segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GANHEI CORAGEM


Rubem Alves
colunista da Folha de S. Paulo


"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre."
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.
Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusama ser assimilados à coletividade.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: - "Caminhando e cantando e seguindo a canção..." Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Verdade como Caminho, segundo o Novo Testamento.


Dentro de toda discussão teológica sistemática atual, essa é sem dúvida, uma das questões mais importantes e polêmicas dentro do contexto do Novo Testamento. O princípio do entendimento do que é a “verdade”, segundo o Novo Testamento, se dá num processo radical de conversão, atingindo assim, todas as formas metafóricas dos nossos pensamentos e do nosso agir ao longo da vida, e são confrontadas com o conceito metafórico desse caminho, como “espaço” onde reside a verdade. A partir dessa metáfora, entendemos que a verdade não é um resultado que já atingimos, e está em nossas mãos, ela consiste em algo que está diante de nós, e que nos leva através do caminho numa jornada contínua e progressiva. A verdade nesse contexto, é um processo e não um ponto de partida ou um resultado final.

Os primeiros cristãos eram chamados de “os do caminho” (At. 9.2), como também, o próprio evangelho era chamado por eles de “o caminho” (At. 19.9,23; 24.22). Em Hebreus 12.1-2 encontramos novamente a metáfora do caminho, e o que está descrito é a caminhada da fé, aquela antes definida pelo autor como “a certeza do que se espera, a convicção do que não se vê” (Hb. 11.1). O centro, o alvo desta caminhada é descrito como “o autor e consumador da fé, Jesus”. É ele próprio que se encontra no início da caminhada da fé, e também ele mesmo é o próprio alvo, logo a sua presença e a sua relação com ela ( a fé) é vão determinar a trajetória do caminho.

Também podemos citar a passagem paulina que diz: “a partir dele, por meio dele e para ele são todas as coisas” (Rm. 11.36), significa que a fé é dada por ele próprio, é mediada também por ele e finalmente se dirige a ele mesmo. Encontramos nesse texto, as mesmas qualificações do texto anterior, onde Jesus é o ponto de partida, o final e a mediação ao longo do caminho, logo então nesse entendimento, ele mesmo é “o caminho”.

No evangelho de João, o próprio Jesus diz: “Eu sou o caminho”, em seguida ele diz também: “Eu sou a verdade”, e finaliza o versículo dizendo: “Eu sou a vida”. Analisando esse versículo, fazendo um paralelo com o pensamento hebraico, percebemos que estes três termos devem ser vistos um à luz do outro, remetendo todos à mesma realidade, ou seja, a verdade, então é o próprio caminho, e também é a vida. Fazendo o paralelismo, “vida” aqui é o caminho que é a verdade. Então podemos definir da seguinte forma essa questão, a verdade se encontra no processo de vida, entendido como caminho.

Chegamos a conclusão, de que, a verdade segundo a visão do Novo Testamento só se faz e só se deixa aprender no próprio caminho, não em conceitos sobre o mesmo e muito menos em práticas que mostram que estamos no caminho de forma sistemática.


Kadu Santoro

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Decreto Gelasiano 371 D.C. (Decretum Gelasianum) Sobre os livros aceitos e não aceitos pela Igreja


Muito se discute sobre a autoria do presente documento: para alguns, seria documento original do papa Dâmaso [366-384], oriundo do Concílio Regional de Roma de 371, já que seu conteúdo se identifica perfeitamente com os dados existentes sobre seu temperamento, pensamento e relacionamento interno e externo; para outros, teria sido redigido pelo papa Gelásio [492-496], em razão da nota acrescentada no início do cap. III, existente em uma recensão mais breve; para outros, ainda, seria obra de algum clérigo, muito provavelmente do início do séc. VI, que teria se servido de outro documento de base, este sim, da lavra de Dâmaso, que conteria o fundamento para os 3 primeiros capítulos.

Seja como for, de particular importância para nós é o capítulo II, que traz a lista completa dos livros que integram o Antigo e Novo Testamento. Repare-se que os livros deuterocanônicos (chamados de "apócrifos" pelos protestantes e, por este motivo, excluídos de suas Bíblia) encontram-se integrados ao cânon sagrado, fazendo eco, talvez (caso considere-se este decreto posterior ao papa Dâmaso), às decisões tomadas pelos concílios regionais de Cartago e Hipona.



