segunda-feira, 18 de abril de 2011

“OS RAIOS INVISIVEIS”: CIÊNCIA E RELIGIOSIDADE JUNTAS NO FIM DO SÉCULO XIX


Por: ADILIO JORGE MARQUES
Professor colaborador do Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões do Centro de Ciências Sociais da UERJ


Papus, codinome para o médico Dr. Gérard Anaclet Vincent Encausse (1865-1916), é um personagem que mostrou toda a sua genialidade ao aventurar-se pelos áridos campos da Física e da Química relatando e relacionando as experiências das ciências com o ocultismo, mais particularmente com o que denomina de “luz astral”. Investigador do humano e do insólito, Papus lutou toda a sua vida para trazer à tona algumas das grandes verdades da criação sob a ótica da Tradição, mesmo sob o prisma da ciência profana. Esta mesma Tradição, imbuída de todo o saber e do conhecimento da história da humanidade, traz consigo a experiência de milênios de vivências, de experimentações e da própria energia pessoal de todos aqueles que a ela se ligaram de alguma maneira, enriquecendo-a e legando ao mundo um maior conhecimento e mais luz às nossas consciências. A verdade pertence aqueles que a buscam, lógica daqueles que estavam lado a lado com Encausse.


Papus não era físico, porém um médico atuante e sempre atualizado com as descobertas de seu tempo, sendo que seu pai possuía formação química e muito provavelmente o influenciou. Certamente, como podemos ver em todo o corpo do texto e pelas referências a outros trabalhos que legou à posteridade, Papus tinha também ao seu alcance uma vastíssima possibilidade literária. O saber, a erudição e a vastidão de seus conhecimentos é uma marca deste autor. Mostrou em seus estudos que a Física não era apenas academicista, mas que estava ao alcance de todos com uma linguagem própria e acessível a qualquer público, como hoje muitos divulgadores da ciência o fazem.
A Física, como as demais ciências, não foge a mesma regra do restante do saber humano. Ela é, e sempre foi, uma ciência da natureza. Por mais que os ainda positivistas dos laboratórios neguem, seguimos um conhecimento científico que possui suas origens na mesma fonte: a Tradição Primordial. Muitas áreas do saber moderno nos levam a uma fantástica viagem ao passado de antigos povos. Devemos a estes povos muito do que sabemos e do que foi desenvolvido na Europa no âmbito da Medicina, da arte da guerra, além da Matemática, da Filosofia e da Filologia, sem contar todo o saber antigo que nos transmitiram, tais como a Alquimia, a Magia, a Astrologia, a Astronomia, entre outros. Os árabes e os chineses, talvez cometendo algumas injustiças, destacam-se pela dimensão de suas pesquisas e descobertas. As Cruzadas, no contato entre os Cavaleiros ocidentais e outra cultura, por exemplo, foram importantes no aspecto de aproximação entre o Ocidente e o Oriente, legando à Europa medieval novos saberes, ainda desconhecido.


Uma das obras de Aristóteles, Física, buscava estudar e explicar teoricamente todos os fenômenos que o grande filósofo observava à sua volta. A linguagem matemática da qual a Física se vale para dar um sentido quantitativo a tais fenômenos pode ser dispensada num plano filosófico sem que se perca o sentido de ciência desta matéria. Homens com sede do saber podem ficar horas, dias ou mesmo toda a sua vida discutindo a mais pura Física sem ter de arremeter aos complicados cálculos que fazem parte, sem dúvida, do ferramental da disciplina. Antes de Isaac Newton e Leibnitz, pensadores que nos legaram o chamado Cálculo moderno, a Física era uma ciência mais geométrica e em alguns casos apenas teórica. Galileu Galilei, o gênio que a Inquisição fez abjurar que o Sol era o centro de nosso sistema solar, delimitou historicamente uma divisão entre a antiga e a nova ciência. Aquela, herdada essencialmente da forma mais filosófica e mental dos gregos, marcada fortemente pela influência de Aristóteles e do tomismo. E esta, uma nova ciência, mas que exigia de uma teoria que ela fosse posta à prova através de um experimento que a comprovasse. Neste último ponto começa a Física como a conhecemos hoje.


