domingo, 31 de outubro de 2010

Baruch Spinoza - Um filósofo a frente do seu tempo


Baruch Spinoza nasceu em Amsterdam em 24 novembro de 1632, e terminou seu dias em 20 de fevereiro de 1677, vítima de tuberculose. Recebeu desde cedo uma sólida educação judaica tradicional, aprendeu hebraico, estudou a Bíblia e o Talmud a fundo. Além disso, Baruch estudou também, francês, latim e matemática. Um escritor a frente de seu tempo, espírito inquieto e questionador, que acabou fazendo com que fosse excomungado pela sinagoga, que acusou-o de perigosas heresias contra a tradição judaica. Logo passou a viver uma vida solitária, vagando de um lado para o outro dentro de sua própria filosofia, vivendo em quartos alugados no subúrbio de Leyde e finalmente em Haia. Para sobreviver, ele fabricava lentes de luneta, que era um ofício ligado à atualidade técnica e científica de sua época.

Spinoza se aproxima de Descartes no ideal e no método racionalista, porém, considera-se mais cartesiano que Descartes. Para ele, o procedimento racional é independente de qualquer dogma religioso. Spinoza rejeita qualquer forma transcendente e enigmática de Deus, para ele, Deus confunde-se com a natureza eterna e o homem não mais é uma criatura autônoma, mas apenas uma parte dessa natureza.

Para Spinoza, a idéia de Deus, é a idéia mais rica e plena, apesar dele não ser cristão como Descartes, mas, à sua maneira, é muito mais religioso que ele. Spinoza é panteísta, tudo o que existe, tudo o que pode ser concebido entra necessariamente numa das três definições enunciadas no início do Livro I da Ética: “Entendo por substância o que é em si e concebido por si, isto é, aquilo cujo conceito pode ser formado sem necessitar do conceito de uma outra coisa. Entendo por atributo aquilo que a razão concebe na substância como constituindo sua essência. Entendo por modos as afecções de uma substância, em outras palavras, o que existe em outra coisa e por meio da qual é concebido”. Uma vez que a substância é causa em si (idéia concebida do argumento ontológico cartesiano), ela é necessária, infinita e, por conseguinte, única. Por conseguinte, não poderia haver outra substância senão Deus, enquanto todo o resto só pode existir e ser concebido como atributo ou modo dessa substância única. Os atributos são os aspectos sob os quais a substância pode ser representada; são em número infinito, porém, só conhecemos dois, a extensão e o pensamento. Os modos não têm, como a substância, sua explicação em si mesmos, mas na própria substância. Em suma, eles são o equivalente, no sistema panteísta, do que são as criaturas na teologia tradicional. Eles são parte de Deus e não criaturas de Deus. Para finalizar, Spinoza diz que Deus é causa imanente e não transitiva, pois a causa transitiva, é aquela que modifica seu objeto, enquanto a causa imanente permanece inteira no sujeito e não modifica seu objeto.

O homem para Spinoza, é apenas um pequeno fragmento da natureza, é o modo finito da substância infinita. Ele divide a substância em dois atributos: um corpo, isto é, um pequenino fragmento da extensão infinita, e uma alma, parcela ínfima do pensamento infinito, como a idéia de centelha divina usada pelos gnósticos e alquimistas. Para Spinoza, o homem é inicialmente um escravo, porque ele vive na ignorância. Para ele, o único meio de nos libertar, de assegurar nosso poder e nossa plenitude, é o esclarecimento, pois quando o entendimento conhece Deus, ele nos conduz à salvação. Podemos concluir que para Spinoza, o conhecimento está subordinado à salvação, porém, para ele, o único meio de se atingir essa salvação, é através do conhecimento racional. Só a razão nos pode permitir o prazer do bem absoluto.

O conhecimento racional procede por dedução, cujo valor repousa, em última instância, numa intuição racional que a fundamenta. Essa intuição do que é verdadeiro, é uma luz que encontra sua garantia em sua própria clareza intrínseca: saber é saber que se sabe. Desse modo, o verdadeiro encontra em si mesmo seu próprio critério. Para Spinoza, o conhecimento encontra-se no nível do Ser, para ele, o conhecimento verdadeiro e autêntico de uma essência é uma participação de Deus.

