segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Cristologia de Pierre Teilhard de Chardin


Como se sabe, a cristologia é o ramo da teologia que estuda a pesoa de Jesus. Pela cristologia procura-se responder a pergunta: "Quem é Jesus?"

Existem e existiriam ao longo da história da Igreja, muitas diferentes formas de responder a essa pergunta. Existem portanto dentro da Igreja, muitas diferentes cristologias. Mesmo dentro do Novo Testamento, encontra-se varias cristologias, ou seja, diferentes respostas sobre a pessoa de Jesus.

A cristologia de Teilhard de Chardin, situa a humanidade no processo evolutivo do Cosmos, isto é, baseia-se no fato científico da Evolução. Nesta linha, Jesus será enfocado como o "motor" e o "objetivo final" de todo o processo evolutivo. Chardin chama o Cristo de "o Cristo evolutivo", ou de "ponto-ômega". Chamando Cristo de ponto-ômega, Teilhard refere-se ao trecho do livro do Apocalipse em que Jesus diz: "Eu sou o Alfa e o Ômega".

Teilhard de Chardin, no contexto de uma contradição entre fé e ciência, deseja reconciliar o que ele considera as duas "fés": a fé científica no processo evolutivo do mundo e a fé teológica no Cristo cósmico, de que fala S. Paulo. Entre essas duas fés, Chardin não encontra contradição, mas sim, uma "convergência maravilhosa". Ele escreve:

"O Cristianismo mais tradicional, o do Batismo, da Cruz e da Eucaristia é suscetível de uma tradução onde passa o melhor das aspirações contemporâneas".

Para Teilhard, Cristo seria o ponto-ômega, a meta final da evolução, oobjetivo para o qual tudo converge e se direciona, segundo as palavras deJesus: "Quando eu for elevado, atrairei todas as coisas para mim". Jesus é oponto-ômega da evolução do universo, a causa final que atrai tudo para simesmo.Cristo é também o motor da evolução; é o eixo que conduz e direciona todo processo evolutivo. O Cristo cósmico de Paulo é o Cristo evolutivo. Jesus põe em movimento todo processo de evolução, orientando e dirigindo a marcha evolutiva do universo.

Teilhard escreve:"Eu creio que o Universo é uma Evolução. Eu creio que a Evolução vai para o Espírito. Eu creio que o Espírito, no Homem, se conclui no Pessoal. Eu creio que o Pessoal supremo é o Cristo Universal".

Teilhard fala que o projeto de Deus é cristificar todo universo. O desejo de Deus é transformar tudo em "outro Cristo", ou seja, continuar o mistério da Encarnação do Verbo no mundo inteiro. Referindo-se a essa cristificação do Cosmos, por meio da Eucaristia, Teilhard fala poeticamente e com lindas palavras:

"Quando o sacerdote pronuncia as palavras: 'Isto é o meu corpo', as palavras incidem diretamente sobre o pão e diretamente transformam-no na realidade individual do Cristo. Mas a grande ação sacramental não pára neste acontecimento local e momentâneo... Há uma 'eucaristização' de toda a criação".

"Quando o Cristo, prolongando o movimento da sua encarnação, desce ao pão para substituí-lo, sua ação não se limita à parcela material que sua Presença vem, por um momento, volatizar. Mas a transubstanciação se aureola de uma real, ainda que atenuada, divinização de todo o Universo. Do elemento cósmico em que se inseriu, o Verbo age para subjugar e assimilar a Si todo oresto".

Teilhard encontra comprovação desse processo de cristificação do Cosmos no trecho paulino: "Deus será tudo em todos".

Seria errado imaginar que para Teilhard, o fato da evolução, pode, por simesmo, levar a conclusão ou dar por assentado que o mistério da encarnação seja necessário. Somente pela revelação se conhece o fato da encarnação e só por ela pode ser conhecido, como também só pela fé cristã se pode-se descobrir nos mistérios de Cristo a "convergência maravilhosa" entre o processo evolutivo do mundo e a "cristificação" do cosmos. No entanto, a fé cristã e o conhecimento científico do fenômeno evolutivo, como que "exige" um ponto final, um ápice, uma meta, um objetivo, para o qual tudo se direciona e converge. Teilhard fala, assim, que Cristo seria como que o ápice de uma abóboda, no qual se encerra e completa todo o processo da evolução. O processo evolutivo, para ser coerente e racional, "exige" o ponto-ômega.

No pensamento de Chardin, não pode o Cristo-ômega, com sua natureza cósmica, ser reduzido a um princípio abstrato. Jesus, o ponto-ômega, é o mesmo Jesus de Nazaré, que nasceu em Belém, viveu no meio de nós, morreu e ressuscitou. Teilhard insiste em afirmar que só quando inserido pessoalmente no "phylum"humano é que Cristo pode agir como causa final, que atrai para si próprio o cosmos em processo de evolução. O ponto-ômega verdadeiramente assumiu a humanidade e a recapitulou. Ele escreve:

"Se se suprimisse a historicidade de Cristo, isto é, a divindade do Cristo histórico, chegar-se-ia, imediatamente, à anulação de toda a experiência mística dos 2.000 anos do cristianismo. O Cristo filho da Virgem e o Cristo ressuscitado são indissociáveis".

A cristologia de Teilhard é "ascendente" ou "de baixo para cima", no sentido de que situa sua análise teológica na natureza humana, na ordem da criação, e daí eleva-se até a divindade de Cristo.

Uma crítica que se faz à cristologia de Chardin, é que ela tem pouca base bíblica e tende a perder o contato com a vida concreta e histórica de Jesus, em seus aspectos histórico-culturais.


http://teilharddechardin.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Impressionante como se pode chegar às mesmas conclusões por outras vias. Nunca li Chardin, mas sou um seguidor do Caminho que não se conformou com dogmas apenas. Tenho lido alguma metafísica oriental à luz dessa fé e creio que em JESUS encontramos a Grande Síntese de todos os ramos do conhecimento humano que nos guia ao ponto Ômega, ou próximo passo da Evolução, que deverá ser espiritual.Creio que basicamente cheguei às mesmas conclusões desse sr., sem querer parecer pedante. Como Paulo diz em Colossenses 2.3 "Em quem (Cristo) estão ocultos todos os tesouros da ciencia e sabedoria". Vou acompanhar seu blog mais de perto. Um abraço e obrigado.

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