sábado, 30 de janeiro de 2010

Um breve estudo sobre a canonicidade do primeiro e segundo testamentos



O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

A primeira especulação sobre a possível reunião e catalogação de livros supostamente sagrados, ou seja, inspirados por Deus, teria sido feito por Esdras no período de Neemias, reunindo os escritos desde a época de Moisés até o período dos profetas, onde o Cânone da época era composto de aproximadamente 22 à 24 livros em hebraico, onde na Bíblia dos Cristãos representavam 39 livros, como já se verificava por volta do século IV DC. A discussão sobre as questões relacionadas à autenticidade do Cânon do Antigo Testamento geraram quatro terminologias: a primeira era homologoumena, quando os determinados livros eram aceitos por todos, a segunda era antilegomena, para a série de livros que em certa ocasião ainda eram questionados, como por exemplo o Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ester, Ezequiel e Provérbios, uma terceira chamada de pseudoepígrafos, usado para os livros não bíblicos rejeitados por todos e considerados falsos escritos, e por último, os apócrifos, que eram livros não bíblicos aceitos por uns e rejeitados por outros, considerados escondidos ou duvidosos.

O Cânone do Antigo Testamento ( hebraico ) só foi aceito através do Concílio de Jâmnia no ano 90. Mesmo assim, houve muita resistência em relação a determinados grupos de judeus, como os de Alexandria ( Egito ). Ficou então decidido neste concílio, a rejeição de vários livros e escritos que eram considerados apócrifos, obras literárias que não apresentavam evidências de inspiração Divina. Mesmo assim, esse concílio teve o objetivo apenas de confirmar basicamente, aquilo que de certa forma já era aceito ao longo dos séculos pelos judeus.

Não havia ainda até o quarto século uma definição oficial quanto ao Cânon do Antigo Testamento. Esse exaustivo trabalho de avaliar a canonicidade destes livros ficou nas mãos dos Pais da Igreja. Entre eles havia muitas divergências em relação a composição do Cânon, por exemplo: Melitão, Cipriano e Rufino, optavam pelo Cânon Hebraico ( composto por 39 livros, excluindo os deuterocanônicos ), já Irineu de Lion, Justino e Agostinho, defendiam a posição do Cânon Alexandrino, que era baseado nas traduções da Septuaginta ( LXX ) composto por 46 livros, incluindo os deuterocanônicos.

Podemos concluir, que, o processo de canonicidade do Antigo Testamento, levou mais de quatro séculos para se chegar parcialmente a alguma conclusão. Tendo em vista que a versão mais aceita no meio da igreja e dos pais apostólicos foi a versão baseada na septuaginta, a do Cânon Alexandrino, essa que através de Jerônimo, foi feita as primeiras traduções latinas, como a Vetus Latina e a Vulgata ( utilizada até os dias de hoje pela Igreja Católica Apostólica Romana ).


O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Para os Cristãos da comunidade cristã primitva, o acontecimento Jesus, foi uma confirmação de todo o testemunho do Antigo Testamento, logo, as palavras utilizadas por eles não poderiam ir de encontro com a das leis dos profetas. Para o Bispo e historiador Eusébio de Cesaréia, os apóstolos e evangelistas, nunca tiveram em mente deixar qualquer relato por escrito. Porém, havia uma grande necessidade em função das testemunhas oculares, como os apóstolos João e Pedro ainda estarem vivos, de começarem a escrever tudo o que havia passado naqueles dias de Jesus conforme seus relatos. Em função disso que se começou a fazer através dos evangelhos as narrativas sobre a vida de Jesus, e logo em seguida com a conversão do apóstolo Paulo e sua caminhada missionária suas cartas e epístolas.

Diferente do Cânon do Antigo Testamento, que levou aproximadamente 1500 anos para serem escritos e mais ou menos 500 anos para afirmar sua autenticidade, o Cânon do Novo Testamento levou apenas 100 anos para ser escrito, formando um conjunto de 27 livros, porém ainda não era autorizado e nem considerado sagrado segundo os Pais Apostólicos. Assim como o Cânon do Antigo Testamento, o do Novo Testamento também levou muito tempo para ser considerado autêntico.

O Cânon Muratoriano, foi a primeira e mais antiga referência sobre o Cânon do Novo Testamento, encontrado pelo sacerdote italiano Ludovico Antônio Muratori no séc. XVIII, datado do séc. II. Ele consistia em um manuscrito onde se encontrava relacionados os quatro evangelhos, as cartas Paulinas, epístolas de Judas, I e II João e o Apocalipse.

