terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Martin Heidegger e o conceito de tempo



Um resumo sobre a Conferência pronunciada na Sociedade Teológica de Marburgo em julho de 1924

Para Heidegger a questão do tempo só pode ser entendida a partir do princípio da eternidade. A teologia é a melhor área para se tratar sobre a abordagem do tempo. Se partirmos do princípio de que Deus é eterno, então iria gerar uma grande confusão em relação ao tempo. o teólogo aborda estas questões do tempo de várias formas, a primeira seria no campo da existência humana, onde encontramos Deus como o criador e sua cronologia em relação a eternidade. Por outro lado, Deus por ser o criador de todas as coisas , não precisa de abordagens teológicas, pois a sua existência não é baseada na fé.

Em segundo lugar, a expressão da fé cristã, está relacionada com eventos que aconteceram ao longo do tempo, temos como base a experiência e a saga de um “povo” supostamente escolhido por Deus, onde esse se relacionava de forma atuante, conduzindo-os pelo curso da história.

Os filósofos não crêem desta maneira na questão do tempo. Eles partem de um conceito de eternidade ( AEI ), mas na sua essência é apenas uma derivação de uma temporalidade.

As reflexões que se seguem, tem a missão de investigar a relação sobre o ser e o mundo através da filosofia e ciência. A tarefa da filosofia nesta abordagem é de levantar e registrar como os antigos pensavam a respeito destas questões. A ciência começa sua investigação a partir dos fenômenos físicos, buscando suas reflexões sobre os princípios fundamentais através da observação da natureza. Medindo essa natureza dentro de um sistema de espaço-tempo. O que há de mais moderno neste campo de pesquisa, é a teoria da relatividade, desenvolvida por Albert Einstein. O espaço é um vazio, existindo apenas uma energia contida nele. Aristóteles pensava que nada existe por si só, tudo é resultado de uma série de eventos que ocorrem ao mesmo tempo. Não existe um conceito de tempo ou simultaneidade absolutos no universo.

Quanto ao relógio, ele é um sistema físico-mecânico, que repete constantemente uma seqüência de forma cíclica, onde não existe a possibilidade de mudanças de qualquer influência externa. O tempo pode ser arbitrário, fixado em um determinado ponto, onde hora chamamos de mais cedo ou mais tarde.

A afirmação do “eu sou”, é um verdadeiro questionamento sobre a natureza do ser humano. através desta reflexão, oferecemos bases para a explicação do tempo. Quando o ser declara sua condição, ele se posicionou no tempo de alguma forma. A condição de ser, é o fato dele fazer parte de um todo, onde você existe em função do próximo. Ser um outro no mundo, é partilhar em conjunto. As relações da existência, só são possíveis apartir do momento que eu crio uma relação com o outro, me comunico e por final me identifico. Em suma, a condição do ser como vivente, está totalmente relacionado a mim e ao tempo, sendo assim, quando estamos também com os outros, somos iguais aos outros, e ninguém existe por si próprio.

Para o ser, sempre irá faltar alguma coisa que ainda não tenha terminado. Do mesmo modo que não conseguimos idealizar o princípio como causa de todas as coisas, também não conseguimos entender o que podemos chamar de fim, ou seja, a condição extrema de deixar de ser. De repente, o seu ser não existe mais. O seu objetivo seria na verdade, nada. Podemos exemplificar esta condição, quando falamos a respeito da morte. Para o ser humano, a morte é uma condição certa, porém, mesmo sabendo da realidade deste fato, não conseguimos de forma alguma, criar alguma relação de experiência com ela. Seria assim: “Eu sei, mas não tenho condições de pensar nisso”. Por mais que tenhamos certeza sobre a morte, também sempre será uma dúvida.

O tempo na investigação histórica, é um fenômeno relevante. Se tentarmos deduzir o tempo a partir do momento natural, podemos interpretar que o passado é irreversível, o presente deixou de “ser” e o futuro é arbitrário e indefinido. Assim, o cotidiano fala por si próprio como algo natural. Todos os eventos vão em direção a um futuro sem passado irreversível. Existe dentro deste pensamento duas interpretações: a primeira chamada de irreversibilidade. A própria irreversibilidade compreende essa explicação difícil de manter o nosso próprio tempo. Isto é o que resta do futuro em termos de tempo como um fenômeno fundamental de se estar lá. A homogeneização é uma assimilação do tempo no espaço. O tempo é irreversível e com condições de temporalidade.

A história só existe por causa do passado, é tudo aquilo que foi deixado pra trás. O passado como história, pode ser repetido no ato de “fazer”. A capacidade de acesso à história se baseia na possibilidade de que no presente podemos projetar o futuro. Esse é o grande princípio da hermenêutica.

Podemos por fim, definir que o tempo é temporário em sua definição própria, totalmente isento de qualquer possibilidade de tautologia. Para nós seres humanos, o tempo não possui nenhum sentido, ele é apenas uma condição temporária, além da nossa razão.

Heidegger termina a palestra com uma tríade de perguntas:
1º) Quem é o tempo?
2º) Será que somos nós mesmos o tempo?
3º) Sou eu o meu tempo?


Kadu Santoro

2 comentários:

  1. Olá. Gostei muito do seu blog.

    Sou amante da teologia e estudante de psicologia.

    Estou estudando mais sobre a questão do tempo, pretendo desenvolver um ensaio reflexivo a respeito.

    Espero poder trocar conhecimento com você sobre esse assunto.

    Forte abraço.

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    1. Caro Felipe, obrigado pela cortesia de visitar o meu humilde blog. Já entrei lá no seu site e marquei minha presença, muito legal.Também sou carioca e a hora que quiser podemos trocar conhecimentos sim. Assim como você, também faço palestras, dou aulas de teologia e ministro cursos diversos nas áreas de teologia, filosofia e espiritualidade global.

      Um abraço fraterno e paz profunda!

      Kadu Santoro

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