sábado, 27 de fevereiro de 2010

A necessidade de uma ecoteologia


Quando falamos de teologia, pensamos logo em um discurso do homem sobre Deus. Porém, esse discurso passa por várias fases dentro dos livros sagrados, começa desde a criação e perpassa por toda a história, culminado num processo salvífico em um plano eterno ou através de encarnações sucessivas. Podemos observar que a natureza e todo o ecossistema foram criados antes do homem, assim sendo uma forma de preparação de um ambiente favorável e harmônico para o surgimento do homem, logo, entender os propósitos de Deus para com a natureza no contexto da criação, é uma forma de fazer teologia.

A vida só se torna possível no mundo, quando estamos em perfeito equilíbrio com a natureza, pois fomos criados e integrados à ela, todo o nosso corpo é formado por partículas e substâncias comuns no meio natural, segundo os mitos de muitos povos primitivos, fomos criados do barro, do pó da terra, ou seja, somos parte de um todo em perfeita harmonia, as narrativas míticas dos livros sagrados são repletas de metáforas associadas a elementos naturais, por exemplo: o sal da terra, pão da vida, água viva, todos componentes necessários para que haja a vida na terra.

Encontramos na Bíblia muitos relatos sobre a relação do homem com a natureza, mas a passagem que está mais de acordo com nossos dias se encontra no livro do profeta Oséias (Os 4.3) “Por isso, a terra se lamentará, e qualquer que morar nela desfalecerá com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar serão tirados.” Esse reflete exatamente o quadro da situação caótica atual, em função da ganância e do egoismo, o homem está destruindo o meio ambiente, atacando contra o seu próprio patrimônio, em consequência disso, vimos constantemente, o aumento de furacões, tsunamis, terremotos, aquecimento global, surgimento de novas doenças etc.

Essa teologia que está predominando por aí, ainda é um ranço sistemático e ortodoxo de uma época de repressão religiosa violenta, onde aqueles que pregavam a favor da liberdade de pensar, da paz e da harmonia entre o homem e a natureza, eram considerados hereges jogados na fogueira. Como dizia o filósofo Voltaire em seu livro Cândido ou o otimismo: “é preciso cuidar de nosso jardim”, esse jardim, é o nosso meio ambiente, a natureza, que está pedindo socorro, é preciso uma nova teologia, que aborde as questões relacionadas ao nosso meio ambiente, a mãe terra que chora vendo seus filhos se destruirem, os mares virando esgotos ao céu aberto, a poluição pairando sobre os ares, devemos compreender que em todo meio ambiente ou paisagem natural, existe a manifestação do sagrado, e é nesta dimensão do sagrado que devemos trabalhar nossa nova teologia, voltada da terra como dádiva para o homem, coroa da criação.

Para finalizar, devemos lembrar que quando surgiu nossa tradição judaico-cristã, com todo seu corpo de doutrinas teológicas, já existia uma cultura milenar ligada à terra e a natureza, espalhada pelo mundo, como por exemplo, os índios de diversas etnias, os xamãs, astecas, incas, maias, aborígenes australianos, hindus, africanos entre outros, então, chegou a hora de repensarmos sobre nossos conceitos teológicos, e procurar estabelecer uma nova aliança com Deus através do respeito ao meio ambiente e a natureza.


Reflita você também,

Kadu Santoro

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Ordem dos Cavaleiros Templários e sua história


Tal como acontece com muitas outras seitas secretas do mundo antigo, a influência do culto guerreiro dos assassinos pode ser encontrada em outra sociedade fechada, a da ordem militar cristã dos Cavaleiros Templários. Poucas instituições medievais inspiraram mais respeito - embora tingido pelo medo e pela inveja - do que esta ordem militante dedicada à proteção dos peregrinos cristãos na Terra Santa.

A Ordem dos Cavaleiros Templários foi fundada em 1118 pelo nobre francês Hugues de Payns e outros oito soldados veteranos. Dedicados a garantir uma passagem segura entre o porto de Jaffa (em Israel atual) e a cidade de Jerusalém, os cavaleiros tiraram seu nome, Cavaleiros Pobres do Templo, do Templo de Salomão da cidade santa, local onde eles, supostamente, ficaram aquartelados pela primeira vez. Jerusalém fora arranca da do domínio muçulmano pela Primeira Cruzada, dezenove anos antes, mas os exércitos cristãos que ocupavam a cidade e os territórios próximos estavam sob constante ameaça de árabes hostis. Posto que um estado de guerra mais ou menos contínuo existia entre as duas forças, foi com gratidão que a Igreja Católica recebeu os serviços de Payns e seus pios cavaleiros. Em 1128, líderes religiosos reunidos em concílio em Troyes, França, decidiram reconhecer oficialmente os Cavaleiros Templários, tal como vieram a ser conhecidos, como uma nova ordem religiosa.

Mesmo servindo às necessidades da cristandade, uma ordem religiosa marcial estava em franco conflito com a política tradicional da Igreja, que proibia os membros do clero de portarem armas. Os cavaleiros eram uma classe guerreira, e a Igreja tendia a vê-los como ímpios e licenciosos. Em 1095, Bernardo de Clairvaux descreveu-os como "velhacos descrentes, saqueadores, sacrílegos, homicidas, perjuros, adúlteros". A idéia das cruzadas foi em parte lançada para canalizar as energias irrequietas dos cavaleiros. A criação dos Cavaleiros Templários foi vista como um modo de redimir uma classe sem lei, e, com efeito, muitos dos recrutados haviam sido antes excomungados. Apesar da opinião que tinha dos guerreiros em geral, Bernardo era um grande admirador da ordem e seu patrono oficioso. Chamando-os de "executores legais de Cristo", absolveu os templários do pecado de matar, contanto que suas vítimas fossem inimigos da Igreja.

Tal como outras ordens religiosas, os templários faziam votos de pobreza, castidade e obediência e, exceto pelo porte de armas, viviam em tudo como monges. A Regra do Templo, que governava suas vidas cotidianas, foi provavelmente sugerida por Bernardo. Ela incluía o silêncio estrito nas refeições e a recitação de orações em horários fixos. Para garantir a castidade, os templários dormiam totalmente vestidos em dormitórios iluminados e não tinham permissão para beijar nem mesmo suas mães. Além disso, estavam proibidos de participar de qualquer reunião que pudesse evocar-lhes sentimentos de saudades da vida familiar. Como soldados do Senhor, os templários faziam voto de jamais recuar em batalha, mesmo contra forças esmagadoras. Os membros eram punidos com severidade por infringir mesmo a regra aparentemente mais trivial. Um cavaleiro, por exemplo, foi expulso da ordem por ter perdido um cavalo que pedira emprestado para caçar lebres (esta foi na verdade uma infração dupla, posto que os templários estavam proibidos de caçar qualquer coisa menos nobre que um leão - o que, para todos os propósitos práticos, correspondia a linces do deserto).

O emblema dos templários era um cavalo com dois cavaleiros, simbolizando a pobreza e a fraternidade. Bernardo era claramente mais favorável a esse bando rústico do que aos cavaleiros seculares ricos, observando que os templários eram vistos "raramente lavados, com suas barbas desgrenhadas, suarentos e cobertos de poeira, manchados pelos arreios e pelo calor". Os cavaleiros templários vestiam um manto branco com uma cruz vermelha como brasão e cavalgavam para a batalha atrás de um estandarte branco e preto chamado de Beauseant, em homenagem aos cavalos malhados, favoritos dos fundadores da ordem. A mesma palavra tornou-se seu grito de batalha.

Do mesmo modo que outras organizações medievais, os templários estavam organizados em uma rígida hierarquia. O chefe da ordem era o grão-mestre. Abaixo dele, um grão-prior chefiava cada um dos muitos capítulos regionais encontrados por toda a cristandade. Os cavaleiros de manto branco eram recrutados entre as famílias nobres e formavam o corpo de oficiais da ordem; além destes, uma classe secundária de sargentos, ou irmãos servidores, vinha de famílias sem títulos de nobreza e usava mantos castanhos ou negros. Abaixo dessas duas classes combatentes estavam os escalões inferiores de escudeiros, ou atendentes e demais serviçais e trabalhadores que cuidavam das propriedades e castelos dos templários.

Os cavaleiros eram iniciados no templo em uma cerimônia secreta celebrada à noite, na casa do capítulo sob guarda. O grão-prior perguntava diversas vezes aos cavaleiros reunidos se tinham qualquer objeção ao ingresso do noviço para a ordem. Não havendo, ele repetia as regras da ordem e perguntava ao noviço se este tinha esposa ou família, dívidas ou doenças e se devia vassalagem a qualquer outro senhor. Tendo respondido negativamente, o noviço ajoe­lhava-se, pedindo para tornar-se um "serviçal e escravo" do templo e jurando obediência em nome de Deus e da Virgem Maria. Finalmente, o manto branco era posto sobre seus ombros e o iniciando era recebido nas excelsas fileiras dos Cavaleiros Templários.

O segredo que rodeava a investidura e outras cerimônias templárias conferia um caráter misterioso à ordem e alimentava os rumores sobre as atividades em seus claustros; os adversários murmuravam a respeito de perversão sexual e ocultismo. Com o tempo, tais acusações passaram a ser feitas em público e no início do século XIV, após duzentos anos de serviços, a lenda dos Cavaleiros Templários teve um final abrupto e triste.

A queda dos templários pode ser atribuída a diversos fatores. Um deles foi o declínio das cruzadas no final do século XIII, minando o propósito original da ordem. Outro foi a riqueza coletiva desses cavaleiros "pobres". Sustentar um exército em pé de guerra em uma série de fortificações a milhares de quilômetros de casa exigia recursos consideráveis. Com o tempo, os templários acumularam grandes quantias de dinheiro, originário de doações e das rendas de suas propriedades, as quais, por serem propriedades religiosas, estavam isentas de impostos. Os templários aprenderam a administrar suas rendas com grande habilidade e, no processo, tornaram-se os banqueiros de grande parte do mundo ocidental. Reis e príncipes confiavam seu ouro à ordem, cujos templos eram as estruturas mais robustas e mais fortemente defendidas de toda a Europa. Talvez fosse inevitável que os monarcas medievais - a maioria deles em perpétua busca de ouro para financiar suas guerras incessantes - lançassem um olhar de inveja para os cofres dos templários. O começo do fim chegou em uma sexta­-feira, 13 de outubro de 1307, quando Filipe IV (que devia dinheiro à ordem) ordenou a prisão de todos os templários em seu reino. Filipe acusou os cavaleiros de heresia, mas suas motivações podem ter tido menos a ver com a piedade do que com a perspectiva de forrar os bolsos com ouro templário. Um mês depois, por insistência de Filipe, o papa Clemente V deu a todos os soberanos carta branca para prender os templários e tomar posse de suas propriedades. Muitas das acusações feitas contra a ordem diziam respeito à cerimônia de iniciação do grupo, alegando que os noviços faziam votos de entregar-se a atividades homossexuais e a práticas blasfemas como cuspir ou urinar sobre a cruz. Os acusadores afirmavam que os cavaleiros adoravam o diabo, às vezes sob a forma de um gato negro que eles beijavam atrás do rabo e outras vezes como um ícone conhecido como Bafomé. Alegava-se que os cavaleiros usavam óleo extraído de bebês assassinados para massagear Bafomé, descrito como uma cabeça humana empalhada ou como um crânio cheio de jóias montado sobre um falo de madeira.