I. RELAÇÕES DA SANTÍSSIMA TRINDADE


Aqui começa o Conselho de Roma, no tempo do Papa Dámaso,(Damásio) sobre a explicação da fé.

Foi dito:

1. Primeiramente, deve-se discutir os sete dons do Espírito se encontram em Cristo:

* O espírito da sabedoria: "Cristo, o poder e a sabedoria de Deus".
* O espírito do entendimento: "Darei a vós o entendimento e vos mostrarei o caminho que devem seguir".
* O espírito do conselho: "E seu nome é chamado 'mensageiro do valioso conselho'".
* O espírito das virtudes: conforme acima, "o poder de Deus e a sabedoria de Deus".
* O espírito do conhecimento: "Em razão da eminência do conhecimento do apóstolo de Cristo Jesus".
* O espírito da verdade: "Eu sou o caminho, a vida e a verdade".
* O espírito do temor de Deus: "O temor a Deus é o princípio da sabedoria".

2. Entretanto, a revelação de Cristo é denominada de diversas maneiras:

* Deus, que é espírito;
* O Verbo, que é Deus;
* O Filho, que é o unigênito do Pai;
* O homem, nascido da Virgem;
* O sacerdote, que ofereceu a si mesmo como sacrifício;
* O pastor, que é o guarda;
* [O alimento do] verme, que ressurgiu dos mortos;
* A montanha, que é forte;
* O caminho, que é reto;
* O refúgio, único que pode conduzir à vida;
* O cordeiro, que foi imolado;
* A pedra, que é angular;
* O mestre, que traz a vida;
* O sol, que dá a luz;
* A verdade, que provém do Pai;
* A vida, da qual é o Criador;
* O pão, cujo valor é inestimável;
* O samaritano, o qual é protetor e misericordioso;
* O Cristo, o Ungido [de Deus];
* Jesus, o Salvador;
* Deus, provindo de Deus;
* O mensageiro, que foi enviado;
* O noivo, que é o mediador;
* O vinho, cujo próprio sangue nos redimiu;
* O leão, que é rei;
* A rocha, que é o fundamento;
* A flor, que foi escolhida;
* O profeta, que revelou o futuro.

3. Quanto ao Espírito Santo, não provém só do Pai nem só do Filho, mas do Pai e do Filho; por isso está escrito: O que se deleita no mundo, o Espírito do Pai não está nele; e novamente: Quanto a todo aquele que não tenha o Espírito de Cristo, não lhe pertence. Deste modo se entende que o Espírito Santo seja nomeado Como do Pai e do Filho, sendo que o próprio Filho disse no Evangelho que o Espírito Santo procede do pai e por mim Ele é aceite e anunciado.


II. CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

Também foi dito:

Agora verdadeiramente devemos discutir sobre as Divinas Escrituras, quais são aceitas pela Igreja Católica no universo e quais devem ser rejeitadas.

1. Esta é a ordem do Antigo Testamento: Gênese, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro; Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rute, 1 livro; Reis, 4 livros; Crônicas, 2 livros; 150 Salmos, 1 livro; 3 livros de Salomão: Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Outros: Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro.

2. Semelhantemente, esta é a ordem dos profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias, 1 livro, contendo o Cinoth, isto é, suas lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Amós, 1 livro; Miquéias, 1 livro; Joel, 1 livro; Obadias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Nahum, 1 livro; Habacuc, 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaquias, 1 livro.

3. Semelhantemente, esta é a ordem dos [livros] históricos: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras, 2 livros; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros.

