sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O apóstolo Paulo e a metáfora da escuridão


Assim chamo a experiência vivida pelo apóstolo Paulo durante a sua conversão a caminho de Damasco. Imagine como estava a cabeça deste homem, diante de um judaísmo em crise existencial e plena opressão romana. Naquele período existiam vários grupos e facções religiosas, porém todas elas viviam uma tensão a espera do messias e do livramento do julgo romano. Ele era um Fariseu e observante das Leis mosaicas, e também vivia num ambiente helenizado, onde a filosofia grega era muito influente na diáspora.

O acontecimento Jesus, mexeu com toda a estrutura daquele tempo, podemos considerar, que Jesus estabeleceu naquele época uma NOVA ORDEM MUNDIAL. A mensagem pregada por Jesus, apesar de ter como base o antigo testamento, passou a promover uma grande transformação na sua praxis, foi de encontro com todo o idealismo dos partidos judaicos, a espera pelo livramento daquele povo e a salvação da mão dos opressores, já não era algo externo, e sim, uma iniciativa interna, que devia brotar dentro do coração de cada pessoa, uma verdadeira mudança de mentalidade (metanóia) e consciência que Jesus chamou de Reino de Deus.

Essas mudanças de paradigmas, mexeram completamente com a cabeça daquele povo, principalmente de Paulo, aquele perseguidor implacável de cristãos, que derrepente viu-se abalado com a nova mensagem pregada pelos seguidores do nazareno. A cegueira daquele homem, é uma representação metafórica, que simboliza, que diante de uma grande ameaça, todos nós ficamos cegos, mas vai mais além disso, Paulo, como um bom fariseu, durante suas perseguições aos cristãos, deve ter tido contato com a comunidade essênia, situada em Qunram, e ali teve contato direto com os chamados Documentos de Damasco, que tinha esse nome, devido a existência de um local com esse nome, igual ao da cidade de Damasco na Síria, mas era localizada no deserto. Neste documento, encontrava-se várias regras da comunidade essência, desde textos relacionados a regras de guerra, conduta e hierarquia da comunidade e textos apocalípticos.
Tudo isso tem um papel fundamental na leitura e interpretação do Novo Testamento. O Professor R. Eisenman (California State University), que acredita na identidade, ou pelo menos numa estrita parentela, entre a comunidade de Qumran e o movimento judeu-cristão primitivo, afirma que o famoso trecho dos Atos dos Apóstolos no qual Paulo é enviado a Damasco pelo sumo sacerdote em busca de cristãos para prendê-los, tenha que ser completamente reinterpretada, entendendo com Damasco não a célebre cidade da Síria, mas este sitio de Qumran.

Essa metáfora vivida por Paulo, também é vivida por nós hoje em dia, diante de tantos problemas, crises e tribulações. Chegamos a ponto de perder o nosso referencial e acabamos entrando em profunda depressão e crise existencial. O mau do século é a depressão e a ansiedade, isso nos leva a ficar cegos metaforicamente, não vemos a luz no final do túnel, e a cada dia que passa, parece que as coisas vão piorando. Porém, a NOVA ORDEM MUNDIAL estabelecida por Jesus, de um reino de paz e justiça, nunca vigorou, pois o que veio na frente de sua mensagem, foi a instituição igreja, que acabou por cegar e formatar mais ainda seus seguidores.

Kadu Santoro

3 comentários:

  1. É o mal da divisão feita pelos próprios homens ainda ignorantes. Jesus é um exemplo a ser seguido, mas para isto acontecer, os homens precisam se identificar com Cristo; por isto é que encontramos certa dificuldade. Não há identificação, e sim, uma sublimação, algo distante e incomum. Mas nem por isto, impossível de para alguns (os escolhidos)acontecer!

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  2. Sr. Kadu, muito interessante a sua teoria sobre a conversão de Saulo. Só não concordo quando diz que a “Nova Ordem” trazida por Cristo nunca tenha vigorado. Como também diz o seu texto, o Reino de Paz e Justiça que Jesus se referiu não era e nem é um reino terreno ou político e sim algo maravilhoso que brotaria no coração daqueles que cressem. Pois bem, muitos creram e continuam crendo e vivenciando esse Reino que não tem nada a ver com facção ou poder religioso, estes realmente além de “cegar e formatar”, muitos também vilipendiaram o evangelho e trouxeram morte e divisão aos crédulos desde constantino. Talvez mesmo antes disso. Apesar de tudo, creio que o Reino de Deus permanece em todo aquele que o compreende e o busca. Como teólogo que é, naturalmente sabe que a Ekklesia de Cristo não é templo feito de pedras e alvenaria e muito menos instituição com CNPJ.

    Graça e Paz

    Ivã Silva
    Educador e Músico
    Salvador – Ba

    P.S.: Muito bom o seu blog.

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  3. Sr. Kadu, como já comentou nossa irmão Ivã e muito bem colocado, não se tratava de um Reino terreno ou uma nova Ordem Mundial, pois assim denominavam os sacerdotes naquele contexto ou mesmo ceita, como diziam os fariseus, as suas colocações transparecem ser mais pesquisa de historiador, que toma por base suas descobertas apenas em fontes documentais e fatos. Para compreender as coisas do Espirito, somente quem anda em espirito e historiadores não trabalham com o que eles chamam de abstrato, é valida essa argumentação, porém não se sustenta de acordo com o texto, seria desconsiderar a proporcionalidade textual, é perceptivel que em nenhum momento o texto nos remete a uma visão metafórica em relação à luz ou a sua cegueira, é uma teoria um tanto utópica, qual é mesmo o fundamento bíblico que sustenta essa tese ou escritos primitivos que respaldem sua ideologia para que o Novo Testamento seja reenterpretado? O que apresnta, acho ser ainda muito pouco.
    A letra mata, mas o Espírito vivifica.

    Que a paz esteja contigo.

    Roberto Cleber
    Educador e adorador
    Alagoinhas-Ba.

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