Bafomé era uma corruptela do nome do profeta islâmico Maomé e a alegação de adoração desse ídolo macabro era parte de uma acusação mais geral, segundo a qual os templários eram secretamente muçulmanos. Com certeza, depois de duzentos anos vivendo no Oriente Médio os templários haviam absorvido grande parte da cultura do inimigo. Muitos cavaleiros falavam árabe e, ao contrário da maioria dos europeus, seguiam a moda árabe de usar barba. Ocasionalmente, lutaram lado a lado com os assassinos contra outras facções árabes na guerra intestina que, ontem como hoje, era típica do mundo muçulmano. Os críticos dos templários salientaram as semelhanças de vestimenta e organização dos dois grupos e chegaram até a acusar os cavaleiros de serem um grupo auxiliar encoberto dos assassinos. A maioria dos historiadores nega essas acusações. Contudo, sabe-se que pelo menos um templário, o cavaleiro inglês Robert of St. Albans, converteu-se ao islamismo e comandou um exército muçulmano. Ha também uma lenda persistente a respeito de uma "tribo de cruzados" que seria descendente de desertores templários e teria adotado os modos muçulmanos e sobrevivido por séculos no norte da Arábia.

Com base em tais alegações, os apaniguados do rei Filipe aplicaram medidas extremas para extrair confissões dos templários; dias depois da captura, 36 cavaleiros morreram em virtude das torturas recebidas nas masmorras do rei. Três anos depois, em 1310, 54 templários foram queimados. A perseguição continuou, a despeito da admissão, feita pelo papa Clemente V em 1312, de que a igreja não tinha provas da heresia. Contudo, cedendo mais uma vez às pressões do rei, o papa decretou a dissolução da ordem dos Cavaleiros Pobres do Templo.

Os templários que não morreram sob os tormentos do rei tiveram permissão de juntar­-se a outra ordem ou voltar à vida secular. No entanto, o último grão-mestre dos cavaleiros, Jac­ques de Molay, foi condenado à prisão perpétua após tornar pública sua confissão particular. De Molay, porém, embaraçou os funcionários do estado e da igreja ao declarar publicamente que sua ordem era inocente. Por este último ato de imprudência, de Molay foi sentenciado à fogueira. Quando as chamas o envolveram, ele amaldiçoou tanto o rei quanto o papa, chamando-os a julgamento diante de Deus - Clemente em quarenta dias e Filipe dentro de um ano. Ambos morreram de acordo com a previsão de Jacques de Molay.



Para saber mais:



http://www.samauma.com.br/samauma/ao0501templario.htm

http://geocities.yahoo.com.br/clivert75/templarios.html

http://www.imagick.org.br/pagmag/themas2/templa.html



Fontes:

Seitas Secretas – Coleção Mistérios do Desconhecido. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1992.

A perseguição Católica contra os Cátaros


O mesmo século XII que assistiu ao zelo religioso expressado nas cruzadas, foi também, paradoxalmente, uma época de crescente desilusão com a Igreja católica e com as maneiras terrenas do clero. Desde suas origens humildes como uma entre as muitas seitas do Império romano, a Igreja tornara-se uma instituição de riqueza e privilégio. Com freqüência, padres e bispos viviam no luxo, ao mesmo tempo que se entregavam a práticas espúrias tais como perdoar pecados em troca de dinheiro. Em grande parte, foi como reação contra o fausto e o esplendor indecoroso da Igreja que o catarismo se enraizou, primeiramente no norte da Itália, e depois por todo o sul da França.

Com medo da repressão da Igreja, os primeiros cátaros mantiveram sua fé em segredo. Em pouco tempo, porém, a seita atraiu tantos seguidores, que pôde passar a agir abertamente sob a proteção de senhores feudais poderosos, capazes de desafiar o papa. No sul da França, o catarismo e outro movimento vagamente semelhante, conhecido como waldensianismo, tornaram-se, na prática, as religiões oficiais.

As teologias cátara e católica estavam em nítido conflito. Do ponto de vista católico, a salvação vinha através do sofrimento físico de Jesus, um ser espiritual que havia ingressado na carne de modo a redimir a humanidade morrendo na cruz. Segundo os cátaros, a redenção da humanidade não vinha da morte de Cristo, e sim do exemplo de vida que levou à terra. Os cátaros negavam também que o mundo físico imperfeito pudesse ter sido criado por um Deus perfeito; tal como os gnósticos e maniqueístas antes deles, os cátaros rejeitavam a visão bíblica da criação e, com efeito, todo o Antigo Testamento. Um cátaro alcançava a salvação mediante o conhecimento da verdadeira origem e destino da humanidade e através da renúncia ao mundo satânico da carne, de uma vida de abstinência e pobreza.

Ao contrário dos católicos, os cátaros acreditam na reencarnação; se uma pessoa fracassasse em uma vida, alegavam, teria a oportunidade de ter sucesso em outra. Rejeitavam o batismo, a cruz como símbolo, a confissão individual e todos os ornamentos religiosos.Os serviços eclesiásticos eram simples e podiam ser realizados em qualquer parte. Consistiam de uma leitura do evangelho, um sermão breve, uma bênção e a Oração do Senhor. A abordagem “de volta ao básico” da liturgia feita pelos cátaros antecipou a simplicidade de algumas das seitas protestantes de épocas posteriores.

O catarismo tinha duas classes, ou graus. Os leigos eram conhecidos como crentes. Não se exigia que seguissem as rígidas regras de abstinência reservadas para os perfecti, ou bonhommes (homens bons) eleitos, que formavam a hierarquia da igreja cátara. Qualquer pessoa que desejasse juntar-se aos perfecti, homem ou mulher, teria que enfrentar um período de prova nunca inferior a dois anos. Durante esse tempo, a pessoa renunciava a todos os bens terrenos, vivia comunalmente com outros perfecti e se abstinha de vinho e carne. Para evitar as tentações da carne, os iniciandos não podiam ter qualquer contato com o sexo oposto e faziam um voto de jamais dormir nus. No final do período de prova, o noviço recebia o consolamentum, um rito que combinava características de batismo, confirmação e ordenação, conduzido em público diante de uma grande congregação. Nesse rito, o iniciando respondia a uma série de perguntas feitas por um veterano da igreja, e depois prometia viver uma vida de pobreza, abstinência e obediência a Deus e aos evangelhos.

A Igreja Católica fez o que pôde para combater a expansão da heresia cátara. Em primeiro lugar, tentou atrair os cátaros de volta ao rebanho despachando missões de catequese formadas por monges cistercianos, lideradas pelo chefe da ordem, o futuro São Bernardo de Clairvaux. Os monges fizeram poucas conversões, e a recalcitrância dos hereges desanimou Bernardo, cujos esforços para alcançá-los foram respondidos por vaias e apupos pelas ruas de Toulouse.

As regiões cátaras do sul da França estavam sob o controle político do conde Raymond VI de Toulouse, também seguidor da fé cátara. O diálogo entre as autoridades cátaras e as católicas interrompeu-se quando um escudeiro do conde assassinou um enviado especial do papa Inocêncio III a Toulouse. O assassinato deixou o papa tão enraivecido que ele, literalmente, não conseguiu falar durante dois dias. Então, ele declarou que os cátaros eram “piores que o próprio sarraceno” (termo cristão para os mulçumanos) e convocou uma cruzada para varrer a heresia de uma vez por todas. Seu apelo foi respondido com presteza por muitos cavaleiros franceses, levados a agir por diversas razões. Tratava-se da primeira cruzada dirigida contra o inimigo na Europa, de modo que não exigia nem o tempo, nem as despesas necessárias para uma cruzada na Terra Santa. Também, além da salvação prometida a todos os que se unissem à cruzada por quarenta dias pelo menos, os recrutas podiam contar com a posse dos despojos materiais do território conquistado.

A cruzada (Albigense) foi lançada em 1209, com vinte mil cavaleiros montados à frente de um enorme exército. Em sua primeira grande vitória, os cruzados tomaram a cidade de Beziers e massacraram quase todos os habitantes, entre eles muitos que se consideravam católicos leais. Quando perguntaram ao legado papal como distinguir entre hereges e católicos, dizem que ele respondeu: “Matem-nos a todos. Deus se encarregará dos seus”.

Contudo, a fé cátara era forte e as legiões papais enfrentaram um a longa luta. Quase quarenta anos se passaram antes que os cruzados esmagassem a última resistência armada e células secretas de fiéis cátaros sobreviveram por mais meio século. Uma medida do peso do catarismo sobre seus seguidores pode ser vista na disposição destes para o martírio. Milhares de perfecti.,diante da opção entre a morte e a conversão ao catolicismo, negaram-se a renunciar a sua fé. Morreram, às vezes de fome, acorrentados às paredes de calabouços, mas em geral queimados publicamente em grandes piras. Diante da perseguição e da tortura, alguns optaram pelo rito cátaro da Endura, uma forma santificada de suicídio pelo jejum.