Quanto a religião, Spinoza divide em dois tipos, a do povo e a do filósofo. A primeira, está relacionada à Lei: à lei hebraica ou a outra lei contida nos livros considerados sagrados. É pela obediência à lei, que o povo, ignorante, pode subjugar as paixões e conquistar a liberdade. A religião positiva, tem função puramente pedagógica. E essa também a função da Bíblia: o seu escopo não é ensinar a verdade, mas somente educar o homem para dominar as paixões e suas concupiscências. A religião superior é a dos filósofos, isto é, o conhecimento adequado, através desse conhecimento, o filósofo atinge a liberdade, e obedecendo aos ditames da razão, ele subjuga todas as paixões. Sintetizando: as duas formas de religião, tem o mesmo objetivo, subjugar as paixões, porém são bem distintas. A primeira é pela obediência às leis, e a segunda, pela via do conhecimento da verdade.


Bibliografia:
- MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
- VERGEZ, André – História dos Filósofos Ilustrada pelos Textos – Livraria Freitas Bastos – RJ - 1988


Kadu Santoro

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Escola de Frankfurt



Foto ao lado de Theodor Adorno e Max Horkheimer, dois dos maiores expoentes
e fundadores da escola.


A Escola de Frankfurt, surgiu em 1924, inicialmente como um instituto de pesquisas, voltado para o debate intelectual, visando primariamente uma união entre o pensamento marxista e a psicanálise criada por Freud, com a principal tarefa de esclarecer as novas realidades surgidas com o desenvolvimento do capitalismo no século XX, num período da história contemporânea, onde seus principais expoentes, observaram estarrecidos, as mudanças nos cenários políticos, sociais e culturais, como a deflagração da Revolução Russa, em 1917, o surgimento do regime fascista e a ascensão do nazismo na Alemanha.

A Escola de Frankfurt, é considerada como o último expoente da filosofia alemã, foi fundada e financiada por Félix Weil, e reunia em torno de si, um círculo de cientistas sociais e filósofos de mentalidade marxista e de origem judaica. Esses renomados pensadores, eram adeptos da Teoria Crítica da Sociedade. Seus principais integrantes eram, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Walter Benjamim, Léo Löwenthal, Erich Fromm, Jürgen Habermas, Ernst Bloch, entre outros.

A gama de temas tratados pela escola era amplo, desde assuntos relacionados aos processos civilizatórios modernos, envolvendo o destino do ser humano na era da técnica até a política, passando também pelas questões da arte, música e literatura. Essa corrente filosófica, também foi responsável pela disseminação de expressões como: “indústria cultural” e “cultura de massa”.

A Teoria Crítica elaborada por Adorno e Horkheimer, tinha como principal objetivo, apresentar as coisas como são, sob forma de tendências presentes no desenvolvimento histórico, procurando diagnosticar o tempo presente baseando-se em estruturas de modelos sociológicos vigentes e condições históricas concretas. A Teoria Crítica utiliza-se de idéias do Marxismo para tentar explicar o funcionamento da sociedade e a formação de classes, e também, da psicanálise para explicar a formação do indivíduo.

Quanto ao conceito de “indústria cultural”, podemos citar a tese central do livro “Dialética do Iluminismo”, que nos afirma, que o projeto iluminista original, foi um mito que levou a humanidade a um verdadeiro impasse, no qual a ciência e o positivismo estavam a serviço da opressão. “Ao invés de trazer liberdade aos homens, acabou nos trazendo o potencial de destruição em massa.” (Max Horkheimer e Theodor Adorno). A origem da indústria cultural, se deu através da sociedade capitalista que acabou transformando a cultura num produto comercializado. A produção da indústria cultural, é direcionada para o retorno lucrativo, tendo como base, padrões de imagem cultural. Para Horkheimer e Adorno, os termos modernos criaram a idéia de que não apenas somos seres livres e distintos, como podemos construir uma sociedade capaz de permitir a todos uma vida digna, onde cada indivíduo possa se realizar.

Horkheimer, Adorno e Marcuse, referiam-se com o termo indústria cultural, à conversão da cultura em mercadoria, ao processo de subordinação da consciência à racionalidade capitalista. Para eles, o problema maior, era não apenas o fato de o conhecimento, a literatura e a arte em si, senão os próprios seres humanos se tornarem produtos de consumo. A prática da indústria cultural, segue a linha da menos resistência, não deseja mudar as pessoas, desenvolve-se com base nos mecanismos de oferta e procura, explorando necessidades e predisposições individuais que não são criadas por ela, mas, sim, pelo processo histórico global da sociedade capitalista.