A coragem de Papus torna-se evidente se nos colocamos em sua época, saindo de nosso meio e de nossa cultura atuais. Este é, por sinal, o único caminho para desvendar o passado de forma segura e sem preconceitos, pois senão estaríamos condenados a repetir eternamente os mesmos erros que muitos já cometeram: olhar o passado com os olhos do presente, incorrendo no que a História da Ciência chama de "whiggismo", ou seja, um ponto de vista historiográfico que julga a importância de eventos passados à luz dos padrões atuais, ou que apenas se interessa pelos acontecimentos passados que de forma mais ou menos óbvia parece ter conduzido ao presente. A História, por não ser uma ciência exata, nem sempre lança mão de eventos previsíveis. Ela é o próprio reflexo da coletividade humana em seus anseios interiores pelo saber.


Para dar alguns exemplos antes de chegarmos diretamente a Papus, imaginemos a Física Quântica sendo posta em evidência no século XIX, por exemplo. Seria certamente considerada "herege" ao afirmar que no microcosmo, ou seja, no âmbito da matéria densa (ao menos para os nossos olhos) encontra-se uma infinitude de espaços vazios à primeira vista, e mais ainda, que somos constituídos de átomos, hoje uma palavra tão comum entre os secundaristas, cujos elétrons podem se comportar como partículas e também como ondas! De início, o conceito de átomo (que quer dizer indivisível) é antigo, advindo dos Filósofos gregos chamados “atomistas”. No século XIX, porém, o átomo era visto como algo que não existia na natureza, tendo sido apenas uma quimera dos antigos. Que não éramos sólidos, então, nem se discutia. Não se pensava nos oitocentos aquilo que aceitamos na visão de hoje: se somos compostos de átomos somos também, na maior parte, constituídos de espaços “vazios”, pois se formos fazer uma comparação entre a estrutura do átomo e a de uma ilha mediana, por exemplo, diremos que o núcleo atômico seria uma pequena pedra no centro da ilha e o elétron mais próximo estaria onde começa o mar! Este fato torna-se evidente na citação sobre a “luz negra”, do Dr. Gustave Lebon. As fontes luminosas, por exemplo, citadas na obra de Papus intitulada “Os Raios Invisíveis” -lamparina, luz solar - emitem fótons das mais variadas frequências e em todas as direções. E hoje sabemos que os raios de maior penetração, ou com frequências de maior valor e consequentemente menores comprimentos de onda, irão certamente atravessar uma placa de ferro ou a maioria de outros materiais. O chumbo, pela sua alta densidade, é utilizado até hoje nos hospitais e clínicas médicas como isolante aos raios de maior penetração, como os raios-X, também presentes na luz solar, mesmo que em fraca intensidade.
Talvez seja importante abrir uma pequena lacuna para deixar claro o que seja frequência e comprimento de onda. Ambos são conceitos indissociáveis e que esclarecerão qualquer estudo, científico ou não. Frequência relaciona-se ao número de vezes na qual um fenômeno acontece em determinado espaço de tempo. No caso da frequência das vibrações associadas à matéria, como menciona Papus, diz respeito ao número de vezes que ocorre a aparição de uma onda completa por segundo. Pode ser o caso de uma onda sonora, ou luminosa, ou de uma simples sequência de ondas num lago calmo em que atiramos uma pedra.


Torna-se mais compreensível nos aventurarmos na dualidade onda-partícula, como é chamada na Física, e em especial na Física Quântica, o comportamento ambíguo da matéria. Ela beira a mais pura filosofia metafísica no sentido etimológico do termo, pois como podemos conceber que algo que não vemos, devido a sua diminuta ocupação de lugar no espaço (um fóton, por exemplo) pode ter dois comportamentos diferentes em uma mesma experiência? Esta proposição foi feita em 1924 por um físico experimental, De Boglie, em sua tese de Doutoramento. Este é um fenômeno que acontece com o elétron e com a luz. O fóton, uma determinada quantidade de energia que carrega a informação luminosa, ora apresenta um comportamento de partícula, como chamamos na Física, ora como onda. O que isso quer dizer? Explicando um pouco mais este aspecto da Natureza, seria o mesmo que dizer que montamos uma experiência em que temos dois resultados diferentes, porém ambos válidos. De uma fonte luminosa os raios de luz emergem para um anteparo onde existe uma única e diminuta fenda. Vemos que obviamente um pequeno fio luminoso atravessará esta fenda e formará um ponto em uma suposta parede que esteja por detrás do experimento. Este é o comportamento de uma partícula. Indo mais adiante na pesquisa, fazemos uma segunda fenda, igual à primeira, no mesmo anteparo e religamos a fonte luminosa. Verificaremos que na parede irá se formar uma figura que chamamos de figura de difração, com áreas de luz mais forte, e outras mais fracas, de penumbra. Mas este é o comportamento esperado para uma onda e não para uma partícula nesse tipo de experimento.