Assim, por mais um quarto de século se estenderia esta guerra e em 1243 o arremedo de resistência da região havia cessado quase que completamente. Dentre os pontos que ainda resistiam, o mais importante foi Montségur. Sitiada durante dez meses e resistindo bravamente, capitulou em março de 1244.
Mesmo parecendo exterminado, o catarismo não morreu. Grupos isolados continuaram a exercê-lo influenciando vários outros grupos que depois chegaram ao Languedoc: valdenses, hussitas, adamitas, anabatistas e os camitas, que depois se refugiaram em Londres no início do século XVIII.
Os intelectuais modernos têm por hábito considerar os cátaros como sendo sábios, místicos ou "iniciados" detentores de segredos cósmicos. Isto fortalece o poder de uma lenda que diz respeito a um TESOURO CÁTARO. Entretanto, esta lenda parece ter foros de realidade.
Naquela época corria a notícia de que os cátaros possuíam um fabuloso tesouro místico, muito mais importante do que a riqueza material. No cerco de Montségur, isto é fato, se tem a notícia de que dois fugitivos, dois perfecti, desceram o monte na calada da noite, arriscando as suas vidas para salvarem um precioso tesouro. Foram bem sucedidos!
Presumia-se que este fabuloso tesouro estava escondido em Montségur e depois de salvo nunca mais se ouviu comentários a seu respeito. O fato é que pelo menos vinte, dos que vigiavam Montségur e que pertenciam à milícia invasora, tornaram-se perfecti, devido à impressão neles provocada por algo que presenciaram num festival organizado pelos cátaros, numa trégua que lhes foi concedida devido ao seu fornecimento de reféns , para que pudessem comemorar um certo dia 14 de março.

A história e a religião dos cátaros estão sendo cada vez mais conhecidas. É até possível falar de uma renovação, pois suas idéias estão refazendo seu caminho. Com relação a isso, não há dúvida de que uma releitura do Novo Testamento, à luz da exegese cátara, pode trazer uma nova e bela iluminação à compreensão do cristianismo. No alvorecer do terceiro milênio, os cristãos talvez se interessem em buscar nos cátaros algo da essência de sua religião de origem.





Fontes:

http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=77

Seitas Secretas – Coleção Mistérios do Desconhecido. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1992.

Revista “O Rosacruz” nº246

História e desenvolvimento do Orfismo no mundo grego


De acordo com a lenda, Orfeu foi um poeta da Trácia que cantava e tocava a lira tão bem que os animais selvagens ficavam mansos, as árvores se curvavam, e até as pedras passavam a segui-lo. Orfeu juntou-se aos argonautas na jornada em busca do Velocino de Ouro, e era sempre capaz de apaziguar conflitos que surgiam entre os participantes dessa aventura. Na viagem de volta para a Grécia, Orfeu salvou seus companheiros ao suplantar com seu canto a voz das sereias que haviam causado o naufrágio de diversas embarcações.

Quando sua mulher, Eurídice, morreu envenenada pela picada de uma cobra, Orfeu, desesperado, desceu ao mundo dos mortos, onde seu canto e sua música comoveram Hades, que lhe permitiu trazer Eurídice de volta. A única condição imposta por Hades a Orfeu foi não olhar para trás até que tivessem atingido a superfície. Porém, ao ver o sol, o herói, comovido, vira-se para sua amada, que o seguia, e a perde para sempre.

Logo após seu retorno à Trácia, Orfeu encontrou a morte ao ser esquartejado pelas Mênades, seguidoras do deus Dioniso. Há diversas explicações para o episódio. Dioniso pode ter encorajado as Mênades a matar Orfeu por vingança, uma vez que o cantor o havia tratado de maneira desrespeitosa. Ou talvez cada uma das Mênades quisesse guardar para si um pedaço do artista. A cabeça de Orfeu foi atirada no Rio Hebros, onde flutuou até o Mar Egeu, chegando à Ilha de Lesbos, onde foi sepultada com as devidas cerimônias. Diz-se que, em agradecimento, Orfeu dotou o povo da ilha de grande talento musical.

De acordo com a lenda, Orfeu aprendeu a derrotar a morte em sua jornada ao mundo dos mortos. Então ele transmitiu esse conhecimento a outras pessoas, por meio de rituais de iniciação.

A partir do século VI a.C., desenvolveu-se na Grécia um culto que invocava Orfeu e rejeitava todas as religiões e toda ordem social vigentes. Os órficos, como eram chamados os seguidores de Orfeu, eram muito diferentes dos adeptos da religião tradicional. Uma das diferenças diz respeito à sua alimentação: conforme o testemunho do poeta grego Hesíodo (700 a.C.), autor da Teogoma, o sacrifício e a ingestão de carne representavam uma divisão nítida entre os seres humanos e os deuses imortais, que criam laços entre todos os participantes dos sacrifícios rituais que antecedem as refeições. Os órficos, ao contrário, recusavam-se a comer carne, assim expressando sua oposição a todo um conjunto de valores religiosos. Tinham, também, um estilo próprio de vestir, como por exemplo o uso de mantos brancos.

A religião órfica se baseava em uma revelação que se opunha às noções religiosas transmitidas por Hesíodo, sobre a origem do universo. Enquanto na teogonia o mundo se origina do caos e do vazio, os órficos acreditavam que ele tinha emergido de um ovo primordial - uma imagem que corporificava os princípios da unidade e da abundância. Desse ovo nasceu Eros, o deus do amor, da harmonia original, capaz de promover a reconciliação entre opostos.

No que diz respeito ao nascimento dos deuses do Olimpo, a versão dos órficos concordava com a de Hesíodo em muitos pontos, mas divergia sobre a origem da humanidade. De acordo com os ensinamentos órficos, o aparecimento dos seres humanos era o resultado de um crime dos Titãs, os filhos de Urano (o céu) e de Gaia (a terra). Os Titãs haviam matado e devorado o jovem deus Dioniso. Para puni-los, Zeus, o deus supremo do Monte Olimpo, desferiu uma série de raios para destruir os Titãs. De suas cinzas, surgiram os primeiros homens e mulheres. Como descendentes dos Titãs, os humanos eram violentos e maldosos; por outro lado, traziam em si, também, a essência de Dioniso. O objetivo dos órficos era libertar a alma dionisíaca da prisão do corpo material. Isso poderia ser alcançado através de rituais de purificação e de uma vida baseada no ascetismo.

O orfismo, no entanto, não obtivera grande popularidade. À medida que vagavam de cidade em cidade, os seguidores de Orfeu eram vistos como pessoas suspeitas. O filósofo Platão os chamou, desdenhosamente de charlatães que prometiam a salvação a pessoas ingênuas.

Os ensinamentos do filósofo e matemático ­Pitágoras mostram certos paralelos com a religião órfica, mas eles também não eram vistos com bons olhos por muitos. Sabe-se que, naquela época, circularam diversos textos cujo conteúdo era uma apresentação ao orfismo, mas infelizmente nenhum deles chegou aos dias de hoje.

Placas de ouro encontradas em túmulos no sul da Itália e na Ilha de Creta fornecem indícios sobre o modo de vida dos órficos. Essas placas tinham por finalidade guiar a alma do morto até o outro mundo, e ostentam inscrições que lhe prometem o retorno ao estado original da existência. É provável que os órficos acreditassem na reencarnação, e que um certo nível de perfeição pudesse ser alcançado humanos a medida que sua alma fosse passando de corpo em corpo.

Entre 400 e 200 a.C., o Orfismo perdeu grande parte de sua influência como movimento religioso. Um certo número de filósofos gregos, no entanto, continuou a preservar os seus ensinamentos, dando origem a um movimento místico, cuja influência pode ser acompanhada ao longo da Antiguidade clássica e era ainda notável por volta de 100 a.C.

Por ter se propagado de forma tão extensa, o Orfismo pode ter exercido alguma influência sobre o Cristianismo. Os paralelos são impressionantes: Orfeu venceu a morte, trouxe ao mundo uma revelação e fundou ­uma doutrina de salvação das almas. Imagens de Orfeu têm sido encontradas em mosaicos e pisos de residências, indicando que o dono da casa era um homem culto e apreciador das artes. A imagem de Orfeu também tem sido encontrada em ataúdes, onde talvez não represente a promessa de ressurreição, mas a esperança de uma vida melhor no além-túmulo. Nas pinturas ­encontradas em catacumbas dos primeiros cristãos, que eram obrigados a praticar sua religião às escondidas, Cristo aparece simbolizado pela figura de Orfeu.



Fontes:

Balthazar, Jean et al (redatores). Os últimos mistérios do mundo. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2003.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

BBB: A dinâmica da alienação atual


Vivemos a geração do BBB, Big Brother Brasil, e do Bom Bonito e Barato. Essa é a dinâmica da nossa sociedade hoje em dia, totalmente narcisista, consumista e superficial, totalmente alienada. Dê uma espiadinha! em outras palavras, deixe seu precioso tempo de lado e fique alienado observando a vida alheia, deixe de buscar conhecimento, intelectualidade, paz e sabedoria, para viver uma vida fútil e vazia, ficando narcotizado na frente da tela da televisão, enfeitiçado pelo poder de sedução da mídia. Neste processo de alienação, o que vale apena é se dar bem, ser sarado, turbinado, bombado, você tem que ser “o cara”, valorizar-se como um verdadeiro narcisista. As discuções e as intrigas do BBB já fazem parte da família alienada brasileira, um verdadeiro show de afrontas, pornografia e conspirações através das câmeras, e mais, você é parte desse contexto, ligue para dar seu voto para fulano ou siclano, contribua com a pornografia e o baixo nível, eleja sua candidata preferida para se tornar a próxima capa de revista nua nas bancas de todo o país, ou naquele imbecil que vai ficar rodeando a cidade em seu automóvel luxuoso e se embreagando nas boites mais badaladas fazendo publicidade pessoal.

É isso aí, é só entrar, espiar e depois votar!!! Você já parou para pensar e refletir sobre os nossos paradigmas atuais? BBB, traficantes ousados, policiais corrompidos, políticos corruptos que escondem dinheiro nas meias e nos bolsos, povo aliendado, o que mais falta para esse caos explodir de vez?

Nossas vidas não valem mais nada, o bom, bonito e barato, é o que predomina, o bom, ou melhor “o bãooo”, significa aquilo o qual desconheço todas as suas qualidades, funcionalidades e propriedades mas todos tem, aquilo que tem “marca”, é “show de bola”, assim que definimos o que é o bom, aquilo que apenas pela massificação da mídia e publicidade alcança a população aliendada. O bonito, é “ser sarado”, corpo perfeito e mente atrofiada, a estética que predomina é a da vaidade total em contraposição ao processo de inteligência, um verdadeiro culto ao corpo para ambos os sexos, em detrimento dos valores morais e éticos da vida, bonito hoje em dia é jogar álcool em mendigos e atear fogo nos pobres coitados, brigar em boites pela madrugada, ser um “badboy”, passar a perna nos outros e por aí vai... e finalmente chegamos na banalidade total, “o barato”, pois é, nossa vida não vale mais nada, é coisa completamente barata, mata-se por qualquer coisa, briga-se por qualquer motivo. A cultura de hoje está barata também, só revistas de futilidades, programas de auditórios televisivos totalmente vazios de conteúdo cultural, pregadores pedindo dinheiro na mídia prometendo prosperidade em troca, só violência nos cabeçários dos jornais, apologia a prostituição e as drogas, por apenas alguns trocados, você acaba com sua vida em pouquíssimo tempo consumindo pedras de crack. Essa é a banalização e o total estado de alienação que estamos vivendo nesses dias de BBB.


