terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quem olha fora, sonha. Quem olha dentro, desperta. C. G. Jung




Por Kadu Santoro

Essa frase paradoxal de Jung, apesar de ser pequena, possui profundos fundamentos para a nossa vida, principalmente para nos posicionarmos em relação aos propósitos da nossa existência.

Aqui no ocidente, o conceito de sonhar está intimamente ligado a idéia de conquistar, alcançar e atingir. Ações voltadas ao conceito de “posse” e de “ter”, essas que no oriente não passam de meras ilusões (maya) da dimensão tempo x espaço e só servem para levar sofrimento e angústia às pessoas, além de fazer com que tornem-se mais apegados à matéria.

Sonhar sempre estará ligado ao desejo, pode ser de coisas produtivas ou improdutivas, conscientes ou inconscientes. Toda forma de sonho não passa de meros processos mentais, ligados aos nossos desejos e anseios, sejam eles pessoais ou coletivos, logo, é algo que é projetado para fora, para o exterior, faz o processo platônico de conceber na dimensão das idéias aquilo que consideramos ideal para a nossa realidade.

Muitas vezes os sonhos são de fundamental importância em nossas vidas, mas para que isso seja compreendido, é preciso que antes estejamos despertos de consciência.

O despertar é a ação mais importante em nossas vidas, é através dele que passamos a conhecer e entender sobre os verdadeiros propósitos da existência. O despertar é o oposto do sonhar, pois esse nos liberta, coloca-nos na dimensão do espírito, revela quem realmente somos e qual é o nosso verdadeiro fundamento perante ao universo.

O processo do despertar é inverso ao do sonhar, pois através dele passamos a olhar para o nosso interior e assim, nos libertamos de qualquer desejo, pois ficamos diante de nós mesmos, num verdadeiro encontro com o “ser”. É a verdadeira tomada de consciência, esta que nos torna libertos de qualquer forma de ilusão.

Podemos ilustrar esse paradoxo entre sonhar e despertar através de um título de um artigo do teólogo Leonardo Boff que diz assim: “Jesus anunciou o reino mas o que veio foi a igreja”. Pois bem, voltando às Sagradas Escrituras no Novo Testamento, lembramos que Jesus Cristo através de sua mensagem nos deixou um grande legado sobre o que é despertar. Toda eixo de sua pregação girava em torno de dois conceitos fundamentais - liberdade e amor, esses que só são possíveis vivê-los plenamente se fomos despertos, pois um leva ao outro, se conhecemos e entendemos o que é liberdade, logo saberemos o que é o amor.

Para que possamos atingir o despertar pleno, é preciso fazer o que Jesus disse: “Destruam esse templo, e em três dias eu o levantarei” João 2.19. Isso significa se tornar liberto de consciência, desperto plenamente, o número três representa manifestação, tudo é trino no universo, e reconstruir o templo significa viver numa nova dimensão, onde os sonhos não escravizam mais através da ansiedade de conquista e de “ter”. O indivíduo passa a não viver mais segundo a observância religiosa, que é cega, porém, vive a dimensão da liberdade fundamentada no amor, esse que não faz juízo e nem cria barreiras entre as pessoas. A liturgia do desperto é a liturgia do coração, aquele que vive entre o sagrado e o profano em pleno equilíbrio, tem consciência de seus limites e da sua condição indigente nesse mundo, respeitando o seu próximo e o amando cheio de misericórdia.

O filósofo Sócrates despertou no dia em que leu o que estava escrito no alto do pórtico do Oráculo de Delphos: “Conhece-te a ti mesmo”. Faça você também essa experiência e viva em plenitude e paz de espírito.