Em termos do cotidiano, do senso comum, a melhor maneira de entender o aparente absurdo deste comportamento dual da luz encontra-se na experiência de estarmos à noite parados de frente para uma janela de onde podemos ver e ouvir uma rua. Nesta passa um carro ainda ao longe. É fácil visualizarmos que primeiro ouvimos o som de seu motor e somente quando o carro passa à frente de nossa janela é que o vemos. Isso se explica pelo fato de que o som contorna obstáculos até chegar a nós, ou seja, as ondas sonoras (justamente por serem ondas) apresentam este comportamento chamado de difração. Mas a luz somente viaja em linha reta e, se ela se comporta como partícula neste caso, só irá atingir nossos olhos quando estiver em nossa linha de visão. É normal entendermos que a imagem do carro não irá “contornar” a janela, mostrando-se a nós juntamente com o som antes de estar ao alcance da visão. Como já vimos antes, contudo, é possível obtermos uma experiência de difração e resultados ambíguos com esta mesma partícula chamada de fóton. Podemos pensar, então, que não podemos refutar à priori a hipótese do comportamento dual da luz, pois ele é intrínseco à sua natureza. Tal pensamento, para alguns pensadores modernos, nos remete à dualidade da Filosofia chinesa, ou ainda à dualidade da Criação do Universo expressa pelos Martinistas.


Papus refere-se corretamente às vibrações ou frequências da luz logo no início de sua obra “Os Raios Invisíveis”, assim como aos raios catódicos e aos raios-X, mostrando sua interação científica com o conhecimento da época, e com a sua escala das modalidades do movimento da luz. Esta escala ainda é ensinada hoje em dia discriminando-se com exatidão os valores numéricos das frequências de cada cor ou tipo diferente de comprimento de onda. Certamente Papus percebeu - devido à associação que ele faz em um mesmo trabalho entre estas questões físicas e um meio não físico - que associada à determinada frequência a luz estaria associada também a certa quantidade de energia.


O que torna mais interessante contemplar na acima mencionada obra papusiana, datada de 1896, refere-se a um determinado postulado físico para o qual a energia de um fóton, ou de um elétron, é proporcional à sua frequência de vibração associada a uma constante natural. Fato, porém, somente publicado oficialmente no final do ano de 1900 por Max Planck na reunião da Sociedade Alemã de Física. E a proposição torna-se ainda mais importante se levarmos em conta que apenas três anos antes da publicação do livro “Os Raios Invisíveis”, precisamente em 1893, o físico alemão W. Wien obteve uma expressão matemática que relacionava uma frequência de vibração a determinada temperatura.


De uma maneira mais profunda, o autor ainda refere-se à língua hebraica e ao conhecimento legado pela cultura hebraica. Quando se refere à luz que está associada a uma ação "interior e ativa", "dominada pela matéria", Papus está fazendo relação com o que expomos sobre uma frequência menor ("baixa tensão") ou de valor mais baixo, por isso mais associada à matéria, à qual denominou OB. Seria, para alguns pensadores dos oitocentos, o caso da “luz astral” mais próxima de nosso mundo físico, ou “astral inferior”. E, em contraposição, chamou de OD à luz que "domina a matéria", estando "em alta tensão", ou seja, em alta frequência, entendida como uma forma de maior energia ou “astral superior”. Quanto mais energia, mais vibração, sabemos.
Ao referir-se ao calor, citando Keely, não deixa Papus de estar em conformidade com a esta certeza científica, pois o calor também é uma forma de vibração da matéria, a princípio de valores mais baixos que a luz, e que emana dos corpos materiais em geral, animados de vida ou não. Tudo o que existe na natureza manifestada está associado a um tipo de vibração, pois dentro do âmbito molecular e atômico não existe imobilidade. A matéria só estaria totalmente inerte na temperatura mínima possível ao universo manifestado: aproximadamente - 273,15 °C, ou em escala científica, em 0 kelvin, a chamada “temperatura absoluta”. Como esta temperatura não existe em nosso planeta, nem em laboratórios, parar o movimento ou "congelar" energeticamente qualquer dos planos de manifestação não é possível. Cada componente da matéria, em qualquer plano, está em constante vibração, incessantemente, esteja aparentemente frio ou quente. Modernamente sabemos que equipamentos de observação noturna funcionam captando a emanação de calor dos objetos. A vibração do calor está na ordem dos raios infravermelhos, que como G. Encausse cita, são "invisíveis ao olho humano".