Reflita!

Kadu Santoro

JUNG: SOBRE BUDA E CRISTO


Na Índia encontrei-me pela primeira vez sob a influência direta de uma civilização estrangeira altamente diferenciada. O que me preocupou acima de tudo foi o problema da natureza psicológica do mal. Fiquei profundamente impressionado com a forma como esse problema se integra na vida do espírito indiano e, através desta constatação, adquiri uma nova concepção. Analogamente, conversando com os chineses cultos, sempre fiquei impressionado em ver que era possível integrar aquilo que é considerado "mal", sem por isso "passar vergonha". Entre nós, no Ocidente, não ocorre o mesmo. Para um oriental, o problema moral não parece ocupar o primeiro plano, tal como ocorre conosco. Para ele, pertinentemente, o bem e o mal são integrados na natureza e, em suma, são apenas diferenças de grau de um único e mesmo fenômeno.

Espantava-me o fato de que a espiritualidade indiana contivesse tanto o bem como o mal. O cristão aspira pelo bem e sucumbe ao mal, o indiano, pelo contrário, sente-se fora do bem e do mal, ou procura obter esse estado pela meditação ou a ioga. Neste ponto, no entanto, é que surge minha objeção: numa tal atitude, nem o bem, nem o mal têm contornos próprios e isso leva a uma certa inércia. Ninguem acredita verdadeiramente no mal, ninguém acredita verdadeiramente no bem. Bem ou mal significam, no máximo, o que é o meu bem ou o meu mal, isto é, o que me parece ser bem ou mal. Poder-se-ia dizer, paradoxalmente, que a espiritualidade indiana é desprovida tanto do mal como do bem, ou, ainda, que se acha de tal forma oprimida pelos contrários que precisa a qualquer custo do Nirdvandva, isto é, da liberação dos contrastes e das dez mil coisas.

A meta do indiano não é atingir a perfeição moral, mas sim o estado de Nirdvandva. Quer livrar-se da natureza, e por conseguinte atingir pela meditação o estado sem imagens, o estado do vazio. Eu, pelo contrário, tendo a manter-me na contemplação viva da natureza e das imagens psíquicas, não quero desembaraçar-me nem dos homens nem de mim mesmo, nem da natureza, pois tudo isso representa, a meus olhos, uma indescritível maravilha. A natureza, a alma e vida me aparecem como uma expansão do divino. O que mais poderia desejar? Para mim, o sentido supremo do ser consiste no fato de que isso é, e não o fato de que isso não é ou não é mais.

Para mim não há liberação à tout prix (a todo o custo). Não poderia desembaraçar-me de algo que não possuo, que não fiz, nem vivi. Uma liberação real só é possível se fiz o que poderia fazer, se me entreguei totalmente a isso, ou se tomei totalmente parte nisso. Se me furtar a essa participação, amputarei de algum modo a parte de minha alma que a isso corresponde. O homem que não atravessa o inferno de suas paixões também não as supera. Elas se mudam para a casa vizinha e poderão atear o fogo que atingirá sua casa sem que ele perceba. Se abandonarmos, deixarmos de lado, e de algum modo esquecermo-nos excessivamente de algo, correremos o risco de vê-lo reaparecer com uma violência redobrada.

Em Konarak (Orissa), encontrei um pandit que me guiou e instruiu por ocasião de uma visita ao templo e ao grande "Templo-carro". Da base ao cume o pagode é coberto de esculturas obscenas e refinadas. Conversamos demoradamente sobre esse fato insólito; meu guia explicou que se tratava de um meio de atingir a espiritualização. Objetei - mostrando um grupo de camponeses jovens que olhavam essas maravilhas, de boca aberta - que eles não pareciam a caminho da espiritualização, mas que se compraziam em fantasias sexuais. Ao que meu interlocutor respondeu: "Mas é justamente disso que se trata! Como poderiam eles se espiritualizar, se não realizassem primeiro o seu carma? As imagens obscenas aí estão para lembrar-lhes seu dharma (lei); de outro modo, esses inconscientes poderiam esquecê-lo!"

A colina de Sânchi representava para mim algo de central. Lá, o budismo revelou-se a mim numa nova realidade. Compreendi a vida do Buda como a realidade do si-mesmo que penetrara uma vida pessoal e a reivindicara. Para o Buda, o si-mesmo está acima de todos os deuses. Ele representa a essência da existência humana e do mundo em geral. Enquanto unus mundus, ele engloba tanto o aspecto do ser em si, como aquele que é reconhecido e sem o qual não há mundo. O Buda certamente viu e compreendeu a dignidade cosmogônica da consciência humana; por isso via nitidamente que se alguém conseguisse extinguir a luz da consciência, o mundo se afundaria no nada. O mérito imortal de Schopenhauer foi o de ter compreendido ou redescoberto esse fato.

Cristo também - como o Buda - é uma encarnação do si-mesmo, mas num sentido muito diferente. Ambos dominaram o mundo em si mesmos: o Buda, poder-se-ia dizer, mediante uma compreensão racional; o Cristo, tornando-se vítima segundo o destino; no cristianismo, o principal é sofrer, enquanto que no budismo o mais importante é contemplar e fazer. Um e outro são justos, mas no sentido hindu o homem mais completo é o Buda. Ele é uma personalidade histórica e, portanto, mais compreensível para o homem. O Cristo é, ao mesmo tempo, homem histórico e Deus, e, por conseguinte, mais dificilmente acessível. No fundo, ele sabia apenas que devia sacrificar-se, tal como lhe fora imposto do fundo de seu ser. Seu sacrifício aconteceu para ele tal como um ato do destino. Buda agiu movido pelo conhecimento, viveu sua vida e morreu em idade avançada. É provável que a atividade de Cristo, enquanto Cristo, se tenha desenrolado em pouco tempo.

Mais tarde, produziu-se no budismo a mesma transformação que no cristianismo: Buda tornou-se então a imago da realização do si-mesmo, um modelo que se imita, pois, como disse ele, todo indivíduo que vence a cadeia dos nidanas pode tornar-se um iluminado, um Buda. Acontece o mesmo com o cristianismo. Cristo é um modelo que vive em cada cristão, expressão de sua personalidade total. Mas a evolução histórica conduziu à imitatio Christi, segundo a qual o indivíduo não segue o caminho de seu próprio destino para a totalidade, mas, pelo contrário, tenta imitar o caminho que Cristo seguiu. Da mesma forma, no oriente isso conduziu a uma fiel imitação do Buda. O fato de que o Buda se tenha tornado um modelo a ser imitado era, em si, uma debilitação de sua idéia, exatamente como a imitatio Christi é uma atecipação da detenção fatal da evolução da idéia cristã. Buda, pela virtude de sua compreensão, elevava-se acima dos deuses do bramanismo; do mesmo modo, Cristo podia gritar ao judeus: "Vois sois deuses!" (João, 10:34); mas os homens foram incapazes de compreender o sentido dessas palavras. Pelo contrário: o Ocidente chamado "cristão" caminha a passos de gigante para a possibilidade de destruir o mundo, em lugar de construir um mundo novo.

Carl Gustav Jung; Memórias, sonhos e reflexões

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carta do Cacique Seattle ao Presidente dos EUA em 1855


"O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há uma ligação em tudo."

Este documento - dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente - vem sendo intensamente divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas). É uma carta escrita, em 1855, pelo chefe Seatle ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, quando este propôs comprar grande parte das terras de sua tribo, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva".

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, com é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrada para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das arvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do potro, e o homem - todos pertencem a mesma família.

Portanto Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Essa terra é sagrada para nós.

Essa água brilhante que escorre nos riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se que ela é sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.

Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.

Não há lugar quieto na cidade do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o deabrochar das flores na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez porque eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o canto solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo.

O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio verão limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se verdermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro aspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição, o homem branco deve tratar os animais dessa terra como irmãos.

Sou um selvagem e não compreendo outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planîcie, abandonados pelo homem branco que o alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos.

O que é os homens sem os animais? Se todos os animais se fossem os homens morreriam de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.

Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisa estão ligadas como o sangue que une a família. Há uma ligação em tudo.

O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fazer ao tecido, fará a si mesmo.

Mesmo o homem branco cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as tribos.

Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia?

Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.


Esta carta, além da sua profunda sabedoria ligada à Criação e a mãe terra, nos traz a uma reflexão exata para os dias de hoje em que vivemos, dias maus. Que ela venha servir de lição e reflexão para todos nós.


Kadu Santoro

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ética para a nova era - Leonardo Boff


Nenhuma sociedade no passado ou no presente vive sem uma ética. Como seres sociais, precisamos elaborar certos consensos, coibir certas ações e criar projetos coletivos que dão sentido e rumo à história. Hoje, devido ao fato da globalização, constata-se o encontro de muitos projetos éticos nem todos compatíveis entre si. Face à nova era da humanidade, agora mundializada, sente-se a urgência de um patamar ético mínimo que possa ganhar o consentimento de todos e assim viabilizar a convivência dos povos. Vejamos, suscitamente, como na história se formularam as éticas.

Uma permanente fonte de ética são as religiões. Estas animam valores, ditam comportamentos e dão significado à vida de grande parte da humanidade que, a despeito do processo de secularização, se rege pela cosmovisão religiosa. Como as religiões são muitas e diferentes, variam também as normas éticas. Dificilmente se pode fundar um consenso ético, baseado somente no fator religioso. Qual religião tomar como referência? A ética fundada na religião possui, entretanto, um valor inestimável por referi-la a um último fundamento que é o Absoluto.

A segunda fonte é a razão. Foi mérito dos filósofos gregos terem construído uma arquitetônica ética fundada em algo universal, exatamente na razão, presente em todos os seres humanos. As normas que regem a vida pessoal chamaram de ética e as que presidem a vida social chamaram de politica. Por isso, para eles, politica é sempre ética. Não existe, como entre nós, politica sem ética.

