quarta-feira, 16 de março de 2011

O debate teológico atual e os quarenta anos no deserto


O discurso teológico de hoje, muito se parece com aqueles quarenta anos, que o povo hebreu ficou rodando pelo deserto após o êxodo do Egito. As pesquisas acadêmicas, sempre foram e continuam sendo totalmente influenciadas pela fé e doutrinas cristãs, não permitindo que sejam feitas análises comparativas com outras expressões e manifestações religiosas que se encontram espalhadas pelo mundo, e achando pontos em comum entre elas, permitindo que possamos olhar a religião como um fenômeno arquetípico universal, onde Deus está acima de todo mito religioso construído a partir do homem e suas cosmogonias. São anos e anos girando em torno dos mesmos assuntos, só variando as modalidades, mas a amostragem é sempre a mesma, sempre direcionando a historicidade para a doutrina dominante, seja ela mais liberal ou conservadora.

Desde o período da escolástica, como o próprio nome já fala (escolas), na idade média, a igreja é que controlava o ensino as fontes e métodos de pesquisas, que até então, era apenas permitido nos mosteiros e círculos fechados eclesiásticos. Todas as matérias tinham um enfoque doutrinário, ainda naqueles moldes agostinianos, onde a Fé precedia a Razão. Ou seja, todo discurso filosófico-teológico, girava apenas em torno das tradições da Igreja e da filosofia clássica, com mais ênfase na filosofia de Aristóteles (especialmente em Alberto Magno e Tomás de Aquino).

Hoje em dia não é muito diferente, quando ingressamos numa faculdade ou seminário teológico, nos deparamos com a mesma problemática. A preocupação maior dos magistrados nessa área, é tomar a maior parte do seu tempo, com técnicas e metodologias de pesquisas, dando mais ênfase nos formatos, fontes e processos de apresentação de teses e monografias, ou seja, a preocupação maior está na embalagem, e não no conteúdo, porque se fosse o contrário, geraria muitas polêmicas em torno dos assuntos e temas analisados, logo, colocaria tanto os magistrados, quanto a própria instituição em risco de extinção.

Infelizmente, esse quadro medieval, se encontra no meio de teólogos cristãos, tanto católicos quanto protestantes. A fundamentação da Fé cristã está tão enraizada historicamente, que ela acaba se tornando fundamentalista, onde fora dela, não há salvação e nem redenção, mesmo nas discussões acadêmicas. Encontramos grandes catedráticos, doutores, e especialistas em diversas áreas da teologia, que mesmo tendo um vasto conhecimento, sabendo em “off”, que tudo o que eles ensinam e apresentam, é totalmente questionável e polêmico, porém, eles apresentam aos seus alunos, da forma que a sua instituição lhe ordena, não permitindo que as pessoas possam refletir certas questões numa dimensão mais ampla e universal, e acabam ficando engessados naquelas velhas historinhas contadas no catecismo e nas escolas bíblicas dominicais, mas com uma roupagem mais elaborada e técnica.

Para concluir, de que adianta ficar fazendo exegeses, hermenêuticas e estudos críticos em cima das tradições bíblicas, se não é permitido, analisá-las num âmbito maior, saindo das matrizes dogmáticas estipuladas pela Igreja Cristã dominante e estabelecendo paralelos com as diversas outras religiões milenares espalhadas pelo mundo, estudando as diversas teologias. Acho que se começarmos a fazer uma teologia com um discurso universal, e não restrito apenas as regiões e religiões do mediterrâneo, vamos evoluir muito mais, pois vamos passar a fazer o papel que infelizmente as religiões monoteístas não conseguiram fazer até hoje: “ESTABELECER HARMONIA E PAZ ENTRE OS POVOS DA TERRA”.

Pensem nisso, e passamos a respeitar as outras culturas e religiões da nossa grande morada chamada "PLANETA TERRA".


O autor da charge do artigo é o argentino pai da Mafalda, Quino.


Kadu Santoro

5 comentários:

  1. Valeu amigo,
    Com certeza esses blogs me interessam, vc tb pode acessar os outros blogs recomendados aqui, tem um vasto material sobre história da igreja, patrística, pais do deserto e muito mais...

    Obrigado!

    Kadu Santoro

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  2. Só um toque, respeitando o autor da charge seria bom nominá-lo, é o argentino pai da Mafalda, Quino.

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  3. Obrigado amigo pela dica, já identifiquei o autor da charge no artigo.

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  4. Encontrei o seu blog por acaso e vi este post (ainda do ano passado). Não concordo com o que escreveu, parece-me que você dá a informação sem de fato fazer uma investigação acurada, ou simplesmente fala a partir de uma experiência muito particular. Estudei em uma universidade pontifícia e a realidade não é bem essa que você descreve: "A preocupação maior dos magistrados nessa área, é tomar a maior parte do seu tempo, com técnicas e metodologias de pesquisas, dando mais ênfase nos formatos, fontes e processos de apresentação de teses e monografias, ou seja, a preocupação maior está na embalagem, e não no conteúdo, porque se fosse o contrário, geraria muitas polêmicas em torno dos assuntos e temas analisados, logo, colocaria tanto os magistrados, quanto a própria instituição em risco de extinção". Ao contrário, em uma universidade pontifícia o contexto é de confrontação e não de omissão, de conhecimento do que é diferente e não de fuga.
    De qualquer forma, mesmo não concordando, respeito a sua forma de pensar.

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    1. Caro amigo, em primeiro lugar quero gentilmente agradecer pelo seu comentário, obrigado. Assim como você, também estudei teologia numa instituição até mais conservadora que uma pontifícia, porém, dentro da sala de aula, tive o prazer e a possibilidade de dialogar com apenas dois professores que possuiam uma mentalidade aberta e bom senso, pois o resto era só embromação e formalismos. Mas na verdade, o que me referi, talvez não esclareci melhor, é que dentro desses mesmos círculos acadêmicos de "alto nível", continuam girando em torno das mesmas problemáticas, sem saírem das matrizes pré estabelecidas, aliás, não conseguem sair para novas perspectivas, alegando falta de "dados e fontes concretas".
      Lembra da frase de Einstein: "A imaginação precede o conhecimento". Isso é que falta em muitos acadêmicos além de humildade, um perfil mais intuitivo e especulativo, só assim daremos saltos para novas perspectivas teológicas, e não ficarmos amarrados nos pensamentos de séculos atrás. Apesar de tudo isso, temos muitos problemas, por exemplo: como podemos estudar o Antigo Testamento a partir do "hebraico", se no período de Esdras, foi tudo modificado, inclusive a tradição oral sofreu alterações e novas adaptações no período exílico? O que o amigo me diz a respeito dos manuscritos do mar morto, acha que não existe muita coisa que foi ocultada? E quanto os gnósticos de Nag Hammadi, que pouco se fala nas salas de aula? E por aí vai... Mas de qualquer forma, respeito e considero a colocação do amigo, realmente existem suas exceções.

      Abraço,

      Kadu Santoro

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