4. Semelhantemente, esta é a ordem das Escrituras do Novo Testamento, sustentadas e veneradas pela santa e católica Igreja romana: 4 livros dos Evangelhos: segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro; também os Atos dos Apóstolos, 1 livro; as epístolas do apóstolo Paulo, em número de 14: aos Romanos, 1 epístola; aos Coríntios, 2 epístolas; aos Efésios, 1 epístola; aos Tessalonicenses, 2 epístolas; aos Gálatas, 1 epístola; aos Filipenses, 1 epístola; aos Colossenses, 1 epístola; a Timóteo, 2 epístolas; a Tito, 1 epístola; a Filemon, 1 epístola; aos Hebreus, 1 epístola; também o Apocalipse de João, 1 livro; também as epístolas canônicas, em número de 7: do apóstolo Pedro, 2 epístolas; do apóstolo Tiago, 1 epístola; do apóstolo João, 1 epístola; do outro João, o ancião, 2 epístolas; do apóstolos Judas, o zelota, 1 epístola. Aqui se encerra o cânon do Novo Testamento.


III. PRIMAZIA DA SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA


Também foi dito:

(Alguns manuscritos, de recensão mais breve, começam este ponto com o seguinte cabeçalho: "Aqui inicia o decreto 'sobre os livros que devem ou não devem ser recebidos', redigido pelo papa Gelásio e 70 dos mais eruditos bispos, reunidos em concílio apostólico na cidade de Roma")

1. Após termos discutido sobre os Escritos dos profetas e as Escrituras evangélicas e apostólicas acima, sobre os quais a Igreja Católica está fundada pela graça de Deus, também achamos necessário dizer, embora a Igreja Católica universalmente esteja difundida sobre todo o mundo, sendo a única noiva de Cristo, que à Santa Igreja romana é dado o primeiro lugar sobre as demais igrejas, não por decisão sinodal, mas sim pela voz do Senhor, nosso Salvador, pois no Evangelho obteve a primazia: "Tu és Pedro" - Ele disse - "e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; e te darei as chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligardes sobre a Terra será também ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra será também desligado no Céu".

2. Somou-se também a presença do bem-aventurado Apóstolo Paulo, o vaso escolhido, que não em oposição como dizem os hereges teimosos, mas ao mesmo tempo e no mesmo dia, foi coroado com uma morte gloriosa junto com Pedro na cidade de Roma, padecendo junto com Pedro na cidade de Roma sob César Nerón; e juntos consagraram para Cristo o Senhor à mencionada Santa Igreja de Roma e deram-lhe preferência com a sua presença e triunfos dignos de veneração ante todas as outras cidades no mundo inteiro.
3. Portanto, primeira é a cátedra da Igreja romana, do apóstolo Pedro, por não haver qualquer mancha, ruga ou qualquer outro [defeito]. Porém, o segundo lugar foi concedido, em nome do bem-aventurado Pedro, a Marcos, seu discípulo e autor do Evangelho, para Alexandria. Ele mesmo escreveu a Palavra da Verdade, no Egito, conforme [ouvira do] apóstolo Pedro; lá foi gloriosamente consumada [sua vida] no martírio. O terceiro lugar é guardado por Antioquia, do bem-aventurado e venerável apóstolo Pedro, que ali viveu antes de vir à Roma e onde pela primeira vez foi ouvido o nome da nova raça: "cristãos".