Esta ética racional é irrenunciável mas não recobre toda a vida humana, pois existem outras dimensões que estão aquém da razão como a vida afetiva ou além como a estética e a experiência espiritual.

A terceira fonte é o desejo. Somos seres, por essência, desejantes. O desejo possui uma estrutura infinita. Não conhece limites e é indefinido por ser naturalmente difuso. Cabe ao ser humano dar-lhe forma. Na maneira de realizar, limitar e direcionar o desejo, surgem normas e valores. A ética do desejo se casa perfeitamente com a cultura moderna que surgiu do desejo de conquistar o mundo. Ela ganhou uma forma particular no capitalismo no seu afã de realizar todos os desejos. E o faz excitando de forma exacerbada todos os desejos. Pertence à felicidade, a realização de desejos mas, atualmente, sem freios e controles, pode pôr em risco a espécie e devastar o planeta. Precisamos incorporá-la em algo mais fundamental.

A quarta fonte é o cuidado, fundado na razão sensível e na sua expressão racional, a responsabilidade. O cuidado está ligado essencialmente à vida, pois esta, sem o cuidado, não persiste. Dai haver uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade (a fábula-mito 220 de Higino) que define o ser humano como essencialmente um ser de cuidado. A ética do cuidado protege, potencia, preserva, cura e previne. Por sua natureza não é agressiva e quando intervem na realidade o faz tomando em consideração as consequências benéficas ou maléficas da intervenção. Vale dizer, se responsabiliza por todas as ações humanas. Cuidado e responsabilidade andam sempre juntos.

Essaa ética é hoje imperativa. O planeta, a natureza, a humanidade, os povos, o mundo da vida (Lebenswelt) estão demandando cuidado e responsabilidade. Se não transformarmos estas atitudes em valores normativos dificilmente evitaremos catástrofes em todos os níveis. Os problemas do aquecimento global e o complexo das varias crises, só serão equacionados no espírito de uma ética do cuidado e da responsabilidade coletiva. É a ética da nova era.

A ética do cuidado não invalida as demais éticas mas as obriga a servir à causa maior que é a salvaguarda da vida e a preservação da Casa Comum para que continue habitável.


Leonardo Boff é autor de Saber cuidar. Etica do humano, compaixão pela Terrra, Vozes.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Influências xamanísticas no Judaísmo e no Cristianismo


O xamanismo lança bastante luz sobre a tradição judaico-cristã. Acima de tudo, ele explica a figura do próprio Jesus, inclusive sua morte na Árvore (Sheldrake abaixo não emprega a palavra cross, mas sim tree (árvore, lenha) sinônimo de "cruz" na patrística + teologia), sua descida aos infernos, sua ressurreição e sua subida ao Céu. Também nos permite ver as raízes arcaicas da revelação visionária, da profecia inspirada, da iniciação pelo batismo e dos miraculosos poderes de cura.

ASPECTOS XAMÂNICOS DO JUDAÍSMO E DO CRISTIANISMO
Rupert Sheldrake


"Como também ocorreu com muitas outras pessoas nas duas últimas décadas, fiquei fascinado pelas tradições xamânicas, inclusive por aquelas que envolvem o uso de plantas psicodélicas.
Xamanismo é o nome dado por antropólogos a praticas de experiência visionária extática encontradas entre povos tradicionais em todo o mundo.
As raízes do xamanismo são arcaicas, e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana. As mitologias dos povos xamânicos, seu simbolismo e suas técnicas de cura, são, todos eles, baseados na experiência extática. Seus temas comuns são " a descida ao reino da Morte, confrontos com forças demoníacas, desmembramento, prova pelo fogo, comunhão com o mundo dos espíritos e das criaturas, assimilação das forças elementais, ascensão pela Árvore do Mundo, ou pelo Pássaro Cósmico, realização de uma identidade solar e retorno ao Mundo Médio, o mundo das ocupações humanas"
No livro de Samuel, lemos que "antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia :
'Vinde, vamos ter com o vidente'; porque ao profeta (nabi) de hoje antigamente se chamava vidente" (1 Samuel 9:9).
A instituição do vidente do período nômade dos judeus foi modificada depois da conquista da Palestina, sob a influência dos nabiim, os profetas extáticos da religião cananita., tais como os profetas de Baal (1 Reis 18:19 ss; 2 Reis 10:19). Os videntes não estavam ligados aos santuários, ao contrário dos profetas. Por exemplo, quando Samuel unge Saul rei de Israel, dá-lhe instruções para a viagem que irá fazer, incluindo a seguinte :
Então seguirás a Gibeá-Eloim (a colina de Deus), onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto (do santuário), precedidos de saltérios e tambores e flautas e harpas, e eles estarão profetizando. O Espírito do Senhor se apossará de tí, e profetizarás com eles, e tu serás mudado em outro homem. (Samuel 10:5-6)
Na igreja primitiva, os dons carismáticos do espírito Santo, incluindo os de curar, de falar em outras línguas e de profetizar, expressavam-se em estados que se assemelhavam à possessão xamânica.
Esses dons foram foram cultivados em diversas seitas pentecostais, e, graças ao recente florescimento carismático, são hoje amplamente invocados dentro da corrente principal do cristianismo, inclusive a igreja metodista, anglicana e católico romana.
A experiência visionária, às vezes induzidas por práticas tais como o jejum, é uma característica recorrente do misticismo cristão e, assim como a tradição profética dos hebreus, tem muitos precedentes nas visões extáticas dos xamãs. Neste século, formas psicodélicas exóticas do cristianismo surgiram na América, onde plantas psicoativas tradicionalmente utilizadas nas tradições xamânicas indígenas são hoje ingeridas cerimonialmente como uma forma de comunhão cristã. Uma igreja desse tipo é a Native American Church (Igreja Nativa Americana), na região sudoeste, que usa o cacto peiote, que contém mescalina.
Outra igreja está atualmente se difundindo entre os povos da floresta da Amazônia, com uma comunhão em torno da Ayahuasca ou Daime. A padroeira dessas igrejas amazônicas é a Virgem Maria sob a forma de Rainha da Floresta.
Rituais de iniciação, tais como a prática do batismo por imersão total no Rio Jordão, feita por São João Batista, eram claramente eficazes, num sentido que era mais do que "apenas simbólico".
Muitos daqueles que foram batizados dessa maneira tiveram a experiência de morrer e renascer, fenômeno que é fundamental nos rituais de iniciação do mundo inteiro. Um processo semelhante ocorre espontaneamente nas experiências de quase-morte.
Essas experiências são caracterizadas por um padrão comum, incluem elementos tais como um esmagador sentimento de paz e de bem estar, a sensação de se ver fora do próprio corpo, de flutuar ou de ser impelido através de um vazio escuro, de se tornar consciente de uma luz brilhante branca ou dourada, e de se encontrar ou de se comunicar com uma "presença" ou "ser de luz", ocasião em que é geralmente decidido o destino das pessoas, de ter uma visão panorâmico da própria vida, de entrar num mundo de sublime beleza e de reconhecer pessoas amadas já falecidas, de conversar com elas, e vários outros elementos transcendentais.
O fenômeno produz um efeito profundo na pessoa que passou por ele, e o fato do medo ser grandemente reduzido não é o aspecto menos considerável desse efeito.
A mim me parece muito provável que João Batista praticava o afogamento controlado. Se ele mantivesse os iniciados debaixo d'água por um tempo suficientemente longo, eles, de fato, poderiam ter a experiência de morrer e renascer, que lhes mudaria a vida.
Embora na maioria das igrejas cristãs a prática do batismo da criança muito nova por meio da aspersão da água signifique que grande parte da sua qualidade iniciática original se perdeu, os batistas conservam a prática de batizar adultos num ritual de imersão total, e são as igrejas batistas que enfatizam em maior grau a experiência do renascer. De fato, sua forma de cristianismo está centralizada nessa experiência de conversão.


Texto extraído do site
http://www.xamanismo.com.br/

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carlos Castañeda - O Filósofo Xamanista


O misticismo Xamanista Tolteca do antropólogo e escritor brasileiro Carlos Castañeda (1935-1998), influenciou muito o pensamento filosófico ocidental entre as décadas de 60 e 80. Sem querer muito entrar nos detalhes de sua vida, que por muitas vezes se fundia com a ficção através de seus personagens místicos, quero apresentar suas principais obras e alguns pensamentos:

OBRAS PUBLICADAS:

A Arte do Sonhar - Último livro sobre os ensinamentos de Dom Juan, esta obra mostra a eliminação dos limites humanos através de uma viagem ao mundo real através do sonho. A exemplo do que fez com o “intento”, em “O Poder do Silêncio”, Castañeda reaparece com uma obra extremamente complexa, dedicada a análise de um dos intrigantes ensinamentos de Dom Juan: o sonhar. Do lançamento de seu último livro até a publicação deste foram mais de seis anos em completo isolamento da mídia, tempo que Castañeda passou justamente praticando essa arte aqui descrita, pela qual os feiticeiros adquirem mais coragem do que o normal e viajam a lugares aos quais nunca alcançariam ou voltariam com vida.

A Erva do Diabo - História de Carlos Castañeda, antropólogo americano, interessado no estudo de plantas alucinógenas que encontra um índio do Novo México. Esse índio o leva a experiências acima de sua compreensão, que acabarão mudando-o para sempre.

A Roda do Tempo - A Roda do Tempo é uma coletânea de citações extraídas dos oito primeiros livros do antropólogo Carlos Castañeda, que dedicou trinta anos ao estudo do mundo dos xamãs que viveram no México antigo. Para acompanhar as citações, Carlos Castañeda escreveu comentários pessoais sobre cada livro. A ordem dos textos mostra uma linha de continuidade que cria um contraponto de idéias de grande interesse para os leitores.

O Fogo Interior - Nesta obra, Castañeda descreve com detalhes surpreendentes os ensinamentos de Don Juan, mostrando um "outro ponto de vista" sobre seus encontros com o índio yaqui.

O Poder do Silêncio - Novos ensinamentos de Don Juan.

O Presente da Águia - Nessa sexta obra do autor, Dom Juan volta a aparecer, dessa vez em forma de memórias de Castañeda dos tempos em que ele visitava o velho índio. Os capítulos não são todos relacionados entre si e muitas vezes os acontecimentos narrados são separados por grandes intervalos de tempo. Essa técnica narrativa, também utilizada em “Viagem a Ixtlan”, e empregada aqui como forma de iluminar assuntos obscuros relativos aos seus aprendizados e as historias de feitiçaria. Nesse volume é explicado o que de fato aconteceu com Dom Juan e seu grupo quando eles saltaram do abismo juntamente com Castañeda e Pablito em “Porta para o Infinito”. Também é apresentada a noção de vida de Dom Juan. O presente de uma águia infinita a qual o guerreiro deve desafiar se quiser ganhar a liberdade total.

