sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Ordem dos Cavaleiros Templários e sua história


Tal como acontece com muitas outras seitas secretas do mundo antigo, a influência do culto guerreiro dos assassinos pode ser encontrada em outra sociedade fechada, a da ordem militar cristã dos Cavaleiros Templários. Poucas instituições medievais inspiraram mais respeito - embora tingido pelo medo e pela inveja - do que esta ordem militante dedicada à proteção dos peregrinos cristãos na Terra Santa.

A Ordem dos Cavaleiros Templários foi fundada em 1118 pelo nobre francês Hugues de Payns e outros oito soldados veteranos. Dedicados a garantir uma passagem segura entre o porto de Jaffa (em Israel atual) e a cidade de Jerusalém, os cavaleiros tiraram seu nome, Cavaleiros Pobres do Templo, do Templo de Salomão da cidade santa, local onde eles, supostamente, ficaram aquartelados pela primeira vez. Jerusalém fora arranca da do domínio muçulmano pela Primeira Cruzada, dezenove anos antes, mas os exércitos cristãos que ocupavam a cidade e os territórios próximos estavam sob constante ameaça de árabes hostis. Posto que um estado de guerra mais ou menos contínuo existia entre as duas forças, foi com gratidão que a Igreja Católica recebeu os serviços de Payns e seus pios cavaleiros. Em 1128, líderes religiosos reunidos em concílio em Troyes, França, decidiram reconhecer oficialmente os Cavaleiros Templários, tal como vieram a ser conhecidos, como uma nova ordem religiosa.

Mesmo servindo às necessidades da cristandade, uma ordem religiosa marcial estava em franco conflito com a política tradicional da Igreja, que proibia os membros do clero de portarem armas. Os cavaleiros eram uma classe guerreira, e a Igreja tendia a vê-los como ímpios e licenciosos. Em 1095, Bernardo de Clairvaux descreveu-os como "velhacos descrentes, saqueadores, sacrílegos, homicidas, perjuros, adúlteros". A idéia das cruzadas foi em parte lançada para canalizar as energias irrequietas dos cavaleiros. A criação dos Cavaleiros Templários foi vista como um modo de redimir uma classe sem lei, e, com efeito, muitos dos recrutados haviam sido antes excomungados. Apesar da opinião que tinha dos guerreiros em geral, Bernardo era um grande admirador da ordem e seu patrono oficioso. Chamando-os de "executores legais de Cristo", absolveu os templários do pecado de matar, contanto que suas vítimas fossem inimigos da Igreja.

Tal como outras ordens religiosas, os templários faziam votos de pobreza, castidade e obediência e, exceto pelo porte de armas, viviam em tudo como monges. A Regra do Templo, que governava suas vidas cotidianas, foi provavelmente sugerida por Bernardo. Ela incluía o silêncio estrito nas refeições e a recitação de orações em horários fixos. Para garantir a castidade, os templários dormiam totalmente vestidos em dormitórios iluminados e não tinham permissão para beijar nem mesmo suas mães. Além disso, estavam proibidos de participar de qualquer reunião que pudesse evocar-lhes sentimentos de saudades da vida familiar. Como soldados do Senhor, os templários faziam voto de jamais recuar em batalha, mesmo contra forças esmagadoras. Os membros eram punidos com severidade por infringir mesmo a regra aparentemente mais trivial. Um cavaleiro, por exemplo, foi expulso da ordem por ter perdido um cavalo que pedira emprestado para caçar lebres (esta foi na verdade uma infração dupla, posto que os templários estavam proibidos de caçar qualquer coisa menos nobre que um leão - o que, para todos os propósitos práticos, correspondia a linces do deserto).

O emblema dos templários era um cavalo com dois cavaleiros, simbolizando a pobreza e a fraternidade. Bernardo era claramente mais favorável a esse bando rústico do que aos cavaleiros seculares ricos, observando que os templários eram vistos "raramente lavados, com suas barbas desgrenhadas, suarentos e cobertos de poeira, manchados pelos arreios e pelo calor". Os cavaleiros templários vestiam um manto branco com uma cruz vermelha como brasão e cavalgavam para a batalha atrás de um estandarte branco e preto chamado de Beauseant, em homenagem aos cavalos malhados, favoritos dos fundadores da ordem. A mesma palavra tornou-se seu grito de batalha.

Do mesmo modo que outras organizações medievais, os templários estavam organizados em uma rígida hierarquia. O chefe da ordem era o grão-mestre. Abaixo dele, um grão-prior chefiava cada um dos muitos capítulos regionais encontrados por toda a cristandade. Os cavaleiros de manto branco eram recrutados entre as famílias nobres e formavam o corpo de oficiais da ordem; além destes, uma classe secundária de sargentos, ou irmãos servidores, vinha de famílias sem títulos de nobreza e usava mantos castanhos ou negros. Abaixo dessas duas classes combatentes estavam os escalões inferiores de escudeiros, ou atendentes e demais serviçais e trabalhadores que cuidavam das propriedades e castelos dos templários.

Os cavaleiros eram iniciados no templo em uma cerimônia secreta celebrada à noite, na casa do capítulo sob guarda. O grão-prior perguntava diversas vezes aos cavaleiros reunidos se tinham qualquer objeção ao ingresso do noviço para a ordem. Não havendo, ele repetia as regras da ordem e perguntava ao noviço se este tinha esposa ou família, dívidas ou doenças e se devia vassalagem a qualquer outro senhor. Tendo respondido negativamente, o noviço ajoe­lhava-se, pedindo para tornar-se um "serviçal e escravo" do templo e jurando obediência em nome de Deus e da Virgem Maria. Finalmente, o manto branco era posto sobre seus ombros e o iniciando era recebido nas excelsas fileiras dos Cavaleiros Templários.