IV - ESCRITOS QUE PODEM SER RECEBIDOS


E embora nenhum outro fundamento possa estabelecer-se, senão aquele que foi estabelecido, Cristo Jesus, porém, para edificação, depois dos livros do, Velho e do Novo Testamento previamente enumerados de acordo com o cânone, a Santa Igreja Romana não proíbe receber os escritos seguintes:
1. o Concílio de Nicea, constituído por 318 bispos e presidido pelo imperador Constantino o Grande, no qual foi condenado o herege Arrio; o Santo Concílio de Constantinopla, presidido pelo imperador Teodósio o Velho, em que o herege Macedónio se livrou da sua merecida condenação; o Santo Concílio de Êfeso, no qual Nestório foi condenado com o consentimento do bem-aventurado Papa Celestino, presidido por Cirilo de Alexandria no assento do magistrado, e por Arcádio, o bispo enviado de Itália.
O Santo Concílio de Calcedónia, presidido pelo imperador Marciano, e por Anatólio, o bispo de Constantinopla, no qual as hereges Nestoriana e Eutiquiana, juntamente, com Dióscoro e o seus simpatizantes, foram condenados.
2. Mas como também há concílios apoiados até agora pelos Santos Padres, de menor autoridade que estes quatro, nós decretamos que estes devem ser mantidos e recebidos. Em continuação juntamos as obras dos Santos Padres que são recebidos na Igreja Católica:
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Cecílio Cipriano, mártir e bispo de Cartago;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Gregório Nazianceno;
igualmente, as obras do bem-aventurado Basílio, bispo de Capadocia,;
igualmente, as obras do bem-aventurado João, bispo da Constantinopla,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Teófilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Círilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Hilário Pictaviense;
igualmente, as obras do bem-aventurado Ambrósio, bispo de Milão;
igualmente, as obras do bem-aventurado Augusto, bispo de Hipona;
igualmente, as obras do bem-aventurado sacerdote Jerónimo;
igualmente, as obras do bem-aventurado Próspero, um homem extremamente religioso;
3. igualmente, a epístola do bem-aventurado Papa León (Leão) destinada a Flaviano, bispo de Constantinopla; mas se alguma parte de seu texto for contestada, não sendo aquela que foi recebida por todos desde a antiguidade, seja anátema; igualmente, as obras e todos os tratados dos padres ortodoxos que não se desviaram em nada do [ensino] comum da Santa Igreja Romana, e que nunca se separaram da fé e adoração, mantendo-se em comunhão pela graça de Deus até ao último dia das suas vidas,decretamos que sejam lidos; igualmente, os decretos e epístolas oficiais que os bem-aventurados papas enviaram de Roma, por consideração a vários padres e em diversas épocas, devem ser mantidas com reverência;
4. igualmente, as atas dos Santos Mártires, que receberam a glória pelas suas múltiplas torturas e as suas maravilhosas vitórias de persistência. Que católico duvida que a maioria deles tiveram de suportar agonias com todas as suas forças, e resistiram pela graça de Deus e a ajuda dos restantes? Mas, de acordo com um costume antigo, por precaução não se lêem na Santa Igreja Romana, porque los nomes de quem as escreveu não são conhecidos com propriedade e não é possível separá-los dos não crentes e idiotas; ou porque o que declaram é de ordem inferior aos eventos ocorridos; por exemplo, as atas de Quirício y Julita, assim como as de Jorge, e os sofrimentos de outros como estes, que parecem ter sido compostas por hereges. Por esta razão, tal como se disse, para no dar pretexto à burla casual, não são lidas na Santa Igreja Romana. No entanto, veneramos em conjunto com a mencionada Igreja a todos os mártires e seus gloriosos sofrimentos, que são mais conhecidos por Deus que pelos homens, com toda a devoção; igualmente, as vidas dos padres Paulo, António e Hilário, assim como todos os eremitas, que são descritas pelo bem-aventurado homem Jerônimo, recebêmo-las com honra; igualmente, as atas do bem-aventurado Silvestre, bispo da cadeira apostólica, que são permitidas ainda que se desconheça o seu autor, já que sabemos que são lidas por muitos católicos inclusive da cidade de Roma, e também pelo uso antigo das gerações, que é imitado pela igreja; igualmente, os escritos sobre a descoberta da cruz, e outras novelas sobre a descoberta da cabeça de João Baptista, que são romances e alguns deles são lidos por católicos; mas quando estes cheguem ás mãos de católicos, deve considerar-se primeiro o que disse o Apóstolo Paulo: Examinai todas as coisas, retendo o que seja bom; igualmente, Rufino, um homem sumamente religioso, que escreveu vários livros sobre as obras eclesiásticas e algumas interpretações das escrituras; contudo, desde que o venerável Jerônimo demonstrou que fez uso de certas liberdades arbitrárias nalguns desses livros, consideramos como aceitáveis aqueles que o bem-aventurado Jerônimo, anteriormente citado, considerava como aceitáveis; e não só os de Rufino, mas também aqueles de qualquer um que seja recordado pelo seu zelo por Deus e criticado pela fé na religião; igualmente, algumas obras de Orígenes, que o bem-aventurado homem Jerônimo não recusou, recebêmo-las para serem lidas, mas dizemos que o restante de sua autoria deve recusar-se; igualmente, a Crônica de Eusébio de Cesaria e os livros da sua História Eclesiástica, já que ainda que haja muitas coisas duvidosas no primeiro livro de sua narração e logo tenha escrito um livro elogiando e desculpando o cismático Orígenes, no entanto, considerando que na sua narração há coisas destacáveis e úteis para a instrução, no diremos a ninguém que devam recusar-se; igualmente, elogiamos Osório, um homem sumamente erudito, que nos escreveu una história muito necessária contra as calúnias dos pagãos e de uma brevidade maravilhosa; igualmente, a obra pascal do venerável homem Sedúlio, que foi escrita com versos heróicos e merece um elogio significativo; igualmente, a incrível e laboriosa obra de Juvêncio, que não desdenhamos, mas que nos assombramos com ela.