Podemos concluir, que os pensadores da Escola de Frankfurt, faziam uma crítica a cultura de massa, não porque ela era popular, mas, sim, porque boa parte dessa cultura conservava as marcas da violência e da exploração, que as massas tinham sido submetidas desde as origens da história, como um bom exemplo disso, podemos citar a propaganda ideológica nazista, que tinha um poder de persuasão incrível, movimentando milhares de jovens em prol do extermínio em massa dos judeus, alegando serem eles, os judeus, a causa de todos males da humanidade. Hoje em dia, vimos esse contexto se repetir com a massificação de programas televisivos, evasivos e alienatórios, deixando o telespectador totalmente narcotizado diante de tanta futilidade e sedução de consumo nas telas da televisão, proporcionando lucros astronômicos às emissoras e enriquecendo os bolsos dos patrocinadores.



Bibliografia:
- MONDIN, Batista – Curso de Filosofia – Volume 1 – Coleção Filosofia – Paulus – SP – 1981
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Frankfurt


Kadu Santoro

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

VIVA E DEIXE VIVER!


Pois é, essa é a grande questão. Vivemos num mundo onde o discurso tem o seu poder maior, como dizia Michel Foucault. A maior expressão desse poder, encontramos nos dogmas construídos por séculos nos átrios das igrejas, atingindo seu ápice, quando convocados, segundo a grande comissão bíblica de levar a todos cantos da terra as boas novas do evangelho, os “crentes” saem com essa missão, quase que uma cruzada, pois para eles, aqueles que não receberem por guela abaixo as boas novas, e todo seu escopo de usos, costumes e dogmas, estão sumariamente excluídos, do que eles chamam de salvação, ou seja, o discurso religioso, sempre teve como propósito maior, o controle e a formatação de seus seguidores.

Longe dessa forma agressiva de abordagem, Jesus nunca mencionou a institucionalização da religião, pelo contrário, ele sempre atacou as formas dominantes eclesiásticas de seu tempo, sendo ele considerado pela própria igreja como um verdadeiro “herege”, a ponto de ser levado à morte or crucifixação pelos “pastores” da igreja da época. O reino anunciado por Jesus, era e sempre foi algo interior, uma mudança de mentalidade (metanóia), conversão de toda forma de hipocrisia, egoísmo, austeridade em virtudes e qualidades. Ele apresentou a vida no sermão do monte, usou o poder de sua linguagem para libertar as pessoas, e não para aprisioná-las nas grades sistemáticas da religiosidade, pregou um “re-ligare” interior, comunhão direta com o Pai, uma vida abundante, sem traumas e sentimentos de culpas.

Infelizmente, o que nos chegou, como “igreja”, foi apenas um organismo institucionalizado, cheio de hierarquias, dogmas, campanhas, estratégias, lideranças, trazendo em seu escopo, uma linguagem opressora, onde aquele que pensa diferente, já não pode compartilhar da mesa daquele que nos chamou para a grande comunhão do amor. Esse tipo de “pregação”, na verdade, é uma forma de convencimento, onde faz com que você reconheça que é “pecador”, diferente, e logo assim, você acaba morrendo, perdendo sua personalidade, características próprias e passa a ser uma “nova criatura”, mesmo que morta e empalhada, onde suas asas são cortadas, e só lhe resta a nostalgia do vôo da liberdade interior, da consciência plena da comunhão maior com Deus.

A mensagem do evangelho, oferece-nos um convite à vida, ao contrário da mensagem do antigo testamento, que nos coloca um jugo pesado em nossas costas, fundamentado na Lei. Se observarmos bem, no contexto das igrejas atuais, percebemos, que noventa por cento das pregações, seguem a cartilha do antigo testamento, são campanhas baseadas na turma da “paulada”, Sansão, Davi, Gideão, Moisés, um Deus ciumento, rancoroso e irado, e o evangelho da “vida”, acaba ficando de fora, sendo o único lugar destinado à Jesus, o lado de fora da igreja, como foi com os profetas, banidos e expulsos.

Infelizmente, essa é a realidade atual, porque pregando o antigo testamento, as “lideranças eclesiásticas” sente-se poderosas, com autoridade sobre os fiéis, centralizando todo evento espiritual no templo, fazendo campanhas atrás de campanhas, batendo metas de “conversões”, que na verdade são formatações, uma verdadeira indústria de clones formatados, que geram “prosperidade” ao templo e ao sacerdócio, enquanto milhares desses fiéis passam até fome por isso. A proposta de Jesus é totalmente contrária, desloca a atividade e servidão do templo, para uma comunhão interior, (“E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. (II Coríntios 6.16), nos conduzindo a uma vida plena.

