terça-feira, 21 de setembro de 2010

Análise crítica da Epístola de Judas


A Epistola de Judas, apesar de ser pequena e negligenciada, provocou muita polêmica durante o processo de canonização, sendo considerada como um livro antilegômena, ou seja, antes de serem aceitos pela tradição da igreja, foram muito questionados. A maioria das contestações sobre o livro, foram em função das referências mencionadas do livro pseudoepígrafo de Enoque (Jd vs.14,15) e numa possível referência ao livro Ascenção de Moisés (Jd 9). Segundo os Pais da Igreja, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano, aceitaram o livro como inspirado e confiável, pois as citações pseudoepígrafas tinham explicações semelhantes a das citações de Paulo, quando cita poetas gregos não cristãos, como Arato (At 17.28) e Epimênides (Tt 1.12), porém, essas citações em Judas, não alteram seu teor cristão, pois o que ele utilizou desses pseudoepígrafos, foram pouquíssimos fragmentos de verdade, não alterando a mensagem inspirada. Tanto o Cânon Muratório quanto o recente papiro de Bodmer (P72) recentemente descoberto, confirmam o uso de Judas na Igreja Cristã Copta do Egito do século III.

Quanto a autoria, o próprio autor chama a si mesmo de Judas, como servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago (maior) chamado de “irmão do Senhor”, logo Judas é citado entre os irmãos de Jesus, aquele citado em Mc 6.3 e Mt 13.55. A epístola talvez tenha sido escrita durante o reinado de Domiciano entre os anos 80 e 90 d.C. segundo o relato de Hegésipo . O autor provavelmente era um cristão judeu, pois tinha conhecimento de escritos judaicos, tais como a Ascensão de Moisés, o Apocalipse de Enoque e as lendas judaicas.

Segundo Marshall, o objetivo principal da epístola, era alertar e combater os falsos ensinos dos mestres gnósticos-libetinos (Jd 3-16;17-19,22-23), que se infiltravam nas comunidades cristãs, criando divisões e pertubações, falando muitas vezes de maneira arrogante, alegando serem pneumáticos (segundo os gnósticos, homens verdadeiramente espirituais e detentores do conhecimento maior), porém, na realidade, eram mundanos e visionários. Segundo o autor, esses se desviaram da graça de Deus e negam a Jesus Cristo como Senhor.

Segundo Judas, o pecado maior imputado por essas pessoas, era a permissividade para atos imorais, fazendo com que as pessoas achassem que pelo simples fato de se acharem salvas pela graça de Deus, poderiam livremente dar lugar ao pecado, ou seja, corromper a carne, pois para os gnósticos, a carne era a prisão da alma, logo ela era considerada má, e precisava ser punida.

Outro aspecto analisado na Epístola de Judas por Marshall, foi a questão da perseverança na fé (Jd vs. 20,21), mediante a infiltração de tais doutrinas heréticas na comunidade, ela ressaltava a importância da fé e a oração, como base para a perfeita edificação, mantendo-se firmes no amor e na misericórdia de Deus. Quanto a natureza de Deus e Jesus, Judas, coloca em pé de igualdade as duas pessoas, dando maior ênfase no título “Deus”, sendo que a glória lhe é atribuída por intermédio de Jesus Cristo. Judas também nos fala que os crentes possuem o Espírito (Jd 19), ao contrário dos pecadores, que não possuem, ele faz uma divisão radical entre os santos e pecadores, que depois são chamados de ímpios (Jd 4.15) e já se encontram condenados segundo suas transgressões, como aconteceu a Sodoma e Gomorra.

Judas considera a salvação como posse dos santos, também descritos como os “chamados”, que tem como qualidade maior, a sua fé (elemento de grande valor em Judas). Para ele, o objetivo principal dos crentes é apresentar-se aprovado e sem mancha diante de Deus. Segundo Judas, a igreja está vivendo nos últimos dias, e a profecia está sendo cumprida (Jd 18).

Conclusão: Podemos concluir que a epístola de Judas, é dirigida aos que foram “chamados”, amados por Deus Pai e guardados em Jesus Cristo, por meio da fé e da perseverança, o contexto teológico é cristão-judaico, apresentando nuances da apocalíptica hebraica, tendo como foco narrativo a mesma fé e perseverança, debaixo da proteção e justiça de Deus, apesar das circunstâncias, onde se encontram entre eles, os falsos mestres com seus falsos ensinos.

Bibliografia:

MARSHALL, I. Howard, Teologia do Novo Testamento: diversos testemunhos, um só evangelho, tradução Maria K. A. de Siqueira Lopes, Sueli da Silva Saraiva., São Paulo, Vida Nova, 2007.

KÜMMEL, Werner Georg, Introdução ao Novo Testamento, 17º edição, São Paulo, Paulus, 1982.

Kadu Santoro

Nenhum comentário:

Postar um comentário