LISTA DE APÓCRIFOS


V. Os restantes escritos que foram compilados ou reconhecidos pelos hereges ou cismáticos, a Igreja Católica Apostólica Romana não recebe de nenhuma maneira; destes consideramos correto citar alguns que passaram de geração em geração e que são recusados pelos católicos:

Igualmente, lista de livros apócrifos:

1. Lista de livros apócrifos: primeiro, o sínodo de Sirmium, convocado por Constâncio César, filho de Constantino, e moderado pelo prefeito Tauro, que foi, é e sempre será condenado. A viagem em nome do apóstolo Pedro, que é chamado de nono livro de São Clemente: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo André: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Tomé: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Filipe: apócrifo. O evangelho em nome de Matias: apócrifo. O evangelho em nome de Barnabé: apócrifo. O evangelho em nome de Tiago Menor: apócrifo. O evangelho em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. O evangelho em nome de Tomé, usado pelos maniqueus: apócrifo. Os evangelhos em nome de Bartolomeu: apócrifos. Os evangelhos em nome de André: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Luciano: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Hesíquio: apócrifos. O livro sobre a infância do Salvador: apócrifo. O livro da natividade do Salvador e de Maria ou "A Parteira": apócrifo. O livro que é chamado de "O Pastor": apócrifo. Todos os livros da pena de Leúcio, discípulo do diabo: apócrifos. O livro chamado de "A Fundação": apócrifo. O livro chamado de "O Tesouro": apócrifo. O livro das filhas de Adão Leptogeneseos: apócrifo. O centão de Cristo incluído com versos de Virgílio: apócrifo. O livro que é chamado "Atos de Tecla e Paulo": apócrifo. O livro que é chamado de "Nepos": apócrifo. Os livros de Provérbios escritos por hereges e assinalados anteriormente com o nome de Santo Sisto: apócrifo. A Revelação dita de Paulo: apócrifo. A Revelação dita de Tomé: apócrifo. A Revelação dita de Estevão: apócrifo. O livro chamado de "Assunção de Santa Maria": apócrifo. O livro chamado de "A Penitência de Adão": apócrifo. O livro sobre Gog, o gigante que após o dilúvio lutou com o dragão, segundo os hereges: apócrifo. O livro chamado "Testamento de Jó": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Orígenes": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de São Cipriano": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Jamne e Mambre": apócrifo. O livro chamado "A Fortuna dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Lusa dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Cânon dos Apóstolos": apócrifo. "O Fisiólogo", escrito por hereges e assinalado com o nome do bem-aventurado Ambrósio: apócrifo. A "História" de Eusébio Pampilo: apócrifo. As obras de Tertuliano: apócrifas. As obras de Lactâncio, também conhecido como Firmiano: apócrifas. As obras de Africano: apócrifas. O opúsculo "Potumiano e Gallo": apócrifo. As obras de Montano, Priscila e Maximila: apócrifas. As obras de Fausto, o maniqueu: apócrifas. As obras de Comodiano: apócrifas. As obras do outro Clemente de Alexandria: apócrifas. As obras de Táscio Cipriano: apócrifas. As obras de Arnóbio: apócrifas. As obras de Ticônio: apócrifas. As obras de Cassiano, sacerdote gaulês: apócrifas. As obras de Vitorino Petavionense: apócrifas. As obras de Fausto Regiense Galliaro: apócrifas. As obras de Frumêncio Cego: apócrifas. A carta de Jesus a Abgaro: apócrifa. A carta de Abgaro a Jesus: apócrifa. A Paixão dos Ciricianos e Julitanos: apócrifa. A Paixão dos Georgianos: apócrifa. Os escritos chamados de "Interdição de Salomão": apócrifos. Todos os filatérios que não provêm dos anjos, como pretendem alguns, mas foram escritos em nome dos piores demônios: apócrifos.