Podemos inferir através de nosso autor que ele acreditava que tudo no universo fosse "tensão", alta ou baixa, que em outra linguagem chamamos vibração ou frequência. E certamente a Física nos aproxima desta visão. O fato dos objetos possuírem um "astral" ou vibração própria é decorrente do que acabamos de explicar. Também aqui a Física é bem compreendida por Papus e extremamente esclarecedora. Vejamos à luz de tudo o que já foi dito anteriormente: cada material possui um arranjo atômico particular, e cada arranjo possui sua frequência própria. Pelo fenômeno da ressonância vibratória, frequências iguais vibram juntas sempre que uma está próxima da outra. É o caso dos diapasões usados pelos músicos para ajustar seus instrumentos. É comprovado que se fizermos um determinado diapasão vibrar, outro de igual frequência que esteja próximo irá vibrar conjuntamente, sem que o toquemos, devido à ressonância entre eles. Ou seja, são constituídos de forma semelhante e reagem entre si. Isso explica a exposição das jóias sobre o "astral das coisas" à qual o texto “Os Raios Invisíveis” se refere. No mundo das vibrações, o semelhante atrai o semelhante. No mundo das partículas materiais, os opostos é que se atraem. A dualidade presente no mundo manifesta-se de forma relativa, porém complementar.


Para Papus, muitos experimentos e descobertas modernas nos remetem ao âmbito dos grandes mestres do passado. A tradição histórica e filosófica mantém-se atual, pois carrega consigo a força da ideia responsável pela estruturação de todo o universo conhecido. Muitos acham que todos os campos de estudo que não estejam em estreita ligação com a ciência oficial simplesmente podem ser descartados. Assim foi em todos os passos que a Física trilhou até chegar aos dias de hoje. Papus busca encontrar a relação entre as bases do espiritualismo e as experiências científicas de sua época. Ele mostra que fenômenos podem ser explicados usando-se a lógica, a ciência, e mesmo a chamada Tradição Primordial. Observa-se que a linguagem usada não é semelhante à nossa e que não encontramos termos modernos muitas das vezes em que determinado fenômeno á apresentado. O texto “Os Raios Invisíveis” desafia as ideias arraigadas da ciência da época, mesmo sendo Papus um médico e estando em contato com a “nata” da cultura científica da Europa, em especial da França.


Mostrado sucintamente o panorama do pensamento à época do texto sobre os “raios invisíveis”, podemos imaginar e entender toda a discriminação que nosso personagem sofreu. Ao analisar a influência dos objetos no meio em que estão, e a influência vibracional à qual eles também estão submetidos, Papus busca mostrar a correlação entre a influência “dos astros” e do campo áurico através do exemplo das jóias construídas sob determinada vibração. Encausse procura trazer à tona o conhecimento perdido que veio do Oriente para o Ocidente, pois a Astronomia e a Astrologia eram uma única e verdadeira ciência entre os antigos povos, e que o racionalismo separou, elevando uma ao apogeu da sociedade científica e a outra ao limbo da história. A ciência da analogia foi muitas das vezes esquecida pelos pesquisadores de várias gerações. Este foi um preço da revolução galileana. Dentro de uma concepção filosófica, contudo, vemos a verdade se apresentar a favor de Papus, pois foi justamente por acreditar na ação à distância da potencialidade divina que Isaac Newton pôde conceber a teoria da gravitação universal. Talvez a queda de uma maçã tivesse contribuído mais para um galo em sua cabeça do que para um insight filosófico, necessário à revolucionária proposta newtoniana.