O Segundo Círculo do Poder - Castañeda, agora sem seu mestre, o índio Dom Juan, volta ao deserto de Sonora em busca de Pablito, mas encontra um grupo feiticeiras que desafiam seu conhecimento.

Passes Mágicos - Carlos Castañeda oferece neste livro a chave para o condicionamento energético. Ensina uma série de posições corporais e movimentos físicos que possibilitaram a vários xamãs e seus aprendizes a navegação em suas próprias jornadas iniciáticas. Partilhando este conhecimento que data de centenas de anos e vem de uma tradição que se estende para mais de vinte e sete gerações, Castañeda torna possível aos leitores a viagem a alguns desses reinos. Castañeda oferece uma história filosófica dos passes mágicos mostrada em 450 ilustrações produzidas por computador.

Porta para o Infinito - Castañeda, agora um homem misterioso e inacessível, relata as últimas lições aprendidas com o índio Dom Juan.

Relatos de Poder (Tales of Power)

Conversas com Don Juan

Uma estranha realidade - Castañeda, após três anos sem ver o índio Dom Juan, volta ao Novo México para reiniciar seu aprendizado como feiticeiro.

Viagem à Ixtlan - Com esta obra, Castañeda se consagra como escritor e dá ao leitor as chaves para o mundo do índio Dom Juan, com uma clareza jamais presente em seus livros anteriores.

Lado Ativo do Infinito - Durante trinta anos o antropólogo Carlos Castañeda estudou a cultura e os diferentes sistemas de cognição dos xamãs do México antigo. Sua obra percorreu as impressões dos antigos pajés acerca do universo, o poder da espiritualidade indígena e a expansão da consciência e dos sentidos. O lado ativo do infinito, último livro do autor, que faleceu em 1998, se detém especialmente no simbolismo em torno da morte. Castañeda remonta encontros, personagens, conflitos e reflexões que marcaram seu caminho e que, certamente, levarão os leitores a repensar questões que permeiam suas próprias vidas.


PENSAMENTOS:

O comportamento: um homem deve ir em busca da sabedoria, da mesma maneira que um soldado vai para a guerra: com medo, com respeito, e com total segurança. Deve agir como se soubesse onde está indo, embora na realidade não tenha a menor idéia do que irá encontrar; o que importa é que ele está percorrendo o caminho que escolheu.
Nada a perder: um guerreiro considera-se já morto. Como não tem nada a perder, ele segue adiante com alma e com calma. O medo já não consegue tirar sua energia, e ele consegue aplicá-la para viver cada momento com toda a intensidade possível. Um guerreiro tem certeza que todas as ferramentas para enfrentar as futuras dificuldades estão em suas mãos, e é o uso dessas ferramentas, também chamada de experiência, que o permitirá superar os obstáculos.

Agindo e conhecendo: um guerreiro sempre é um caçador. Ele calcula tudo e age, depois de refletir bem o que deve fazer. Ninguém consegue obrigá-lo a fazer coisas que não deseja. Ele vive porque age, e não porque pensa que age. Como sabe que está neste mundo apenas por um breve período de tempo, ele procura conhecer todas as maravilhas possíveis. Fala pouco, jamais se preocupa com o medo, e assume a responsabilidades de seus atos.

A morte como companheira: um guerreiro-caçador sabe que cada decisão pode ser sua última. A morte é sua companheira, sempre sentada do seu lado esquerdo, à distância de menos de um metro. Por isso, vai ao campo de batalha totalmente concentrado em sua vida, sabendo que a maior parte das pessoas está passando de uma ação para a outra sem pensar muito.
Os caminhos são iguais: todos os caminhos são iguais, e levam a lugar nenhum. Portanto, o guerreiro escolhe um caminho que tenha vida própria, e a partir do momento em que começa a percorrê-lo, ele se alegra e se transforma no próprio caminho; sua decisão de continuar nele apenas depende da alegria, e não da sua ambição ou do seu medo. Portanto, sempre antes de agir, ele pergunta a si mesmo: Este caminho tem um coração?.

A opinião dos outros: um guerreiro nunca gasta seu precioso tempo pensando na opinião dos outros. Conhece pessoas que acham que são importantes, e por causa disso também são gordas, arrogantes e sem flexibilidade. Para um guerreiro, a arte do combate deve ser combinada com leveza, ausência de tensão e de ambição. Um guerreiro é gentil com os outros porque, sobretudo, é gentil consigo mesmo.

A intenção: a intenção de um homem não é um pensamento, um objeto, ou um desejo, mas aquilo que o faz seguir adiante, mesmo quando todo mundo diz que será derrotado, ou o que escolheu não fará o menor sentido. Portanto, ter uma intenção clara ajuda um guerreiro a ser invulnerável, a agir como um feiticeiro, que é capaz de atravessar paredes, e atingir o infinito.

A escolha do seu caminho: nada neste mundo é dado de presente; as lições mais importantes são sempre aprendidas com muito esforço e dificuldade. Tendo isto em conta, o guerreiro-caçador jamais se desespera, se desgasta, ou perde seu tempo culpando os outros, porque sabe que em cada gesto seu está a responsabilidade de suas escolhas. Um guerreiro não pode reclamar ou arrepender-se: sua vida é uma luta constante, e os desafios não são bons ou ruins, são apenas desafios.


Kadu Santoro

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Terra Santa???


Jerusalém

A estrada está gritando, chamando seu nome
Pois em cada estrada que você viaja
Há um preço a pagar
Mil olhos estão encarando
Mas o cego ainda conduz o cego

Refrão:
Pra onde você vai virar se tudo der errado?
E você está em fuga

Jerusalém?

Você diz que caminhou pelo vale
Você diz que viu os sinais
Ecos te chamam de uma era distante
Ou estão em sua mente?

Então mil almas erguem-se do mar
Agarrando o sol
E um anjo grita 'cuidado com suas mentiras'
Poderia ser o fim de tudo

Refrão:
Pra onde você vai virar se tudo der errado?
E você está em fuga

Jerusalém?

Todos sabem seu nome
Toda estrada leva à ira
Será que será sempre assim
Há alguma razão para retornar?

Quando um anjo chora - Jerusalém
Melhor ter cuidado com suas mentiras - Jerusalém
Quando um anjo chora – Jerusalém


Tradução da música JERUSALÉM
do grupo Inglês BLACK SABBATH


Agora dê uma olhada no vídeo abaixo e confira
os frutos da intolerância religiosa.

http://www.youtube.com/watch?v=yNYLzVc53vs


Reflita até que ponto o sectarismo
monoteísta chegou em 2.000 anos

Kadu Santoro

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O DESPERTAR - A verdadeira união com Deus


Como dizia um velho mestre Zen: “se não despertarmos, seremos como fantasmas agarrados a sementes”. Diante desta afirmação, percebemos que dependendo da forma que nos apresentamos, seja como figuras imponentes, vestidas com este ou aquele traje, podemos ser capazes de fazer comentários a respeito de qualquer tipo de escrituras ou doutrinas, seja ela cristã, budista, hindu etc, podemos ter suportado todas as formas de austeridade e provações, ter visitado vários tipos de mestres e sábios, estar supostamente iluminado, realizado em todos os sentidos, porém, não passamos de meros buracos negros camuflados.

O despertar é a mais sublime e profunda experiência que um ser humano pode ter. Esse processo começa pelo conhecimento de si próprio, como “alguém no mundo”. O despertar é a realização da nossa humanidade, ele significa que a nossa busca espiritual não é uma tarefa que apenas as pessoas dotadas podem atingir. Ao contrário, as pessoas que para o mundo são consideradas altamente espiritualizadas, geralmente são tão ligadas às suas próprias convicções, dogmas e crenças que são como moscas presas numa teia.

Todos nós temos o potencial inato para experimentar o despertar. Cada um de nós, desde o início, é inteiro e completo (Imago Dei), e tem tudo o que é necessário para perceber isso, habita em nós uma centelha divina, que precisa ser dispertada, porém, o caminho do despertar não é fácil, exige um grande esforço e determinação interior para poder alcançá-lo.

É necessário nos desnudarmos completamente, devemos nos livrar de todo o ranço colocado em nós através da sociedade, das religiões e seus dogmas. Devemos começar a olhar a vida de forma mais contemplativa e seguirmos as intuições que nos vem através da nossa expansão de consciência. A grande “queda do homem” narrada na Bílbia, nada mais é do que o afastamento do homem da essência primordial e da natureza de Deus. Através da experiência do despertar, passaremos a viver uma vida plena e restaurada em comunhão com o criador.

Busque a cada dia despertar, e viva a verdadeira união com Deus.

Kadu Santoro

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Qual é o problema do mal? - Caio Fábio


De onde vem o mal segundo as Escrituras?

As Escrituras não tratam da questão metafísica do mal, mas apenas afirmam a sua existência — tanto autônoma quanto dependente de Deus. Tanto existe contra a Vontade de Deus, como também a cumpre contra seu próprio intento perverso.

Portanto, nas Escrituras, o mal não é explicado metafisicamente. Elas partem da realidade dele no mundo. Na experiência da existência. E só então tratam da existência de forças espirituais que se vinculam a experiência do mal concreto no mundo.

A presença da Serpente no Éden prescinde de explicação. Fazia parte; e não se diz a razão.

Entretanto, a Serpente fala pelo mal personalizado e auto-consciente. Fala pelo Mau como pessoa não-humana.

Assim, sem saber por que... — sabemos o quê.

Não sabemos por que o mal existe. E nem sabemos a procedência do emulador do primeiro intento maligno na essência de um ser — de Satanás, por exemplo.

Sabemos que as Escrituras colocam todas as criaturas como criaturas de Um Único Deus. Satanás (seja ele quem tenha sido antes de se endiabrar) foi gerado em Deus, de Deus, por Deus e para Deus.

E que “mau” poderia existir fora de Deus? Especialmente um ser - mau ou um “mau-ser”?

Sim! Se existisse qualquer coisa “fora de Deus” — essa coisa, por sua própria existência “fora de Deus”, seria divina e igual a Deus.