2. Estas e outras obras similares, tais como as de Simão Mago, Nicolau, Cerinto, Marcião, Basílides, Ebion, Paulo de Samósata, Fotino e Bonóso, que sofrem de erros similares, bem como Montano e suas obscenas seguidoras, Apolinário, Valentino Maniqueu, Fausto Africano, Sabélio, Ário, Macedônio, Eunômio, Novato, Sabácio, Calisto, Donato, Eustácio, Joviano, Pelágio, Juliano de Eclanum, Celéstio, Maximiano, Prisciliano da Espanha, Nestório de Constantinopla, Máximo Cínico, Lampécio, Dióscoro, Êutiques, Pedro e o outro Pedro - um desgraçou a Alexandria e o outro, a Antioquia - Acácio de Constantinopla e seus partidários, e ainda todos os discípulos da heresia, dos hereges e dos cismáticos, cujos nomes quase não foram preservados, que ensinaram ou compilaram [o erro], confirmamos que não devem meramente ser rejeitados mas também eliminados de toda a Igreja Católica e Apostólica romana, sendo que os autores e seguidores desses autores devem ser amaldiçoados com a corrente inquebrável do anátema eterno.

A pergunta que fica aqui, depois de lermos esse documento e sua história, é, porque ninguém fala mais a respeito desse episódio da história, e porque ninguém busca maiores explicações sobre esses documentos rejeitados? O que a Igreja queria esconder?Afinal de contas, só foi permitido aquilo que interessava a um grupo seleto da alta hierarquia da Igreja Imperial.

Kadu Santoro

estudo extraído do endereço
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Evangelhos%20Apocrifos/Apocrifos/Evangelhos%20Apocrifos.htm

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

“Ao Mestre com carinho” - Uma abordagem crítica e pedagógica do filme


O filme “Ao Mestre com Carinho” estrelado pelo notável ator Sidney Potier, vivido nos meados dos anos 60, ainda é uma boa referência para se tratar sobre diversos aspectos da sociedade e principalmente em relação as metodologias pedagógicas. O filme apresenta a dificuldade de um engenheiro Guiano recém formado e negro que tenta melhorar sua condição de vida indo para a capital Londrina trabalhar como professor. Sua situação acaba virando um grande desafio, pois ele foi lecionar numa escola do subúrbio londrino, e acabou diante da turma mais problemática daquela escola.

A problemática começa a ser resolvida, quando o professor percebe que antes da questão do ensino, era preciso trabalhar os valores morais e piscológicos daqueles alunos. A rebeldia já era presente naquele momento da história com a influência de novos hábitos e comportamentos, como por exemplo o fenômeno dos “Beatles”. Cada jovem daquela classe vivia algum drama em sua vida. Por isso agiam daquela forma, tentando chamar atenção de uma forma revoltosa, e consequentemente acabavam resultando num baixo rendimento escolar.

A metodologia do professor teve êxito. No primeiro momento ele teve que ter uma postura mais enérgica, mas aos poucos, com muita franqueza e seriedade, ele foi conquistando a atenção da turma. Apresentou uma realidade desconhecida até então para aqueles futuros adultos, como deveriam se comportar, agir, se vestir e outros valores morais. E principalmente, ensinou-os a se valorizarem, confiarem em si e buscar suas metas.

Durante todo este percurso, percebemos no filme, uma grande dose de racismo e preconceito em relação ao professor, onde isso também foi quebrado no momento em que toda a classe reunida, foi prestar solidariedade no enterro da mãe de um colega deles que também era negro. Uma atitude que surpreendeu o professor e demonstrou um grande avanço na maturidade daquela turma.