Da mesma forma que na época de Papus já se conhecia os efeitos do eletromagnetismo e da eletricidade, as experiências elétricas com corpos vivos ou inanimados também já eram em parte compreendidas, como por exemplo, o movimento muscular. Papus buscou mostrar que o “astral”, antiga palavra derivada da suposta influência dos astros em nossa vida, era um mundo que nos cercava independentemente de acreditarmos nele ou não, da mesma forma que a gravidade continua a existir mesmo que alguns não a compreendam, ou da mesma maneira que as frequências de rádio e TV nos cercam sem que nos apercebamos disso.


Enfim, talvez os grandes pensadores do passado, no qual Papus certamente está inserido, estejam hoje mais radiantes com as novas descobertas físicas relacionadas ao campo quântico que nos cerca. Ao estudar a Física Moderna aprendemos que também estamos mergulhados numa miríade de partículas subatômicas que nos atravessam e interagem conosco e com tudo à nossa volta em todos os instantes. Tais partículas, hoje conhecidas após as descobertas das últimas décadas, são criadas e desaparecem em infinitésimos de segundos e muitas das vezes outras idênticas reaparecem mais adiante sem nenhuma causa mais parente. É a perturbação do campo quântico. O vazio ou o vácuo não existe exatamente como Aristóteles havia predito. Tudo está submetido a níveis de energia, dos quais não podemos ter a menor consciência, mas que nem por isso deixam de existir em níveis muito discretos. O éter, abandonado pela ciência oficial desde o início do século XX, poderia ser assim "ressuscitado" nesta teoria dos campos quânticos. No passado, o éter foi abandonado pelo fato de que se considerava que ele deveria ser extremamente pouco maleável para poder conduzir ou ser o suporte material da luz e de outras vibrações. Partindo deste conceito ainda mecanicista, e de experimentos para comprová-lo (o que não aconteceu), dentro desta ótica acabou-se chegando à conclusão de que o éter não poderia existir.


A tentativa de explicar cientificamente muitos dos fenômenos ditos "espíritas", ou mesmo de ordem metafísica, através da visão de uma "física oculta", como mencionada por Papus, foi ao meu ver de grande valia e extremamente importante para a divulgação popular da ciência contemporânea a ele e mesmo ainda à nossa geração. A proposta papusiana descaracteriza o estudioso do misticismo da imagem de "fantasista", cuja imaginação transcenderia às mentes ocupadas com uma só realidade: a da Natureza visível, naturada, manifestada e compreendida em uma visão mecanicista. O “motor do mundo”, como muitos cientistas acreditavam, estaria distante de sua criação. G. Encausse busca provar justamente o oposto: não existe separação entre os eventos da natureza, tudo se relaciona intrinsecamente, mesmo que nossas mentes não possam conscientemente abarcar todas as informações de forma paralela. Demonstra que se as vibrações existem, elas fazem parte da nossa vida. E quem, mais do que nós, os "homens da modernidade", imersos em um mar de energias eletromagnéticas de toda gama possível de frequências, poderia discordar disto?


A leitura de Gerard Encausse convida-nos a buscar uma nova visão sobre a matéria, a ciência e a vida, reflexo da ciência do final dos oitocentos e de sua relação com o desconhecido naqueles tempos de grande agitação intelectual.



Sugestão de leitura:

•G. Encausse (Papus). Os Raios Invisíveis. O astral das coisas. Rio de Janeiro: Gnosis Editorial, 2001.
•Ilya Progogine. O fim das certezas. Tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: UNESP, 1996.
•Adílio Jorge Marques. Breve História do Pensamento Filosófico de S. Martin e J. Boehme. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.




Notas:

Physis: palavra grega que se relaciona ao amplo conhecimento da “natureza”, e daí a palavra “Física”.

“Os Raios Invisíveis. O astral das coisas”, obra de G. Encausse (Papus), na qual se baseiam os principais conceitos deste artigo sobre ciência e religiosidade.

Martinistas são os seguidores da escola filosófica criada no século XVIII pelo francês Louis Claude de Saint Martin, e profundamente estudada e estruturada por Papus nos séculos XIX e XX.

Nenhum comentário:

Postar um comentário