Alguns livros como Hebreus, Judas, Apocalipse II e III João e II Pedro, sofreram muitas controvérsias em função da autenticidade canônica, logo passaram a serem chamados de deuterocanônicos do Novo Testamento.

Podemos encontrar pela primeira vez na epístola 39 de Atanásio de Alexandria a lista completa dos livros do Novo Testamento conforme ainda é usado até os dias de hoje. Esta lista também foi confirmada por alguns documentos posteriores como o Decreto Gelasiano, e os Cânones de Hipona e Cartago III e IV. Lutero também questionou alguns livros do Novo Testamento, mas suas idéias acabaram sendo rejeitadas.

Podemos concluir que da mesma forma que o Cânon do Antigo Testamento foi muito questionado na sua elaboração, e mesmo assim ainda hoje há muitas controvérsias, assim também foi com os critérios e meios de avaliação da canonicidade do Novo Testamento, que foi analisado em meio a muitas linhas de pensamentos diferentes, como a dos Pais orientais e os ocidentais, sendo que sempre predominou a visão dos Pais Alexandrinos, até os dias de hoje.


CONTROVÉRSIAS SOBRE O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

As controvérsias em torno da aceitação do Cânon do Antigo Testamento, levaram com que tais livros e manuscritos fossem classificados em quatro categorias distintas:

1 º) Homologoumena ( livros aceitos por todos ): São aqueles livros que sempre foram considerados e aceitos pelo povo de Deus ao longo da história e que foram produzidos pelas mãos de profetas e homens inspirados por Deus, sem serem jamais questionados pelos rabinos e estudiosos da época. Estes são formados por 39 livros, sendo que desses 39, cinco são excluídos, são os seguintes livros: Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ezequiel, Ester e Provérbios, sendo que nenhum destes livros foram alvo de severas objeções.

2º) Antilegomena ( livros questionados apenas por alguns ): São aqueles livros excluídos sem muita crítica no primeiro momento. A partir dos séculos seguintes, surgiu e desenvolveu-se uma linha de pensamento diferente dentro do judaísmo, que passou a questionar, entre outras coisas, a canonicidade de certos livros do Antigo Testamento, que antes já haviam sido considerados canônicos. Por fim, tais livros foram reconduzidos ao cânon sagrado, simplesmente por serem considerados inspirados por Deus. Porém, entanto, em vista de tais livros terem sido difamados naquela por alguns rabinos, e passaram-se a se chamar Antilegomena.

3º) Pseudoepígrafos ( livros questionados por todos ): Havia um grande número de livros e tratados religiosos espúrios que circulavam na antiga comunidade judaica, esses eram chamados de pseudoepígrafos. Nem todos esses escritos eram considerados falsos. Eram considerados fantasiosos ou de tradições místicas e religiosas. O fator mais corrosivo em relação a estes escritos, é que alguns elementos da verdade eram apresentados com palavras de autoridade divina, num contexto fantasioso, que em geral era rechaçado de heresias teológicas. Os pseudoepígrafos são formados por dezessete livros, sendo que esta lista não é completa e fechada. Alguns destes livros são inofensivos teologicamente, porém outros contém erros históricos e claras heresias teológicas.

4º) Apócrifos ( livros aceitos por alguns ): Estes eram os livros mais discutidos sem dúvida entre os cristãos. Eles tinham um caráter oculto e de difícil compreensão. Passando posteriormente a tomar um sentido esotérico, ou algo que somente os iniciados poderiam entender, como os Gnósticos a utilizaram. Eles eram considerados os livros não canônicos do Antigo Testamento. A lista dos apócrifos era em torno de quinze livros, alguns desses livros foram aceitos pelos Católicos Romanos e rejeitados pelos Protestantes e Judeus. A discução sobre esses livros perdura até os dias de hoje, entre estudiosos, exegetas e autoridades religiosas.

Houve também muitos questionamentos sobre a canonicidade do Antigo Testamento a partir do século IV, seguido de vários concílios para debaterem essa legitimidade.

Podemos concluir que, mesmo o cânon já sendo considerado fechado e aceito no mundo cristão nos dias de hoje, muitas lacunas ainda não foram fechadas e ainda existe muito campo dentro da exegese, do estudo da crítica das formas e das reflexões teológicas partindo de um novo olhar através do contexto vivencial daqueles séculos passados onde foram sendo construídas essas muralhas em torno das escrituras sagradas.



Bibliografia:
http://introduobiblica.blogspot.com/2007/09/aula-7-extenso-do-cnon-do-antigo.html.
http://gotquestions.org/Portugues/canon-da-biblia.html.
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2non_b%C3%ADblico


Kadu Santoro

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