lê o que ali está escrito para ti.” Analisando esse texto, entendo que ouvir a voz do silêncio, é compreender que a única direção verdadeira vem do interior, da intuição, da via do coração; encaminhar-se ao Templo do Saber, é entrar no estado em que é possível aprender verdadeiramente.

            A superioridade do silêncio é demonstrada por Jesus perante Pilatos: “E, sendo acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.” Mt. 27.12. “Jesus não respondeu nem uma palavra, vindo com isto a admirar-se grandemente o governador.” Mt. 27.14.

            Para finalizar, lembro que muitas vezes, o silêncio fala mais do que muitas palavras, e através dele nos tornamos mais sensíveis, humildes e misericordiosos. Busque a disciplina do silêncio e verás como sua vida irá mudar para melhor, passando a ser um indivíduo mais equilibrado e seguro diante desse mundo conturbado e enloquecido em que vivemos atualmente.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Meditação cristã – Ministério de silêncio e quietude



Por Kadu Santoro

Vivemos em mundo barulhento e conturbado em plena era da informação, nossa sociedade é regida pela mente objetiva, totalmente voltada para o raciocínio e a interpretação, porém, isso tem trazido duras consequências para o homem pós-moderno, uma angústia interior, um abismo existencial enorme. Como disse Jean-Yves Leloup: “Todos nós estamos condenados a dar um sentido para o que nos acontece. A única dor insuportável é aquela que não somos capazes de interpretar, destituída de qualquer sentido.”
           
O que podemos fazer diante de tal situação? O que falta para podermos ajustar nosso corpo e espírito? A saída para essas questões encontra-se numa palavra pequena e esquecida em nossos dias, silêncio. Como cristãos, devemos refletir profundamente sobre a noção do silêncio de Deus. O ofício do silêncio é a quietude, essa que podemos encontrar de maneira sublime na prática diária da meditação cristã.

A meditação cristã faz parte da tradição monástica da igreja, muito praticada pelos pais do deserto desde os primeiros séculos da era cristã e que ainda é hoje muito difundida em muitas comunidades espalhadas pelo mundo. Segundo a tradição cristã, meditar é o caminho para a unidade, uma total harmonia entre corpo e espírito. É o caminho para o mistério infinito do amor de Deus, é crescimento e transcendência que nos conduz ao estágio que o apóstolo São Paulo nos diz: “A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo.” (Ef.4,13). São Pedro em sua primeira carta nos diz: “Não vos perturbeis, mas guardai o Cristo Nosso Senhor em reverência nos vossos corações.” (IPd.3,15). Assim como nós hoje em dia, os primeiros cristãos também sabiam que as mudanças, confusões e caos eram encontrados não apenas fora no mundo, mas na sua maioria dentro de nós mesmos. O constante desafio do ser humano é encontrar harmonia e paz dentro de si. Cristo é o princípio vivo de harmonia, de ordem e amor.

O primeiro passo para praticarmos a meditação é estabelecermos o silêncio e o estado de quietude, devemos aprender a estar imóvel. A meditação consiste na imobilidade perfeita do corpo e espírito. É nessa imobilidade que fazemos a experiência da simplicidade e abrimos o nosso coração ao silêncio eterno de Deus, para sermos arrebatados para fora de nós, para além de nós mesmos.

Segundo o monge beneditino John Main (OSB), para iniciarmos a prática da meditação, é preciso estabelecer algumas regras básicas:

Sentar-se. Fique imóvel e em posição ereta. Feche os olhos ligeiramente. Sente-se de forma relaxada, mas atenta. Silenciosamente, comece a dizer dentro de si uma única palavra (mantra). Nós recomendamos a palavra-frase “Maranata” (vem, Senhor!). Recite-a como quatro sílabas de igual duração. Ouça-a enquanto estiver a dizê-la, suave e continuamente. Não pense ou imagine alguma coisa – espiritual ou de outra natureza. Se vierem à mente pensamentos e imagens, estes são distrações na hora da meditação; portanto, apenas volte simplesmente a dizer a palavra. Medite cada manhã e cada noite entre vinte e trinta minutos.[1]

Queridos irmãos, a igreja e o mundo estão passando por dias difíceis devido a falta de sabedoria e amor. O que vimos é uma sensação profunda de ruína e de ausência de sentido e valores, porém, nós como homens e mulheres de Cristo podemos reverter essa situação, pois não há ato de maior responsabilidade social, política ou religiosa do que permanecermos plenamente conscientes e enraizados em Deus. Não vamos deixar que o mundo nos desanime da prática da meditação com se esta fosse um caminho em oposição ou em conflito com a responsabilidade social, política ou religiosa. Devemos lembrar sempre que a única coisa que todas as sociedades necessitam é sabedoria, e existe apenas um caminho para esta. E a fonte original dessa sabedoria encontra-se dentro dos nossos corações, no ministério da oração, como o apóstolo São Paulo fala aos romanos: “Do mesmo modo, vós deveis considerar-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em união com Jesus Cristo. [...] Colocai-vos à disposição de Deus, como mortos que voltaram à vida, e oferecei os vossos corpos a Ele como instrumentos de sua justiça; pois o pecado não mais deverá ser o vosso mestre, porque vós já não estais debaixo da Lei, mas sob a graça” (Rm.6,11.13-14).



[1] MAIN, John, O caminho do não conhecimento: expandindo os horizontes espirituais através da meditação / John Main; introdução de Laurence Freeman; tradução de João Mendonça; revisão da tradução de Gentil Avelino Titton – Petrópolis RJ: Vozes, 2009 – (Coleção Espiritualidade de Bolso)