Apesar deste filme ser encenado nos anos 60, ainda hoje podemos encontrar situações como aquela vivida naquele tempo em nossas salas de aula de hoje. Turmas de adolescentes que vivem o drama de não ter a atenção e carinho devido de seus pais muito ocupados com carreira, situação econômica e a busca neurótica de “ter” para poderem se afirmar como tal neste mundo capitalista selvagem. Acaba passando a ser uma tarefa do educador, trabalhar com esses dramas vividos pelos seus alunos. É muito importante a atenção e a dedicação do professor com seus alunos, independente da matéria e do programa de ensino.

Conclusão: Para que um educador possa despertar o interesse de sua classe, é necessário, que haja uma interação maior entre ambas as partes, onde o professor deve trabalhar de forma sábia, questões pertinentes ao cotidiano de cada aluno, buscando conhecer mais sobre o que eles gostam, pensam e esperam da vida. A sala de aula deve ser um lugar de troca de experiências e de resgate de valores até então perdidos na sociedade, como: gentileza, higiene, cidadania e respeito.

A responsabilidade do educador vai além do conceito de ensinar uma determinada matéria. Ele deve mais do que tudo, ajudar e direcionar seus alunos a se tornarem acima de tudo um pensador e formador de opinião, que não tenham medo de enfrentar os paradigmas impostos pela nossa sociedade.

Kadu Santoro

domingo, 8 de agosto de 2010

A contribuição dos textos gregos mais importantes para o estabelecimento do texto final do cânon do Novo Testamento.


O texto alexandrino, é o texto que mais preservou sua forma original, e também é considerado o mais antigo. O texto alexandrino foi escrito em papiros, na forma escrita de unciais e minúsculos. Os Pais da Igreja mais antigos, citavam mais os textos alexandrinos e ocidentais do que os outros, como o por exemplo, o texto cesareano, suas citações são valiosas para a compreensão do NT. O texto alexandrino possui versões em Copta, parte do Latim antigo e do Siríaco antigo. Entre os testemunhos dos Pais da Igreja sobre o texto alexandrino, temos como representantes, Atanásio, Orígenes, Cirilo de Alexandria, Cosmos Indicopleutes e Esíquio.

O texto ocidental, foi submetido a algumas adições e sofrendo modificações principalmente em Roma. A tradição latina, que se iniciou a partir de 150 d.C. refletia o texto grego das regiões onde o texto ocidental era produzido. O texto ocidental, teve como base o texto alexandrino, assim como o texto cesareano, que bebera da fonte tanto do alexandrino como do ocidental. Segundo alguns pesquisadores, o texto cesareano teria sido confeccionado no Egito, e foi levado para Cesaréia por Orígenes de onde foi trazido para Jerusalém.

Quanto ao texto bizantino, eles foram escritos em papiros com as escritas unciais e minúsculas. O texto bizantino é mais tardio, foi mencionado e exibido por Luciano em torno de 310 d.C. assim também testemunhado pelos Pais da Igreja João Crisóstomo, Gregório de Nissa e Gregório Nissense. Devido ao fato de nenhum manuscrito grego e nenhuma versão conter o texto bizantino, serve de prova de seu aparecimento tardio, possivelmente a partir do século V.

Segundo os primeiros Pais da Igreja, principalmente Orígenes e Jerônimo, observaram a diversidade de variantes que foram acrescentadas nos textos ao longo do tempo, e começaram a apurar esses textos, categorizando de formas melhores e piores. Foi sem dúvida, um grande esforço exegético textual para a época. Parte da demora na confecção do NT grego, se deveu à preocupação de um caráter tipográfico aceitável pela igreja. Apesar das muitas citações feitas de memória pelos Pais da Igreja sobre os textos do NT, nos têm provido rica fonte de informações sobre estes. Tais citações nos ajudaram muito para poder determinar o tipo de texto utilizado e de onde eles citaram.

Quanto ao Textus Receptus de Erasmo, sabemos que ele foi o primeiro a compilar e imprimir o Novo Testamento em grego, porém, sabemos que ele não dispunha de nenhum manuscrito grego uncial em papiro, ele dependeu da Vulgata Latina para desenvolver seu texto do NT. A fonte que foi consultada para a confecção da Vulgata, foi do texto bizantino já modificado, logo, era um texto “mesclado” e não puro como o alexandrino. Erasmo, não fez melhor utilização, nem mesmo dos manuscritos que tinha, porquanto o manuscrito 1 do grupo cesareano, é muito superior aos demais que ele mais utilizou. O Textus Receptus, na verdade, reinou sozinho, em função da ausência de outros textos na época, para que se pudesse reconhecer o valor comparativo dos manuscritos.