A proposta de Jesus é: viva e deixe viver, pois quando você passa a amar verdadeiramente seu próximo, não há religião que possa separar você dessa comunhão, não vimos para sermos juízes. Então, é hora de deixarmos de lado, toda essas estratégias “satânicas” de convencimento e conversão, pois afinal de contas, você não precisa ficar elaborando estratégias pelos domingos de manhã, para se chegar as pessoas e convencê-las de um monte de baboseiras, como, não fume, não beba, na faça isso, não faça aquilo, trantando os outros como crianças rebeldes, pois Deus conhece o coração de todos, e não nós, e passe a ser o próximo, aquele que está ao lado para ajudar, amar, e não para ficar condenando igual fariseu, construa pontes, e não muros, conviva harmoniosamente com todos, independentemente de religião, nível cultural, social, racial e qualquer outra diferença, “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens”. (Romanos 12.18).


Reflita nisso!

Fraternalmente,

Kadu Santoro

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A religião do Antigo Egito


A Religião do Egito de 4400 a.C. e semelhanças com o Cristianismo.


O Livro dos Mortos

Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte:
o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.

O homem egípcio e sua conceituação

A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT. Ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem era CU que era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que também ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes, pois se o nome for eliminado poder-se-á se destruir o homem, ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome, e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".

O julgamento da alma e a vida eterna

A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens, porém muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo, porém os deuses encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (O Juízo Final e os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é: "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal!. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............ verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente, pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o Faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade (10 Mandamentos).
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam (O Deus cristão).

A criação do Mundo conforme os egípcios

Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão (e Deus fez a Luz), nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, (o Verbo Divino) que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, ....... És Uno, ......... Os homens te exaltam e juram por ti, pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, .......... seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.

Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz

Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se, dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por seu irmão Set, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus (Jesus Cristo). Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava, pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo, pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos capital do Antigo Egito e que recebe as tumbas dos 1os Faraós e lá onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal e aonde, a partir o Reino Médio, se fazem peregrinações anuais com milhares de peregrinos, inclusive com a participação do próprio Faraó, para celebrar a ressurreição de Osíris. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Há outros templos, Ahmose, Senusret III, Seti I, Ramses II, cujas construções se sucedem desde as 1as Dinastias, continuam pelo Reino Médio (1975-1640 a.C.) atravessam o Reino Novo (1539-1075 a.C.) até o Último Período (715-332 a.C.). Com o tempo, Osíris passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos e Osíris se torna um deus nacional igual e, em alguns casos, maior que Rá. Nas XVIII e XIX dinastias (1600 a.C.), ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.

Outros Deuses do Egito

Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses, mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris.

São esses os 9 deuses, da grande companhia de Heliópolis.
Seb é a terra, era filho de Xu e é o pai dos deuses: Osíris, Ísis, Set e Néftis, passou, mais tarde, a ser o deus dos mortos.
Nut é o céu, é esposa de Seb e mãe de: Osíris, Ísis, Set e Néftis é considerada mãe dos deuses e de todas as coisas vivas.
Seb e Nut existiam no aqüífero primevo ao lado de Xu e Tefnut.
Osíris, filho de Seb, e de Nut, marido de Ísis, e pai de Horo, é o Deus da Ressurreição e sua história já foi retro citada.
Ísis esposa e irmã de Osíris e mãe de Horo, é a deusa da natureza, a divina mãe, nessa qualidade tem milhares de estátuas onde está sentada amamentando o filho Horo, (Virgem Maria e Jesus Cristo) suas peregrinações em busca do corpo de Osíris, a tristeza ao dar a luz e educar o filho, Horo, no pântano de papiro do Delta do Nilo, a perseguição que sofreu dos inimigos do marido são citados em textos de todas as dinastias.
Set, filho de Seb e Nut, é marido de Néftis sua irmã, e é irmão de Osíris e Ísis, representa a noite, e estava sempre em guerra com Horo, o dia e é a personificação de todo o mal.
Néftis, mulher, e irmã, de Set, irmã de Osíris e Ísis, e é mãe de Anúbis filho dela e de Osíris; ela ajudava os mortos a superar os poderes da morte e do túmulo.