Se Deus É. Então, fora de Deus, nada É. E se há algo fora de Deus, algo fora de Deus também É. E se É, é igual a Deus. Aliás, acaba com Deus. Pois, daí pra frente Deus não É. Deus Seria dois. E dois não é. Dois são. Um É.

Por isto, se existisse qualquer coisa “fora de Deus” — essa coisa, por sua própria existência “fora de Deus”, seria divina e igual a Deus.

E se fosse assim...

Daí para frente a coisa toda viraria um jogo de Titãs à moda grega. Tudo uma questão de “plano”, de “esperteza”, e de “poderes”. Bem parecido com o modo como a maioria dos cristãos vêm a Batalha Espiritual. Sim! Bem pagãmente!

Emocionalmente para os “cristãos” há dois Deuses: um Deus e outro deus.

Nas Escrituras o “mau” tem poder sobre o mundo. Sobre os líderes. Sobre o fluxo de dinheiro. Sobre os mecanismos de comunicação e sobre a manipulação de seus conteúdos e temas. Ele é chamado de “Príncipe deste mundo” ou “deus deste século”.

Vemos nas Escrituras o “mau” em liberdade e, ao mesmo tempo, contido. Está solto e preso. Pode e não pode. Faz ou é proibido de fazer. Fere, mas tem de ter permissão. Não mata sem consentimento.

Nas Escrituras os mundos concreto e invisível se misturam. O mal, por conseguinte, assim também se manifesta: con-fuso!

Por isto o “Rei de Tiro” é exemplo e simbolização de como Lúcifer seria ou é.

Por isto também o diabo aparece a Jesus como o líder dos reinos deste mundo, dizendo: “Tudo ti darei...” Como um rei!

Por isto também a Besta poderosa do Apocalipse se confunde com o sistema Político e Econômico — as confederações e confrarias políticas e os Cartéis de Negócios são extensão dela. Os poderes procedem dela, ao mesmo tempo em que a alimentam.

Nas Escrituras anjos e demônios se equivalem. A natureza de seus seres não nos é explicada. São espíritos. Espíritos que nos precedem... E que podem penetrar nossa dimensão.

Anjos são também espíritos de serviço aos humanos e adoração a Deus. São como nossas faces diante do nosso Pai que está nos céus — disse Jesus. Eles socorrem. Aparecem. Ajudam de modo invisível. Visitam-nos em sonhos. Podem comer e beber com os homens sem serem “diferentes”. Também podem tomar formas diversas; ou estar contidos a diversas formas de se manifestarem.

Homens, relâmpagos, ventos, fogo, objetos estranhos, etc. — são imagens a eles associadas.

Eles cumprem papeis pessoais, globais e muito além disso.

Deus precisa de anjos? Certamente não!

Deus precisa de anjos tanto quanto precisa de homens. Assim, pode-se de dizer que Deus criou os anjos assim como criou os homens: por amor.

E, quem sabe, também se pudesse dizer que os anjos mantiveram-se bons ou maus, tendo tido sua própria tentação de “liberdade” ou “autonomia” para serem ou não para Deus.

Os anjos não parecem conhecer “ambigüidades” como a conhecem os humanos.

Entre os humanos parece haver sempre bondade potencial em cada homem mal e haver maldade potencial em cada homem bom.

Os anjos, entretanto, são ou não são. Ou são mensageiros de Deus ou são do mal.

Demônios são primordialmente espíritos de anjos rebelados. Entretanto, existem também os fantasmas, e que não são espíritos humanos desencarnados (conforme a tese espírita), mas sim projeções de energia psíquica liberadas em ambientes específicos, nos quais a maldade, a violência, a perversidade e a indiferença habitaram por gerações e gerações de humanos.

Ora, mais do que de qualquer coisa, os demônios se alimentam desses elementos, e os usam para estabelecer conexões visíveis com os humanos — os que são a tais coisas vulneráveis.

Demônios também sentem fixação em possuir mentes, almas e corpos.

Existe um elemento na natureza do ser humano que lhes é absolutamente desejável: a alma.

E, ligado a ela, o corpo!

Daí as Escrituras também dizerem que o Dilúvio aconteceu porque anjos possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos gigantes; e que se tornaram os poderosos e os controladores do mundo antigo.

O exemplo mais primitivo de possessão demoníaca de humanos é o das filhas dos homens sendo “possuídas” — física e mentalmente — pelos filhos de Deus.

Nos dias de Jesus, com grande abundancia, eles se manifestavam mediante a possessão “clássica”.

E assim é na maior parte das vezes.

O homem é bom e é mau. Portanto, ele é ambíguo. Ele quer o bem... — mas muitas vezes faz o que é mal; embora se culpe por isto.

Entretanto, é do coração dos humanos que procedem as fontes boas e más desta existência.

O homem é anjo e é demônio!

Anjos e demônios, portanto, sentem profunda atração pela existência dos humanos.

Por isto se diz que os principados e potestades aprendem com os homens.

Eles aprendem e devolvem o foi “aprendido”, em outra forma — mais profunda e mais sofisticada.

Homens ficam possessos de anjos demoníacos, mas não de anjos submissos a Deus.

É a “possessão” o que os diferencia.

A bondade dos anjos em relação aos homens está em servi-los sem possuí-los. Já a maldade dos demônios vem da intenção de comer, de devorar, de possuir, de dissolver os humanos neles mesmos.

Ora, os humanos também produzem elementos de maldade invisível, além da obvia, concreta e conhecida maldade que somos capazes de gerar.

Os homens geram Dilúvios a partir do Inconsciente Individual e que se torna Inconsciente Coletivo.

Isto acontece pela suma e multiplicação que acontece entre os humanos. Sim! Pela via da inter-conectividade entre cada inconsciente humano — especialmente quando se tornam densos pelo convívio não-sadio.

Os homens são tentados pelo mal que os habita, e que é usado pelo “Mau” que deles se alimenta, e que, por isto, devolve aos homens a sua própria produção em estado de maior sofisticação, o que gera um up-grade na manifestação da perversão humana que acabará por retro-alimentar todo o processo...

Eu teria muitas e muitas outras coisas a dizer sobre outras dimensões que se conectam a essa rede, mas, estou cansado hoje, e vou ficar por aqui.

Um beijão!


Caio

4/1/07

Lago Norte

Brasília

DF

O Poder do Mito - Joseph Campbell



Sinopse do livro:

O Poder do Mito é o fruto de uma série de conversas mantidas entre Joseph Campbell e o destacado jornalista Bill Moyers, numa brilhante combinação de sabedoria e humor. O casamento, os nascimentos virginais, a trajetória do herói, o sacrifício ritual e até os personagens heróicos do filme Guerra nas Estrelas são aqui tratados de modo original. Campbell afirmava que os mitos passados nos ajudam a compreender o presente e a nós mesmos.. - Joseph Campbell 'Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas esperiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivo...' 'Nunca encontrei alguém que soubesse contar melhor uma história do que Joseph Campbell. Escutando-o falar sobre as sociedades primitivas, foi transportado às largas planuras sob a imensa cúpula do céu aberto, ou à espessa floresta sob o pálio das árvores, e comecei a entender como as vozes dos deuses falavam através do vento e do trovão, e como o espírito de Deus flutuava em todo riacho da montanha, e toda a terra florescia como um lugar sagrado - o reino da imaginação mítica.' - Bill Moyers


TÍTULO: O PODER DO MITO
EDITORA: Palas Athena
ISBN: 8572420088
IDIOMA: Português.
ENCADERNAÇÃO: Brochura | Formato: 21 x 28 | 249 págs.
ANO DA OBRA/COPYRIGHT: 1988
ANO EDIÇÃO: 2007
AUTOR: Joseph Campbell | Bill Moyers
TRADUTOR: Carlos Felipe Moises

IMPERDÍVEL !!!

Kadu Santoro

A ausência de desejo


A ausência de desejo se verifica, apenas, naquele que sabe o que o desejo é, e, sabendo-o, o destrua. A ausência de desejo, só a possui quem haja experimentado o desejo e tenha feito dele sua conquista.

Os frutos da ignorância devem ser colhidos da Árvore da Sabedoria antes que possa esta alimentar-se e fortificar-te.

A ausência de desejo...
Filho meu, lembra-te!
Faze a experiência do desejo e não fujas de seus laços; examina como atua a Grande Lei que dá a cada um de teus desejos o fruto correspondente. O desejo das coisas da Terra e dos bens terrenos te aprisiona e limita. E, a esse respeito, põe-te em guarda, ó ser imortal, revestido da roupagem de um só dia...

Não te ligues às pequenas coisas, a fim de que aumente teu poder para a conquista das coisas grandes.

Não penses que se fugires do mundo, há de encontrar o Meu Caminho: Meu Caminho está no mundo, onde andam todos os homens. Sem embargo, só aqueles que têm os pés desnudos, só aqueles cujo peito se oferece às feridas do sofrimento podem palmilhar o Caminho Interior.

Aquele que anda sólidamente calçado não descobrirá o Meu Caminho; o que se mantém todo envolto no seu manto não sentirá o sopro do Meu Espírito. O Espírito sopra em toda parte e se detém naquele que é pobre e desnudo. Pobre em desejos, sim, pobre e, não obstante, rico; desnudo, mas vestido de Luz. Tais são os que seguem Meu Caminho, os Filhos de Meu peito.

Se desejas verdadeiramente seguir a Minha senda, obedece em tudo às instruções que te dou:

Não pretendas ensinar aos outros antes de haveres, tu mesmo, recebido as Sagradas Lições, para que a teu irmão não ofereças fórmulas vãs. Mas se no âmago da instrução que te for dada descobrires, por ti mesmo, pérolas de Luz, reconhece, nisso, que já terás muito que dar e não receies ensinar por ti mesmo. Só o coração pode compreender; dirige-te, pois, a ele, passando por sobre a inteligência; só o coração pode obter o conhecimento; é nele que mora a Sabedoria.

Não pretendas dar, a menos que tuas mãos estejam cheias. Caminha silenciosamente, até que teu Mestre te enriqueça. Mais vale não dar coisa alguma que oferecer aos outros o fruto vazio de tua alma.

Não pretendas cantar, se não for a tua voz a de um cantor, pois, se áspero e inarmônico o teu canto, os ouvidos de alguns de teus irmãos podem cerrar-se, mas tarde, à sinfonia perfeita.

Não pretendas curar com as tuas mãos, a não ser que o possas realmente fazer; teme, antes, ferir de morte algum de teus irmãos.