O segredo que rodeava a investidura e outras cerimônias templárias conferia um caráter misterioso à ordem e alimentava os rumores sobre as atividades em seus claustros; os adversários murmuravam a respeito de perversão sexual e ocultismo. Com o tempo, tais acusações passaram a ser feitas em público e no início do século XIV, após duzentos anos de serviços, a lenda dos Cavaleiros Templários teve um final abrupto e triste.

A queda dos templários pode ser atribuída a diversos fatores. Um deles foi o declínio das cruzadas no final do século XIII, minando o propósito original da ordem. Outro foi a riqueza coletiva desses cavaleiros "pobres". Sustentar um exército em pé de guerra em uma série de fortificações a milhares de quilômetros de casa exigia recursos consideráveis. Com o tempo, os templários acumularam grandes quantias de dinheiro, originário de doações e das rendas de suas propriedades, as quais, por serem propriedades religiosas, estavam isentas de impostos. Os templários aprenderam a administrar suas rendas com grande habilidade e, no processo, tornaram-se os banqueiros de grande parte do mundo ocidental. Reis e príncipes confiavam seu ouro à ordem, cujos templos eram as estruturas mais robustas e mais fortemente defendidas de toda a Europa. Talvez fosse inevitável que os monarcas medievais - a maioria deles em perpétua busca de ouro para financiar suas guerras incessantes - lançassem um olhar de inveja para os cofres dos templários. O começo do fim chegou em uma sexta­-feira, 13 de outubro de 1307, quando Filipe IV (que devia dinheiro à ordem) ordenou a prisão de todos os templários em seu reino. Filipe acusou os cavaleiros de heresia, mas suas motivações podem ter tido menos a ver com a piedade do que com a perspectiva de forrar os bolsos com ouro templário. Um mês depois, por insistência de Filipe, o papa Clemente V deu a todos os soberanos carta branca para prender os templários e tomar posse de suas propriedades. Muitas das acusações feitas contra a ordem diziam respeito à cerimônia de iniciação do grupo, alegando que os noviços faziam votos de entregar-se a atividades homossexuais e a práticas blasfemas como cuspir ou urinar sobre a cruz. Os acusadores afirmavam que os cavaleiros adoravam o diabo, às vezes sob a forma de um gato negro que eles beijavam atrás do rabo e outras vezes como um ícone conhecido como Bafomé. Alegava-se que os cavaleiros usavam óleo extraído de bebês assassinados para massagear Bafomé, descrito como uma cabeça humana empalhada ou como um crânio cheio de jóias montado sobre um falo de madeira.

Bafomé era uma corruptela do nome do profeta islâmico Maomé e a alegação de adoração desse ídolo macabro era parte de uma acusação mais geral, segundo a qual os templários eram secretamente muçulmanos. Com certeza, depois de duzentos anos vivendo no Oriente Médio os templários haviam absorvido grande parte da cultura do inimigo. Muitos cavaleiros falavam árabe e, ao contrário da maioria dos europeus, seguiam a moda árabe de usar barba. Ocasionalmente, lutaram lado a lado com os assassinos contra outras facções árabes na guerra intestina que, ontem como hoje, era típica do mundo muçulmano. Os críticos dos templários salientaram as semelhanças de vestimenta e organização dos dois grupos e chegaram até a acusar os cavaleiros de serem um grupo auxiliar encoberto dos assassinos. A maioria dos historiadores nega essas acusações. Contudo, sabe-se que pelo menos um templário, o cavaleiro inglês Robert of St. Albans, converteu-se ao islamismo e comandou um exército muçulmano. Ha também uma lenda persistente a respeito de uma "tribo de cruzados" que seria descendente de desertores templários e teria adotado os modos muçulmanos e sobrevivido por séculos no norte da Arábia.

Com base em tais alegações, os apaniguados do rei Filipe aplicaram medidas extremas para extrair confissões dos templários; dias depois da captura, 36 cavaleiros morreram em virtude das torturas recebidas nas masmorras do rei. Três anos depois, em 1310, 54 templários foram queimados. A perseguição continuou, a despeito da admissão, feita pelo papa Clemente V em 1312, de que a igreja não tinha provas da heresia. Contudo, cedendo mais uma vez às pressões do rei, o papa decretou a dissolução da ordem dos Cavaleiros Pobres do Templo.

Os templários que não morreram sob os tormentos do rei tiveram permissão de juntar­-se a outra ordem ou voltar à vida secular. No entanto, o último grão-mestre dos cavaleiros, Jac­ques de Molay, foi condenado à prisão perpétua após tornar pública sua confissão particular. De Molay, porém, embaraçou os funcionários do estado e da igreja ao declarar publicamente que sua ordem era inocente. Por este último ato de imprudência, de Molay foi sentenciado à fogueira. Quando as chamas o envolveram, ele amaldiçoou tanto o rei quanto o papa, chamando-os a julgamento diante de Deus - Clemente em quarenta dias e Filipe dentro de um ano. Ambos morreram de acordo com a previsão de Jacques de Molay.



Para saber mais:



http://www.samauma.com.br/samauma/ao0501templario.htm

http://geocities.yahoo.com.br/clivert75/templarios.html

http://www.imagick.org.br/pagmag/themas2/templa.html



Fontes:

Seitas Secretas – Coleção Mistérios do Desconhecido. Rio de Janeiro: Abril Livros, 1992.

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