A seguir, os principais deuses das outras companhias:

Nu, pai dos deuses, e progenitor da grande companhia dos deuses, era a massa aqüífera primeva.
Ptá, é uma forma de Rá e é tipificado como o abridor do dia.
Ptá-Sequer, é o deus duplo da encarnação do Boi Ápis de Mênfis com Ptá.
Ptá-Sequer-Ausar, três deuses em um, simbolizava: a vida, a morte e a ressurreição.
Cnemu, foi quem modelou o homem numa roda de oleiro, ajudava Ptá a cumprir as ordens de Tot (o homem moldado no barro por Deus).
Quépera, é o tipo da matéria que contem em si o germe da vida em vias de aflorar numa nova existência, significava o corpo morto que estava preste a fazer surgir o corpo espiritual.
Amon, era um deus local de Tebas com seu santuário fundado na XII dinastia (2500 a.C.), significa oculto, e passou a ser um deus de primeiríssima importância nas XVIII, XIX e XX dinastias e, a partir de 1700 a.C. foi declarado representante do poder oculto e misterioso que criou e sustenta o universo e o fundiram com os deuses mais antigos e ele usurpou os poderes de Nu, Cnemu, Ptá e vira um deus sagrado senhor de todos os deuses, Amon Rá, como está no papiro da princesa Nesi-Quensu de 1000 a.C.. A partir de 800 a.C. declina o poder de Amon.
Maât, grande deusa, tipifica a Verdade/Justiça. Presente no julgamento dos mortos, dela dependia a salvação.
Horo, simbolizado pelo falcão, que parece ser a 1a coisa viva que os egípcios adoraram, era o deus sol como Rá que em épocas mais recentes foi confundido com Horo filho de Osíris e Ísis. Ele estava associado aos deuses que sustentam o céu nos 4 pontos cardeais, os 4 espíritos de Horo, que são: Hapi, Tuamutef, Amset e Quebsenuf. É, também, tipificado como o dia sempre em luta contra Set.
Anúbis, filho de Osíris com Néftis que presidia a morada dos mortos, era o condutor dos mortos e protetor dos cemitérios.
Tot, deus da Palavra criadora e mágica, divindade lunar, encarnação da sabedoria, toda a cultura humana era obra de suas inspirações.
Ápis, touro que recebia culto, pois acreditavam que a alma de Osíris tivesse habitado o seu corpo, tinha uma mancha branca, em forma de crescente, na testa.
Rá, o deus Sol, é, provavelmente, o mais antigo dos deuses adorados no Egito, ele velejava pelo céu em 2 barcos o Atet, desde o nascer do sol até o meio dia, e o Sectet, do meio dia até o por do sol. Visto ser Rá o pai dos deuses nada mais natural que cada deus representasse uma fase dele e que ele representasse cada um dos milhares de deuses egípcios, numa explícita alegoria do fundamento moneteista da religião egípcia.

A trindade Egípcia:

Temu ou Atmu, isto é, o que fecha o dia, seu culto vem da V Dinastia e é o fazedor dos deuses, criador de homens.
Xu, é o primogênito de Temu e tipifica a luz. Ele colocava um pilar em cada ponto cardeal para sustentar o céu, os suportes de Xu são os esteios do céu.
Tefnut, era irmã gêmea de Xu e tipificava a umidade, seu irmão Xu é o olho direito, e ela é o olho esquerdo de Temu.
Os deuses Temu, Xu e Tefnut formavam uma trindade e Temu na história da criação diz:
"Assim, sendo um deus, tornei-me 3" (a Santíssima Trindade católica).

O Barco do Sol representa a lua, seu quarto crescente, tendo o disco do Sol sobre ele e, essas 2 luminárias, formam essa imagem que é o núcleo central da religião egípcia, a Lua é fria e úmida, sempre em eterna mutação, governa a afeição, os amores, é feminina. O Sol é quente e seco e governa a razão de modo impessoal e objetivo, é masculino. Essas duas forças são equipotentes, com naturezas opostas, é o Yin e Yang da religião chinesa, o Enxofre e o Mercúrio da Alquimia, o Positivo e o Negativo da Eletricidade, a eterna oposição do bem e do mal,do amor e do ódio, do dia e da noite, a sublime dualidade de todas as coisas, desde sua Criação do aqüífero primevo, na gênese do mundo contada pelos egípcios, há 6.000 anos atrás, através dessa religião e sistema moral complexo e maduro, que nada fica a dever às concepções desenvolvidas pela Grécia que dizia que: a matéria era uma carga muito pesada para o espírito, nascido no Céu e, consequentemente, a vida consistia em viver morrendo, enquanto a morte era, para a alma, a porta da Liberdade.

