quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O homem espiritualizado é um visionário


Por Kadu Santoro


O artista, devido o seu próprio dom, tem a capacidade e a sensibilidade suficientes para poder enxergar sua obra prima ainda na pedra bruta. Ele contempla sua obra por todas as etapas, desde a inspiração inicial até o arremate final. Assim também foi com alguns homens bíblicos, quando Deus mandou Moisés enviar doze homens para espiar as terras de Canaã, apenas dois deles foram visionários, Josué e Calebe (Nm.13.1-33). Eles recusaram admitir a decisão da maioria mesmo arriscando suas próprias vidas com essa recusa, pois eles tinham plena confiança nas promessas de Deus para o seu povo escolhido. Estevão também foi um grande visionário, mesmo sendo brutalmente apedrejado, visualizava e contemplava o Reino de Deus com os céus abertos e o Filho do homem em pé à mão direita de Deus (At.7.55-56). Poderia continuar narrando sobre vários personagens bíblicos que foram verdadeiros visionários, porém, quero trazer esse tema para o contexto cristão da atualidade.

Na história da humanidade, o homem espiritualizado sempre foi um visionário, ele sempre enxergou mais longe do que os demais homens que só vivem de acordo com as realidades materiais mundanas. O normal das pessoas sempre foi enxergar superficialmente os seres, as coisas e os acontecimentos, reparando apenas as aparências. O homem espiritualizado possui um olhar especial, uma “visão de longo alcance”, uma espécie de sexto sentido, intuição, isto é, a fé e a sensibilidade que devem lhe proporcionar isso.

O verdadeiro modelo do “homem novo” deveria ser o cristão. Este, foi rigorosamente “re-criado” em Cristo. Como aconteceu com Nicodemos, quando Jesus lhe falou: “Em verdade, em verdade eu te digo, a menos que nasça de novo, ninguém poderá ver o Reino de Deus” (Jo.3.3). O homem espiritualizado é aquele que crendo que despertou sua consciência, “renasceu” para o amor e para uma “vida nova”: a vida sagrada e contemplativa. Após esse renascimento, o homem espiritualizado torna-se um visionário, passa a enxergar com os olhos da fé e crer nas realidades espirituais, conforme descrito no livro de Hebreus: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem” (Hb. 11.1). O homem espiritualizado passa a participar do profetismo cotidiano. O profeta não é alguém que prediz o futuro, mas um “visionário”; alguém capaz de decifrar os acontecimentos à luz dos projetos de Deus.

O mundo está carente de pessoas assim, espiritualizadas e visionárias, pois a humanidade caminha sem objetivos, as religiões, na maioria das vezes só oferecem “dogmas e gaiolas” como opção de vida. Somente os visionários descobrirão para si e para o seu próximo o sentido profundo da vida. Serão os luzeiros do mundo.

Hoje em dia, muitos se dizem profetas, muitas vezes, eles proclamam por palavras ou gestos o que pensam, e não o que pela fé eles viram. O profeta visionário é aquele que no meio da comunidade, tendo aceitado passar pela morte a si mesmo, a seu “modo de ver as coisas”, sintoniza enfim com “a maneira de ver” de Deus. O homem visionário é aquele que não enxerga com os olhos do preconceito, da disputa, da arrogância e do autoritarismo, mas com o olhar da compreensão e do amor universal.

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