Não pretendas dirigir quem quer que seja, para que não se apoiem em ti; caminha, ao invés, tão humildemente que por ti aprendam os outros a se conduzir. Sem embargo, se teu irmão de ti precisar, não receies levantar teu bastão de peregrino para lhe indicar a rota que deve seguir. Lembra-te de que o Instrutor e o discípulo são apenas Um, e que Um, são o guia e o que é guiado.

Quando, com a mesma alegria, guiares e fores guiado, ensinares e fores instruído, cantares ou te conservares mudo, então, a lição que tem por título “Ausência de Desejo” terá sido aprendida, e terás dado um pequeno passo ao longo da tua caminhada.


Testo extraído do livro O MESTRE FALA...
uma publicação da Fraternitas Rosicruciana Antiqua

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

JACOB BOEHME (1575-1624) - Vida e obra do grande místico incompreendido


Jakob Böhme, por vezes grafado como Jacob Boehme, nasceu em Alt Seidenberg, Alemanha, em 1575. Foi um filósofo e místico alemão. Tendo sido educado como luterano, trabalhou como sapateiro em Görlitz.

Böhme passou por experiências místicas em toda a sua juventude, culminando em uma epifania no ano de 1600 que teria lhe revelado a estrutura espiritual do mundo, assim como as relações entre o Bem e o Mal. Na época, ele decidiu não divulgar a sua experiência e continuou trabalhando como sapateiro, constituindo família e tendo quatro filhos. Entretanto, após uma outra visão em 1610, ele começou a escrever sua primeira obra, Aurora. O tratado foi publicado e divulgado em forma de manuscrito até que uma cópia caiu nas mãos de Gregorious Ritcher, principal pastor de Görlitz, que o considerou herético e ameaçou exilar Böhme, se ele não parasse de divulgar os seus escritos. Após anos de silêncio, os amigos e patronos de Böhme conseguiram convencê-lo a continuar escrevendo e em pouco tempo novas cópias escritas a mãos comecaram a circular.

Seu primeiro livro impresso, Christosophia, foi publicado em 1623 e causou outro escândalo. Em um curto período de tempo, entre 1618 e 1624, Böhme produziu uma enorme quantidade de tratados e epístolas, incluindo suas maiores obras De Signatura Rerum e Misterium Magnum. Suas idéias conquistaram muitos seguidores em toda a Europa e os seus discípulos ficaram conhecidos como os boehmistas.
Como uma ironia do destino, Johan G. Gichtel, o filho do principal antagonista de Böhme, o pastor Gregorious Ritcher, se tornou um discípulo indireto, comentador e editor de uma coleção de trechos das obras de Böhme, os quais foram mais tarde publicados no ano de 1682 em Amsterdã. As obras completas de Böhme só foram publicadas pela primeira vez em 1730. Johan G. Gichtel também escreveu uma autobiografia espiritual intitulada A Senda do Homem Celeste, descrevendo como colocou em prática tudo o que aprendeu com o estudo das obras de Böhme, chegando, segundo ele, à realização da senda espiritual. A Senda é considerado um clássico do pensamento místico-cristão de sua época.
Como conseqüência de suas idéias e escritos, Böhme passou o último ano de sua vida exilado em Dresden, retornando à Görlitz unicamente para dar um adeus final à vida aos 49 anos de idade.
Jacob Böhme faleceu em Görlitz, 17 de Novembro de 1624.
Nos dias atuais, as obras de Böhme são estudadas e admiradas por diversas comunidades de espiritualistas, místicos, martinistas, teosofistas e filósofos em todo o mundo.

FILOSOFIA

A principal preocupação dos escritos de Böhme era a natureza do Pecado, do Mal e da Redenção. De acordo com a teologia luterana, Böhme pregava que a humanidade tinha caído do estado de divina graça para um estado de pecado e sofrimento, que as forças do Mal incluíam os anjos caídos que tinham se rebelado contra Deus e que o objetivo de Deus era restaurar o mundo ao seu estado natural de graça.
Na cosmologia de Böhme, é necessário que a humanidade se afastasse de Deus a fim de que a criação evoluísse a um novo estado de harmonia que seria mais perfeita que o estado original de inocência, permitindo a Deus atingir uma nova auto-consciência pela interação com a criação que se tornaria, ao mesmo tempo, parte Dele e distinta Dele. Deste modo, o livre arbítrio seria o mais importante dom dado a humanidade por Deus, permitindo-nos buscar a graça divina na condição de uma livre escolha, enquanto permitiria aos seres humanos manter as suas individualidades.
Böhme via a encarnação de Cristo, não como um sacrifício oferecido para perdoar os pecados dos homens, mas sim como uma oferta amorosa e divina para a humanidade, mostrando a vontade de Deus suportando igualmente o sofrimento terrestre como um aspecto necessário da criação. Ele também acreditava que a encarnação de Cristo expressava a mensagem que um novo estado de harmonia seria possível.

As proncipais obras de Jacob Böhme são:

A aurora nascente; A sabedoria divina; A revelação do grande mistério; Os três princípios da essência divina; Quarenta questões sobre a alma; A chave; A encarnação de Jesus Cristo; As confissões; Diálogo entre uma alma iluminada e outra em busca da iluminação; A vida supra sensível.

PENSAMENTOS DE JACOB BOEHME

"Orar corretamente é uma obra totalmente séria".

"Não subi até a Divindade, nem isso significa que um homem ruim como eu, faça-o; mas a Divindade ascendeu a mim, e revelou-me tanto, somente por seu Amor."

"É em si como uma imensa profundidade, como um Nada eterno".

"É a Unidade eterna, o Nada e o Todo, a quietude absoluta, o silêncio total que repousa em sua eterna nulidade".

"Na eternidade, como em uma profundidade imensa fora da Natureza, não há nada mais que uma quietude sem essência; é uma tranqüilidade eterna, um fundamento sem princípio nem fim. Não há termo nem ponto fixo, nem buscar nem encontrar, nem nada que possa ser uma Possibilidade. Deus é a unidade frente às criaturas, como um Nada eterno; não tem fundo (Grund) nem princípio, nem lugar; não possui nada fora de si mesmo. É a vontade da profundidade, do Abismo. É em si mesmo sempre uno, não tem necessidade de espaço nem de lugar. Produz a si mesmo de eternidade em eternidade"

"A vontade produz este Filho sempre de novo, de eternidade em eternidade, porque ele é seu coração e sua palavra, como um som ou uma revelação da profundidade da eternidade silenciosa, e é a boca e a razão da vontade, e é chamado outra pessoa que não é o Padre, porque ele é a revelação do Pai, seu fundamento e sua essência, porque uma vontade não é uma essência, senão tão somente a imaginação da vontade faz a essência".

"A gravidez não tem lugar no Espelho, mas na Vontade, isto é, na imaginação da Vontade. O espelho permanece eternamente como uma virgem sem parto, mas a Vontade se engravida por meio da contemplação do espelho; assim que a vontade é o Pai, e a gravidez no Pai ou na Vontade é o Senhor ou o Filho".

“Toda a localidade do mundo, as profundezas da terra e acima da terra, até o céu e o próprio céu criado, que vemos com os nossos olhos, mas que, no entanto, não podemos compreender com nossos sentidos, todo esse espaço é um reino, onde Lúcifer era o governador antes de sua queda; mas os outros dois reinos, o de Miguel e Uriel, existem além do céu criado (espaço) e são iguais ao primeiro reino”.

“Quando a melodia celeste dos anjos começa a ser ouvida, estará surgindo com o divino salitre, vários mundos de crescimento, figuras e cores magníficas”.

“Cada país possui seu espírito guardião principal com suas legiões. Do mesmo modo, há anjos governando os quatro elementos – fogo, água, ar e terra”.

“Sempre que algo nasce da Essência divina, é trazido para a forma, não meramente por um espírito, mas por todos os setes”.

“Quando a Divindade movimentou-se, com o propósito de criar um mundo, movimentou suavemente a qualidade adstringente, contraindo-a no divino sal-nitre”.

“Ele gera a si mesmo num aspecto ternário, e nessa geração eterna deve-se compreender uma única essência e geração; nem o Pai, nem o Filho; mas unicamente a Vida eterna, ou Deus”.

“Deus criou os santos anjos, não através de alguma substância estranha a seu próprio ser; Ele os criou de seu próprio ser, de Seu poder e sabedoria eterna”.

"Se algo se torna àquilo que não era antes, isso não se constitui um princípio; um princípio está onde uma forma de vida e movimento começa, o qual não existia anteriormente. Desta forma, o fogo é um princípio, assim como a luz que nasce do fogo, mas que, contudo, não é uma qualidade do fogo, mas tem uma vida própria.”

“Se a Divindade de acordo com o primeiro e segundo princípio é considerada apenas como um espírito, sem qualquer essencialidade concebível, há nela, contudo, o desejo de envolver um terceiro princípio, onde repousa o espírito dos dois primeiros princípios, onde se tornará manifestada como uma imagem”.

“O fogo recebendo em si a essência do desejo como seu alimento, a fim de poder queimar, fornece um espírito alegre e abre o poder da humilde essencialidade na luz”.

“Não escrevo com outro objetivo senão que o homem aprenda a conhecer a si mesmo”.

“Toda a nossa doutrina nada mais é do que uma instrução de como o homem pode criar um reino de luz dentro de si mesmo... Aquele em quem flui esta fonte de poderes divinos carrega consigo a imagem divina e a substancialidade celeste. Nele Jesus nasceu da Virgem, e ele não irá perecer na eternidade”.

“Todos aqueles que desejam falar ou ensinar os mistérios divinos devem possuir o Espírito de Deus. O homem deve reconhecer em si a luz divina da verdade, e nessa luz as coisas que ele deseja apresentar como sendo verdade. Ele nunca deve estar sem esse auto conhecimento divino, e nem fazer com que a força de seus argumentos dependa meramente do raciocínio externo ou de interpretações literais da Bíblia”.

“A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino”.

“Assim como o olho do homem busca as estrelas de onde teve sua origem primitiva, a alma penetra e vê no estado divino do ser, onde vive”.

“Não há centelha de vida divina naquele que está sem Deus. Não se deve culpar à Deus por isso, mas a própria pessoa. Tais pessoas tem a si mesmas, e por vontade própria, entraram em tal estado, abafando a consciência elevada, enquanto que a jóia preciosa, embora desconhecida deles, continua oculta no centro. Deixe, portanto, que eles saiam novamente da ignorância intencional ou malignidade, por vontade própria, e entrem novamente na vontade de Deus”.


Extraído do blog:
http://coracaomistico.blogspot.com/