Anibal de Almeida Fernandes, Junho, 2006.

Bibliografia:

O Livro dos Mortos, Hemus, Editora LTDA SP.
A Religião Egípcia, E. A Wallis Budge, Cultrix, SP.
Egypt's First Pharaohs, National Geographic, April 2005, pgs 106 a 121.

domingo, 3 de outubro de 2010

O método alegórico de interpretação bíblica e suas origens


O método alegórico, faz a aproximação dos textos bíblicos por analogia figurada, mostrando que o sentido literal da própria palavra é insuficiente para revelar o significado da verdade dos mistérios cristãos. Assim, por intermédio de alegorias, que são metáforas, símbolos e mitos, acreditam expressar de forma mais profunda a essência da doutrina.

A Escola de Alexandria, foi sem dúvida, a maior representante da interpretação alegórica das Escrituras do Antigo Testamento. Seu sistema interpretativo, teve influência direta da filosofia grega, principalmente de dois filósofos muito importantes. O primeiro foi Heráclito (Éfeso, 540 a.C.? – 475 a.C.?), ele criou o conceito de “huponóia”, que significa, um sentido mais profundo, para ele, o verdadeiro sentido do texto, estava além das palavras. O segundo foi Platão, ele formou um conceito de que o mundo em que vivemos, é apenas uma representação do que existe no mundo perfeito das realidades imateriais, o “mundo das idéias”.

Fílon de Alexandria, judeu erudito, também foi influenciado pela filosofia grega, principalmente pela filosofia platônica, para ele Moisés e Platão eram dois heróis. Além de possuir uma sólida formação judaica, Fílon era um grande estudioso das Escrituras veterotestamentárias traduzidas para o grego (LXX – Septuaginta), da qual, estabeleceu de forma alegórica (alegorese), uma harmonização dessas Escrituras com a filosofia grega. Fílon escreveu vários comentários bíblicos utilizando o método alegórico, como por exemplo, nos seus comentários de Gênesis, um deles é sobre a criação do jardim do Éden (Gn 2.8-14), onde o rio Gion (2.13) significa “coragem” e circunda a terra de Cuxe, que significa “humilhação”; o sentido alegórico encontrado nessa passagem, é que a coragem dá demonstrações de bravura diante da covardia. Já o rio Tigre (2.14) significa temperança, pois como um tigre, resiste resolutamente ao desejo. O Eufrates (2.14) não se refere ao rio. O sentido alegórico é “justiça”. O rio Pisom (2.11) significa “mudança na boca” e Havilá “tagarelar”, que Fílon interpreta como significando “insensatez”. A interpretação alégórica da passagem, é que a insensatez é destruída pela “mudança na boca”, que é o falar com prudência.

A Escola de Alexandria, usava uma teologia com base na interpretação alegórica das Escrituras, formada pela combinação entre a erudição filosófica grega e as verdades fundamentadas nos escritos veterotestamentários. Para essa escola, as Escrituras Sagradas tinha a função de narrar os acontecimentos, sugerir ensinos, conceitos morais e exigir a busca de um sentido mais profundo. Os principais representantes dessa escola foram: Panteno (fundador), Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (185-253 d.C.). Clemente de Alexandria, foi o primeiro a lidar seriamente com questões de interpretação bílbica, usava a interpretação alegórica para descobrir o sentido oculto das passagens bíblicas, e harmonizar os dois Testamentos. Para ele, o objetivo de Deus em revelar-se alegoricamente, era para ocultar a verdade dos incrédulos e descortiná-la apenas para os realmente espirituais. Orígenes, era um estudioso muito respeitado, para ele, a melhor maneira de se compreender a Bíblia, é através da perspectiva platônica. Para ele, a Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender. O sentido literal é valioso, mas algumas vezes, obscurece o sentido primordial, que é o sentido espiritual. O sentido literal, é apenas para os neófitos, mas o espiritual é para os maduros na fé. Orígenes influenciou muitos Pais da Igreja como: Dionísio o Grande, Eusébio de Cesaréia e Cirilo de Alexandria.


Bibliografia:
BOGAZ, Antônio S. - Patrística: Caminhos da tradição cristã – Paulus – SP – 2008. FRÖHLICH, Roland, Curso Básico de História da Igreja, São Paulo, Paulus, 1987.


Kadu Santoro