Bibliografia:
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, R. N. Champlin, Candeia, SP, 1995


Kadu Santoro

A contribuição dos manuscritos antigos, anteriores ao século XII para o estabelecimento do texto do Antigo Testamento.


Até o aparecimento dos manuscritos do mar morto entre os anos de 1947 e 1956, o manuscrito mais antigo do novo testamento, era o manuscrito massorético de Aleppo, produzido cerca de 940 d.C., nele continha todo os textos do Antigo Testamento, mas hoje em dia, depois de vários ataques a sinagoga de Aleppo, só restaram poucas partes.

O surgimento dos manuscritos do mar morto, vieram servir como prova da confiança do texto massorético, apesar de algumas variações, eles confirmaram a exatidão dos manuscritos hebraicos. Os manuscritos do mar morto, também foram importantes para a análise da versão da LXX (grego), mostrando que esse texto se encontra mais próximo dos antigos textos hebraicos do que o próprio texto massorético, logo, percebemos que se a LXX foi escrita em torno de 230 a.C., então, os manuscritos do mar morto confirmam sua antiguidade e fidedignidade.

A maioria dos manuscritos do NT que temos acesso hoje em dia foram redigidos depois do século IX. Segundo as pesquisas em Genizah no Egito, forma encontrados por lá quase duzentos mil fragmentos de manuscritos escritos em hebraico e aramaico. O fragmento mais antigo encontrado com uma menção do AT, foi uma pequena plaqueta de metal, com o trecho de Números 6.24-26, datando do século VI a.C. A partir dessa data até o ano 70 d.C., ficou uma grande lacuna aberta, sobre o aparecimento de outros manuscritos relativos a historicidade do AT. Só a partir do descobrimento dos manuscritos do mar morto, que puderam confirmar a autenticidade dos textos anteriores, e também a existência de um texto chamado protomassorético.

Os judeus, por tradição, destruiam as cópias velhas e desgastadas das Sagradas Escrituras, e isso gerou uma escassez de cópias, porém, por intermédio Divino, foi preservado aqueles textos justamente considerados canônicos. Vários homens foram levantados por Deus, para a preservação e restauração dos textos sagrados. A partir da destruição do templo de Jerusalém em 70 d.C. houve uma corrida para a preservação dos textos do AT, Akiba o rabino, foi um dos grandes responsáveis pela preservação, assim como os escribas que tiveram o árduo trabalho de administrar os textos, contando as letras, o número de palavras e os versículos dos livros do AT. Essa imensa preocupação com o AT, foi responsável pela preservação da exatidão da transmissão desses.

Os Massoretas, começaram seus esforços eruditos em cima dos textos antigos, a partir do século VI, e continuaram atuantes por cerca de mil anos, até quando foi inventada a impressa. Eles foram os responsáveis por acrescentar ao texto sagrado hebraico um sistema de pontos vocálicos, inventaram os parágrafos as divisões de palavras, facilitando assim a leitura desses textos. Ainda existia os Naqdanins, que eram os pontuadores, eram gramáticos que tinham o papel principal de melhorar o trabalho dos massoretas.

As traduções mais importantes e que contribuiram diretamente para a formação do AT foram a Septuaginta (LXX), inciada em torno de 230 a.C., a versão Siríaca Peshitta, mais ou menos do século V d.C. e a Vulgata Latina, de aproximadamente 400 d.C., além dos Targuns aramaicos de várias datas. Sem dúvida, que a Septuaginta foi fonte de influência para outras versões. Além da Septuaginta e do Aleppo, temos mais alguns manuscritos importantes do AT, como o Codex Cairo (895 d.C.) e o Leningrado (916 d.C.). Podemos concluir que tanto o texto massorético (como único texto hebraico do AT) e a Septuaginta, segundo as confirmações estabelecidas a partir dos manuscritos do mar morto, conferem a confiança plena dos textos que vieram compôr definitivamente o cânon do Antigo Testamento.


Kadu Santoro